Discurso durante a 193ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Trabalhos desenvolvidos pela CPMI dos Sanguessugas.

Autor
Antero Paes de Barros (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MT)
Nome completo: Antero Paes de Barros Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.:
  • Trabalhos desenvolvidos pela CPMI dos Sanguessugas.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 25/11/2006 - Página 35469
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AMBULANCIA.
Indexação
  • REPUDIO, ANDAMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, AMBULANCIA, REDUÇÃO, PODER, INVESTIGAÇÃO, PREJUIZO, RESULTADO, NECESSIDADE, COMPLEMENTAÇÃO, RECOMENDAÇÃO, CASSAÇÃO, DEFESA, ORADOR, INDICIAMENTO, ACUSADO, VINCULAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • CRITICA, IMPUNIDADE, ACUSADO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), ESPECIFICAÇÃO, DEPUTADO FEDERAL, AUSENCIA, INVESTIGAÇÃO, VINCULAÇÃO, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, PROTEÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), TENTATIVA, PREJUIZO, ORADOR, FRAUDE, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, DIFAMAÇÃO, CANDIDATO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • LEITURA, REGISTRO, ANAIS DO SENADO, PUBLICAÇÃO, INTERNET, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, PARTICIPAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CORRUPÇÃO.
  • LEITURA, REGISTRO, ANAIS DO SENADO, TRECHO, PUBLICAÇÃO, INTERNET, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DEPOIMENTO, POLICIA FEDERAL, ALOIZIO MERCADANTE, SENADOR, ALEGAÇÕES, AUSENCIA, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, DEFESA, ORADOR, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO, FAVORECIMENTO, DEMOCRACIA, APOIO, EMPENHO, MEMBROS, EXPECTATIVA, RESULTADO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.
  • COMENTARIO, DEPOIMENTO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ALEGAÇÕES, SUSPEIÇÃO, CORRUPÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), JUSTIFICAÇÃO, AUXILIO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, PREJUIZO, ADVERSARIO, ELEIÇÕES.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), SUPERIORIDADE, CONVENIO, EMPRESA, ACUSADO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONTESTAÇÃO, ORADOR, REGISTRO, DADOS, COMPARAÇÃO, VALOR, REPASSE, ATUALIDADE, COMPROVAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, POLICIA FEDERAL, EXPECTATIVA, CONTINUAÇÃO, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, resolvi vir à tribuna porque, mais uma vez, passei esta semana acompanhando a CPI das Sanguessugas. O que me motiva mais a vir aqui é o comportamento de um significante Parlamentar petista que, vira e mexe, lembra-se do meu nome lá. Assim, vou trazer a esta tribuna as verdades que precisam ser ditas sobre a CPI das Sanguessugas e sobre este Governo.

Seria de se supor que o tempo dos aloprados já tivesse passado. Terminou a eleição. Não é verdade! É que nem poeira, que deixa rastros. No caso dos aloprados, rastros muito visíveis que, ao contrário da nuvem passageira, ficarão para sempre como marca do primeiro Governo Lula. É o Governo do José Dirceu, do Delúbio, do Marcos Valério e é o Governo dos aloprados. Ao menos como cenário de fundo, não é à toa que o Presidente, ontem, resolveu se penitenciar - e deve ter feito mentalmente o sinal da cruz -, dizendo que chega de formar governo com amigos.

A marca registrada aloprada está ali, bem nítida, na antevéspera do final da CPMI que investiga as denúncias envolvendo a compra de ambulâncias no âmbito do Ministério da Saúde. Esse triste episódio caminha para o final juntamente com a Legislatura. Prevê-se, e tem sido noticiado, que terá um final melancólico, notadamente em função dos depoimentos ensaiados dos aloprados que compareceram à CPMI esta semana.

Não compartilho do entendimento, repito, não compartilho do entendimento de que o simples fato de a CPMI ter aprovado o relatório preliminar recomendando a cassação de dezenas de Parlamentares já constitui feito importante. Não, ao contrário! Acho que a CPMI não poderia ter abdicado dos poderes que tem para investigar melhor os Parlamentares.

A que assistimos depois disso? Na Câmara dos Deputados, os Vedoins absolveram o grande parceiro deles em Mato Grosso, Pedro Henry, com um discurso completamente diferente do que havia dito quando de sua prisão, antes de começar a fazer negociata com os aloprados. A CPMI poderia ter investigado mais exaustivamente e, em vez de só indicar, de só recomendar a cassação, deveria também indiciar os Parlamentares.

Por que os Parlamentares não podem ser convocados para depor na CPMI? Está errado! Por isso, não concordo. Em um primeiro momento, até pode parecer que está tudo bem à opinião pública, mas, no momento seguinte, serve para a absolvição dos mensaleiros e dos sanguessugas.

Eu não tenho dúvidas de que o Governo não mexe com Pedro Henry na Câmara dos Deputados porque tem medo de que ele seja uma bomba de efeito retardado maior do que a de Roberto Jefferson. Mas não é só. E quanto ao Deputado Carlos Abicalil, uma das figuras exponenciais da CPI dos Correios, também do Mato Grosso? Apareceram mais de vinte ligações desse Deputado, e ele já deu explicações: “Não, mas eu estava conversando com o Expedito sobre o Banco do Brasil.” “Com o Bargas é sobre o Ministério do Trabalho?” “É.” “Naquele período da compra do dossiê?” “É”.

Mas e por que não se quebra o sigilo telefônico desde o início da Legislatura, para ver quantas vezes ele conversou com essa gente? A CPI não pode deixar de ouvir o Deputado Abicalil, de cobrar essas explicações. Em dúvida, pro societate; depois de apurados os fatos que a CPI se recusou a apurar, in dubio pro reo. Ao não apurar, pode causar o in dubio pro reo nas Comissões de Ética.

Os recentes telefonemas têm outra figura importante de Mato Grosso: o Sr. Alexandre César. E, impressionante: todos amigos de José Dirceu - Pedro Henry quase foi Ministro da República indicado por José Dirceu; Abicalil, homem de frente, lá, de defesa do José Dirceu; e Alexandre César, Presidente do PT, com José Dirceu. Há uma Senadora aqui do meu Estado, do PT, a Senadora Serys Slhessarenko, que sabe, no fundo de sua alma e de sua consciência, que essas pessoas, associadas criminosamente a outro importante petista de Mato Grosso, Sr. Valdebran Padilha, patrocinaram também situações contra a própria Senadora Serys. Não quero entrar nesse mérito agora, até porque, como membro do Conselho de Ética, vou ter de me pronunciar, efetivamente, a esse respeito.

Tenham certeza, Srs. Senadores: eu fui a primeira vítima desses aloprados, que tentaram fazer comigo a mesmíssima coisa - aliás, com a mesma documentação - do suposto dossiê que tentaram fazer contra José Serra e Geraldo Alckmin. Aqueles aloprados que orquestraram o dossiê contra as candidaturas do ex-Governador Geraldo Alckmin e do Governador eleito de São Paulo, José Serra, espero que sejam alcançados com penas compatíveis com o crime que cometeram, apesar do arremedo de uma orquestração permanente de órgãos do Poder Público para salvá-los da degola.

