Discurso durante a 197ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamentos sobre a coalizão entre o PMDB e o Governo, considerando que a mesma não pode ser baseada apenas em interesses dos políticos.

Autor
João Batista Motta (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: João Baptista da Motta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. COMERCIO EXTERIOR.:
  • Questionamentos sobre a coalizão entre o PMDB e o Governo, considerando que a mesma não pode ser baseada apenas em interesses dos políticos.
Publicação
Publicação no DSF de 01/12/2006 - Página 36401
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO POLITICA, UNIÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), GOVERNO FEDERAL, COMENTARIO, INSUFICIENCIA, VALOR, BOLSA FAMILIA, SALARIO MINIMO.
  • CRITICA, POLITICA CAMBIAL, PREJUIZO, EXPORTAÇÃO, BRASIL, FAVORECIMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, COMENTARIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ABANDONO, NACIONALISMO.
  • ANALISE, DIFICULDADE, EMPRESA NACIONAL, CONCORRENCIA DESLEAL, PREÇO, PRODUTO IMPORTADO, REGISTRO, FECHAMENTO, FABRICA, CALÇADO.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, FORNECIMENTO, CREDITOS, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), BENEFICIO, EXPORTADOR, DEFESA, NECESSIDADE, GARANTIA, INTERESSE NACIONAL.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vi aqui e ouvi atentamente o Líder do Governo, Senador Romero Jucá. Ouvi também as palavras do Líder Ney Suassuna e tenho acompanhado a felicidade e a alegria de todos do PMDB pela coalizão com o Governo, que tem mais quatro anos à frente da Administração Pública Federal no Brasil.

O eleitor, naturalmente, está assistindo, acompanhando e vendo que os políticos se acomodam, que todos os interesses estão sendo contemplados, que todos estão na tentativa de ajudar, mais uma vez, o Presidente Lula. Alguém pode estar pensando até que é por interesse próprio ou da maioria; outros acham que há sinceridade, esperança e que, desta vez, o Presidente Lula vai cumprir a palavra, que desta vez ele realmente vai se preocupar com o crescimento do País. Eu, sinceramente, não acredito. Eu sou um homem consciente de que ninguém conhece mais a necessidade do povo brasileiro, principalmente das camadas mais pobres, do que o Presidente Lula; ninguém conhece mais as desigualdades sociais ou regionais deste País do que o Presidente Lula. Não, não tem. Ele conhece, sabe diagnosticar, sabe do que o povo brasileiro está necessitando. Entretanto, Senador Paulo Paim, do discurso à prática há uma diferença muito grande.

Eu, que fui prefeito por dez anos, sei da responsabilidade que temos quando falamos em fazer algo, quando nos comprometemos com a realização, com alguma coisa de interesse do povo e que na hora de materializar esse discurso, essa promessa, aí é que o carro pega. O Presidente Lula sabe que R$90,00 de Bolsa-Família é esmola. O Presidente Lula sabe que o salário de R$350,00 é esmola, não recompensa a luta do trabalhador no dia-a-dia. Não dá para pagar a condução, a escola de seus filhos, o aluguel da sua casa, a energia, a água. Não dá!

Mas, veja bem, Senador Paulo Paim: há doze anos, o salário mínimo, se não me engano, devia ser entre R$50 a R$60,00 e o litro de leite era R$0,50. Hoje, o salário mínimo é R$350,00 e o litro de leite é R$0,30 para o produtor. Há um descompasso muito grande. O brasileiro talvez não saiba que o leite de uma vaca não é só capim, não é só remédio, não é só vacina, não é só mão-de-obra. O leite de uma vaca implica gasto em óleo diesel do trator que gradeia a terra, do trator que joga a semente do capim, do trator que tem de acertar a estrada de acesso. O óleo diesel, há doze anos, era um terço do preço que é hoje, Senador Paulo Paim. Então, olha o descompasso do que produz, do que teve um salário aumentado para R$ 350,00, mas que não dá para viver, continua sendo esmola, e olha o homem que produz, que está cada vez mais achatado, cada vez sofrendo mais e entrando na linha da miséria.

