Discurso durante a 194ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões sobre as críticas divulgadas pela imprensa, no final de semana, ao presidente Lula, por ter verbalizado o que o mesmo considera como entrave ao crescimento econômico do país.

Autor
João Batista Motta (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: João Baptista da Motta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Reflexões sobre as críticas divulgadas pela imprensa, no final de semana, ao presidente Lula, por ter verbalizado o que o mesmo considera como entrave ao crescimento econômico do país.
Publicação
Publicação no DSF de 28/11/2006 - Página 35751
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONHECIMENTO, ORIGEM, PROBLEMAS BRASILEIROS, COBRANÇA, ORADOR, PROVIDENCIA, ESPECIFICAÇÃO, RETIRADA, ONUS, CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIARIA, FOLHA DE PAGAMENTO, INDEXAÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), EFEITO, AMPLIAÇÃO, SALARIO, EMPREGO, VALORIZAÇÃO, CLASSE PRODUTORA, MELHORIA, PREÇO, PRODUTO, PREVENÇÃO, EMIGRAÇÃO, JUVENTUDE, EXPECTATIVA, ALTERAÇÃO, SITUAÇÃO.
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), TENTATIVA, JUSTIFICAÇÃO, APOIO, GOVERNO FEDERAL, FRUSTRAÇÃO, ORADOR, FALTA, CONFIANÇA, PLANO DE GOVERNO, DESVALORIZAÇÃO, ETICA, AMBITO, POLITICA PARTIDARIA.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste final de semana, os jornais publicaram críticas e mais críticas ao Presidente Lula, porque ele detectou e verbalizou....

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - Permita-me só um momentinho, Senador João Batista Motta. Quero anunciar a presença dos médicos residentes do Hospital Universitário de Brasília. Nós os cumprimentamos e agradecemos pela presença no Senado Federal. Amanhã, será apreciado um projeto pelos Senadores, em regime de urgência, de interesse da classe dos médicos residentes. É um prazer enorme.

Devolvo a palavra ao Senador João Batista Motta.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - Como eu estava falando, Sr. Presidente, os jornais deste final de semana trouxeram muitas críticas ao Presidente da República, manifestadas por pseudo-ambientalistas que condenavam a fala do Presidente, quando verbalizou aquilo que Sua Excelência considera como entrave para o crescimento econômico do Brasil, no momento em que pregava acabar com as amarras que estão impedindo o Brasil de crescer.

Acontece que o Presidente, ao detectar aquilo que vem acontecendo, que tem atrapalhado o crescimento do Brasil, demonstrou que conhece os nossos problemas. Tem demonstrado saber que os entraves que o Brasil tem para crescer é o dólar a R$2,00; sabe que o que tem atrapalhado o Brasil a crescer são leis ambientais que estão sendo mal aplicadas; sabe da existência de ONGs estrangeiras, que vivem fazendo de tudo para que os nossos rios não sejam navegados; sabe que existem ONGs estrangeiras que fazem de tudo para que não se plante eucalipto no Brasil, ou melhor, que se faça reflorestamento no Brasil; sabe que a burocracia é incrível, é descomunal em nosso País; como sabia, há quatro anos, quando foi eleito pela primeira vez, que o brasileiro passava fome ao quando recebia um salário de R$300,00, hoje R$350,00. Sua Excelência sabe que não dá para o cidadão viver com um valor desse.

O que é de se lamentar é que, se o Presidente sabe diagnosticar os problemas, se sabe onde nascem os problemas que atrasam o crescimento do nosso País, que fazem com que milhares e milhares de jovens brasileiros tenham de se deslocar para viver em outros países. Jovens com diploma de médico, de engenheiro, de advogado, vão lavar pratos nos Estados Unidos, dirigir caminhão ou colher uvas na Itália... Moças que receberam também um diploma no Brasil vão ser camareiras em outras partes do mundo. Isso deveria cortar o coração do Presidente, que tem uma origem humilde. Olha, se Sua Excelência sabe diagnosticar, se sabe onde está o problema, então por que não procura debelá-lo por intermédio da nomeação de um Ministério competente, técnico, que se volte para os problemas que mais afligem o nosso povo, para que o nosso País possa voltar a crescer? Por que não faz? Sua Excelência não sabe que o cidadão não pode viver com R$300? Então, por que não tira a contribuição da folha de pagamento? Por que não faz a contribuição do INSS, ou seja, da Seguridade Social, ficar indexada ao PIB, ao crescimento econômico, e aí poderemos praticar um salário mínimo de R$500,00, de R$600,00, de R$1 mil ou de R$1,5 mil. Não importa. Fica a contribuição afastada da folha de pagamento, acabando com o problema dos aposentados do INSS. Por que não se faz isso? Já que copiamos tanta coisa dos países vizinhos, por que também não copiamos a possibilidade de se fazer um nivelamento por cima, ou seja, remunerar bem a produção e, depois, fazer um salário compatível para que o cidadão possa munir-se de seus bens por intermédio de um nivelamento por cima, com remuneração boa e salário bom também?