O ensaio para que os aloprados saiam ilesos da investigação ficou evidente em depoimentos prestados nesta semana na CPMI.

Vamos aos fatos. Recorro inicialmente ao texto do jornalista Reinaldo Azevedo. É o blog dele que diz - e com o que concordo:

Uma das mais esclarecedoras reportagens a respeito do assunto foi publicada pelo O Globo. E tinha como fundamento o depoimento à PF de Gedimar Passos, o petista que é advogado e policial aposentado. Gedimar foi preso em companhia de Valdebran com o dinheiro que pagaria a armação contra Serra e Geraldo Alckmin.

Segundo Gedimar, o pacote negociado com os Vedoin incluía supostas informações que também comprometiam o PT. Esse dado desapareceu dos jornais. Ele é importante porque justifica que petista se mobilizassem para obter a malandragem. A um só tempo, estariam se preservando e atacando os adversários. Se estava havendo chantagem, os chantageados, provavelmente, eram os petistas. “A família Vedoin se dispôs a vender informações graves que comprometiam não só políticos de outros Partidos, como políticos do PT”, disse Gedimar à PF.

E prossegue o blog:

E o que seria o dossiê contra Serra? Segundo Gedimar, naquela língua estranha dos depoimentos, “ocorre que a documentação mostrada aos jornalistas e aquela que foi protocolizada na Justiça se resumia aos fatos já conhecidos da sociedade em geral e que se tornaram de pouca importância ao PT e ao órgão de imprensa [leia-se a revista ISTOÉ]; que como os Vedoin estavam interessados em receber o restante do dinheiro, se apressaram e, ainda na cidade de Cuiabá, entregaram um CD-ROM que afirmavam que continha toda a documentação prometida; que os jornalistas, ao chegarem em sua base, verificaram que o CD nada continha”.

Na seqüência, ele diz que os Vedoin ficaram de entregar novos documentos e que ele os analisaria para liberar ou não outra parcela do dinheiro.

Prossegue o blog:

Hamilton Lacerda - Agora já sabemos que o órgão de imprensa é a ISTOÉ, e que foi Hamilton Lacerda, assessor de Mercadante, quem negociou com a revista. Isso significa que ele estava, claro, por dentro do caso, incluindo as ameaças que Vedoin fazia aos petistas. A quais petistas? Bom, o fato é que um assessor de Mercadante estava no rolo. Os outros são homens de Lula [Luiz Inácio Lula da Silva].

Se dossiê havia... Se havia mesmo um dossiê, parece que não era exatamente contra o candidato tucano. Afinal, o homem encarregado de analisar o material não viu nada além do que todo mundo já sabia: fotos do ex-Ministro da Saúde em cerimônia da entrega de ambulâncias [em uma solenidade pública].

Pois bem. Dois meses depois, em depoimentos que poderíamos dizer se tratar de uma “concertação”(com a devida licença de Tarso Genro, uma espécie de “dono” da palavra), Expedito Veloso e Oswaldo Bargas decidiram se sair com uma versão que não haviam relatado à Polícia Federal: eles estariam interessados em supostas provas que ligariam Abel à campanha de José Serra em 2002.

Reparem que a versão dos homens que juraram jamais ter ouvido falar em dinheiro não combina com a de Gedimar. Já a de Abel Pereira, como vêem, confere com a de Gedimar.

Agora Mercadante: o Senador negou, claro, mais uma vez, que soubesse das ações de seu subordinado, Hamilton Lacerda, o homem da mala: é ele quem aparece nas fitas do Hotel Ibis carregando a dinheirama. Mercadante sustenta que só ficou sabendo de tudo depois da prisão dos aloprados.

Quer dizer que ele nunca o tinha visto antes esses moralistas? Não é bem assim. Ele confirmou ao delegado Diógenes Curado que se reuniu em seu gabinete no Senado com Expedito Veloso e Oswaldo Bargas no dia 4 de setembro: dez dias antes da prisão de Gedimar e de Valdebran Padilha. Ah, mas a reunião servia para quê? Veloso e Bargas teriam ido pedir que a Bancada petista [ressuscitem aí a velhinha de Taubaté] comparecesse em peso ao depoimento do Luiz Antonio Vedoim, marcado para o dia seguinte ao Conselho de Ética. A Senadora Ideli Salvatti (PT-SC) também estava presente. [Quem diz isso? Aloizio Mercadante.] Cabe a dois estafetas da campanha presidencial irem a Senadores da República pedir atenção na sessão no Congresso? Segundo Mercadante, isso é muito normal....

Como observador da cena, escrevo o óbvio: a posição de Mercadante, nessa história, é absolutamente inaceitável. Sua justificativa para alegar que nada tem a ver com o caso é frágil. Diz ele, com toda a carga de ambigüidade que a declaração pode ter, que jamais faria ataques pessoais a Serra. Dossiê é um ataque político, não é pessoal. Da forma como ele fala, até parece que, caso o tucano estivesse envolvido na falcatrua, seria uma questão privada. Não seria. Assim como o caso do dossiê fajuto está longe de ser uma mera questão policial. Era uma tentativa de golpear a democracia.

Mercadante só tem uma saída: tem de indagar, caso não saiba, a Hamilton Lacerda [seu assessor]: “Quem lhe deu o dinheiro?”

Bem. Como já foi noticiado, Hamilton Lacerda foi funcionário do Gabinete do Senador Aloizio Mercadante, no Senado, além de permanecer fisicamente em São Paulo, foi coordenador da campanha do Senador petista ao Governo de São Paulo, e, a julgar pelas notícias da época, visando, com um falso e fajuta dossiê, o ex-Ministro José Serra, hoje Governador eleito de São Paulo [aliás, historicamente, o primeiro Governador eleito em primeiro turno]. Eleito sem os arranjos assistenciais-eleiçoeiros que caracterizaram a vitória de Lula, tendo à frente de tudo o dinheiro do povo como forma de Bolsa-Família.

Já que falamos em “aloprados” e como sei que a Nação pede um raio-X de toda essa lama, leio a seguir o depoimento que, a propósito, prestou à Polícia Federal o ex-Líder de Lula no Senado, nosso colega Aloizio Mercadante, em matéria publicada na Agência Estado, assinada pela jornalista Sônia Filgueiras, retratando o depoimento ontem do Senador:

Em depoimento dado à Polícia Federal nesta quinta-feira, o Senador Aloizio Mercadante (PT-SP) contradisse as declarações dadas por Oswaldo Bargas, ex-Secretário-Executivo do Ministério do Trabalho e envolvido na tentativa de compra do dossiê contra tucanos, à CPI dos Sanguessugas e à própria PF.

Mercadante depôs em sigilo ao Delegado Diógenes Curado em Brasília e disse que teve uma reunião com Bargas e Expedito Veloso, ex-Diretor do Banco do Brasil e também envolvido no caso, antes do início da negociação do caso do dossiê. Tal encontro foi omitido por Bargas em seu depoimento, que disse apenas que sua participação na negociação do dossiê resumiu-se a acompanhar a entrevista que a família Vedoin deu à revista ISTOÉ.

