Discurso durante a 194ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Realização de reunião do Diretório Nacional dos Partido do Trabalhadores, que fez um balanço geral das eleições.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Realização de reunião do Diretório Nacional dos Partido do Trabalhadores, que fez um balanço geral das eleições.
Publicação
Publicação no DSF de 28/11/2006 - Página 35759
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REGISTRO, REUNIÃO, DIRETORIO NACIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), BALANÇO, RESULTADO, ELEIÇÕES, COMEMORAÇÃO, VITORIA, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUMENTO, BANCADA, CAMARA DOS DEPUTADOS, GOVERNADOR, DEBATE, ANTECIPAÇÃO, CONGRESSO, AMBITO NACIONAL, PARTICIPAÇÃO, ASSOCIADO.
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, ABERTURA, REUNIÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DECLARAÇÃO, PREPARAÇÃO, GOVERNO, BUSCA, PARCERIA, PARTIDO POLITICO, COMPROMISSO, RETOMADA, CRESCIMENTO ECONOMICO, PRIORIDADE, QUALIDADE, EDUCAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA.
  • DIVULGAÇÃO, FOTOGRAFIA, ELEITOR, CAMPANHA ELEITORAL, REGISTRO, OPORTUNIDADE, ENSINO SUPERIOR, JUVENTUDE, COMPROVAÇÃO, RESULTADO, POLITICA SOCIAL, GOVERNO FEDERAL, INCLUSÃO, POPULAÇÃO CARENTE.
  • ANALISE, ELEIÇÕES, DIVERGENCIA, OPINIÃO PUBLICA, DIVULGAÇÃO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, OPINIÃO, POVO, ESPECIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO, RESULTADO, POLITICA SOCIAL.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste final de semana, houve a reunião do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores. Na realidade, foi a primeira reunião depois das eleições. Dedicamo-nos a fazer o balanço do resultado eleitoral, comemorando a vitória da reeleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno e também o resultado que colocou o PT como o Partido mais votado para a Câmara dos Deputados, o Partido que teve o maior percentual de votos na legenda, o Partido que cresceu em número de Governadores - de três Governos Estaduais para cinco. Também comemoramos o fato de que, aqui no Senado, os dois campeões de voto, tanto nominal quanto percentual, são do PT, os Senadores Eduardo Suplicy e Tião Viana.

Nosso Presidente de honra, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, compareceu à abertura da reunião do Diretório Nacional, na qual tivemos a oportunidade de estabelecer com ele, exatamente na instância máxima do nosso Partido, o Diretório Nacional, este diálogo muito franco e muito importante no momento em que o Presidente está se preparando para a composição do seu segundo mandato de Governo, com a determinação de não só estruturar uma coalizão partidária, ou seja, a valorização e a relação institucional com os Partidos que vão compor e compartilhar as ações de Governo, mas também de fazer essa coalizão partidária com base naquilo que ele está chamando de destravar o crescimento, fazer com que efetivamente este País possa se desenvolver, distribuir renda, tendo na educação de qualidade um dos seus principais pilares.

O Presidente vem realizando uma série de reuniões e tratativas nas últimas semanas, não só conversando com os Partidos institucionalmente, mas também realizando inúmeras reuniões com a equipe de infra-estrutura e econômica, recebendo personalidades, economistas, setores da sociedade civil organizada ou de setores produtivos. Isso é extremamente importante neste momento para se estabelecer o programa que vai embasar a coalizão partidária e para, a partir disso, ser possível a relação institucional a fim de que o Presidente possa desenvolver o seu segundo mandato.

Na reunião do Diretório Nacional do PT - a que eu não poderia deixar de me reportar, pela sua importância -, discutimos, além da avaliação do processo eleitoral, as medidas a serem adotadas com relação à antecipação do congresso nacional do PT, que vai ser realizado no mês de julho de 2007; as regras que vão embasar a realização e a participação maciça de todos os filiados do PT nesse debate importante que vamos desencadear no primeiro semestre do próximo ano e que será concluído no congresso nacional de julho.

Farei um relato do episódio que, talvez, mais me tenha marcado na reunião do Diretório Nacional, o fato que mais me emocionou e que tive vontade de trazer a esta tribuna. Não somente o assunto, mas uma imagem.

