Discurso durante a 191ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre as matérias publicadas no jornal O Estado de S.Paulo e na Folha Online sobre o assassinato do ex-Prefeito de Santo André/SP, Celso Daniel. Registro de pesquisa atestando o aumento do consumo dos brasileiros mais pobres. (como Líder)

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA SOCIAL.:
  • Comentários sobre as matérias publicadas no jornal O Estado de S.Paulo e na Folha Online sobre o assassinato do ex-Prefeito de Santo André/SP, Celso Daniel. Registro de pesquisa atestando o aumento do consumo dos brasileiros mais pobres. (como Líder)
Aparteantes
Jefferson Peres.
Publicação
Publicação no DSF de 23/11/2006 - Página 35152
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, INVESTIGAÇÃO, POLICIA, HOMICIDIO, EX PREFEITO, MUNICIPIO, SANTO ANDRE (SP), CONCLUSÃO, FALTA, PROVA, CRIME POLITICO, NEGAÇÃO, CONFIRMAÇÃO, CULPA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • ELOGIO, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, MELHORIA, SITUAÇÃO, FAMILIA, POBREZA, AMPLIAÇÃO, OPORTUNIDADE, AUMENTO, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Obrigada.

Trago à tribuna hoje, pela Liderança do Partido dos Trabalhadores, Senador Luiz Otávio, duas matérias que saíram no noticiário - uma saiu na página 11 do jornal O Estado de S. Paulo e outra, na Folha Online, no portal da UOL. O título da matéria publicada no Estadão é “Crime não foi político, conclui inquérito” e o da publicada na Folha Online é “Polícia conclui que assassinato de Celso Daniel não teve motivação política”.

É interessante, Senador Luiz Otavio, porque esse assunto, durante meses, ficou nas capas dos jornais e no noticiário e, por conta de uma série de situações criadas, abriu-se um segundo inquérito para investigá-lo - este que aparece nestas notícias não é o primeiro inquérito, mas o segundo, e conclui que não foi crime político, que não foi crime de mando. O assassinato do Prefeito Celso Daniel, por trágico que tenha sido, pelo sofrimento que causou a todos nós, do PT, e aos que prezam a democracia no País, foi colocado nas manchetes e tomou a cena política, foi um dos principais assuntos da CPI dos Bingos.

O segundo inquérito repete a conclusão do primeiro, isto é, que o crime não foi de mando, não foi político, sai na página 11 de um jornal e em um portal. Vou ler alguns trechos da matéria do jornal O Estado de S.Paulo, porque, como não tem destaque, sou obrigada a destacar:

“A polícia concluiu que não há provas de crime político no assassinato de Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André seqüestrado e executado a bala em janeiro de 2002. Elizabete Sato, delegada titular do 78º Distrito Policial (Jardins), mandou à Justiça e ao Ministério Público relatório (...) A delegada investigou o caso durante um ano. (...)

Elizabete, quase 30 anos de experiência, concluiu em outubro o inquérito 781/2005: ‘Decorrido um ano desde a reabertura das investigações, passado o período da ‘efervescência investigativa’ [ela mesma coloca a expressão entre aspas!] que suspeitava de crime político, tese defendida pelo Ministério Público de Santo André e os irmãos da vítima, certo é que estes dois últimos não apresentaram, quer seja na CPMI dos Bingos, quer seja no inquérito policial, qualquer indício que redundasse em prova que pudesse dar sustentação à suspeita’.

A Delegada ressaltou: ‘A voracidade do Gaeco de Santo André sucumbiu diante da não-demonstração de outras provas.’ Gaeco é a sigla da unidade de elite o Ministério Público que tem a missão de combater o crime organizado”.

Diante dessas notícias, eu não poderia deixar de vir à tribuna, Senador Jefferson Péres. V. Exª sabe o sofrimento que foi ter esse caso todo revolvido novamente. Houve cenas, apresentação novamente das fotos do cadáver do ex-prefeito Celso Daniel, muita gente buscando a qualquer preço fazer ligações indevidas. Portanto, eu não poderia deixar de trazer essa questão à tribuna, até como alerta, porque esse tipo de coisa não pode se repetir, essas manchetes policiais, esses depoimentos todos, todo o sofrimento causado na CPMI dos Bingos, a suspeição generalizada - e muitas delas sem fundamento.

Agora, de novo, no segundo inquérito, a conclusão é que não há como provar o crime de mando, o crime político. Buscou-se permanentemente incriminar o PT, envolver o PT com o crime, envolver pessoas do PT com o crime, foram feitas ilações.

