Discurso durante a 191ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre a crise por que passa a medicina no país e a greve dos médicos-residentes.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE. MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Reflexões sobre a crise por que passa a medicina no país e a greve dos médicos-residentes.
Publicação
Publicação no DSF de 23/11/2006 - Página 35137
Assunto
Outros > SAUDE. MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • CRITICA, SITUAÇÃO, CRISE, SAUDE PUBLICA, BRASIL, GREVE, MEDICO RESIDENTE, REDUÇÃO, ORÇAMENTO, HOSPITAL, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), AGRAVAÇÃO, PROBLEMA, SITUAÇÃO FINANCEIRA, REPUDIO, GOVERNO FEDERAL, FALTA, ATENÇÃO, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • SOLICITAÇÃO, SENADO, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, ATENDIMENTO, NECESSIDADE, MEDICO RESIDENTE, EXTINÇÃO, GREVE, PEDIDO, ATENÇÃO, ORÇAMENTO, SAUDE.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Assim seria uma discriminação contra o Piauí. S. Exª já veta o Heráclito Fortes, e agora o Mão Santa!

Sr. Senador que preside esta sessão, Senador Luiz Otávio; Srªs e Srs. Senadores presentes; brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado; Senador Augusto Botelho, que ganhou os cabelos brancos com o sonho e o ideal da saúde neste País, eu entendo que a saúde deveria ser como o sol: igual para todos.

Lamento ter informado ao Presidente da República dados errôneos sobre a nossa saúde, de tal maneira que, na campanha eleitoral, Sua Excelência afirmara que a saúde no Brasil estava chegando à beira da perfeição. Entendo, como médico, que ela está à beira de um grande abismo, um grandioso abismo.

Quis Deus estar na galeria de honra um prefeito do nosso Piauí, o Dr. Manin Rego, de Barras. Senadora Heloísa Helena, hoje ele contava que, naquela cidade - uma grandiosa cidade do Piauí, que já forneceu o maior número de governadores, berço de David Caldas, o profeta da República -, recentemente, morreu uma mulher com hemorragia uterina, porque, lá no Piauí, que é Brasil, e Estado também governado pelo PT, a ambulância só vai em busca daqueles hospitais de alta resolutividade da Capital quando lota com quatro doentes. E ela ficou esperando o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, até lotar a ambulância. Nunca dantes isso foi visto na História do Brasil, mas, sim, no Piauí, governado pelo PT, e, por infelicidade, saindo de um hospital cujo nome é de um médico que foi interventor no período de Vargas, Leônidas Melo. A mulher, no início da viagem, morre.

Mas Sua Excelência disse que a Saúde estava à beira da excelência. Lamento informar que, hoje, traduzindo a responsabilidade deste Congresso, foi realizada uma reunião da Frente Parlamentar da Saúde, composta por Deputados e Senadores que se dedicam mais aos problemas de saúde, Líder Ney Suassuna, e cujo Presidente é o Deputado Federal Rafael Guerra, que foi Secretário de Saúde do Estado de Minas Gerais quando o Governador era Eduardo Azeredo. E ele, com a sua sensibilidade, convocou, hoje pela manhã, a Frente Parlamentar da Saúde. Eu amanheci lá, Senador Ney Suassuna.

Atentai bem! Foram convidadas várias organizações hospitalares do País. O choro era o mesmo do InCor. Outro dia, aqui foi debatido o InCor de São Paulo. Senador Luiz Otávio, a dívida do InCor é de R$250 milhões. O próprio Presidente da República mandou o Ministro da Fazenda tentar resolver. São R$250 milhões. Mas o InCor é de São Paulo.

Senador Luiz Otávio, eu, que faço neste ano 40 anos de médico, quero dizer que conheço a excelência do InCor. Todos somos orgulhosos. Alguns aqui, como o próprio Senador Antonio Carlos Magalhães, já foram salvos pela eficiência do InCor. Mas o InCor é o InCor.

O documento foi apresentado hoje, ó Excelentíssimo Senhor Presidente da República! Eu aprendi, lá no Piauí, Senador Luiz Otávio, que é mais fácil esconder e tapar o sol com uma peneira do que esconder a verdade. Todos nós vimos a campanha. A saúde está à beira da perfeição, da excelência. O que diz o documento da Frente Parlamentar? Evidentemente, na Câmara, o Governo é amplamente majoritário; até no meu Partido, ele é amplamente majoritário, mas nós somos necessários.

