Pronunciamento de Augusto Botelho em 30/11/2006
Discurso durante a 197ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Elogios à trajetória do Correio Aéreo Nacional.
- Autor
- Augusto Botelho (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
- Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
FORÇAS ARMADAS.:
- Elogios à trajetória do Correio Aéreo Nacional.
- Publicação
- Publicação no DSF de 01/12/2006 - Página 36383
- Assunto
- Outros > FORÇAS ARMADAS.
- Indexação
-
- ELOGIO, HISTORIA, CORREIO AEREO NACIONAL (CAN), CONTRIBUIÇÃO, APROXIMAÇÃO, REGIÃO NORTE, REGIÃO CENTRO OESTE, TOTAL, BRASIL, PRESERVAÇÃO, DIVERSIDADE, RAÇA, CULTURA, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, AMPLIAÇÃO, EXERCICIO, CIDADANIA, ACESSO, SAUDE, POPULAÇÃO CARENTE.
- REGISTRO, IMPORTANCIA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ELOGIO, ATUAÇÃO, CORREIO AEREO NACIONAL (CAN), ATENDIMENTO, DOENTE, REGIÃO NORTE.
- ELOGIO, FUNCIONARIOS, FORÇA AEREA BRASILEIRA (FAB), CONSTRUÇÃO, PISTA DE POUSO, ESTADO DE RORAIMA (RR), OBJETIVO, MELHORIA, ACESSO, CORREIO AEREO NACIONAL (CAN), ATENDIMENTO, SAUDE, INDIO.
- SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AUMENTO, INVESTIMENTO, FORÇAS ARMADAS, OBJETIVO, MELHORIA, CUMPRIMENTO, TRABALHO.
O SR. AUGUSTO BOTELHO (PDT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmo. Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não temo incorrer em exagero ao afirmar que, ao longo da história do Brasil, poucas instituições podem se equiparar ao Correio Aéreo Nacional.
Refiro-me aqui a um tipo de instituição que, desde sua mais remota origem, outra coisa não foi senão sinônimo de pioneirismo, ousadia e civismo. Do já distante ano de 1931 aos dias de hoje, o CAN tornou o Brasil conhecido dos brasileiros, incorporou às regiões mais densamente povoadas do Brasil aquelas áreas secularmente relegadas ao esquecimento. Possibilitou, enfim, que a Nação compreendesse a rica diversidade de que é feita.
É com justo orgulho, pois, que venho à Tribuna para reverenciar os personagens que, anônimos em sua imensa maioria, ajudaram a construir uma história de amor à Pátria, de acendrado espírito cívico e, acima de tudo, do mais puro sentimento de doação e de solidariedade. Modernos bandeirantes, esses brasileiros compreenderam, como poucos e à frente de todos, o exato significado da mais bela missão que poderiam - e deveriam - executar: aproximar o Brasil litorâneo, historicamente mais próspero e populoso, do Brasil profundo, dos grandes sertões, dos descampados infinitos, da densa mata e dos nossos lavrados, Senador Mozarildo.
Ninguém o fez com mais galhardia que o CAN. Ninguém foi mais heróico, mais solidário, mais consciente da importância de seu trabalho do que o Correio Aéreo Nacional, o CAN.
Não por acaso, a história do CAN tem início no contexto de vigorosa transformação que começa a sacudir o Brasil com o advento da Revolução de 1930. Sob a liderança de Getúlio Vargas, o País se preparava para o grande salto em direção ao futuro. Substituir as estruturas carcomidas da República Velha e abrir os caminhos que nos levariam à modernidade tornaram-se os grandes objetivos estratégicos daqueles tempos.
A “Marcha para o Oeste”, também liderada por Vargas, propunha-se a promover a efetiva inclusão de largas faixas do território nacional ao esforço conjunto de desenvolvimento, não mais adstrito ao litoral. O CAN, Correio Aéreo Nacional, é o fruto desse espírito, autêntico compromisso com a construção de uma Pátria una em sua diversidade, brasileira em sua plenitude.
