Pronunciamento de Mozarildo Cavalcanti em 29/11/2006
Discurso durante a 196ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Lamento pelo tratamento dado pela Câmara dos Deputados aos projetos aprovados pelo Senado.
- Autor
- Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
- Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
LEGISLATIVO.:
- Lamento pelo tratamento dado pela Câmara dos Deputados aos projetos aprovados pelo Senado.
- Publicação
- Publicação no DSF de 30/11/2006 - Página 36097
- Assunto
- Outros > LEGISLATIVO.
- Indexação
-
- CRITICA, CAMARA DOS DEPUTADOS, PARALISAÇÃO, TRAMITAÇÃO, PROJETO, INICIATIVA, SENADO, ESPECIFICAÇÃO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, OBRIGATORIEDADE, APLICAÇÃO DE RECURSOS, IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI), IMPOSTO DE RENDA, ESTADOS, MUNICIPIOS, REGIÃO NORTE, UNIVERSIDADE FEDERAL, REGIÃO AMAZONICA, PROJETO DE LEI, CRIAÇÃO, COLEGIO MILITAR, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE RORAIMA (RR), ESTABELECIMENTO, LEGISLAÇÃO, FISCALIZAÇÃO, FUNCIONAMENTO, PRESTAÇÃO DE CONTAS, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG).
- PEDIDO, MESA DIRETORA, SENADO, SOLICITAÇÃO, PRESIDENCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS, URGENCIA, APROVAÇÃO, PROJETO.
O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meu pronunciamento hoje é, na verdade, uma reclamação que dirijo à Câmara dos Deputados - aliás, Senador Paulo Paim, a mesma feita por V. Exª há poucos dias. Reclamo do tratamento dado aos projetos aprovados no Senado e que ficam anos e anos sem sequer tramitarem na Câmara. Fui Deputado, como V. Exª, e sei que o processo legislativo daquela Casa é mais complexo que o do Senado, mas todos os projetos que vêm de lá são aqui apreciados.
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Quero dar um testemunho da razão de V. Exª.
O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - E nós apreciamos com prioridade. No entanto, essa reciprocidade não existe por parte da Câmara dos Deputados.
Tenho conversado com Líderes da Câmara, com o Presidente Aldo Rebelo e reclamado da demora de certos projetos. Hoje, quero apenas reclamar de dois. Tenho mais de uma dúzia, apresentados durante meu mandato de Senador, aprovados aqui, da mais alta importância para o Brasil e para a minha região, que estão lá, digamos assim, mofando.
O primeiro deles é uma proposta de emenda à Constituição que tramitou até em tempo recorde aqui no Senado. Devido à matéria tratada, era de se esperar que o processo fosse mais demorado aqui e não na Câmara. O que reza essa proposta de emenda à Constituição? Ela propõe que 0,5% do que o Governo Federal arrecada com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e com o Imposto de Renda (IR), arrecadados nos Estados e nos Municípios, seja destinado às instituições federais de ensino superior localizadas na Amazônia.
Ora, Sr. Presidente, ao longo dessas últimas décadas, cada vez mais há uma espécie de terrorismo a respeito da Amazônia. Como homem nascido na Amazônia, lá criado e que lá vive, entendo que é lógica a preocupação com a região. Não podemos agir com a Amazônia de maneira irresponsável como agiram os Estados Unidos com o seu meio ambiente, como agiram os europeus com o seu meio ambiente. Mas não são eles que nos irão dar lição de moral sobre isso. Ao contrário, temos a Amazônia há mais de 505 anos e ela não tem sequer um terço da sua área, como dizem os ambientalistas, devastada. Na verdade, existe um terço ocupado, porque existem as cidades, as vilas, as estradas e a área produtiva da Amazônia. Não quero dizer com isso que não existam ações ilegais e criminosas lá.
Mas será que educar na Amazônia também é proibido? Será que investir nas instituições federais de ensino superior da Amazônia, como é o caso dos centros federais de ensino tecnológico, como é o caso das universidades federais, também é proibido? Então, como vamos pensar em eliminar as desigualdades regionais se não se pode sequer investir em educação na Amazônia.
E, vejam bem: querer 0,5%, Sr. Presidente, para uma região que corresponde a 60% da área do Território brasileiro, é muito pouco e ainda mais para aplicar em educação.
E essa proposta de emenda à Constituição saiu daqui em maio de 2003, Sr. Presidente. Faz, portanto, três anos que está na Câmara dos Deputados. Não é possível que aceitemos isso! Por isso, estou fazendo essa reclamação da tribuna.
Pretendo enviar amanhã, com a cópia deste pronunciamento, um ofício ao Presidente da Câmara e às Lideranças no sentido de que realmente seja tomada uma decisão. Como disse V. Exª a respeito de um outro projeto: que se decida! Se a Câmara dos Deputados quiser arcar com a responsabilidade de derrubar essa emenda, proibir, portanto, que a Amazônia tenha esse 0,5%, que assuma esse papel. O que não se pode fazer é jogar na gaveta e deixar que as coisas não aconteçam.
