Discurso durante a 198ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Breve apanhado pela passagem de Euclides da Cunha pelo Estado do Acre. Comentários sobre matéria caluniosa da qual S.Exa. foi alvo, publicada na revista Istoé.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL. IMPRENSA. POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Breve apanhado pela passagem de Euclides da Cunha pelo Estado do Acre. Comentários sobre matéria caluniosa da qual S.Exa. foi alvo, publicada na revista Istoé.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Eduardo Suplicy, José Agripino, José Jorge, Ney Suassuna, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 05/12/2006 - Página 36969
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL. IMPRENSA. POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, GRAFICA, SENADO, PUBLICAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO GRATUITA, OBRA LITERARIA, DEBATE, HISTORIA, SITUAÇÃO, ESTADO DO ACRE (AC).
  • REPUDIO, FALSIDADE, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, DEPOIMENTO, EX SERVIDOR, CALUNIA, DIFAMAÇÃO, ORADOR, ACUSAÇÃO, IMPRENSA, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, COMISSÃO DE ETICA, PREJUIZO, SENADOR.
  • COMENTARIO, POSSIBILIDADE, ORADOR, VITIMA, PERSEGUIÇÃO, POLITICA PARTIDARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • REGISTRO, EXONERAÇÃO, EX SERVIDOR, MOTIVO, TENTATIVA, EXTORSÃO, ORADOR, EXPECTATIVA, MELHORIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, EFICACIA, ATENDIMENTO, NECESSIDADE, POPULAÇÃO, CRIAÇÃO, EMPREGO, INVESTIMENTO, AGRICULTURA, PORTOS, AEROPORTO, RODOVIA.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores presentes em plenário, antes de mais nada, quero exibir à Casa e aos que nos vêem e nos ouvem três publicações patrocinadas pelo nosso gabinete. Mais uma vez, tenho o dever indeclinável de agradecer profundamente a meus funcionários e assessores a colaboração, como também ao pessoal da Gráfica do Senado, que tem sido de uma eficiência a toda prova, pela diligência, presteza, boa-vontade; eles têm sido, eu diria, de uma camaradagem a toda prova com nossa linha de publicação de obras.

A primeira delas é um breve apanhado sobre a passagem de Euclides da Cunha por nosso Estado: O Acre e a Vida Dramática de Euclides da Cunha, que trata dele e de seu filho Solón, que morreu assassinado no Estado, nos idos de 1916. O próprio Euclides da Cunha teve papel preponderante no Estado, nomeado que foi pelo Barão do Rio Branco para compor uma comissão que passara a identificar os limites do nosso País e do nosso Estado do Acre com o vizinho país, o Peru. Essa obra estará disponível no Acre em breve para distribuição gratuita à população, aos acadêmicos, aos estudantes.

A outra obra, também fruto da diligência dos servidores, do pessoal da Gráfica do Senado, é o volume da nossa Enciclopédia de Municípios Acreanos, que se refere à nossa querida Capital, Rio Branco. Com dados, fotos, bem ilustrada, essa obra tem caído no agrado de estudantes e de pesquisadores.

O Acre tem 22 Municípios. Até agora, editamos a obra relativa a sete Municípios e pretendemos concluí-la, porque é uma obra interessante e importante, para que os próprios acreanos que vivem em Municípios distantes tomem conhecimento da realidade do restante do Estado. Alguns podem não acreditar, mas é verdade! Um cidadão que mora em Assis Brasil, às vezes, desconhece a realidade do Município de Mâncio Lima, dentro do próprio Estado. Portanto, o objetivo da obra é esse, e estamos diligenciando no sentido de produzir outras obras.

A terceira obra foi editada agora, no final de semana. Eu, que sou avesso à publicação de discursos, penso que, a não ser em uma situação excepcionalíssima, isso não deve acontecer. Não gosto de imprimir meus discursos nem mando fazê-lo, porque considero, aqui para nós, de uma chatice incrível. Mas tomei a liberdade, repito, com a colaboração dos meus servidores e funcionários e com o concurso da Gráfica do Senado, de produzir uma obra chamada Receita para o Desenvolvimento - Educação, Trabalho, Renda e Novos Negócios. Essa obra contém três projetos que reputo fundamentais para a alavancagem do desenvolvimento do nosso Estado. Dois projetos são de proposições para a criação e a instalação de escolas técnicas federais em nosso Estado, que não possui nenhuma ainda. Desses dois projetos, o da instalação de uma escola agrotécnica em Rio Branco já foi aprovado, encontra-se na Câmara. Recentemente, o projeto que contempla a instalação, no Município de Cruzeiro do Sul, lá no extremo oeste do Estado, de uma escola de construção naval, também aprovado, está sendo encaminhado à Câmara para apreciação.