O Senador petista informou que, no início da noite de 4 de setembro, onze dias antes do estouro do escândalo, a reunião com Bargas e Expedito foi acompanhada pela Senadora Ideli Salvatti (PT-SC). [Tudo isso foi dito à Polícia Federal.]

Durante essa conversa, os dois informaram Mercadante de que os Vedoin, donos da Planam e acusados de chefiar a “máfia das ambulâncias”, estavam escondendo informações sobre a existência de irregularidades na administração tucana no Ministério da Saúde. Mencionaram a existência de Abel Pereira como intermediário na liberação de recursos para ambulâncias.

Segundo Mercadante, no encontro, Bargas sugeriu que o PT utilizasse a audiência no Conselho de Ética do Senado, marcada para o dia seguinte, para vincular José Serra, Barjas Negri e Abel Pereira ao esquema de superfaturamento de ambulâncias.

O empresário Luiz Antônio Vedoin deporia no Conselho, e a proposta era pressioná-lo durante a reunião para contar o que sabia a respeito das irregularidades contra os tucanos. “O encontro foi a pedido de Bargas. Eles estavam juntos, e Expedito Veloso, que eu não conhecia, estava mais informado sobre os detalhes”, disse Mercadante.

Bargas e Expedito também integravam o comitê de campanha à reeleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na CPI, Bargas afirmou que conhecia apenas muito superficialmente o conteúdo do dossiê, omitiu o encontro com Mercadante e afirmou sua única participação no caso foi acompanhar a entrevista concedida pelos Vedoin à revista ISTOÉ.

Além de complicar a situação dos “aloprados”, Mercadante também comprometeu seu ex-assessor, Hamilton Lacerda, que, segundo a Polícia Federal, seria o homem da mala, responsável pela entrega do dinheiro que pagaria o dossiê no Hotel Ibis. [Aliás, há imagens: entra com mala, sai sem mala.] Ele [Mercadante[ informou ao delegado que não considerava “factível” [e não é mesmo] a versão apresentada por Lacerda de que levava biólitos de contribuição de campanha em uma das sacolas que deixou no Hotel Íbis. Entrou com a mala, saiu sem ela.

O Senador também afirmou que as funções de Lacerda eram supervisionar a elaboração de seus programas eleitorais veiculados na TV e coordenar a campanha na região do ABC paulista. Segundo Mercadante, Lacerda não tinha qualquer função financeira em sua campanha e desconhecia que ele fizesse arrecadação de fundos com boletos na campanha presidencial.

Ora, só faltava o Hamilton ter ido ao hotel levar boletos para receber contribuição do Valdebran para a campanha do Mercadante. Se o Hamilton está certo, essa é a versão; se o Mercadante está certo, isso não é factível. E ninguém do PT sabe de nada: o Lula não sabe, o Mercadante não sabe, o Hamilton não sabe, o Oswaldo Bargas não sabe, o Expedito Veloso não sabe, o Valdebran Padilha não sabe, o Abicalil não sabe. Ninguém sabe de nada.

Volto ao texto:

O Senador reafirmou em seu depoimento que jamais se associou à “iniciativa” de pagar pelo dossiê, que não teve qualquer participação no episódio e que não autorizou ninguém (inclusive seu ex-assessor Lacerda) a participar. Mercadante também afirmou que nunca conversou com Lacerda sobre o assunto e o demitiu no dia 20 de setembro por quebra de confiança.

Peço desculpas ao Senador Mercadante, mas sei que ele jamais concordaria em manter coisas desse tipo sob sigilo, apesar de que o depoimento dele foi sigiloso, mas já está publicado num jornal brasileiro. Como democrata que é, concordará que a Nação precisa saber de tudo. Como democrata que sou, penso que a CPI, que já teve a coragem - e bota coragem nisso! - de convidar para depor o ex-Ministro José Serra, vítima dos aloprados, deve ter a dignidade de exigir os esclarecimentos do Abicalil e do Mercadante, para que isso ocorra. E ninguém mais do que eu torce para que dê certo essa CPI, até pelo esforço de uma parte de Parlamentares que lutam para que a CPI dê certo. Cito aqui os Deputados Jungmann, Carlos Sampaio, Gabeira, eu diria que até o próprio Presidente da CPI e tantos outros que, entretanto, precisam liderar o movimento para que essas providências também aconteçam.

Vamos a outros fatos:

O tal de Jorge Lorenzetti, nas quase três horas em que prestou depoimento, afirmou alto e bom som que se encontrara dezenas de vezes com seus subordinados acusados de participação no caso, mas que estranhamente, em nenhum momento, os questionou sobre a origem do dinheiro.

A CPMI quis saber por que, após o estouro do escândalo, algo pior do que o estouro da boiada, para usar um refrão muito comum no meu Estado, Mato Grosso, não perguntou aos seus comandados como eles conseguiram o dinheiro. Isso porque fora obtido sem a sua autorização, fez uma patética afirmação, e ainda aqui lembro outro ditado de Mato Grosso, para rotular essa afirmativa patética de “coisa para boi dormir”. Ninguém é idiota, não somos uma Nação de idiotas.

Atentem para o que Lorenzetti disse: “Não falei com eles sobre isso; é um trauma para mim”. Lorenzetti se recusou ainda a responder diversas perguntas e partiu para o ataque contra o Governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), dizendo que o PT foi atrás do dossiê porque tinha informações consistentes de que a família Vedoin arcou com pagamento de dívidas da campanha presidencial do tucano, em 2002.

Expedito Veloso e Osvaldo Bargas, que ocuparam cargos no Governo Lula e participaram da campanha de reeleição do Presidente, também seguiram uma linha adotada no depoimento do Lorenzetti (o articulador da trama, segundo a PF) de levantar suspeitas sobre o PSDB.

Osvaldo Bargas, aquele do Ministério do Trabalho, disse que entrou na operação para desmontar a tese que ouvia quando ligava a tevê, a de que “os sanguessugas surgiram no Governo Lula”. Disse ainda que a revista IstoÉ foi escolhida porque o PT estava “em guerra com a imprensa e não poderia escolher qualquer jornal”. Ele afirmou que sua tarefa era acompanhar a entrevista em setembro, para assegurar que “teria um tom de que os Vedoin estavam colaborando com a Justiça”. Questionado sobre como direcionaria a edição, respondeu que leu a reportagem antes de ser publicada, e que o jornalista trabalhou à noite e deixou que ele lesse. Essa afirmação por si já aponta todo o trabalho junto à revista, foi direcionada e orquestrada nos mínimos detalhes para que matéria prejudicasse o PSDB, independente da preocupação com a veracidade das provas, que é um princípio basilar do jornalismo mundial.

O ex-diretor do Banco do Brasil, Expedito Veloso, envolvido na compra do dossiê contra políticos do PSDB, afirmou à CPI das Sanguessugas que Valdebran Padilha, outro petista que participou da operação, teria se comprometido a contribuir com R$1 milhão, de um total de R$1,7 milhão para o pagamento do material da família Vedoin. Apesar da declaração, disse não ter provas de que o dinheiro foi dado.