Realmente, quero fazer esta reclamação e apelar aos colegas Deputados: não tenham esse tipo de conduta com relação aos projetos que saem do Senado, porque, assim como o Deputado tem o direito da iniciativa do projeto, o Senador também o tem. Então, se a iniciativa parte do Senador, ela é complementada na Câmara, que funciona como Casa Revisora; quando a iniciativa é do Deputado, vem ao Senado para fazer a revisão. E repito: aqui temos agido com rapidez, e espero muito que tenhamos essa reciprocidade.
O outro projeto também é da área de educação, Sr. Presidente. Veja V. Exª que, no Brasil, existem doze colégios militares, ou seja, o sistema educacional militar do Exército Brasileiro é composto por 12 estabelecimentos de ensino. Poder-se-ia pensar que estão em 12 Estados; mas, não: estão sediados em dez Estados da Federação. Na Região Norte, há somente no Amazonas.
Ora, se numa região como a Região Norte, sabidamente cobiçada pelo esquema internacional há apenas um colégio militar, significa dizer que a grande parte dos oficiais militares começa sua carreira em outros colégios, como o do Rio de Janeiro, do Distrito Federal, do Ceará, de Pernambuco, da Bahia, de Minas Gerais - onde há dois colégios militares -, do Mato Grosso do Sul, do Paraná e do Rio Grande do Sul de V. Exª, onde também há duas unidades.
Então, apresentei um projeto de lei autorizativo propondo a criação de um colégio militar em Boa Vista, capital de Roraima. Por quê? Porque Roraima é o Estado mais ao Norte do País, embora ainda hoje, infelizmente, as televisões e os meios de comunicação repitam o jargão antigo de que o Brasil vai do Oiapoque ao Chuí. E nós sabemos que não é! É do Monte Caburaí, em Roraima, do Caburaí, portanto, ao Chuí. Então, se Roraima está mais ao Norte, encravada dentro da Venezuela, fazendo fronteira com a Guiana - a ex-Guiana Inglesa -, próxima ao Suriname e à Colômbia, nada mais justo - e até estrategicamente - do que se ter lá um colégio militar.
E esse projeto também foi aprovado com rapidez no Senado. O Senador Tião Viana, que foi Relator da matéria, aproveitou de forma positiva a idéia e acrescentou um outro colégio militar na cidade de Rio Branco, capital do Acre. Considero a proposta igualmente legítima, porque se situa na ponta Oeste da Amazônia, próximo à fronteira com a Bolívia.
Então, é muito importante que se pense o País de maneira geoestratégica e geopolítica. Assim, são dois os pontos: além da sua concepção estratégica, o projeto contempla a educação militar inclusive para que o cadete não apenas vá conhecer a Amazônia quando é deslocado para lá servir, mas que já se forme na região, conhecendo suas realidades.
Não entendo como é que esse projeto está parado na Câmara desde novembro de 2004 - e esse é mais novo do que a proposta de emenda à Constituição sobre o ensino superior -, há dois anos, portanto. E vejam bem: nenhum dos projetos significa qualquer prejuízo em termos financeiros para o País, ainda porque investir em educação nunca foi prejuízo, pelo contrário.
Então, deixo aqui minha reclamação, Sr. Presidente, e peço até mesmo que a Presidência do Senado faça gestões junto à Presidência da Câmara para que essa rotina seja quebrada. Um dia desses ouvi um colega dizer que a Câmara dos Deputados está se transformando em cemitério de projetos. Quer dizer, o projeto chegou lá, morreu! Não sai de lá mais. E começo a pensar que essa afirmação é verdadeira, quando vejo dois projetos como os que citei ficarem lá mofando e sendo distribuído para “n” comissões.
Não vou fazer hoje essa reclamação, mas lembro, a título de ilustração, que se está discutindo muito a questão das ONGs, onde se verifica um escândalo atrás do outro. Presidi uma CPI das ONGs, que terminou em 2002 - portanto, não era no período do Governo Lula -, onde foi proposto um projeto de lei para dar um novo marco regulatório, para estabelecer uma legislação que pudesse fazer com que a sociedade e o Poder Público tivessem acesso ao registro, ao funcionamento e à prestação de contas dessas instituições. Pois bem; o projeto foi aprovado e também está há mais de dois anos na Câmara. Se já houvesse sido aprovado e entrado em vigor, talvez não estivessem ocorrendo todos esses escândalos com as ONGs.
Portanto, é muito importante deixar esse registro. E quero pedir a V. Exª que solicite à Mesa do Senado que intervenha junto à Mesa da Câmara para que seja dado um outro tratamento aos projetos originários desta Casa.
Muito obrigado.