Por último, falo de um projeto que imaginamos de grande importância. É uma proposta de emenda constitucional que determina o aproveitamento, nas atividades de assistência técnica e de extensão rural, mediante treinamento adequado, de jovens entre 16 e 24 anos da área rural, que nela residam há mais de cinco anos, para que possam ser recrutados, selecionados e capacitados para atuar, supletivamente, junto aos órgãos de assistência técnica e extensão rural, tanto no Estado do Acre quanto no restante do nosso País. As obras estarão disponíveis em breve no meu Estado.

No entanto, o que me traz hoje aqui, Sr. Presidente, principalmente, é fazer considerações e comentários acerca de matéria caluniosa, injuriosa e difamatória da qual fui alvo. Essa matéria foi publicada na revista ISTOÉ deste final de semana. Estou com a revista aqui.

Na política, por vezes, justifica-se aquela expressão que alguns políticos usam quando estão em determinadas situações, ao dizerem que estão sofrendo perseguição política, Senador Eduardo Suplicy. Às vezes, isso não procede, mas, por vezes, isso é uma realidade. Eu diria aos Srs. Senadores que, no meu caso, essa expressão não se aplica, porque ela está aquém do que está acontecendo. Na verdade, Senador Eduardo Suplicy, estou sendo alvo de uma tentativa de linchamento político, moral e pessoal.

Então, não estou alegando que estou sendo perseguido politicamente; estou afirmando que estou sendo alvo de uma tentativa de linchamento político, moral, pessoal.

Esse é um processo dolorido que se vem estendendo há muito tempo, desde que, coincidentemente, eu me decepcionei com o Governo Lula, de forma sincera e franca. Aqui, nesta Casa, tenho-me manifestado, pontualmente, em algumas circunstâncias e em alguns momentos, expressando essa minha decepção, esse meu desencanto. E, pontualmente, ora tenho votado contra algumas proposições, ora tenho formulado e tecido críticas que nunca saíram do campo da respeitabilidade.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Concedo o aparte a V. Exª, Senador José Jorge, com muito prazer.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Geraldo Mesquita Júnior, gostaria, em primeiro lugar, de dizer que sou testemunha dessas perseguições que V. Exª tem sofrido. Na realidade, achamos que um Governo democrático deveria respeitar os Parlamentares que lhe querem fazer oposição, seja de que Partido for. V. Exª apoiou, na primeira eleição, o Presidente Lula, mas, depois, não quis mais apoiá-lo. Evidentemente, esse é um direito, como Parlamentar, que V. Exª tem. Esse direito deve ser respeitado. Nós, da Oposição, que nunca apoiamos o Presidente Lula, nem na primeira eleição, também somos, de alguma maneira, desrespeitados, quando o Governo diz que quer fazer uma salada geral, com o apoio de todos os Partidos, inclusive os de Oposição. Essa é uma atitude também desrespeitosa, porque a população, ao votar, escolhe o Governo e a Oposição. Quer dizer, fomos escolhidos pela população brasileira para ser oposição ao Governo Federal. E, assim, pretendemos nos manter. É necessário que o Governo respeite a Oposição, como ocorre no mundo inteiro. Recentemente, o Presidente Bush perdeu a eleição por um voto no Senado. Entretanto, no outro dia, ele não começou a chamar os Senadores do Partido Democrata para formar maioria, retirando-os do Partido Democrata para o Partido dele ou para outro Partido auxiliar. Ele respeitou o resultado da urna, virou minoritário no Senado e na Câmara, e isso não acontece aqui no Brasil. Então, todos somos desrespeitados por essa atitude autoritária do Governo: com V. Exª, é de uma forma; conosco, comigo, com o Senador José Agripino e com outros Senadores do PFL, é feito de outra forma, mas o desrespeito é o mesmo. Então, V. Exª tem não somente nossa solidariedade como o testemunho do excelente Senador que V. Exª é e do trabalho que realiza na Casa. Muito obrigado.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Agradeço-lhe, Senador José Jorge. Fico muito comovido com as palavras de V. Exª, que sei são sinceras. V. Exª é um grande amigo por quem tenho muito respeito nesta Casa. Como V. Exª disse, com relação a V. Exªs que estão no campo da Oposição, esse tratamento é um; com relação a mim, é outro. E é muito acentuado, muito grave, o que está acontecendo.