Eu queria que a comemoração dessa coalização do PMDB com o PT não fosse somente em cima do interesse de políticos brasileiros. Precisava que essa coalização fosse também de interesse do povo brasileiro. Precisava que o Presidente Lula desse um murro na mesa e chamasse os seus assessores, os seus Ministros mais chegados e dissesse a eles do jeito que tem falado: “O Brasil precisa crescer! Nós vamos crescer 5%”. Mas que tomasse as providências para que isso aconteça.

Um País que hoje se dá ao luxo de importar, um País que despreza a exportação, um País que mantém o dólar a R$2,00, não permitindo que as pessoas exportem seus produtos e fazendo com que a China, que antes só exportava para o nosso País bugigangas, hoje já comece a exportar até material de construção, para que as pessoas possam construir suas casas? O Governo lança um projeto habitacional, aplaudido por nós, porque é necessário, e vem a China vender torneira, piso, material de construção de uma maneira geral. Isso é uma vergonha! E o nacionalismo do PT? E o nacionalismo da Esquerda que sempre brigou, dizendo que o petróleo era nosso? Cadê? E o nacionalismo que defende tanto a Petrobras? Por que a Petrobras não pratica o preço de um óleo diesel mais barato? Há condições, Senador Paulo Paim: o óleo diesel de trator para o homem do interior.

Por que o Governo não enxerga que não tem condições de o cidadão brasileiro produzir um saco de arroz por R$12,00? Doze reais não é dinheiro para produzir um saco de arroz. Será que não tem um Ministro que diga ao Presidente: tem alguma coisa errada, chefe. Não dá para continuar assim.

Estou falando isso, Senador Paulo Paim, porque quem viu a Rede Globo, anteontem, observou que uma notícia dava conta de que a terceira fábrica da Azaléia, agora no Estado de Sergipe, estava sendo fechada, segundo declarações do diretor da empresa: “Não temos condições de vender no mercado interno e nem de exportar, ou seja, não temos preço.” E deu mais uma notícia: “Já fechamos duas no Rio Grande do Sul” - seu Estado, Senador Paulo Paim -, “pelos mesmos motivos, pelas mesmas razões. Não temos condições de produzir, não temos condições de vender para o exterior, não temos competitividade.”

E o Governo não enxerga isso? A falta de competitividade é o quê? É falta de preço para o homem do campo; é falta de preço, sobretudo, para a agropecuária; é falta de preço para os produtos que vêm dos nossos agricultores; é falta de preço para os nossos industriais. Não há preço para se colocar calçados no exterior; não há preço para se colocar vestuário no exterior.

No Espírito Santo, um cidadão que foi senador recentemente está montando uma fábrica na China para confeccionar roupa e mandar para cá. Eu vi outro dia empresários capixabas chegando da China com um navio lotado de material de construção para aplicar aqui no Brasil. Não seria melhor que a coalizão do PMDB e do PT fosse no sentido de reabrir a fábrica da Azaléia?

Será que o Ministro Furlan, homem brilhante, capaz, ou o Presidente do Banco Central, homem de experiência internacional, não tem condições de alertar o Presidente Lula para o que está acontecendo com o País? E agora a tropa de choque do Governo reforçada com a unidade do PMDB, para quê? Será que vão votar aqui para aumentar a contribuição dos velhinhos aposentados da Seguridade Social? Será que é essa a reforma que vem aí? Eu não acredito, Senador Paulo Paim, que a Ministra Roussef, que o Furlan, que o Presidente do Banco Central, que são experientes, não tenham juízo para alertar o Presidente Lula, que tem o direito de não conhecer nada, até porque nunca administrou nada, porque não sabe implementar aquilo que se chama administração.

Lembro, Senador Paim, de ir a um jantar com o Presidente na casa do ex-Ministro Amir Lando. Lá o Presidente disse: acabei de criar uma linha de crédito no BNDES para os exportadores que quiserem criar fomento no exterior para distribuir seus produtos. Muitas vezes esses produtos são vendidos lá fora por R$10, digamos, e, de tarde, chegam ao supermercado por R$50. Que eles possam vender pelo menos por R$20. Nós vamos dobrar as nossas exportações com o mesmo material exportado apenas com essa medida.