Não foram fáceis os primeiros anos. Gente da estirpe de Eduardo Gomes, um dos maiores entusiastas e mentores do serviço a ser criado, e dos pilotos Casemiro Montenegro Filho e Nélson Freire Lavenère-Wanderley, condutores da primeira viagem do então denominado Serviço Postal Aéreo Militar, muito lutou para materializar o grande sonho. Não nos esqueçamos, inclusive, da célebre Missão Militar Francesa, contratada para oferecer assistência às Forças Armadas Brasileiras antes de 1930, que sempre manifestou posição contrária a que aviadores saíssem do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, na época capital do Brasil, para varar os céus do País em todas as direções.
Serviço Postal Aéreo foi o primeiro nome do Correio Aéreo Militar. A 12 de junho de 1931 realizou-se a primeira viagem, interligando o Rio de Janeiro à cidade de São Paulo. Desse vôo pioneiro, nascem diversas linhas: para Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Ceará. Finalmente, em 1935, ele chegava à Região Amazônica. No ano seguinte, abriam-se as rotas internacionais, a primeira das quais fazendo a conexão do Brasil com Assunção, no Paraguai.
O processo de expansão foi contínuo. Em plena Segunda Guerra Mundial, com a criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941, fundiram-se os dois serviços de correio aéreo existentes, o Militar, do Exército, e o Naval, da Marinha, dando origem ao Correio Aéreo Nacional, nosso glorioso CAN. Em pouco tempo, 14 linhas eram operadas, com o transporte de mais de 70 toneladas de correspondências.
Sempre fiel ao objetivo de integrar o Brasil, o CAN não cessou de crescer. Por décadas a fio, os aviões do CAN foram o único meio de contato para as populações indígenas e para as comunidades de difícil acesso, particularmente na Região Amazônica. Vencia-se, com destemor, o enorme desafio de desbravar o interior do Brasil e implantar campos de pouso.
Em toda a sua trajetória de vida, Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, o CAN se esmerou por cumprir à risca a missão de unir o Brasil, encurtando distâncias continentais e apoiando populações remotas e tradicionalmente desamparadas. Fiel ao compromisso de integrar as comunidades das mais diversas regiões brasileiras, o CAN fez de seu ofício o meio eficiente para promover a inclusão social, disseminar informações e conhecimento, prestar generoso auxílio - sobretudo em termos de assistência médico-odontológica - e levar esperança a tantos brasileiros. Em suma, o CAN especializou-se em levar cidadania e a presença do Estado aos pontos mais distantes do País.
É disso que se nutre.
É isso que faz sua grandeza.
A saga do CAN não é reconhecida apenas por brasileiros. Seu extraordinário trabalho há muito ultrapassou nossas fronteiras. Lembro, a propósito, matéria publicada pelo respeitado jornal The Wall Street Journal, no ano passado, que traduz a bela impressão causada pelo CAN a quem procura acompanhar suas atividades.
“Anjos militares salvam vidas na Amazônia” era o título do artigo, que tocava no ponto fundamental: “O Correio Aéreo Nacional não é um serviço de transporte de correspondência -- é uma unidade médica aérea que faz ronda nas partes mais isoladas da floresta”. O repórter informa corretamente aos seus leitores que, “com destemidos pilotos, famosos por usar os rios como guia de navegação, e também para pousos de emergência, o papel do CAN no desenvolvimento regional já estava inscrito na Constituição de 1946”.
Nada foi fácil, todavia, ao longo dessa exuberante trajetória do CAN. Afora os naturais perigos e as imensas dificuldades, houve época em que a insensibilidade política torpedeou-lhe o trabalho. Registro, não sem tristeza e com indignação cívica, que, nos anos 90, a sanha arrasadora de desmonte do Estado fez do CAN uma de suas grandes vítimas, quando foi extinto. Há dois anos, o Presidente Lula teve a lucidez de reativá-lo, abrindo a nova rota amazônica pelo Estado do Acre.
Eu estava analisando um projeto de saúde do Senador Tião Viana, na cidade de Manoel Urbano, quando foi feito o primeiro vôo do CAN para o Acre neste ano. E neste mês o CAN chegou a Roraima novamente. Eles estão chegando no sopé do Monte Roraima, na aldeia dos Ingaricós, onde existem duas pistas pequenas. Inclusive, voei para lá no início deste mês. Pois bem, o pessoal da FAB está trabalhando, prestando assistência médica e odontológica. Eles têm um gabinete odontológico e um consultório médico portáteis, inclusive com ultra-sonografia.