Por que procuramos nivelar o nosso País por baixo, ou seja, obriga-se o cidadão a vender um litro de leite por vinte centavos no interior do Brasil - no Estado da Senadora Ana Júlia Carepa, custa vinte centavos o litro de leite -, quando sabemos que o litro de água custa quase R$12,00? Como é que se obriga um cidadão a vender o leite por vinte centavos, a vender um saco de arroz por R$12,00, a vender um quilo de carne de boi em pé a R$1,50? Não dá para pagar as despesas; não dá para fazer a vacinação. Como é que se pratica isso?

Aí, obriga-se que tenhamos um salário de R$300,00, R$350,00, para que o cidadão, com aqueles recursos pequeninos, possa adquirir esses bens não-remunerados, pois está perdendo dinheiro ao produzir. Será que não é possível copiar aquilo que a Itália fez, onde o aluguel de uma quitinete é R$3.500,00 por mês? Onde um bife com arroz custa R$200,00, mas o cidadão ganha R$9 mil por mês? Será que não pode copiar isso? Será que não dá para o Presidente enxergar que se, neste País, há quem recebe um salário de R$350,00 não pode ter um salário de R$30.000,00 para alguém? Será que não dá para entender isso? Será que não se pode tomar uma providência? Foi feita uma reforma da Previdência, o salário dos funcionários estaduais foi vinculado ao do Governador, o salário dos funcionários da União foi vinculado ao salário do Presidente da República, mas ninguém obedece. Não há Governo; não há pulso.

Há coisas no Brasil, Sr. Presidente, que não dá para entender; é para o cidadão brasileiro desanimar. Vejo jovens e mais jovens se deslocando para outros países. São garotos brilhantes, filhos de amigos, que são obrigados a deixar nosso País para viver em outra parte do mundo. E nós de mãos atadas, sem fazermos nada.

Ontem, tive a maior decepção dos últimos tempos: vi uma entrevista do Presidente do PMDB, Michel Temer, na TV Bandeirantes. Foi uma coisa estarrecedora. Ele tentou justificar, de todas as maneiras, por que o apoio do PMDB. O PMDB se diz unido em torno de um projeto. Será que ele falou a verdade? Será que ele acredita nisso? Será que, no passado, o PMDB já não fez um acordo com o Governo, e o Governo não cumpriu nada?

Será que ele não entende que no Brasil sequer se tapa buraco e não se investe em portos? O Presidente está falando de retomada de crescimento, mas será que ele acredita? Será que o PMDB acredita? É uma coisa a que o brasileiro assiste estarrecido. Ou o interesse é pessoal, de meia dúzia?

Durante todo o programa, o que mais me assustou foi que, em momento nenhum, os jornalistas que estavam fazendo a entrevista ou o próprio Presidente do PMDB citaram que o Governo desmereceu a confiança da população, não cumprindo aquilo que prometeu no primeiro mandato. Em momento nenhum, o PMDB justificou ética no Governo para se juntar a ele. Isso não conta para o Governo e não conta também para o PMDB? Ou no PMDB ética só conta para o Pedro Simon e para uma minoria de peemedebistas?

            Sr. Presidente, eu queria deixar uma reflexão para o Presidente Lula, que, como disse no início do meu discurso, diagnosticou aquilo que tem atrapalhado o crescimento deste País. Espero que ele agora, com essa força poderosa de centenas de Deputados federais e de 18 Senadores, possa implementar um programa que realmente venha...

(Interrupção do som.)

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - ... um programa que lhe dê condições de debelar aquilo que tem atrapalhado o crescimento do nosso País. Espero que os 18 Senadores do PMDB e os quase 100 Deputados federais, juntamente com o PT, possam fazer isso.

Não estou nem preocupado, Senador Leonel Pavan, com a ética, que o PMDB está deixando de lado. Está se juntando ao poder. Não está se juntando pela ética, não está fazendo um acordo em torno daquilo que o Brasil precisa, mas quero aqui deixar um voto de confiança.

            Já que o Presidente Lula detectou a burocracia, os juros altos, a cotação do dólar prejudicando as exportações, facilitando as importações, transferindo nossos empregos para o exterior, espero que o Presidente Lula, agora com a ajuda do PMDB, já que está detectando esses problemas, já que conseguiu diagnosticá-los, que tome providências. Dê um murro na mesa, Presidente, acabe com isso, tire os pseudosambientalistas, incrustados no serviço público. Eles não surgiram no Governo Lula. Não! Eles vêm lá de trás. Tome providências contra essa gente que não quer que o Brasil cresça, que não quer que o Brasil saia do marasmo, que quer que continuemos produzindo miseráveis, com a violência chegando a patamares jamais vistos em nossa História ou na História do mundo. É uma vergonha mundial! Olhem o que está acontecendo no Rio de Janeiro e em São Paulo, quando chegam turistas estrangeiros...

(Interrupção do som.)

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES) - Com a sua compreensão, Sr. Presidente, vou terminar. Agradeço-lhe, de coração, respeitando os meus sucessores que vão falar desta tribuna.

Termino, dizendo: Presidente Lula, pelo amor de Deus, ajude este País a crescer! Dirigentes do PMDB, façam com que este País retorne ao crescimento! Está insuportável a situação em que hoje estamos vivendo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/11/2006 - Página 35751