Além disso, fez ilações confusas de que os Vedoin tinham documentos que mostravam como a Planam pagou despesas da campanha do José Serra em 2002, através de cheques e transferências bancárias que somariam R$1,5 milhão, dinheiro cuja origem Expedito não soube precisar.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Eu pediria, Sr. Presidente, que V. Exª colocasse pelo menos mais cinco minutos para que pudesse concluir o meu pronunciamento.

Ao ser questionado pelos integrantes da CPI por que essa afirmação não fora feita à Polícia Federal, Expedito disse não se lembrar dos detalhes do depoimento e ponto final. A memória seletiva dos petistas realmente é impressionante.

Na verdade, a denúncia de Expedito Veloso limita-se a um subterfúgio, mais um dos diversos argumentos desenhados pela sua extensa banca de criminalistas, alguns até pagos pelo Erário.

Chamo atenção para os detalhes que vou ler, pois são detalhes verdadeiros, comprovados no Siafi.

O que a CPI deve realmente priorizar é a investigação dos dados concretos que demonstram a rede capitaneada por prefeitos, burocratas e parlamentares que se esbaldaram no recebimento de emenda em troca dos votos para o Governo petista.

Os dados até agora recolhidos desmontam todos os argumentos e mentiras que começam a ser espalhadas pela Bancada petista, disposta a colocar em descrédito a CPI. A última, pronunciada pelos aloprados da CPI e pelo Senador Aloizio Mercadante, no jornal O Estado de S. Paulo de ontem, em incrível sintonia difamatória, afirma que as investigações devem se concentrar no PSDB, pois 70% dos convênios com a Planam foram firmados no Governo FHC, segundo dados da Controladoria-Geral da União.

Desde a campanha eleitoral eles propalam essas mentiras!

Novamente a esperteza petista beira um nível de hipocrisia difícil de ser batido. Segundo a Controladoria-Geral da União, do total de convênios firmados com a Planam entre 2000 e 2004 (estranhamente não apresentou os contratos de 2005) 23,5% (210) foram firmados no Governo Lula e 76,5% (681) nos anos do mandato de FHC, dados que, para a Polícia Federal, são irrelevantes e meramente estatísticos para as investigações.

Vou provar. Prestem atenção!

O primordial, neste caso, é o montante de dinheiro repassado para a Planam, a empresa dos sanguessugas, no que ficou demonstrado um crescimento astronômico durante o Governo Lula.

Anotem:

Segundo a Polícia Federal, a Planam movimentou R$229.126,00, em 2000; R$196.584,00, em 2001; e R$3.462.290,00, em 2002, último ano de Fernando Henrique no poder.

No ano seguinte, em 2003, já no Governo Lula (primeiro ano do Governo Lula), a movimentação foi de R$3.199.878,00. A partir daí, os valores dispararam e chegaram, em 2004, a R$21.220.249,18; e R$14.465.448,00, em 2005, porque as investigações já estavam em andamento.

Vou repetir esses números porque são relevantes. No Governo Fernando Henrique, R$229 mil mais R$196 mil mais R$3,400 milhões; no Governo Lula, R$3,199 milhões mais R$21 milhões mais R$14,655 milhões. Foram esses os dados que a Polícia Federal usou para pedir a prisão de 54 pessoas em maio. A partir da Operação Sanguessuga, descobriu-se o envolvimento de congressistas que recebiam propina para apresentar emendas ao Orçamento destinadas à compra de ambulâncias.

Pelos dados da Polícia Federal, a Planam não foi a única empresa da família Vedoin que cresceu no Governo Lula. Segundo a Polícia, a Klass Comércio e Representação, aberta em nome de uma empregada doméstica de Darci Vedoin, movimentou R$18,131 milhões, em 2003, contra R$2 milhões no ano anterior. Em 2004, baixou para R$3,458,83 milhões. A Klass também era usada para pagar propina a congressistas, segundo a Polícia Federal.

Outro indicador de que Vedoin tinha horizonte para expandir seus negócios em 2003 era o projeto de construção de uma fábrica de carrocerias de ônibus em Dias D’ávila, na Bahia. Vedoin encarregou seu genro, Ivo Spínola, de cuidar do negócio e contou com ajuda - segundo a Folha revelou na terça-feira - do petista José Airton Cirilo, ex-Presidente do PT cearense e também ex-Diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres.

Cirilo ajudou Vedoin a tentar um empréstimo no Banco do Nordeste do Brasil para construir a fábrica. O BNB, segundo Cirilo, avaliou o projeto da Planam, mas o rejeitou por problemas técnicos. Vedoin diz que conseguira um empréstimo do ex-Deputado Bispo Rodrigues, então no PL do Rio de Janeiro. Acusado de receber mensalão, Rodrigues renunciou em 2005.

Isso demonstra o filão de investigações que a CPI tem que trilhar. Diante de diversos delitos praticamente comprovados, abrem-se outras linhas de investigação para que esses crimes se percam na imensidão dos fatos. Não foi por acaso que Lula levou para o Ministério da Justiça um dos mais brilhantes e conceituados criminalistas do País, o tranqüilo e consagrado advogado Marcio Thomas Bastos. Para o criminalista, nunca há o crime. Há o fato. O criminalista não nega o fato. Nega o crime. Nega a culpa.

           Já tive oportunidade de dizer aqui que ele faz um dublê de Ministro da Justiça e defensor dos bandidos do Governo, ou de orientador dos defensores dos bandidos do Governo.

           A CPI deve, portanto, cumprir seu dever constitucional, confirmar os responsáveis pelo superfaturamento das ambulâncias e deixar que o Ministério Público e a Justiça façam a persecução penal, amparados pelas conclusões colhidas pelo Legislativo.

           Antes de encerrar, Sr. Presidente, faço a leitura também do noticiário da Folha Online sobre esse triste episódio dos aloprados do PT, o Partido do Presidente Lula, do dia 22 de setembro de 2006, assinado pelo jornalista Epaminondas Neto.

           Em função do adiantado da hora, Sr. Presidente, eu vou pedir que V. Exª registre isso, até porque estou falando por concessão de horário de um colega. Vou pedir que V. Exª deixe registrados esses documentos nos Anais do Senado e vou encerrar pedindo que este noticiário se incorpore a meu pronunciamento. Quero que tudo seja registrado nos Anais do Senado da República. Também estou indo embora, mas amanhã, daqui a 50 anos mais ou menos, quem quiser analisar o que foi o triste quatriênio perdido do Presidente Lula vai ter, com este pronunciamento, parte do material, que eu tenho certeza que não é tudo, não é o suficiente, porque nem tudo foi apurado ainda.

           Aliás, o quatriênio findante de Lula não é apenas o quatriênio perdido. É o quatriênio da corrupção, da lama, da sujeira, do fingimento, da alopração, do aparelhamento da máquina estatal com petistas incompetentes. Enfim, o tempo mais que sujo, mais que imundo da história política do Brasil. Esse título ninguém tira de Lula. É como o título de tetra do São Paulo Futebol Clube. O São Paulo mereceu o título porque é um time de raça, da organização gerencial, da competência administrativa. Lula merece outro tipo de título, exatamente porque não tem as coisas que sobram no São Paulo - já que ele gosta tanto de fazer comparações futebolísticas. Lula merece o título de Governo que deixa mácula e corrupção sujando a História do Brasil. Também, como no caso do time de futebol, merecidamente. Esse título de mácula e corrupção é merecido para o Governo Lula, que vai terminar o seu primeiro quatriênio alopradamente.