Ó Senador Ney Suassuna, V. Exª foi um Líder generoso. Nunca proibiu que eu levasse a verdade, o clamor das ruas e do povo das ruas, no PMDB. E aqui rendemos esta homenagem.

E aqui traço mais uma verdade. É da Frente Parlamentar de Inquérito. O caso da Barra, no Piauí. Isso é usuário.

Atentai bem, Senador Ney Suassuna, V. Exª que apoiou tanto, que se sacrificou, que lhe crucificaram, termine sua missão levando esta verdade ao Presidente da República:

Recente pesquisa divulgada pelo IBGE [o IBGE é do Governo ] apontou que 255 hospitais que trabalhavam para o SUS fecharam as portas só no ano passado. É reflexo da crise financeira que se abateu sobre o segmento. Será que o desfinanciamento contido na proposta orçamentária de 2007 vai acelerar o fechamento de outros? Como ficará o acesso da população aos serviços médicos assistenciais se isso ocorrer?

Senador Luiz Otávio, atentai bem, se com aquele orçamento foram fechados 255 hospitais no Brasil... Olha a mentira! O que adianta Duda “Goebbels” Mendonça ter mentido tanto? Está aí: 255 hospitais fechados.

Ó Senador Marcelo Crivella, no seu Rio de Janeiro, onde fui fazer minha pós-graduação, no Hospital do Servidor do Estado, chegou-se ao ridículo de o Exército montar acampamento em logradouros públicos para se dar assistência ao povo. No Rio de Janeiro, padrão de excelência da Medicina no passado. Essa é a verdade.

A nossa preocupação, Suassuna, é com o Orçamento. Segundo proposta apresentada hoje pelo Governo para o Orçamento na área da Saúde para o ano de 2007, haverá redução de R$300 milhões. Atentai bem, Senador Maguito! O Programa Saúde da Família é um plágio de Cuba. Senador Marco Maciel, ninguém, neste País, pode falar mais do que eu em saúde familiar. Eu conheci, Senador Luiz Otávio, o criador desse projeto. Quando governava o Piauí, participei de uma missão em um hospital padrão, em Havana, onde conheci, como médico, o primeiro compêndio. Como Cuba é pobre, o livro foi mimeografado. Ali, conversei e dialoguei bastante. Foi um avanço para as regiões que não tinham uma Medicina de resolutividade. Aumentou? Aumentou. Melhorou? Melhorou. Mas a Medicina de resolutividade piorou muito neste País.

Sr. Presidente, Senador Luiz Otávio, conheço muitas mulheres que estão marcando mamografia para o mês de julho do próximo ano, 2007! Senadora Heloísa Helena, é muito tempo!

Na campanha eleitoral para Presidente da República - um quadro vale por dez mil palavras -, trabalhei - e só trabalho naquilo em que acredito - para o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Entre os amigos, pedi o apoio à campanha e o voto a um cidadão que traduz o quadro: o Dr. Paulo Eudes, que foi Prefeito, foi Deputado. Senador Luiz Otávio, ele é pouco mais novo que eu, também médico, honrado, honesto, e tem uma clínica traumatológica - a melhor da minha região. Senadora Heloísa Helena, isso vale por tudo. O Dr. Paulo Eudes, um pouco mais novo que eu na Medicina - vou fazer 40 anos de formado -, disse-me: “Dr. Mão Santa, eu não fecho a minha clínica porque não tenho dinheiro para pagar as causas trabalhistas dos funcionários. É só prejuízo com as consultas a R$2,50”.

Senador Luiz Otávio, sei que incomodo - a verdade fere -, mas eu conheço; por isso, falo. Encontrei o melhor urologista da minha cidade, que tem aproximadamente 150 mil habitantes, e lhe cumprimentei, dizendo-lhe: “Dr. Luís, como vai? Tem operado muitas próstatas?” Eu já operei, essa cirurgia é trabalhosa, é complicada. Ele me disse: “Nunca mais, deixei”.

Uma cirurgia de próstata, por exemplo, custa R$100,00 - e trata-se de uma operação de muita complicação; um parto, R$100,00. Vejam V. Exªs: uma gravidez leva nove meses de trabalho; não se nasce simplesmente; tem-se de fazer o pré-natal e o puerpério. Então, atentai bem, Senadora Heloísa Helena: está acabando, no Brasil, a capacidade resolutiva. Quero dizer a V. Exª, Senadora, que está comprometida a dar palestras - acabei de falar com o Dr. Valdir Aragão, Diretor de uma escola técnica de enfermagem, e a primeira palestra naquele local será dada por V. Exª. Essa será a primeira de uma sucessão de muitas palestras que V. Exª dará mundo afora. A primeira será no Piauí, para falar sobre os problemas de saúde.

