Pronunciamento de Patrícia Saboya em 22/11/2006
Discurso durante a 191ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem póstuma ao Senador Ramez Tebet. Centenário de morte do escritor cearense Domingos Olimpio.
- Autor
- Patrícia Saboya (PSB - Partido Socialista Brasileiro/CE)
- Nome completo: Patrícia Lúcia Saboya Ferreira Gomes
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Homenagem póstuma ao Senador Ramez Tebet. Centenário de morte do escritor cearense Domingos Olimpio.
- Publicação
- Publicação no DSF de 23/11/2006 - Página 35263
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM POSTUMA, RAMEZ TEBET, SENADOR, EX PRESIDENTE, SENADO, JURISTA, EX PREFEITO, EX GOVERNADOR, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), EX-DEPUTADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
- HOMENAGEM, CENTENARIO, MORTE, ESCRITOR, ESTADO DO CEARA (CE), ELOGIO, OBRA LITERARIA.
A SRª PATRÍCIA SABÓIA GOMES (Bloco/PSB - CE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desejo aqui prestar uma homenagem ao grande senador Ramez Tebet, a quem tive o privilégio de conhecer nesta casa e que considerei sempre um modelo, pela ética, pela urbanidade, pela cultura e pela modéstia. Teve uma carreira política brilhante, chegando aos mais altos cargos da República. Manteve, porém, a cordialidade e o desprendimento que caracterizam os grandes homens. Manteve acima de tudo a integridade.
Assumiu a prefeitura de sua cidade natal, Três Lagoas, em 1975. A essa altura já se formara em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para se manter, enquanto estudava, precisou trabalhar como garçom. Costumava apresentar-se como simples advogado, quando na verdade era jurista imensamente respeitado, chegando a professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Em sua administração de Três Lagoas, considerada séria e incorruptível, desenvolveram-se duas grandes obras: a rodoviária municipal e o Ginásio de Esportes Cacilda Acre. Deixou o cargo ao ser empossado como secretário de Justiça do estado de Mato Grosso do Sul, que então se estruturava.
No ano seguinte, tornou-se deputado estadual na legislatura inicial da Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Nesses anos como deputado estadual, foi o relator da primeira Constituição do estado. Por aí se tem uma idéia de quanto o novo Estado deve a Ramez Tebet e em que medida deixou nele sua influência e sua marca.
Deixou a Assembléia Legislativa para ocupar a vaga de vice-governador de Wilson Barbosa Martins (PMDB) na chapa que seria eleita na primeira eleição direta para os governos estaduais desde a implantação da ditadura militar. Sua chapa era oposicionista, de resistência ao estado autoritário, antecipando as campanhas pelas Diretas Já e pela eleição do primeiro presidente civil em mais de duas décadas. Em 14 de março de 1986, quando Wilson Barbosa Martins se afastou para concorrer ao Senado, Ramez assumiu o governo. Seu mandato se estendeu até 15 de março de 1987, quando deu a posse ao sucessor Marcelo Miranda, eleito também por seu PMDB, partido a que Ramez Tebet permaneceria filiado durante todo o restante de sua carreira política.
Já fora do governo, entre 1987 e 1989 assumiu a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste - Sudeco. Retomou então à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como professor, desempenhando com brilho suas funções.
Elegeu-se senador em 1994, para uma das mais notáveis carreiras de que se tem em períodos recentes nesta Casa. Destacouse no Senado brasileiro na presidência da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou o Poder Judiciário e, em seguida, do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado. À frente desses cargos, investigou episódios polêmicos como o que levou à inédita cassação de um senador em 2000
Em junho de 2001, Ramez Tebet foi nomeado ministro da Integração Nacional, mas permaneceu no cargo somente três meses. O Senado Federal vivia um período tumultuado e foi para Ramez Tebet que se voltaram os seus integrantes. Um amplo acordo político de emergência resultou na saída de Ramez do ministério, em setembro desse ano para ser eleito presidente da Casa, posição que ocupou até 1º fevereiro de 2003, tendo dado no dia 1º de janeiro daquele ano posse ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Deixou como herança, nos seus tempos de presidente do Senado, realizações de grande importância, como a instalação da Universidade do Legislativo Brasileiro, a Unilegis.
