Discurso durante a 195ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da homenagem prestada hoje pela Universidade do Legislativo Brasileiro ao saudoso Senador Ramez Tebet, falecido recentemente.

Autor
Valter Pereira (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Valter Pereira de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro da homenagem prestada hoje pela Universidade do Legislativo Brasileiro ao saudoso Senador Ramez Tebet, falecido recentemente.
Publicação
Publicação no DSF de 29/11/2006 - Página 35888
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, INICIATIVA, UNIVERSIDADE, LEGISLATIVO, BRASIL, HOMENAGEM POSTUMA, RAMEZ TEBET, SENADOR, CONCESSÃO HONORIFICA.
  • REGISTRO, BIOGRAFIA, RAMEZ TEBET, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, PARCERIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), COMPROMISSO, ORADOR, CUMPRIMENTO, MANDATO.

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS. Pela Liderança do PMDB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Universidade do Legislativo Brasileiro, Unilegis, prestou hoje uma significativa homenagem ao já saudoso Senador Ramez Tebet, a quem vim substituir nesta Casa alta do Congresso Nacional.

Já se passaram alguns dias, mais de uma semana, que esse ilustre brasileiro despediu-se de todos nós. Ramez, que encantou esta Casa do Congresso Nacional pelo seu brilho, pelo seu descortino, pela sua sensatez era meu amigo pessoal, amigo de muito anos, companheiro de lutas. Deixa ele uma marca indelével.

Sua vida e seus atos são guardados com carinho por todos aqueles que tiveram o prazer de conviver com ele. Na memória de seus familiares, de seus amigos, de seus companheiros de Partido, de seus ex-colegas de magistério e de advocacia, fica a lembrança de um homem exemplar, de um conciliador, de um político afável, inteligente, dedicado à sua família, à sua terra natal e ao Brasil.

Dono de uma vasta experiência política, foram poucos os cargos que ele não ocupou. Foi Prefeito de sua cidade natal, Três lagoas, cargo que hoje é exercido por usa filha Simone Tebet, a primeira mulher a ocupar o cargo de Prefeita de Três Lagoas. No âmbito estadual, foi Secretário de Estado, Deputado, Deputado Constituinte de Mato Grosso do Sul, Governador e, no âmbito federal, em Brasília, além de Parlamentar, foi guindado ao Ministério da Integração Nacional.

O Senado teve duas oportunidades de colher e sorver sua experiência e inteligência. Como Presidente do Parlamento Nacional, exibiu características que o fizeram um dos homens públicos mais bem quistos do País: tranqüilidade, serenidade, espírito conciliador, disposição para ouvir todos os lados de uma disputa com justiça e muita equidade, mas sobretudo com firmeza de caráter, quando decisões difíceis precisavam ser tomadas.

Ramez tinha todos os motivos para orgulhar-se imensamente de sua trajetória política, em especial de seus anos no Senado Federal. Viveu uma vida pública sem máculas, sem ressentimentos, sem arrependimentos. Fez o que fez por puro e absoluto senso de dever. A política, para Ramez, sempre foi uma forma de prestar serviços a seu País, e nunca uma catapulta para a autopromoção social, política e econômica.

Seria com sincera emoção que Ramez Tebet receberia o título de Professor Honoris Causa que a Universidade do Legislativo Brasileiro (Unilegis) lhe concede, in memoriam, no dia de hoje. A homenagem que lhe prestaram os Senadores e os funcionários da Unilegis o comoveria profundamente, embora, tenho certeza, pudesse passar-lhe pela cabeça a idéia de não ser merecedor dessa honraria. Ele diria, possivelmente, que o fato de ter tido a satisfação de instalar e consolidar a Unilegis como destacada instituição de ensino superior já era recompensa suficiente. É uma pena que ele não tenha tido a oportunidade de receber mais essa bela homenagem, ele que já foi professor e que considerava o magistério como uma das mais nobres atividades humanas.

Modesto, humilde, pleno de caráter e de boa vontade, no fim de sua vida, Ramez conservava as mesmas qualidades do jovem político que conheci no Mato Grosso do Sul, ainda no início de uma carreira que se revelaria brilhante nas décadas seguintes.

Nossa amizade data da época em que Ramez era apenas uma estrela regional, ainda que destinada, já então, a ganhar dimensões nacionais.