A revista, em suma, reproduz um depoimento que foi colhido de uma ex-servidora minha, que chefiou um pequeno escritório que tínhamos em Sena Madureira, um Município do Estado.

Como as outras matérias escandalosas que foram veiculadas a meu respeito, essa também começa adjetivando. Olhe, Senador José Agripino, como são as coisas: falei há pouco aqui, pontualmente, que me insurgi contra algumas proposições, algumas medidas do Governo, mas rigorosamente votei, como o conjunto da Casa, por aquelas que diziam respeito aos interesses do País. Fiz isso invariavelmente, religiosamente. E, mesmo assim, fui sendo colocado em uma posição...No meu Estado, Senador José Agripino, passei a ser censurado pelo próprio assessor de comunicação do Governo. Mesmo sem integrar o PT, fui convidado uma vez para participar de uma reunião com integrantes do Diretórios Municipal e Regional do PT e, para minha surpresa, para receber uma admoestação cáustica, pesada, por ter participado, em Brasília, de uma reunião, na época em que a Senadora Heloísa Helena circulava o País inteiro, reunindo os movimentos sociais e começando a discutir a perspectiva de criação de um partido. Quando ela assim o fez, aqui em Brasília - recordo-me de que foi no Conic -, fui lá para assistir à reunião, por solidariedade e pelo apreço que tinha e sempre tive pela Senadora Heloísa Helena.

S. Exª me franqueou a palavra durante dois minutos, e fiz uma saudação aos presentes, manifestando meu desejo de que tudo transcorresse bem.

Poucos dias depois, fui convidado a participar dessa reunião no Acre, com membros do Diretório do PT, pessoas por quem sempre tive muita estima, por sinal. E, para minha surpresa, comecei a ser admoestado por isso, ao argumento de que não poderia ter participado, porque a Senadora Heloísa Helena, a partir do momento em que tinha sido expulsa do PT, passara a ser inimiga nossa.

É claro que a reunião não teve prosseguimento. Eu não tinha imaginado essa perspectiva, essa possibilidade, na época, mas aquele fato me levou a colocar à disposição da Senadora Heloísa Helena a pequena estrutura que eu tinha no Acre para o trabalho exaustivo. Envolvi-me também no trabalho difícil, exaustivo, de reunir milhares e milhares de assinaturas de apoiamento à constituição do novo Partido, que veio, afinal, a se constituir. 

Houve censura, na imprensa do meu Estado, o próprio Governador eleito, Binho Marques, agora, uma pessoa... Ele é o atual Vice-Governador e foi eleito futuro Governador do Estado, Senador José Jorge. Para minha surpresa, um dia desses, abri o blog de um jornalista que é pago pelo Governo do Estado para ficar em casa trabalhando - não estou discutindo aqui o trabalho do rapaz -, e vi que ele, o jornalista Altino Machado, publicou manifestação de contrariedade do Governador eleito, Binho Marques - até prova em contrário, para mim, S. Exª é um democrata -, afirmando, Senador, pasme, que uma das coisas que mais o incomodavam no Estado e nos meios de comunicação era a reprodução automática, nos jornais do Estado, inclusive na mesma ordem, das matérias que a Assessoria de Comunicação Social produzia, ou seja, do release.

O Governador eleito falou que a coisa que mais o incomodava era ver, toda manhã, abrindo os jornais, a reprodução das mesmas matérias, na mesma ordem que saíam da Assessoria de Comunicação Social. Para ilustrar o que o Governador estava falando, Altino Machado copiou, por exemplo, a janela “Política”, que tinha, naquele dia, cinco ou seis itens. Altino Machado reproduziu o que havia sido divulgado em todos os jornais do Estado: a mesma chamada, as mesmas matérias, o mesmo conteúdo, sem mudar uma vírgula.

Portanto, o fato de ter sido censurado não foi privilégio meu, se isso significa algum privilégio. Acabou de ser censurado o próprio Governador eleito do nosso Estado, uma coisa inacreditável!