E eu falava assim: que homem inteligente, que Presidente inteligente! Isso é uma verdade. Essa linha de crédito era a custo zero para o exportador.

Senador Paulo Paim, eu fiquei feliz com aquilo.

Um mês depois, conversei com um empresário do Espírito Santo que produz desde o algodão até o vestuário e que já estava montando um depósito para distribuir seus produtos em Miami, nos Estados Unidos. Expliquei para ele aquilo que o Presidente havia falado em nossa Bancada. Esse cidadão ficou contente. Peguei esse cidadão e levei-o ao BNDES. O Presidente era o Carlos Lessa. Ele falou: Senador, não sei disso. O Presidente está ficando doido. Eu falei: Não é possível! Ele chamou um diretor e perguntou-lhe: você sabe? Resposta:não. Chamou outro diretor: você sabe? Resposta: não. Chamou outro diretor: você sabe? Resposta: não. Ninguém sabia.

Eu voltei com uma cara-de-pau danada. Levei o cidadão para o aeroporto e mandei-o de volta.

Encontrei com o Presidente Lula, em uma solenidade, em outra ocasião:

- Presidente, Vossa Excelência falou isso. Eu fui lá. Não deu certo. Não tinha nada. Não era verdade.

Sua Excelência disse:

- Ah! o Lessa, o Lessa tem me prejudicado muito. Mas estou trocando agora. Deixe o novo entrar e você verá como vai funcionar. Espere-o tomar posse e quinze dias depois procure o novo Presidente.

Assumiu o Presidente do BNDES, Ministro Mantega.

Deixei passar uns dois meses. Outro empresário havia me procurado, dizendo que queria, pois achava a idéia maravilhosa.

Fui novamente ao BNDES, contei toda a história, inclusive a parte em que o Presidente Lessa dissera que o Presidente estava doido e que lá não tinha isso. Contei tudo ao novo Presidente do BNDES. E a história foi a mesma.

Ele falou: Eu também acho que ele está doido, porque isso, aqui, não tem.

Chamou um diretor. Resposta: - Não tem.

Chamou outro diretor. Resposta: - Não tem.

Aí eu cheguei à conclusão, Senador Paim: ouviu alguém falar; deve ter encomendado o projeto a alguém que não o fez; não tem agenda, não anotou; não aconteceu nada e está vendendo como se estivesse acontecido.

Todo dia se fala numa linha de crédito na Caixa Econômica. O cidadão vai lá para pegar o dinheiro e não tem, não é verdade, não existe o dinheiro. É só para “a”, é só para “b”, é só para “c”.

O Brasil não suporta mais isso, Senador Paim. Os Ministros têm que ter juízo. 

O Ministro do Exército Brasileiro tem que dizer ao Presidente da República o que está acontecendo na Amazônia. Pretendo proferir na próxima semana um discurso sobre o que está acontecendo na Amazônia, sobre o entreguismo que vem acontece neste País, em toda a nossa fronteira - e não é de agora do Governo Lula. Foi muito pior nos governos anteriores. Todo local onde há uma riqueza está sendo transformado em terra indígena, para que não se explore a nossa riqueza e para que seja amanhã entregue aos estrangeiros!

Nós temos uma Amazônia que representa 61% do território nacional, nós temos uma Amazônia que não tem onde colocar tanta riqueza. Estou coletando declarações de presidentes, reis, primeiros-ministros e jornalistas do exterior que não admitem que a Amazônia seja nossa, que demonstram que não querem que ocupemos a Amazônia. E nós brasileiros, irresponsavelmente, insistimos em uma política, que começou no Governo Collor e vem, até hoje, de entregarmos o nosso País ao capital estrangeiro. Temos de dar um basta nisso.

Espero que essa coalizão do PMDB com os demais Partidos como PTB e PT venha ao encontro do interesse nacional. Chega de políticos cuidarem apenas dos seus interesses ou olharem somente para as suas barrigas, não se preocupando com os pobres e miseráveis deste País. Temos que ter juízo, tomar vergonha na cara e mudar essa política, porque o País precisa de um salário mínimo como o que o Senador Paulo Paim prega, que é o desejo de todo homem de bem deste País.

Muito obrigado Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/12/2006 - Página 36401