É interessante porque, mesmo depois do resultado eleitoral, mesmo depois de as urnas mostrarem os 61% de votos do Presidente Lula ou os vinte milhões a mais de votos, depois de o PT se consagrar como o partido mais votado para a Câmara dos Deputados, depois de o PT passar de três para cinco Governadores, depois de o PT, aqui no Senado, ter dois campeões de voto, tanto em número quanto em percentual de voto - o Senador Suplicy e o Senador Tião Viana -, ainda vemos determinadas propostas, atuações, ilações, manchetes. Parece que não aconteceu nada, e continuamos na mesma toada.

Então, eu não poderia deixar de fazer o registro dessas matérias e desse assunto e, de uma certa forma, exigir que se a ele se dê o devido destaque - não quero nem o equivalente, mas, pelo menos, o mínimo destaque para algo que, pela segunda vez se confirma. Aliás, pode escrever, Senador Jefferson Péres, não duvido que esse assunto volte à tona nas próximas eleições, não duvido mesmo.

Por tudo isso, deixo aqui registrado todo esse sofrimento. Há pessoas aqui que ainda não aprenderam que pode até demorar, mas a verdade, no final, aparece. Infelizmente, porém, a ela não se dá o destaque que a ilação e a suposição acabam tendo, inclusive nos ao longo desses inquéritos, mas principalmente durante a exacerbação do processo eleitoral.

Ouço com muito prazer o Senador Jefferson Péres.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senadora Ideli Salvatti, procuro ser justo na vida, sempre, mas nem sempre consigo. Não tenho nenhuma ligação com o PT, sou Senador de oposição, mas preciso fazer uma declaração. Participei da CPI dos Bingos e ouvi o depoimento dos dois irmãos do falecido Prefeito Celso Daniel, a versão dos fatos trazida por eles, assisti à acareação de ambos com o Sr. Gilberto Carvalho e, francamente, nem durante o depoimento nem na acareação, os dois irmãos conseguiram me convencer, e isso persiste até hoje. Por isso, se o inquérito concluiu nesse sentido, parece-me estar muito próximo da verdade.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Jefferson Péres e quero aqui publicamente dizer que, na oportunidade, V. Exª fez essa manifestação e me lembro disso. Então, agradeço, porque não há nada pior do que perder o senso de justiça e colocá-lo a serviço do interesse e do embate partidário ou eleitoral.

Concluindo, Sr. Presidente, dirijo-me aos que têm dificuldade para entender e analisar de forma mais adequada o processo que nós vivenciamos nesse último período, período que tem como face esse expediente, esse procedimento que eu relatei aqui. Como um fato tão doloroso acabou servindo de palco para o debate eleitoral, quando, pela segunda vez, o inquérito policial confirma que não havia qualquer possibilidade, nenhuma prova de crime político ou de crime de mando; e o que é que significou a resposta das urnas ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o desejo da população de continuar com mais quatro anos, deixando o homem trabalhar, como era o slogan.

Mas eu não posso deixar de registrar a pesquisa divulgada pela LatinPanel - acho que é assim que se fala; não sei se pronunciei corretamente - que diz que o consumo dos mais pobres cresceu 11% no Governo Lula. As classes “D” e “E”, que englobam famílias com rendimento médio de até quatro salários mínimos, e representam 39% da população, consumiram 11% mais de alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza, durante os quatro anos do Governo Lula. Os brasileiros mais pobres ampliaram a sua cesta básica de compras de 21 para 27 itens. Em reais, os gastos dos brasileiros dessas classes subiram 35% no Governo Lula, mas esse crescimento maior deve-se ao aumento dos preços dos produtos. Os reajustes reais do salário mínimo e do Bolsa-Família contribuíram para que dois milhões de famílias deixassem as classes “D” e “E”, durante o Governo Lula, e chegassem à classe “C”.

Então, esses números das pesquisas são a confirmação do outro lado da moeda, que no resultado eleitoral ficou tão claro. Acho que todos temos o dever de prestar atenção não só nos dados, no resultado, mas, principalmente, no que determinado tipo de comportamento, por mais tempo de que leve, por mais tempo que tarde, a verdade aparece sempre e é, muitas vezes, contundente. Ela mereceria que, pelo menos, não repetíssemos os mesmos erros. Estou acompanhando determinados pronunciamentos e determinadas ações que se estão desencadeando e acho que, infelizmente, talvez tenhamos a repetição de episódios lamentáveis.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/11/2006 - Página 35152