Não tivera a malícia de imprimir aquilo no momento, Senador José Agripino. Dois dias depois, pensei: vou imprimir isso, porque pode ser útil no futuro para demonstrar alguma coisa.

Corri, de novo, ao blog, e lá estava a mesma chamada, “Governador se decepciona” etc e tal. No entanto, o conteúdo havia sido absolutamente alterado. Em vez da manifestação sincera do Governador eleito, havia outro conteúdo, que dizia amenidades acerca dos meios de comunicação do nosso Estado. Está aí configurada e comprovada a censura que o recém-eleito Governador sofreu em nosso Estado.

Senador, pode parecer contradição ou até doideira, mas vou-lhe dizer uma coisa: nunca torci tanto para que essa matéria fosse divulgada! E aqui invejo o Senador Antonio Carlos Magalhães, que foi contemplado, inclusive, com uma capa na revista CartaCapital, conforme disse há poucos instantes aqui. Com toda minha modéstia, jamais me arvoraria no direito de pretender uma capa também, mas juro a V. Exª que gostaria que a coisa tivesse sido nesse nível.

Senador José Agripino, essa publicação causa dor e desconforto a mim, à minha família, aos meus amigos. O que se objetiva com isso? Há um plano macabro para me destruir, para me desestabilizar, para me desmoralizar. É uma coisa sistemática. Isso magoa, machuca. E o objetivo disso tudo é impressionar os membros do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, por exemplo, no qual tenho um processo tramitando; é impressionar os meus Pares nesta Casa. O plano é esse, não tenho dúvida disso.

E essa matéria, Senador José Agripino, é o último ato de uma trilogia perversa e cruel, engendrada, planejada por pessoas intolerantes, que tenho dificuldade, inclusive, de definir. São doentes, sociopatas, entende? Essa matéria tem o propósito de produzir todo esse efeito.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Permita-me um aparte, Senador Geraldo Mesquita?

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Com muito prazer, Senador Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Geraldo Mesquita, V. Exª está falando com a indignação dos inocentes, sem colocar, de forma explícita, talvez o maior argumento que deveria utilizar: que esses ataques ou insinuações só começaram a acontecer, depois que V. Exª deixou o PT e se filiou a outro partido. Antes disso, V. Exª era o que para mim continua a ser: um homem digno, de comportamento sério, coerente, assíduo freqüentador das comissões e do plenário, cumpridor de suas obrigações, merecedor das atribuições e dos bônus que o Senado oferece e que está sendo obrigado agora, por razões que entendo políticas, a apresentar a defesa de um fato que, como V. Exª mesmo diz - e acredito em V. Exª -, não corresponde à realidade dos fatos. Quero lhe dizer, Senador Geraldo Mesquita Júnior, que a imagem que V. Exª tem, junto àqueles que fazem o meu Partido, é de um cidadão, de um Senador de bem. Homem que não pactua com presepadas, homem que não precisaria usar a tribuna para se defender de acusações requentadas - repito: de acusações requentadas - e que têm um claro objetivo, talvez, de intimidar pessoas como V. Exª e a Senadora Heloísa Helena, que tiveram a coragem de, num dado momento, deixar o PT, e que a partir dali passaram a ser entendidas como demônios, por inclusive alguns segmentos da imprensa. Não quero tecer nenhum comentário ao segmento A, B ou C da imprensa. Quero tecer comentário sobre a imagem que guardo de V. Exª. Agora, queria dizer a V. Exª que ninguém sobe à tribuna com ar de indignação que V. Exª assume se não tiver a consciência absolutamente tranqüila. Chegar a dizer que desejou que a matéria saísse para que esse tumor fosse exposto para que V. Exª desafiasse a que a verdade dos fatos fosse perseguida, é o maior atestado da inocência de V. Exª. Eu, pessoalmente, e a Bancada do PFL estaremos solidários com V. Exª por uma razão muito simples: conhecemos o malando pela cara e pelo comportamento, e V. Exª tem cara e comportamento de homem sério. E é assim que o meu Partido entende ser o Senador Geraldo Mesquita Júnior. Com isso a nossa solidariedade permanente.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Senador José Agripino, agradeço, da mesma forma, sensibilizado. A sua palavra de importante Líder desta Casa para mim tem um peso que V. Exª não pode imaginar.