Quero só, ao final, dizer que a minha esperança, apesar de não concordar com tudo da CPI, é a própria CPI. É fortalecer a CPI, torcer para que ela chegue a bom final; que se apure tudo; que não se omita; que chame o Parlamentar, por mais importante que seja. Por mais amigo que seja de José Dirceu e do Presidente Lula, o Sr. Abicalil deve satisfações à CPI e ao Brasil. Por mais Líder que tenha sido aqui o Senador Aloizio Mercadante, ele pode perfeitamente ser ouvido e convencer os seus Pares. Ou não convencer, porque parece que os argumentos não lhe dão razão, até porque nós estamos chegando em um momento em que o Brasil precisa prender titulares. A Polícia Federal prendeu um Juvenil lá em Minas. É preciso prender um titular. Já que Lula gosta tanto de futebol... E quem é esse Juvenil? É Deputado Federal pelo PT de Minas.

Lerei rapidamente essa notícia que saiu no Ancelmo Gois:

“Em sua discretíssima visita no final da semana passada a Belo Horizonte, o ex-Ministro José Dirceu trocou figurinhas com Juvenil Alves, pré-candidato a Deputado Federal pelo PT”. [Isso, à época.] E mais: “Está em gestação uma dobradinha comercial, aliando os conhecimentos e a influência do ex-Ministro, que voltou a advogar, e a estrutura do petista mineiro, que possui um dos maiores escritórios de advocacia de Minas, com 180 funcionários em filiais em Londres e quatro Estados brasileiros.”

Aliás...

De um gaiato sobre Juvenil:

- O cara é juvenil. Imagine o que vai fazer quando for adulto.

Agora, o Juvenil tinha de ter o capitão do time por trás. É o Juvenil ao lado do capitão do time José Dirceu. Essa é mais uma parceria dos aloprados. O Governo Lula é assim: continua tudo começando e tudo terminando em José Dirceu.

Concedo o aparte a V. Exª, se o Sr. Presidente o permitir.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Sr. Presidente, esse rapaz pode estar sendo vítima de calúnia nessa nota que V. Exª acaba de ler. Agora, o estranho é que o seu Partido não esteja aqui para defendê-lo ou para acusá-lo. Ou o Juvenil é inocente, e precisa da solidariedade do partido, porque ele contribuiu de maneira efetiva para a eleição, com 120 mil votos, espontaneamente, dado pelo povo de Minas Gerais, ou ele é culpado e merece a condenação, o repúdio dos companheiros. Quero registrar, Senador Antero, para que fique nos Anais da Casa, que o Sr. Juvenil, com a expressiva votação que teve, colocou na Primeira Suplência um dos mais brilhantes Deputados Federais do País. Paulo Delgado, do PT, é o Primeiro Suplente, e o Sr. Juvenil, esse furacão eleitoral que se alastrou por todas as Minas Gerais, o primeiro mais votado. Segundo ponto: gostaria de solidarizar-me com V. Exª pela indignação, mas mais acima pela determinação de querer ver os fatos apurados. V. Exª, que foi vítima de denúncias caluniosas no seu Estado e pagou um preço alto na própria CPI, quer que ela continue apurando. Para tudo tem razão V. Exª. Senador Antero, participamos da CPI do Banestado, e este é um fato com o qual não me conformo de maneira alguma: proposta pelo PT para apurar evasão de divisas do País, caluniou conceitos, vidas públicas; segundo a imprensa, chantageou alguns; e, no exato momento em que viajávamos pelo Brasil afora, inclusive por Minas Gerais, esse escritório crescia. Senador Antero, se a polícia quebrar o sigilo telefônico desse conglomerado que se espalha em várias partes do Brasil: Santa Catarina, São Paulo, Paraná.... A coisa é grande, o negócio do Juvenil... Imagine esse escritório quando ficasse adulto. Tenho a impressão de que vamos ver muita assombração e muita visagem. Mas o que me deixa estarrecido é que o PT não toma nenhuma medida preventiva. Já disse aqui para o Senador João Batista Motta e vou repetir: estão entrando na nova linha de produção, os modelos de 2007, e, por pressa, já está sendo lançada em 2006. A safra de 2007 já começa a fazer sucesso. No modelo novo: Juvenil. Imagine quando essa linha de produção começar a entrar no mercado... A Justiça é republicana! Quem diz isso é o PT; quem exalta são os líderes, mas é preciso que ela continue sendo republicana. É necessário e se faz urgente. Portanto, Senador Antero, o que dá para rir, dá para chorar. É questão de peso e de medida, problema de hora e de lugar. Salve o Billy Blanco por essa inspiração.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Agradeço o aparte de V. Exª e desejo sinceramente um bom final para a CPI. E que ela tome as providências de convocar essas pessoas, de convidar, mas com certa exigência. Não há por que o Parlamentar não ser ouvido na CPI. Não há, não existe nenhuma previsão legal de que o Parlamentar não possa ser ouvido. Existe, no máximo, a previsão legal de ele escolher o local. Mas os democratas escolhem o local da própria CPI.

Quero dizer que tenho muito receio desse projeto do PT de “democratizar”, entre aspas, a imprensa, porque a democratização da imprensa é para gerar algumas coisas: a isenção dos juvenis, a anistia do José Dirceu e a volta dos aloprados.

É isso, Sr. Presidente.

 

************************************************************************************************

SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR ANTERO PAES DE BARROS.

************************************************************************************************

           O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT. Sem apanhamento taquigráfico.) -É de se supor que o tempo dos Aloprados já passou. Que nem poeira, que deixa rastros. No caso, rastros muito visíveis que, aí, ao contrário da nuvem passageira, vão ficar para sempre, como marca do primeiro Governo Lula. Ao menos como cenário de fundo. Não é à-toa que o próprio Presidente ontem resolveu se penitenciar, fez mentalmente o sinal da cruz e disse que formar Governo com amigos, jamais!

           A marca registrada "Aloprada" está ali, bem nítida, na antevéspera do final da CPMI que investiga as denúncias envolvendo a compra de ambulâncias no âmbito do Ministério da Saúde.

           Esse triste episódio caminha para o final, juntamente com a Legislatura. Prevê-se, e tem sido noticiado que ela terá um final melancólico, notadamente em função dos depoimentos ensaiados dos "aloprados" que compareceram à CPMI esta semana.

           Não compartilho do entendimento de que o simples fato da CPMI ter aprovado um relatório preliminar, recomendando a cassação de dezenas de Parlamentares já constitui feito importante. Não. CPI tinha poderes para buscar as provas.

           Tenham certeza, Srs. Senadores, que aqueles "aloprados" que orquestraram o dossiê contra as candidaturas do ex-Governador Geraldo Alckmin e o Governador eleito de São Paulo, José Serra, também serão alcançados com penas compatíveis com o crime que cometeram, apesar do arremedo de uma orquestração permanente de órgãos do Poder Público para salvá-los da degola.

           Fui a primeira vítima dessa história.

