O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna em nome da coerência, que, para alguns, tem sido muito difícil de ser praticada.

Quero falar da audiência que tivemos - o Presidente do PDT, Deputado Carlos Lupi; o Deputado Miro Teixeira, Líder do PDT na Câmara dos Deputados; e eu, Líder do PDT no Senado Federal - com o Presidente da República, a convite de Sua Excelência. Claro que a conversa com o Presidente da República foi extremamente positiva, pois tivemos a oportunidade de trocar idéias sobre o quadro político, o econômico, as dificuldades que o País atravessa e o relacionamento do Governo com o Congresso Nacional. Portanto, sob esse ponto de vista, a reunião foi importante.

Mas, em todas as reuniões com o Presidente do PDT e com os Senadores do Partido, tínhamos, como decisão coerente para o PDT, adotado a postura de independência em relação ao Governo. Isso significa não aceitar participar do Governo, não assumir um papel de Partido da base do Governo e continuar desempenhando o mesmo papel que o PDT vinha desempenhando ao longo dos anos.

Em 2002, o PDT, no segundo turno, àquela época liderado pelo saudoso Leonel Brizola, apoiou a candidatura do Lula, que foi eleito. Em janeiro daquele mesmo ano, Brizola tirou o Partido da base do Governo e recomendou que todos os seus filiados saíssem do Governo. Permanecemos, os quatro anos do atual Governo, não participando da base e fazendo parte da Oposição; uma Oposição responsável, uma Oposição construtiva, fazendo a crítica no sentido de ajudar o País, votando contra tudo aquilo que entendêssemos não trazer benefícios para o País. Foi assim o meu procedimento; foi assim o procedimento do PDT no Senado.

Iniciado o segundo turno das eleições de 2006, o PDT se reuniu para discutir se apoiaria ou não a candidatura Lula, ou se apoiaria ou não a candidatura Alckmin. E qual foi a decisão do Partido? Independência. Penso que isso é coerência. Se o PDT decidiu não apoiar o candidato Lula durante o segundo turno e se manteve independente, a coerência recomenda que o PDT não adira ao Governo, que não faça, agora, aquilo que normalmente se faz em nome do fisiologismo, da troca de cargos ou da participação no poder. O PDT não fez parte da construção dessa eleição; logo, no meu entendimento, para ser coerente com aqueles que votaram no PDT no primeiro turno, em Cristovam Buarque para Presidente e nos demais candidatos do PDT - eu, por exemplo, fui candidato a Governador do Paraná -, o Partido deve adotar a mesma posição adotada nas eleições para o segundo turno. Isso não significa que vou me transformar em opositor para todas as propostas que o Governo apresentar. Não. Vamos apoiar tudo aquilo que o Governo apresentar de positivo para o País. No entanto, não deixaremos de criticar tudo aquilo que não seja construtivo. Essa foi a postura adotada nas eleições. Quem a determinou, aliás, foi o eleitor, quando votou no Lula, candidato a Presidente, que não teve o apoio do PDT.

Sr. Presidente, não estou falando isso apenas porque o Lula esteve no Paraná, em campanha, uma semana antes do segundo turno, e fez um discurso apoiando o meu adversário, que, aliás, nem no palanque de Sua Excelência subiu por estar envergonhado, já que, durante todo o mês de julho, o Governador do Paraná colocou um Deputado do PSDB como vice. Isto é incoerência, porque ele sempre criticou o neoliberalismo do PSDB e aqui chamou aquele que colocou como vice de ladrão, desta tribuna; aliás, deste microfone. Até perguntei no debate - e não obtive ainda a resposta até hoje - se ele foi irresponsável aqui, quando chamou o Deputado de ladrão, ou lá, quando o colocou como vice e, depois, saiu, licenciando-se do Governo e licenciando o vice também para que o Presidente da Assembléia Legislativa, Deputado Hermas Brandão, que era o seu vice, assumisse o Governo. Quando ele foi irresponsável: aqui ou lá? Não obtive a resposta até hoje. Aliás, não estou fazendo nenhuma crítica e acusação ao Deputado Hermas Brandão; quem o acusou foi o então Senador Roberto Requião, que agora o transformou em primeiro-ministro do seu Governo. Então, não sei se ele foi irresponsável aqui ou está sendo lá com o Paraná. Mas isso não está no meu debate de hoje, porque quero discutir a postura do PDT.