Digo mais, Senador, além de torcer para que a matéria fosse realmente veiculada, é a oportunidade que tenho de mostrar para o Senado, para os meus pares, para o País inteiro, para os meus conterrâneos no Acre - alguns me ouvindo neste momento - como essa coisa está sendo conduzida, como está sendo armada. É o mesmo jornalista que, antes estava no Jornal do Brasil, hoje está na ISTOÉ. São as mesmas ligações com pessoas do meu Estado. É uma campana. É algo cruel, Senador Ney Suassuna. E vou dizer mais: graças a Deus que a matéria trata, como disse o Senador José Agripino, de assunto requentado e de assunto que peca pela ausência de qualquer fundamento de verdade.

Vou provar isso agora, aqui, da tribuna, Senador Ney Suassuna, vou provar.

Dou graças a Deus que a matéria foque esse tipo de assunto, porque temia que fosse coisa muito pior dentro de um plano sinistro que me foi comunicado, desde que a matéria saiu no final do ano passado.

Logo a seguir do calor daquela coisa, fui comunicado por amigos no meu Estado de que havia um plano, absolutamente macabro, uma coisa de mente doentia. Havia um plano de se colocar na mídia nacional, no meu Estado, denúncias - desculpem-me a expressão - denúncias safadas, envolvendo o Senador Geraldo Mesquita na prática de atos abomináveis.

Fui aconselhado pela minha mulher, amigos e assessores a não dizer isso aqui; mas vou dizer, Senador Ney Suassuna, para que fique claro para o País o que está acontecendo.

Fui alertado de que havia e poderá ainda haver um plano para me vincular a práticas como assédio sexual, Senador José Agripino. O plano era o seguinte: ao andar pelas ruas do meu Estado, uma mulher iria se descabelar e se rasgar toda e começar a gritar dizendo que eu a havia assediado.

Por conta disso, a minha mulher hoje anda comigo, com sacrifício pessoal dela, e não sai do meu pé. Em todo canto que eu esteja, dentro e fora do Estado, ela está comigo. Se eu entrar num banheiro público no Acre, ela entra comigo. Essa é a maneira que tenho para me defender de algo indefensável, Senador Ney Suassuna. V. Exª já imaginou sair uma matéria irresponsável neste sentido?! Senador comete assédio sexual. Como vou me defender disso, Senador Ney Suassuna?

E digo mais. Fui alertado de que uma blitz iria encontrar cocaína no meu carro no Estado. Por conta disso, alertei o meu motorista, as pessoas que trabalham comigo para redobrarem a vigilância. Ao pararmos o carro sempre fica alguém do lado do carro para que eu não corra esse risco.

Vou dizer uma coisa grave Senador Ney Suassuna. Fui alertado de que havia um plano sinistro para me vincular à prática de pedofilia no meu Estado. Se isso não é malignidade, se isso não é a maldade na sua mais extrema posição, eu não sei mais o que é!

Portanto, apesar de torcer para que essa matéria viesse à luz, temia que fosse algo neste sentido já, porque há no Acre quem queira me destruir, destroçar, desmoralizar.

Senador Ney, amanhã estarei com o meu dentista aqui em Brasília; certamente ele leu essa matéria. O propósito é me causar esse constrangimento máximo de estar com as pessoas. Ele certamente não estará ouvindo o que estou falando hoje aqui. E assim milhares de pessoas no meu Estado, no Brasil, talvez não estejam ouvindo o que estou dizendo aqui em defesa da minha própria honra. Mas é preciso ser dito.

O Senador José Agripino colocou as coisas nos seus devidos termos. Passei a divergir de forma respeitosa, Senador. Nunca ofendi seja quem for nesta Casa, membro do Governo, membro do PT - seja quem for. Nunca ofendi. Sempre fiz as minhas críticas de peito aberto, de forma leal e de forma sincera.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Ouço o Senador Ney Suassuna com muito prazer.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador, sei o que é a aflição de levar injustiça pela frente, e ultimamente tenho levado a minha quota, tenho me virado até no Jó para ver porquê. Mas, com toda a certeza, todas essas malignidades, como bem diz V. Exª, podem ter sido tramadas ou não, mas não falta quem não traga, quem não leve e quem não aumente.