           O ensaio para que os aloprados saiam ilesos da investigação ficou evidente em depoimentos prestados esta semana na CPMI.

           Vamos aos fatos. Recorro inicialmente ao texto do jornalista Reinaldo Azevedo:

           "Uma das mais esclarecedoras reportagens a respeito do assunto foi publicada pelo O Globo. E tinha como fundamento o depoimento à PF de Gedimar Passos, o petista que é advogado e policial aposentado. Gedimar foi preso em companhia de Valdebran com o dinheiro que pagaria a armação contra Serra e Alckmin.

           Segundo Gedimar, o pacote negociado com os Vedoin incluía supostas informações que também comprometiam o PT. Esse dado desapareceu dos jornais. Ele é importante porque justifica que petistas se mobilizassem para obter a malandragem. A um só tempo, estariam se preservando e atacando os adversários. Se estava havendo chantagem, os chantageados, provavelmente, eram os petistas. "A família Vedoin se dispôs a vender informações graves que comprometiam não só políticos de outros partidos, como políticos do PT", disse Gedimar à PF.

           E o que seria o dossiê contra Serra? - Segundo Gedimar, naquela língua estranha dos depoimentos, "ocorre que a documentação mostrada aos jornalistas e aquela que foi protocolizada na Justiça se resumia em fatos já conhecidos da sociedade em geral, que se tomaram de pouca importância ao PT e ao órgão de imprensa [leia-se: a revista IstoÉ]; que, como os Vedoin estavam interessados em receber o restante do dinheiro, se apressaram e, ainda na cidade de Cuiabá, entregaram um CD-ROM que afirmavam que continha toda a documentação prometida; que os jornalistas, ao chegarem em sua base, verificaram que o CD nada continha".

           Na seqüência, ele diz que os Vedoin ficaram de entregar novos documentos e que ele os analisaria para liberar ou não outra parcela do dinheiro.

           Hamilton Lacerda - Agora já sabemos que o órgão de imprensa é a IstoÉ e que foi Hamilton Lacerda, assessor de Mercadante, quem negociou com a revista. Isso significa que ele estava, claro, por dentro do caso, incluindo as ameaças que Vedoin fazia aos petistas. A quais petistas? Bom, o fato é que um assessor de Mercadante estava no rolo. Os outros são homens de Lula.

           Se dossiê havia... - Se havia mesmo um dossiê, parece que não era exatamente contra o candidato tucano. Afinal, o homem encarregado de analisar o material não viu nada além do que todo mundo já sabia: fotos do ex-Ministro da Saúde em cerimônia de entrega de ambulâncias.

           Pois bem. Dois meses depois, em depoimentos que poderíamos dizer se tratar de uma "concertação" (com a devida licença de Tarso Genro, uma espécie de "dono" da palavra), Expedito Veloso e Oswaldo Bargas decidiram se sair com uma versão que não haviam relatado à Polícia

           Federal: eles estariam interessados em supostas provas que ligariam Abel à campanha de José Serra em 2002.

           Reparem que a versão dos homens que juram jamais ter ouvido falar em dinheiro não combina com a de Gedimar. Já a de Abel Pereira, como vêem, confere com a de Gedimar.

           Agora Mercadante: o senador negou, claro, mais uma vez, que soubesse das ações de seu subordinado, Hamilton Lacerda, o homem da mala: é ele quem aparece nas fitas do, Hotel Íbis carregando a dinheirama. Mercadante sustenta que só ficou sabendo de tudo depois da prisão dos aloprados.

           Quer dizer que ele nunca tinha visto antes esses moralistas? Não é bem assim. Ele confirmou ao delegado Diógenes Curado que se reuniu em seu gabinete no Senado com Expedito Veloso e Oswaldo Bargas no dia 4 de setembro: dez dias antes da prisão de Gedimar e de Valdebran Padilha. Ah, mas a reunião servia para quê? Veloso e Bargas teriam ido pedir que a bancada petista comparecesse em peso ao depoimento de Luiz Antonio Vedoim, marcado para o dia seguinte no Conselho de Ética. A senadora ldeli Salvatti (Bloco/PT - SC) também estava presente. Cabe a dois estafetas da campanha presidencial ir a Senadores da República pedir atenção a uma sessão no Congresso? Segundo Mercadante, isso é muito normal...

           Como observador da cena, escrevo o óbvio: a posição de Mercadante, nessa história, é absolutamente inaceitável. Sua justificativa para alegar que nada tem a ver com o caso é frágil. Diz ele, com toda a carga de ambigüidade que a declaração pode ter, que jamais faria ataques pessoais a Serra. Dossiê é um ataque político, não é pessoal. Da forma como ele fala, até parece que, caso o tucano estivesse envolvido na falcatrua, seria uma questão privada. Não seria.

           Assim como o caso do dossiê fajuto está longe de ser uma mera questão policial. Era uma tentativa de golpear a democracia.

           Mercadante só tem uma saída: tem de indagar, caso não saiba, a Hamilton Lacerda: "Quem lhe deu o dinheiro?"

           Bem. Como já foi noticiado, Hamilton Lacerda, foi funcionário do Gabinete do Senador Aloizio Mercadante, no Senado, além de permanecer fisicamente em São Paulo, foi coordenador da campanha do senador petista ao Governo de São Paulo, e, a julgar pelas notícias da época, visando, com um falso e fajuta dossiê, o ex-Ministro José Serra, hoje Governador eleito de São Paulo. Eleito sem os arranjos assistenciais-eleiçoeiros que caracterizaram a vitória de Lula, tendo à frente de tudo o dinheiro do povo em forma de bolsa-família.

           Já que falamos em "aloprados" e como sei que a Nação pede um raio- X de toda essa lama, leio a seguir o depoimento que, a propósito, prestou à Polícia Federal o ex-Lider de Lula no Senado, nosso colega Aloizio Mercadante, em matéria publicada na Agência Estado, assinada pela jornalista Sônia Filgueiras:

           "Em depoimento dado à Polícia Federal nesta quinta-feira, o senador Aloizio Mercadante (Bloco/PT -SP) contradisse as declarações dadas por Oswaldo Bargas, ex-secretário-executivo do Ministério do Trabalho e envolvido na tentativa de compra do dossiê contra tucanos, à CPI dos Sanguessugas e à própria PF.

           Mercadante depôs em sigilo ao delegado Diógenes Curado em Brasília e disse que teve uma reunião com Bargas e Expedito Veloso, ex-Diretor do Banco do Brasil e também envolvido no caso, antes do início da negociação do caso dossiê. Tal encontro foi omitido por Bargas em seu depoimento, que disse apenas que sua participação na negociação do dossiê resumiu-se a acompanhar a entrevista que a família Vedoin deu à revista IstoÉ.

           O Senador petista informou que no início da noite de quatro de setembro, onze dias antes do estouro do escândalo, a reunião com Bargas e Expedito foi acompanhada pela senadora Ideli Salvatti (Bloco/PT -SC).

           Durante essa conversa, os dois informaram Mercadante que os Vedoin, donos da Planam e acusados de chefiar a 'máfia das ambulâncias', estavam escondendo informações sobre a existência de irregularidades na administração tucana no Ministério da Saúde. Mencionaram a existência de Abel Pereira como intermediário na liberação de recursos para ambulâncias.