Lula foi, sim, lá, no segundo turno e, sem pedir licença, apoiou Requião para o Governo, e isso, claro, me prejudicou, mas não se trata de destilar aqui mágoa contra o Presidente, que fez o que estava no seu direito fazer: fez uma opção e foi lá apoiar, mesmo que o Governador tenha sido oportunista, mais uma vez, em se abraçar com o PT quando viu que Lula estava subindo, porque, quando Lula estava, no Paraná, abaixo nas pesquisas do Alckmin, ele se abraçou com Alckmin, ele se abraçou com o PSDB, tanto é que brigou na convenção - e não vou falar nas outras coisas que aconteceram na convenção do PSDB - para, ganhando a convenção, ter o vice do PSDB. Mas não quero ser igualmente incoerente.

Então, a posição que defendo do PDT é a de independência. Eu não entendo por que o PDT da Câmara está tão apaixonado, de repente, pelo Presidente Lula e em participar do Governo Lula, se, durante todo esse período, nós nos mantivemos independentes - inclusive essa foi a decisão do PDT pela sua ampla maioria na disputa do segundo turno.

Sr. Presidente, a Senadora Ideli Salvatti pede um aparte. Se V. Exª me der mais tempo, eu o concedo.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Peço a devida colaboração da Senadora, em razão de haver outros oradores inscritos.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Será muito rápido, Senador Osmar Dias. Tive a oportunidade de encontrar V. Exª na ante-sala hoje de manhã. Quero dizer que, para mim, foi uma satisfação muito grande encontrar não só V. Exª, mas outras pessoas do PDT por quem tenho muito apreço e consideração: Miro Teixeira, Manoel Dias, que é lá do meu Estado, Lupi e o Prefeito de Campinas. Não sei qual será a decisão do PDT. V. Exª pode ter certeza de que, para nós, será muita honra se o PDT tomar a deliberação de integrar a coalizão partidária que o Presidente está buscando construir para este segundo mandato. Se não for possível integrá-la, eu tenho certeza de que o PDT, pela sua história e pela sua prática, não faltará com o seu apoio na sustentação dos projetos e nas ações que tenham como objetivo o desenvolvimento, a distribuição de renda e a educação de qualidade, que são exatamente os nortes que estão guiando a construção das propostas, das medidas, do programa sobre o qual o Presidente está buscando montar a coalizão partidária. Portanto, será uma honra ter o PDT participando deste segundo mandato e, se não for possível, tenho certeza de que não faltará o apoio do Partido quando estiverem em jogo o desenvolvimento do País, a distribuição de renda e o fortalecimento da educação de qualidade para toda a população.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Senadora Ideli, pode ter certeza disso. De minha parte, o PDT se comportará desta forma: quando a matéria for de interesse nacional, o Governo pode contar com o PDT. Mas eu não entendo como coerente o PDT agora se abraçar ao Governo e querer participar, inclusive, com cargos no Governo. Isso seria, para mim, incoerente. O PDT não fez parte da campanha do Presidente Lula no segundo turno. Não fez. O PDT não apoiou o Presidente Lula, como não o apoiou no primeiro mandato. O Governo é o mesmo. O que faz com que o PDT, agora, queira se abraçar ao Governo Lula? Eu, como Líder do PDT no Senado, vou continuar pregando a nossa independência, a nossa forma crítica de atuar e, sobretudo, a liberdade para que possamos, desta tribuna ou em qualquer outra tribuna, falar aquilo que pensamos e combater aquilo que consideramos equivocado.

Acreditamos que o PDT tem uma história que deve ser preservada: a história da coerência do seu ex-Presidente Brizola. E não pode, de repente, jogar essa história assim, como se não tivesse de preservar um patrimônio tão valioso quanto a história de Leonel Brizola.

É por essa razão - e não por revanchismo - que eu falo desta tribuna para dizer que o PDT não pode, neste momento, participar da coalizão, pois não estaria sendo coerente com a sua história e com a história da última eleição, Sr. Presidente.