Nosso primeiro grande projeto ocorreu na campanha que resultou na vitória, em 1982, de Wilson Martins para o Governo do Estado. Ramez fora seu parceiro, colega de chapa, Vice-Governador. Isso aconteceu nas primeiras eleições diretas em Mato Grosso do Sul, quando o PMDB logrou-se vitorioso. Eleito Vice-Governador, Ramez assumiu o Governo em março de 1986, quando o Governador afastou-se para concorrer ao Senado.

Em 1990, Ramez e outras lideranças migraram para o PSDB. Foram mazelas políticas que tumultuaram o PMDB local que levaram a essa mudança.

No ano seguinte, 1991, assumi a Presidência do PMDB Regional, do PMDB que restava depois daqueles tumultos, impondo-me a tarefa de reconstruir a legenda, tão danificada naquela região. E a primeira iniciativa que tomei foi procurar trazer de volta aquelas ovelhas desgarradas, dada a importância que elas tinham para essa tarefa gigantesca de reconstruir o Partido; e Ramez estava entre elas. Fui a casa dele, algumas vezes, até convencê-lo a voltar ao Partido e, com isso, atrair outras grandes lideranças para aquele relevante projeto que, inicialmente, destinava-se a reconstruir do Partido e, posteriormente, iniciar um projeto de grande dimensão para o nosso Estado.

Desde aquela ocasião, mantivemos o mais estreito contato, especialmente na campanha eleitoral de 1994, quando Ramez se elegera Senador por Mato Grosso do Sul. Em 2002, quando da sua reeleição, nossa parceria culminou com o convite para que eu fosse seu parceiro na chapa que concorria ao Senador Federal.

Ramez Tebet vivia em função da boa política, que entendia como a de bem servir ao povo de sua cidade, de seu Estado e de seu País. Sua dedicação e respeito para com a coisa pública e a política ficavam patentes não só nos seus atos como mandatário, mas também no seu comportamento de eleitor. No final de outubro, Sr. Presidente, poucos dias antes de entrar em coma, Ramez internava-se em um hospital em Campo Grande. E avaliem V. Exªs o que era a política no sangue daquele bravo Senador! Quando estava no hospital, a sua grande preocupação era recuperar-se, mesmo que temporariamente; era receber uma transfusão de sangue que lhe desse condições de comparecer na sua querida Três Lagoas e exercer o seu direito de voto. Um dia antes da eleição, deixara o hospital, e no dia seguinte cumpria o seu dever cívico, na sua Três Lagoas, votando, no segundo turno, para Presidente da República. Esse era o Ramez.

Coincidência triste, no dia em que esse bravo Senador agonizava e viria a falecer, realizava-se a eleição da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso do Sul. Tenho certeza de que o Senador Ramez Tebet gostaria de ter pelo menos mais algumas horas para cumprir mais esse dever, porque o que o alimentava era exatamente fazer política, fazer boa política.

Sua dedicação a serviço do bem comum, sua temperança, sua serenidade nos momentos mais difíceis, essas são as marcas do estadista sul-mato-grossense e brasileiro que estou a suceder nesta Casa. É meu dever, portanto, honrar os quatro anos de mandato que me foram legados; honrar a dedicação que esse grande brasileiro sempre devotou ao seu Estado; honrar a confiança que Mato Grosso do Sul depositou nele e em mim também.

Assim, registrar a importância e o valor que o título de Professor Honoris Causa teria para o Senador Ramez Tebet é meu dever não apenas como seu suplente, mas, ainda mais, como seu amigo e conhecedor do profundo e sincero carinho que ele dedicava à Unilegis (Universidade do Legislativo Brasileiro).

Ao fazer o registro desse evento e esta manifestação, Sr. Presidente, quero dizer ao povo brasileiro e aos colegas Senadores que vamos procurar, nesta Casa, seguir aquele exemplo de Parlamentar que procurava ser firme e, ao mesmo tempo, conciliador. Aqui estaremos para seguir aquele exemplo, porque essa é a política da modernidade - o sectarismo e o radicalismo caíram de moda, e o Senador Ramez Tebet, em bom momento, soube entendê-lo. É o que vamos procurar imprimir em nosso mandato, sem perder a firmeza, mas seguindo na trilha da conciliação e do entendimento.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/11/2006 - Página 35888