Devo lembrar que os Ingaricós são uma etnia nossa, e foram incluídos na comunidade Raposa Serra do Sol contra a vontade deles, pois queriam ficar isolados, não queriam ser incluídos no bloco. Eles levam dois, três ou quatro dias, alguns deles, para chegar a um ponto onde podem pegar um carro, uma estrada normal, em Água Fria, que é a cidade mais próxima deles.
Mas, volto a dizer, todos estão muito entusiasmados, trabalhando para ampliar as pistas, para dar condições de aterrissar um avião de maior porte, isso porque é o Caravan que tem condição de aterrissar naquela região, mas com carga mais leve, ou seja, não pode estar com toda a sua capacidade porque a pista não é adequada. Entretanto, o pessoal da FAB está acampado, dormindo na mata, no pé da serra, melhorando a pista para se tornar regular o vôo.
Também gostaria de agradecer ao comandante da Força Aérea Brasileira, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Bueno, aos Coronéis Volkmann e Vargas, que estão na frente de trabalho, juntamente com toda a equipe médica e todo o pessoal, trabalhando para que isso se torne realidade. Para os Ingaricós vai ser ótimo. Eles viajam dois dias. Embora na região haja fonia, quando adoece uma pessoa, pede-se o avião, que nem sempre pode aterrissar porque a região perto do Monte Roraima é uma área de muita turbulência, sempre com cobertura de nuvens, é um lugar de difícil acesso. Assim, se a pista melhorar, vai ficar mais fácil de remover as pessoas. E quando o CAN voltar a voar mensalmente, vai haver uma mudança na vida daquelas pessoas; haverá, portanto, uma melhora na qualidade de vida.
Não devo encerrar este pronunciamento sem antes apelar ao Governo Federal para que sejam oferecidas às Forças Armadas as condições indispensáveis ao bom desempenho de sua missão. Não se trata de favor. É uma obrigação moral do Estado brasileiro não permitir o desmantelamento de suas instituições militares. Orçamento realista não pode deixar a descoberto quem zela pela integridade de nosso território e, acima de tudo, tem histórico compromisso com a integração nacional. Não há superávit primário que valha o desaparelhamento e a degradação salarial de quem, por formação e por vocação, outra coisa não faz senão defender o Brasil e contribuir para a prosperidade nacional.
Especialmente para nós, da Amazônia, o CAN é marco e símbolo. Para qualquer um de nós, para o compatriota mais afastado geograficamente - e quero citar a aldeia do Cabeludo, que é depois da aldeia-base dos Ingaricós, mais perto do monte Roraima. Este é o que está mais distante e leva quatro dias para chegar num local onde pode pegar um carro e ter socorro ou o que desejar - a sigla CAN sempre foi o outro nome do Brasil, a certeza de que Pátria estava conosco. Desde que os primeiros aviões começaram a mapear e a prestar auxílio às populações do interior do País, o ideário do CAN foi preservado. Até hoje, vivo está o pensamento do Coronel Lysias Augusto Rodrigues, expresso nos anos 30. Em sentido político, dizia ele, o CAN articula todos os pontos do território nacional, os quais, pela ação dos fatores geográficos, ficaram isolados do conjunto do País e do seu centro dirigente.
Sob o ponto de vista social, ele chama a si a responsabilidade de levar a informação, o conhecimento e o progresso às mais remotas regiões do País em autêntica missão civilizadora. Patrioticamente, mostra aos brasileiros o valor de sua aviação. Pioneiramente, rasga caminhos que facilitariam a emergência da aviação comercial.
Tudo isso foi e é o CAN.
Com a certeza de estar sendo justo, deixo aqui os mais efusivos cumprimentos a todos os que, civis e militares, direta ou indiretamente, estejam envolvidos com as atividades do Correio Aéreo Nacional. Patriotismo, civismo e humanitarismo se mesclam no trabalho diuturno dessa brava gente. Que essas atividades se ampliem! Que novas rotas sejam abertas no Norte do País, especialmente no meu Estado de Roraima! Que o Estado brasileiro cumpra sua obrigação e forneça a esses heróis de nosso tempo as condições indispensáveis à execução de sua grandiosa missão!
Muito obrigado, Sr. Presidente.