Em uma das salas anexas ao local onde estávamos realizando a reunião, havia uma exposição de fotos do primeiro e do segundo turno da eleição. Eram fotos extremamente emocionantes, fotos que retratavam momentos importantes da campanha em vários locais de todo o País. Mas havia uma foto, Senador Flávio Arns, que me emocionou sobremaneira, inclusive pedi autorização ao fotógrafo Ricardo Stuckert para trazê-la a este plenário. Repito que sigo a linha de que uma imagem vale mais do que mil palavras. Às vezes é muito difícil verbalizar, ou escrever, fazer um texto, reproduzir a imagem por meio de palavras. A foto que me emocionou sobremaneira e que me fez pensar inclusive sobre a dificuldade de verbalizar o que se vê em uma imagem creio que é motivo de reflexão de todos nós, tanto do Governo quanto da Oposição. Não sei onde a foto foi tirada, não consegui descobrir, mas é uma foto de vários jovens; um deles segura um cartaz; ele está profundamente emocionado, com lágrimas nos olhos; em uma das mãos, ele tem o cartaz; na outra, a caneta; no cartaz, está escrito: “O Lula me colocou na faculdade”.

Esta foto, com toda a sua simbologia e com a emoção que ela passa, fez-me refletir profundamente. É por isso que eu a trouxe para a tribuna. Como se pode verbalizar o que esta foto representa? A emoção desse jovem ao fazer um manuscrito em uma folha de papel e expressar, de forma tão veemente, a emoção de conquistar uma vaga em uma faculdade, ou seja: “Eu alcancei a faculdade, eu cheguei lá”. Esse sentimento, que eu não consigo verbalizar, emocionou-me profundamente. Se há uma foto que me desafiou a pensar, a refletir o processo eleitoral, essa é indiscutivelmente a imagem que me provocou a necessidade de aprofundar a reflexão.

O cartaz diz: “Lula me colocou na faculdade”. Mas poderia ser outro. Poderia ser: “Eu consegui uma casa”. “Instalou-se luz” - por meio do programa Luz para Todos. “Na minha residência, eu nunca tinha tido luz”. Ou: “Eu estou comendo mais”. “Eu consegui emprego”. “Meu poder de compra melhorou”.

As pesquisas demonstram - e eu tive a oportunidade de trazer dados - que as classes D e E aumentaram significativamente o valor de consumo da cesta básica em 11%, bastante superior ao período anterior.

Portanto, esse cartaz poderia ser qualquer outro, de acesso ou de inclusão. A eleição motivou as pessoas a participarem, a se posicionarem e a se emocionarem com o processo eleitoral. Ou seja, esta imagem é de mudança concreta na vida, é algo que mudou na vida da pessoa e que faz com que ela se sinta participante, que se sinta no jogo.

Aliás, no segundo turno da eleição, por várias vezes tive a oportunidade de vir à tribuna e de dizer que, agora, no segundo turno, foi bom, foi importante, porque ficou mais claro, deu para explicitar melhor o que estava em jogo, o papel do Estado, crescimento para quem, para fazer com que políticas públicas pudessem incluir um contingente maior de brasileiros e brasileiras, a questão da ação do Estado através dos instrumentos de desenvolvimento, e todo o debate sobre as privatizações. Ou seja, muitas vezes eu vim à tribuna para tratar do que estava em jogo, mas esta foto me diz que há um sentimento que norteou boa parte dos votos que se identificaram como participantes do jogo. E estavam no jogo. É uma resposta do tipo: “Minha vida mudou por causa disso, daquilo ou daquilo outro” - ou seja, por qualquer questão que mudou concretamente a vida daquela pessoa -, “e isso foi por causa de ti, cara. Foi por tua causa. Foi pela política que você adotou”.

Talvez esta foto possa explicar mais uma série de questões levantadas ao longo da campanha, como, por exemplo, o profundo debate a respeito do efeito “pedra no lago”, em que determinadas situações surgem na opinião pública, uma parcela pequena da população tem acesso à informação, e depois ela vai divulgando e contaminando toda a forma de as pessoas enxergarem ou analisarem determinada conjuntura política, econômica ou social.