           "Segundo Mercadante, no encontro, Bargas sugeriu que o PT utilizasse a audiência no Conselho de Ética do Senado, marcada para o dia seguinte, para vincular José Serra, Barjas Negri e Abel Pereira ao esquema de superfaturamento de ambulâncias.

           O empresário Luiz Antônio Vedoin deporia no conselho e a proposta era pressioná-lo durante a reunião para que contasse o que sabia a respeito de irregularidades contra os tucanos. "O encontro foi a pedido de Bargas. Eles estavam juntos e Expedito Veloso, que eu não conhecia, estava mais informado sobre os detalhes", disse Mercadante.

           Bargas e Expedito também integravam o comitê de campanha à reeleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na CPI, Bargas afirmou que conhecia apenas muito superficialmente o conteúdo do dossiê, omitiu o encontro com Mercadante e afirmou sua única participação no caso foi acompanhar a entrevista concedida pelos Vedoin à , Revista IstoÉ.

           Além de complicar a situação dos "aloprados", Mercadante também comprometeu seu ex-Assessor, Hamilton Lacerda, que segundo a PF, seria o "homem da mala" responsável pela entrega do dinheiro que pagaria o dossiê no Hotel Ibis.

           Ele informou ao delegado que não considerava "factível" a versão apresentada por Lacerda de que levava boletos de contribuição de campanha em uma das sacolas que deixou no Hotel Ibis.

           O Senador também afirmou que as funções de Lacerda eram supervisionar a elaboração de seus programas eleitorais veiculados na tevê e coordenar a campanha na região do ABC paulista. Segundo Mercadante, Lacerda não tinha qualquer função financeira em sua campanha e desconhecia que ele fizesse arrecadação de fundos com boletos na campanha presidencial.

           O Senador reafirmou em seu depoimento que jamais se associou "à iniciativa" de pagar pelo dossiê, que não teve qualquer participação no episódio e que não autorizou ninguém (inclusive seu ex-Assessor Lacerda) a participar. Mercadante também afirmou que nunca conversou com Lacerda sobre o assunto e o demitiu no dia 20 de setembro por quebra de confiança."

           Peço desculpas ao Senador Mercadante. Mas sei que ele jamais concordaria em manter coisas desse tipo sob sigilo. Como democrata que é, concordará que a Nação precisa estar informada de tudo.

           Mas vamos a outros fatos:

           O tal de Jorge Lorenzeti, nas quase três horas em que prestou depoimento, afirmou alto e bom som que se encontrara dezenas de vezes com seus subordinados acusados de participação no caso, mas que estranhamente, em nenhum momento, os questionou sobre a origem do dinheiro.

           A CPMI quis saber porque, após o estouro do escândalo, algo pior do que o estouro da boiada, para usar um refrão muito comum no meu Estado, não perguntou aos seus comandados como eles conseguiram o dinheiro. Isso porque fora obtido sem a sua autorização, fez uma patética afirmação, e ainda aqui lembro outro ditado do Mato Grosso, para rotular essa afirmativa patética de "coisa para boi dormir." Ninguém aqui é sonso, ó caras!

           Atentem para o que ele disse: "Não falei com eles sobre isso; é um trauma para mim". Lorenzetti se recusou ainda a responder diversas perguntas e partiu para o ataque contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), dizendo que o PT foi atrás do dossiê porque tinha informações "consistentes" de que a família Vedoin arcou com pagamento de dívidas da campanha presidencial do tucano, em 2002.

           Expedito Veloso e Oswaldo Bargas, que ocuparam cargos no governo Lula e participavam da campanha à reeleição do Presidente, também seguiram a linha adotada no depoimento de Jorge Lorenzetti (o articulador da trama, segundo a PF) de levantar suspeitas sobre o PSDB.

           Oswaldo Bargas disse que entrou na operação para desmontar a tese que ouvia quando ligava a tevê, a de que "os sanguessugas surgiram no governo Lula". Disse ainda que a revista "IstoÉ" foi escolhida porque o PT estava "em guerra com a imprensa e não poderia escolher qualquer jornal". Ele afirmou que sua tarefa era acompanhar a entrevista, em setembro, para assegurar que "teria o tom de que os Vedoin estavam colaborando com a Justiça". Questionado sobre como direcionaria a edição, respondeu que leu a reportagem antes de ser publicada, e que o jornalista trabalhou à noite e aí deixou que ele lesse. Essa afirmação por si já aponta todo o trabalho junto a revista foi direcionada e orquestrada nos mínimos detalhes para a revista prejudicar o PSDB, independente da preocupação com a veracidade das provas, o que é um princípio basilar do jornalismo.

           O ex-Diretor do Banco do Brasil Expedito Afonso Veloso, envolvido na compra do dossiê contra políticos do PSDB, afirmou à CPI das Sanguessugas que Valdebran Padilha, outro petista que participou da operação, teria se comprometido a contribuir com R$1 milhão - de um total de R$1,7 milhão - para o pagamento do material da família Vedoin. Apesar da declaração, disse não ter provas de que o dinheiro foi dado.

           Além disso fez ilações confusas de que os Vedoin tinham documentos que mostravam como a Planam pagou despesas da campanha do José Serra, em 2002, através de cheques e transferências bancárias que somariam R$ 1,5 milhão, dinheiro cuja origem Expedito não soube precisar. Ao ser questionado pelos integrantes da CPI porque . essa afirmação não foi feita à Polícia Federal. Expedito disse não lembrar dos detalhes do depoimento e ponto final. A memória seletiva dos petistas realmente impressiona.

           Na verdade a denúncia de Expedito Velloso limita-se a um subterfúgio, mais um dos diversos argumentos desenhados pela sua extensa banca de criminalistas, alguns até pagos pelo erário. O que a CPI deve realmente priorizar é a investigação dos dados concretos que demonstram a rede capitaneada por prefeitos, burocratas e parlamentares que se esbaldaram no recebimento de emendas em troca dos votos para o governo petista.

           Os dados até agora recolhidos desmontam todos os argumentos e mentiras que começam a ser espalhadas pela bancada petista disposta a colocar em descrédito a CPI. A última pronunciada pelos aloprados na CPI e pelo Senador Mercadante no Jornal Estado de São Paulo de ontem, em uma incrível sintonia difamatória, afirma que as investigações devem se concentrar no PSDB pois 70% dos convênios com a PLANAM foram firmados no governo do FHC, segundo dados da CGV.

           Novamente a esperteza petista beira um nível de hipocrisia difícil de ser batido. Segundo a CGV, do total de convênios firmados com a PLANAM entre 2000 a 2004 (estranhamente não apresentou os de 2005) 23,5% (210) foram firmados no governo Lula e 76,5% (681) nos anos do mandato de FHC, dados que, para a Polícia Federal, são irrelevantes e meramente estatísticos para as investigações.

           O primordial, neste caso, é o montante de dinheiro repassado para a PLANAM, no que ficou demonstrado um crescimento astronômico durante o governo Lula.