Em 2002, foi reeleito com a maior votação já obtida por um político de Mato Grosso do Sul - mais de setecentos e trinta mil votos. Nessa legislatura, presidiu a Comissão de Assuntos Econômicos e esteve envolvido com temas importantes da agenda política nacional, como a Reforma Tributária. Foi, também, o relator da nova Lei de Falências. Por aí se tem uma idéia da importância de Ramez Tebet, não apenas como administrador, mas também como legislador.
Sua tenacidade pode ser constatada também na luta contra a doença. Na década de 1980, curou um câncer na bexiga. Em 2004, o câncer reapareceu e Ramez lutou contra ele até seu falecimento, no último final de semana.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o exemplo deixado por Ramez Tebet se estende a seu pensamento sobre o desenvolvimento regional. Embora, como é evidente, tivesse o Centro-Oeste como prioridade, acreditava que sua região, o Norte e o Nordeste constituem antes de mais nada importantes fronteiras para garantir o desenvolvimento sustentável do Brasil, pelas imensas potencialidades ainda não totalmente aproveitadas de sua terra e de sua gente. Esse objetivo de desenvolver essas regiões e, assim, o Brasil, foi o centro de toda a sua atividade pública. Nós nos identificamos com esse pensamento. Por isso mesmo, e pela integridade que sempre pautou sua ação, consideramos Ramez Tebet um modelo para a política brasileira.
Sr. Presidente, Srªs e srs. Senadores, o segundo assunto é para falar sobre o conhecido em especial pelo romance Luzia Homem, o escritor Domingos Olimpio foi um dos mais criativos intelectuais cearenses da segunda metade do século 19 e início do século 20. Nascido em Sobral a 18 de setembro de 1850, faleceu no Rio de Janeiro há 100 anos, a 6 de outubro de 1906.
Sua obra tem um sentido político que não se deve esquecer. Luzia Homem foi publicada em 1903 e é considerado não apenas um romance pioneiro, mas se transformou em clássico, enquadrando-se no gênero Ciclo das Secas da literatura nordestina. Embora já esteja em domínio público na Internet, mereceu, recentemente seis novas edições, de diferentes e reconhecidos editores. De igual sucesso, inspirada no romance, existe uma versão cinematográfica, assinada pela família Barreto e estrelada por Cláudia Ohanna, também disponível em gravações na forma de DVD e VHS.
Além da força honrosa da mulher sertaneja, sua obra celebra as migrações, a resistência ao assédio em face das perseguições climáticas, da fragilidade econômica e da opressão inerente ao sistema.
A ação de Luzia-Homem transcorre no Ceará, em 1878. A protagonista, que confere título à obra, reúne a beleza plástica de mulher a qualidades à época mais associadas aos homens, como a força, a determinação e a independência. Integrada num grupo de retirantes, logo sua figura soberba chama a atenção de homens diametralmente opostos. Resiste a um deles, figura autoritária e violenta, escolhe seu parceiro, altivo e trabalhador, e acaba, após feroz resistência, apunhalada pelo pretendente rejeitado.
Essa não é, porém, a única obra de Domingos Olimpio. Ele compôs várias peças teatrais, tendo se realçado também na carreira jornalística. Transferiu-se para Belém e depois para o Rio de Janeiro e foi nomeado Secretário da Missão Diplomática que, em Washington, daria solução ao litígio, sobre fronteiras, aberto entre o Brasil e a Argentina. Escreveu, então, a História da Missão Especial de Washington, ainda inédita. Nunca, porém, abandonou suas raízes nordestinas, tanto assim é para ela que se volta a temática de sua época.
Fundou e dirigiu a revista Os Anais, onde publicou o romance O Almirante, deixando incompleto Uirapuru, também romance. Seus romances são realistas, de cunho regionalista como se observa nos tipos e cenas que descreve. Sua prosa é exuberante, dúctil e pitoresca. É por isso mesmo, e com justiça, considerado o precursor do moderno romance brasileiro. Domingos Olimpio é Patrono da Cadeira número 8 da Academia Cearense de Letras.
Pela sua importância e pelo que representa Domingos Olimpio para a cultura e a literatura nordestinas desejo aqui fazer este registro do centenário de sua morte, ocorrida quando, sem dúvida, ainda teria grandes contribuições a dar para nossa história.
Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.