Discurso durante a 189ª Sessão Especial, no Senado Federal

Abertura da Segunda Semana de Valorização da Pessoa com Deficiência.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Abertura da Segunda Semana de Valorização da Pessoa com Deficiência.
Publicação
Publicação no DSF de 22/11/2006 - Página 34895
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, VITORIA, DIFICULDADE, COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO, REGISTRO, DEFICIENTE FISICO, GARANTIA, MEDALHA, OLIMPIADAS.
  • REGISTRO, HISTORIA, DISCRIMINAÇÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, NECESSIDADE, RESPEITO, DIFERENÇA.
  • ELOGIO, INICIATIVA, SENADO, PROMOÇÃO, SEMANA, VALORIZAÇÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, CONTRIBUIÇÃO, FORMAÇÃO, CIDADANIA, REGISTRO, HISTORIA, DISCRIMINAÇÃO, LINGUAGEM, SURDO, PREJUIZO, QUALIDADE DE VIDA.

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma das personalidades mais marcantes do século XX foi Helen Keller, americana cega, surda e muda desde os 18 meses de idade, que aprendeu a se comunicar com o mundo a partir do trabalho magistral de educação desenvolvido pela Profª Anne Sullivan, a partir dos seus 7 anos de vida.

Helen descobriu maneiras engenhosas de sentir as imagens e os sons. Disse ela, em sua obra: "Por vezes, se tiver sorte, coloco suavemente a mão numa pequena árvore e sinto o feliz estremecer de um passarinho que canta". Por meio do tato, ela conseguia "detectar o riso, a tristeza e muitas outras emoções óbvias. Conheço as minhas amigas só por tocar-lhes as faces".

Helen Keller sentia que o silêncio e a escuridão em que vivia lhe tinham aberto as portas para um mundo de sensações de que as pessoas mais "afortunadas" nunca se apercebem: "com os meus três guias fiéis, o tato, o olfato e o paladar, faço muitas excursões às zonas limites da cidade da luz”.

Sras. e Srs. Senadores, o potiguar Clodoaldo Silva já bateu tantos recordes, em tão pouco tempo, que passou a ser chamado de “Clodoaldo Recorde da Silva”. Foi superando as barreiras do tempo que este brasileiro se firmou como o mais badalado atleta paraolímpico das águas. Na Paraolimpíada de Atenas, chegou a ser comparado com o americano Michael Phelps, por causa das seis medalhas de ouro e uma de prata conquistadas em oito provas. Após o show nas piscinas gregas, Clodoaldo se consagrou como o melhor atleta paraolímpico brasileiro de todos os tempos.

Com apenas 26 anos, tem, ainda, um amplo caminho profissional pela frente. Um de seus maiores trunfos foi a eleição de melhor atleta paraolímpico do mundo, título concedido pelo Comitê Paraolímpico Internacional (IPC), em novembro de 2005.

O atleta teve paralisia cerebral por falta de oxigênio durante o parto, o que afetou os movimentos das pernas e trouxe uma pequena falta de coordenação motora. Conheceu a natação como processo de reabilitação em 1996, mas foi convidado a levar o esporte em nível profissional, tal era o talento que ali começava a se revelar. Com um currículo invejável de medalhas, Clodoaldo encara com humildade cada título conquistado. Sempre de bom humor, o atleta é um notável especialista nas provas dos 50m e 100m, mas surpreendeu em Atenas em todas as outras provas, tal foi o nível que o competidor conseguiu atingir. “Batalhei bastante para transformar o ouro numa realidade em Atenas”, conta-nos Clodoaldo.

Sr. Presidente, essas duas pequenas histórias que reproduzi, a título de introdução de meu pronunciamento, falam-nos da capacidade de superação das pessoas portadoras de deficiência num mundo que não foi construído para elas. E de como pessoas de mente aberta podem ajudar a integrá-las à sociedade de modo produtivo e com excelência.

Todos nós conhecemos a longa história de segregação que os deficientes tiveram em todas as sociedades ao redor do mundo, até bem pouco tempo atrás. Foi preciso uma nova consciência para que se passasse a enxergar as possibilidades de atuação dos portadores de necessidades especiais e de sua capacidade de contribuição para as nações.

A superação de preconceitos é um passo decisivo nessa nova forma de lidar com as pessoas portadoras de necessidades especiais. Eis a grande questão que somos chamados a responder, nesse limiar do século XXI.

Normalidade e, portanto, deficiência, são conceitos relativos na sociedade. Os cegos, deficientes da visão, desenvolvem os demais sentidos, como a audição, o tato e o olfato, muito além dos que podem enxergar. A natureza é sábia! Sabe criar compensações que permitem aos seres humanos superarem limitações e se adaptarem à vida sem que haja rupturas ou traumas incontornáveis.

A capacidade de inserção dos portadores de deficiência ou das pessoas com necessidades especiais já está mais do que demonstrada. Nada justifica, portanto, promover a chamada cultura de guetos. O que ainda falta é a sociedade ajustar sua forma de tratar as pessoas de modo a dar-lhes o tratamento adequado às características de cada um.

Indago: isso é complicado para sociedades acostumadas a lidar de modo globalizado com as pessoas? É complicado, sim! E muito! Mas é também um ato de coragem e coerência acolher os deficientes e dar-lhes meios de inserção. Nossas próprias deficiências internas de lidar com as diferenças é que criam os entraves à inserção de todos na sociedade.

Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, esta Semana de Valorização da Pessoa com Deficiência, que visa a despertar as consciências ao redor do País, é uma ação mais do que oportuna num Brasil que paulatinamente constrói sua cidadania.

Instituições como o Instituto Nacional de Educação de Surdos ou a Escola Benjamin Constant para cegos, ambos no Rio de Janeiro, são provas da dedicação de gerações de educadores no persistente trabalho de inserção de deficientes na sociedade. Superando obstáculos diariamente, vencem os atrasos causados pelo preconceito.

Meus nobres Pares, exemplo contundente é o atraso causado pelo preconceito contra a linguagem dos sinais, no Brasil chamada de LIBRAS - Linguagem Brasileira de Sinais, que provocou enormes prejuízos às pessoas portadoras de deficiências fonoauditivas; assim como à sociedade, que se privou de sua melhor contribuição.

Criada no Século XVII, pelo Abade francês L’Epée, a linguagem dos sinais foi execrada pela Medicina e pela Filosofia durante mais de dois séculos, apesar do sucesso alcançado por esse dedicado educador com os cegos dos arredores de Paris. Só a partir de 1960 é que conseguiu se firmar como uma forma válida e eficaz de comunicação dos deficientes com o mundo. Quanto tempo perdido, por puro preconceito! Quantos seres humanos prejudicados!

Sr. Presidente, ao superar conceitos retrógrados e preconceitos é que conseguiremos construir uma sociedade justa e humana para todas as pessoas, sem exclusão de uma sequer. Para todas há um lugar útil e produtivo.

Esta semana de conscientização, associada à campanha do Senado Federal, cujo slogan apregoa que “com nossas diferenças somos todos iguais”, constituem um grande passo na formação de um Brasil mais justo e harmônico para todos nós.

É, pois, com grande satisfação e orgulho que participo deste evento, e com renovada disposição que continuarei a trabalhar pela justiça social em nosso País.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/11/2006 - Página 34895