           Segundo a PF a PlANAM movimentou R$229.126,64, em 2000; R$196.584,16, em 2001; e R$3.462.290,32, em 2002, último ano de FHC no poder.

           No ano seguinte, em 2003, já no Governo Lula, a movimentação foi de R$3.199.878,62. A partir daí, os valores dispararam e chegaram a R$21.220.249,18, em 2004, e a R$14.465.448,62, em 2005, porque as investigações já estavam em andamento.

           Foram esses dados que a PF usou para pedir as prisões de 54 pessoas ligadas em maio. A partir da Operação Sanguessuga, descobriu-se o envolvimento de congressistas que recebiam propina para apresentar emendas ao Orçamento destinadas à compra de ambulâncias.

           Pelos dados da PF, a Planam não foi a única empresa da família Vedoin que cresceu no governo Lula. Segundo a polícia, a Klass Comércio e Representação, aberta em nome de uma empregada doméstica de Darci Vedoin, movimentou R$18.131.339,41, em 2003, contra R$2.037.060,50, no ano anterior. Em 2004, baixou a R$ 3.458.813,10. A Klass também era usada para pagar propinas a congressistas, diz a PF.

           Outro indicador de que Vedoin tinha horizonte para expandir seus negócios em 2003 era o projeto de construção de uma fábrica de carroceria de ônibus em Dias D'A vila (BA).

           Vedoin encarregou seu genro Ivo Spínola de cuidar do negócio e contou com ajuda, segundo a Folha revelou na terça-feira, do petista José Airton Cirilo, ex-Presidente do PT cearense e também ex-diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres.

           Cirilo ajudou Vedoin a tentar um empréstimo no BNB (Banco do Nordeste do Brasil) para construir a fábrica. O BNB, segundo Cirilo, avaliou o projeto da Planam, mas o rejeitou por problemas técnicos. Vedoin diz que conseguira um empréstimo do ex-deputado Bispo Rodrigues, então no PL do RJ. Acusado de receber mensalão, Rodrigues renunciou em 2005.

           Isso demonstra que o filão de investigações que a CPI tem que trilhar. Diante de diversos delitos praticamente comprovados, abrem-se outras linhas de investigação para que esses crimes se percam na imensidão dos fatos. Não foi por acaso que Lula levou para o Ministério da Justiça um dos mais brilhantes e conceituados criminalistas do País, o tranqüilo e consagrado advogado Mareio Thomaz Bastos. Para o criminalista, nunca há o crime. Há o fato. O criminalista não nega o fato. Nega o crime. Nega a culpa.

           A CPI deve, portanto, cumprir seu dever constitucional, confirmar os responsáveis pelo superfaturamento das ambulâncias e deixar que o Ministério Público e a Justiça façam a persecução penal, amparados pelas conclusões colhidas pelo Legislativo.

           Antes de encerrar, Sr. Presidente, faço a leitura também do noticiário da Folha Online igualmente sobre esse triste episódio dos aloprados do PT, o partido do Presidente Lula, do dia 22/09/06, assinada pelo Jornalista Epaminondas Neto:

           "O delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno afirmou hoje que o dossiê original que seria comprado por integrantes do com supostas denúncias contra adversários era muito maior e abrangia "partidos de A a Z". Bruno foi o responsável pela prisão de Gedimar Pereira Passos e Valdebran Padilha em um hotel em São Paulo na sexta-feira passada.

           "O Gedimar disse que o dossiê.está envolvendo todos os partidos políticos e o próprio PT. Em nenhum momento, o Sr. Gedimar disse que era um dossiê contra o PSDB. Se vocês tiverem acesso aos meus autos, no futuro, verão que ele não fala do PSDB", disse o delegado.

           Na semana passada, a PF apreendeu uma fita de vídeo, um DVD e seis fotos - que formariam um suposto dossiê contra o ex-Ministro José Serra. O material, entretanto, mostrava apenas Serra em cerimônias de entrega de ambulâncias.

           Bruno forneceu mais detalhes sobre a prisão dos dois na capital paulista. Primeiramente a PF prendeu Valdebran, que tentou negociar a entrega do restante do dossiê já sob a supervisão da Polícia, mas a operação para conseguir o restante dos documentos não deu certo e foi interrompida. Logo depois, Valdebran teria indicado a presença de Gedimar, que foi detido no mesmo hotel.

           De acordo com o delegado, os depoimentos indicam que o dossiê original teria cerca de 2.000 páginas e apontaria outras denúncias além do envolvimento com a máfia dos sanguessugas.

           Ainda de acordo com ele, os documentos teriam sido vistos antes, em Cuiabá (MT). "Esta negociação [para comprar o dossiê], começou quando os Vedoin estavam presos na Polinter, em Cuiabá", afirmou Bruno.

           Na reconstituição do delegado, os Vedoin teriam avisado Valdebran que "alguém do PT”iria procurá-Lo. Este alguém seria Gedimar, com conhecimento de Jorge Lorenzetti.

           Bruno afirmou também que o PT iria comprar uma espécie de "pacote de denúncias" que valeria em tomo de R$2 milhões.

           Intervenção branca

           O delegado procurou contestar a tese de "intervenção branca" na investigação sobre o dossiê. Segundo Bruno, ele estava fora do caso e foi acionado pela PF de Mato Grosso para deter Valdebran em um hotel em São Paulo.

           Ele alegou que pela hora avançada em que terminou a prisão de Valdebran e Gedimar, não tomou depoimentos, que ficaram a cargo de uma delegada assistente. "Eu não fui afastado, apenas eu não continuei no caso", disse. Bruno acrescentou não saber se isto é normal, "eu apenas segui a minha chefia", afirmou.

           Segundo a Folha apurou, o delegado Bruno, que estava de plantão na madrugada de sexta-feira e prendeu Valdebran Padilha, foi afastado do caso e no lugar dele foram acionados policiais ligados ao superintendente em exercício da PF em São Paulo, Severino Alexandre, indicado para a diretoria executiva do órgão pelo diretor-executivo.

           Por orientação do superintendente em exercício, todos os delegados e agentes foram proibidos de falar sobre o caso. Também foi vetada a divulgação de imagens do dinheiro apreendido no hotel."

           Encerro, pedindo que esse noticiário se incorpore a este pronunciamento. Vai tudo para os Anais do Senado da República. E aí, amanhã, daqui a 50 anos, ou mais ou menos, quem quiser analisar o que foi o triste quatriênio perdido do Presidente Lula vai ter posse do material suficiente.

           Aliás, o quatriênio findante de Lula não é apenas o quatriênio perdido. É o quatriênio da corrupção, da lama, da sujeira, do fingimento, da alopração, do aparelhamento da máquina estatal com petistas incompetentes e, enfim, o tempo mais que sujo da história política do Brasil. Este título ninguém tira de Lula. É como o título de tetra do São Paulo F.C.

           O São Paulo mereceu o título, porque é um time de raça, da organização gerencial, da competência administrativa, coisas que faltam ao governo petista do Presidente Lula.

           Lula merece o título de Governo que deixa mácula e corrupção, sujando a História do Brasil. Também, como no caso do time de futebol, merecidamente. Ou, quem sabe, alopradamente!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/11/2006 - Página 35469