Sr. Presidente, Senador Luiz Otávio, na Inglaterra, houve médico de família. Mas eles acabaram com essa assistência. Sabem por quê? De repente, a Inglaterra, da Rainha Elizabeth, viu que a pediatria em seu País estava ficando atrasada em relação a outros Países do mundo. O Programa Saúde em Família beneficia o médico generalista, acabando com os especialistas. Muitos saem da faculdade com uma remuneração satisfatória dentre as demais. Então, os médicos especialistas estão fugindo.

Advirto V. Exªs que os médicos residentes estão em greve. Senadora Heloísa Helena, eles entraram em greve no dia 1º de novembro. Hoje, nesta Casa, tive a oportunidade de ouvir calorosos discursos sobre os controladores de vôos deste País. Por quê? Porque os aeroportos estão cheios, são os ricos que usam os aviões. No entanto, os médicos residentes têm a mesma responsabilidade que os controladores de vôos, porque são eles que fazem funcionar os grandes hospitais deste País - hospitais públicos, hospitais das clínicas, santas casas, hospitais universitários! Setenta por cento do trabalho nos hospitais são executados pelos médicos residentes, que estão lá, não em troca do salário, mas, sim, em busca da responsabilidade no aperfeiçoamento profissional, estão em busca de uma especialização. Por isso, por essa consciência e para que possam avançar na Medicina, eles estão em greve. Mas não há qualquer solução por parte do Governo. Sei que o Presidente da República é bom em fazer greve - foi professor! Portanto, está na hora de acabar com a greve dos médicos residentes.

Senador Demóstenes Torres, há filas em todos os grandes hospitais . Fui médico residente, sei que os residentes são o sustentáculo dos hospitais: trabalham no preparo dos doentes e auxiliam nas cirurgias. Por isso, todos os hospitais reduziram o atendimento em 30%; são 17 mil. O que eles querem é uma atualização salarial, porque eles ganham pouco mais de R$1 mil. Eles têm de comer, de se locomover, de se vestir, de comprar livros, por isso cobram essa responsabilidade do Governo, dos Ministros da Educação e da Saúde, para que se coloquem nesses hospitais aqueles preceptores, aqueles responsáveis pela formação. Eles não querem ser taxados, Senadora Heloísa Helena, como se fossem uma mão-de-obra barata, escrava e servil.

Essa é a nossa preocupação.

Senador Ney Suassuna esta é a colaboração do PMDB de vergonha. Nós não estamos aqui atrás de cargos. Assim sendo, vamos votar tantas vezes quantas forem necessárias e assim desejar o Presidente da República. Mas que este voto signifique algo bom para o povo e para o País. Está na Câmara um projeto de lei atendendo aos médicos residentes, que tem o meu voto. Repensem o Orçamento no que diz respeito à saúde.

Ó Suassuna, a ignorância é audaciosa! Deus me mandou para cá, mas não me mandou ignorante. Vim do Piauí com passos no estudo e no trabalho e aprendi, Senadora Heloísa Helena, por intermédio da pesquisa, que duas coisas incomodam o povo deste País: uma é a segurança. Norberto Bobbio, o sábio da teoria da democracia, disse que o mínimo que se tem de exigir de um Governo é a segurança à vida, à liberdade e à propriedade.

Este País vai mal!

Olha, fui a Buenos Aires e, às quatro horas da manhã, eu, de mãos de dadas com a Adalgisa, passeava pelas ruas de lá. Convido os brasileiros, os que cantaram “deixam o homem trabalhar” a desfilar com sua esposa pelas ruas de nossas cidades de madrugada. Andei também em Madri, Suassuna, e, a certo momento, parei. Sabe por quê? Às quatro horas da manhã, vi um casal de velhinhos numa praça namorando e usavam jóias, casacos... Jóias! Convido os velhinhos e as velhinhas que disseram “deixa o homem trabalhar”, a namorarem às quatro horas da manhã nas ruas do Brasil. Este Governo, que não oferece nem uma parte do mínimo recomendado por Norberto Bobbio - a segurança -, também não oferece a saúde que o povo do Brasil merece.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E entendo que a saúde deve ser como o sol, igual para todos. Agradeço a concessão e a dilatação do tempo, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/11/2006 - Página 35137