Comigo aconteceu, por exemplo, no final de semana, saiu num jornal de grande circulação que documentos explosivos contra mim estavam guardados num cofre. Era o que estava na Internet, batido, varrido, velho, mas, tinha que se criar a notícia. Infelizmente nós, Parlamentares, quando entramos no gosto, já temos, por sermos parlamentares, a precondição para levar pancada. Agora, a injustiça contra V. Exª me toca muito porque estive - por ser o Líder da Bancada - com V. Exª nas audiências que foram lá realizadas. E vi com que clareza, com que transparência V. Exª colocou as informações e como elas sobrepujaram tudo que tinha de acusação. Então, sei da aflição que V. Exª está falando. E quando V. Exª fala do dentista, não é só o dentista, é a família, são os amigos. Sei tudo isso porque tenho levado. Ninguém lê sequer a matéria da defesa, mas, se tiver um tanto assim de acusação, todo mundo divulga, porque o importante é divulgar, destruir, é tentar mostrar como se o cidadão fosse um bandido. Nesse final de semana, li uma coluna de um cidadão dizendo: “...com culpa comprovada”.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador, V. Exª me permite um aparte?

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Não posso fazê-lo, pois estou aparteando. Só depois que eu terminar. Queria muito poder fazê-lo, mas, não sei se o Sr. Presidente permitiria.

O SR. GERALDO MESQUITA (PMDB - AC) - Uma leve triangulação.

O SR. PRESIDENTE (Sibá Machado. Bloco/PT - AC) - Senador José Jorge, nessa segunda-feira, adotamos o critério de não colocar o relógio para contar.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Nós, quem, Sr. Presidente? A Mesa?

O SR. GERALDO MESQUITA (PMDB - AC) - A Mesa de forma condescendente.

O SR. PRESIDENTE (Sibá Machado. Bloco/PT - AC) - Sim. Deixamos hoje o tempo mais ou menos livre, por isso está sendo permitido.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Obrigado. Pensei que V. Exª iria dizer que não. Senador Ney Suassuna, eu gostaria de aproveitar o aparte de V. Exª para lembrar um aspecto com relação ao que o Senador Geraldo Mesquita está falando. O Senador Geraldo Mesquita é do PMDB, e todas essas questões que estão acontecendo com ele, pelo que se sente, têm origem no PT e no Governo. Como o PMDB agora está numa negociação para apoiar o Governo - vão negociar funções, cargos, etc -, bem que V. Exª podia incluir na negociação que parem de perseguir o Senador Geraldo Mesquita. Na realidade, é uma questão humana até que um Senador do padrão e do gabarito do Senador Geraldo Mesquita esteja sofrendo esse tipo de perseguição de baixo nível, que vem do Governo e que só começou a acontecer quando ele deixou o partido do Presidente Lula, o PT. Então, é o apelo que faço a V. Exª. Quem sabe é melhor pararem de perseguir o Senador Geraldo Mesquita do que um cargo a mais ou a menos de segundo ou terceiro escalão.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - O caso do Acre é mais complexo do que V. Exª imagina. A única seccional que teve deputado dizendo que não apoiava o congraçamento, a aproximação de PT e PMDB, foi o Acre. Então, lá, a guerra entre PMDB e PT continua. Mas, repetindo, nobre Senador, li essa semana que um cidadão dizia: “...comprovadamente culpado”. O Relator disse que não há sequer indício e que não estava julgando a mim, estava julgando o sistema. V. Exª leu, porque lhe dei uma cópia. Então, não adianta, pois nós, para grande parte da mídia, pelo simples fato de sermos parlamentares, já temos as condições para sermos criminosos, mesmo que não sejamos. Então, eu me solidarizo com V. Exª e digo mais, aqui de público, que acompanhei os depoimentos de V. Exª sobre esse assunto, e não tinha absolutamente nada que tivesse consistência. V. Exª derrotou, desmontou, fulminou tudo que foi dito com provas, com afirmações e com fatos. Então, a minha solidariedade.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Senador Ney, V. Exª sempre teve a minha solidariedade de amigo, de companheiro aqui de Bancada, e fico da mesma forma sensibilizado com a sua manifestação.

Lembro ainda que, quando recebi as informações de que, possivelmente, matérias naquele teor que falei iriam ser irresponsavelmente jogadas na mídia, reuni minha família - minha mulher, meus filhos - e os consultei, dizendo-lhes que soube disso, que era algo que poderia vir a acontecer porque eu sabia com quem estava lidando. Disse-lhes: Quero saber de vocês se vocês agüentam? A manifestação unânime de solidariedade a mim foi, ali, instantânea, Senador Ney.