O efeito “pedra no lago” acabou nesta eleição. Ele não se concretizou, não aconteceu. Muitos analistas disseram isso. Para mim, essa imagem responde a isso. Exatamente por que o efeito “pedra no lago” não surtiu o efeito que surtiu em outros momentos? Porque as pessoas internalizaram as conquistas, as mudanças em suas vidas.

Além disso, houve uma declaração, uma frase de cujo autor eu não me recordo, uma pérola que surgiu: “O povo está contra a opinião pública”. Havia uma opinião pública que tinha uma determinada avaliação do Governo Lula, enquanto o povo continuava, nas pesquisas, com a intenção de voto, com a avaliação extremamente positiva. Uma das melhores, talvez a melhor avaliação de um Governo ao final de quatro anos de mandato foi a do Presidente Lula. E alguém soltou esta pérola: “O povo está contra a opinião pública”. A foto para mim respondeu. Eu não consigo verbalizar. Vários analistas disseram que esta foi a eleição da inclusão.

Por falar em foto, essa me emocionou, mas gostaria de falar de outra que vi hoje, utilizada em uma entrevista do Senador Tasso Jereissati ao jornal Folha de S.Paulo. Em um trecho da entrevista, o jornal pergunta: “A Oposição está dando uma trégua ao Governo?” S. Exª responde:

Não é uma trégua. Mas acusações gravíssimas rodaram o país quase diariamente. Alertamos a população, mas ela resolveu dar crédito ao governo. Isso nos decepcionou e estamos num período passageiro de depressão pós-eleitoral, de ressaca. É tempo de nos reorganizarmos também.

A foto do Senador Tasso Jereissati é de meditação, é uma foto que todos nós devemos ter como exemplo do processo eleitoral. O processo eleitoral deve provocar em todos nós a meditação, deve provocar em todos nós o processo de repensar o seguinte: “O que aconteceu nesta eleição para que o efeito “pedra no lago” não acontecesse, para que o povo não estivesse conforme a dita opinião pública gostaria que estivesse? Alertamos tanto, mas o povo não nos acolheu, e se rebelou contra nossos alertas”. É muito importante que todos nós repensemos bastante e entremos nesse processo de reflexão sobre o significado do resultado das eleições.

Esta foto retrata um momento - e fotografia é isso, é o retrato de um momento - e é indiscutivelmente um desafio, pois milhões de brasileiros tiveram sentimento semelhante ao que motivou o jovem a fazer o cartaz e dizer o que havia de concreto mudado em sua vida. Portanto, esta foto tem de ser um desafio permanente.

Ou seja, o que mais vamos fazer daqui para frente? Para quem mais vamos voltar nossas ações? Para quantos mais serão dirigidas as ações que têm como objetivo desatrelar, destravancar, desamarrar os nós que impedem o desenvolvimento e a distribuição de renda no País? Esse é o desafio que a foto, com o olhar emocionado do jovem que nos olha, pelo retrato, no momento da fotografia, também nos coloca.

É muito importante que no momento em que o Presidente trabalha em medidas que vão servir de base para o programa que pretende acelerar o desenvolvimento, ampliar a distribuição de renda e colocar educação de qualidade como eixo central do nosso desenvolvimento, esta imagem seja o nosso desafio, e exatamente para quantos mais, o que mais e para quem mais vamos continuar multiplicando a emoção de sonho tornado realidade.

É por essa razão que eu quis trazer esta foto no dia de hoje, bem como trazer para a tribuna a emoção a que ela me reportou quando eu a vi na exposição de fotos do primeiro e do segundo turnos da campanha eleitoral do Presidente Lula. Vou deixá-la em meu gabinete, porque ela servirá de norte para o desafio que, tenho certeza, milhões e milhões de brasileiros que querem um Brasil se desenvolvendo, distribuindo renda e tendo educação de qualidade para todos nos colocam como exigência.

Por isso, Sr. Presidente, agradeço a oportunidade de ter usado a tribuna. Sei que V. Exª, até por gentileza para com Santa Catarina, concedeu-me uns minutinhos a mais.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/11/2006 - Página 35759