Mas eu fui mais além. Falei para a minha filha mais nova, a Mariana, um amor de menina, professora da UnB: Minha filha, sobre o que eu estou falando, talvez você não esteja percebendo a extensão da coisa. Estou falando para você não dessa ameaça. Estou falando para você de um fato concreto. Imagine você, amanhã, nos corredores da UnB, e seus colegas professores, seus alunos lendo a manchete escandalosa: Senador... e, aí sim, vinculado ao cometimento de um crime grave como esse. Eu perguntei a ela: Minha filha você vai agüentar? Você vai suportar? Como você vai reagir?

Senador, na época, eu comuniquei e pedi ao Senador Tuma providências: que ele investigasse ou mandasse investigar como Corregedor da Casa, como ex-Diretor da Polícia Federal. Pedi ao Senador Tuma: Senador, veja de onde está partindo isso. Isso é de uma maldade inominável, e quero saber de onde está partindo isso. De lá para cá, não ouvi mais comentários a respeito do assunto. Mas é verdade.

Aqui nesta Casa, assumi uma posição de independência, assumi uma posição crítica em face de algumas posturas desse Governo. Por conta disso, pelo menos, está em curso uma tentativa de me trucidar, Senador Arthur Virgílio. Eu quero dizer uma coisa: Olha, o Senado Federal o Congresso Nacional não é Casa para ter alguém que fez lobotomia política. Entendeu, Senador Arthur Virgílio? Isso aqui não é Casa para quem tem lobotomia política, não. Aqui é Casa para quem tem a hombridade de defender o que pensa com altivez, com elegância, com sobriedade até, mas que não pode abrir mão da sua independência e nem trair sua própria consciência.

Ouço o aparte de V. Exª, Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Geraldo Mesquita, eu ouvia o discurso de V. Exª e vi e ouvi que V. Exª mereceu o aparte de diversos colegas seus. Eu li por alto a notícia. Ela é uma notícia, ou seja, a imprensa deve ser livre; deve dizer o que quiser dizer, e o ofendido tem o direito enfrentar pelo processo ou de enfrentar pelo pedido de direito de resposta. O ofendido tem seus meios legais, constitucionais, de se defender. Portanto, aqui, não caio nessa tentação autoritária que tem sido muito comum no Governo atual de, a cada momento, engendrar uma historinha para cercear a liberdade de imprensa. Prefiro uma imprensa injusta - que possamos corrigir pelos efeitos da lei - a uma imprensa cerceada, amordaçada. O que li da notícia foi algo que me pareceu mesmo um certo café requentado. Não vi nada que... Café requentado. Pareceu-me uma acusação pessoal, ressentida a V. Exª. Pareceu-me algo que, enfim... Todo homem público que tenha algum tempo de estrada, como é meu caso, por exemplo, acaba tendo um pouco a alma de jornalista, pois é possível perceber que, quando se fala, se está ali criando um fato político ou não. Tenho a clara noção, quando vou à tribuna, se aquele meu discurso vai ser publicado ou não. Às vezes, eu me engano, mas, de modo geral, falo: “Estou falando aqui, e isso não vai sair em jornal algum”. Às vezes, digo: “Sei que o que estou falando vai sair em tudo que é jornal”. Percebi “requentamento”. Não percebi nada que devesse mudar o conceito que a Casa tem de V. Exª ou que devesse alterar o respeito e a estima que seus colegas têm por V. Exª. Sinceramente, não conferi maior importância ao que li, e me pareceu muito um bate-boca de província, um bate-boca no qual V. Exª, a meu ver, não deve nem entrar. V. Exª já passou por um percalço em cima dessas mesmas acusações. A Casa, a Comissão de Ética, sob a Presidência do nosso prezado Senador João Alberto, pronunciou-se a respeito de V. Exª. Ou não temos lei, ou temos lei. Não vamos cair aqui nessa esparrela de que só vale acusação; ou seja, quando alguém é acusado de alguma coisa, automaticamente tem de ser considerado culpado, senão é pizza, senão é não sei o quê. Não é bem assim. A prova tem de ser provada, e, às vezes, é necessário muito mais coragem para quem está analisando ou julgando absolver do que coragem, que não precisa tanta, de condenar. Se condenar e dar todos os louros a quem condena, ainda que sem razão, parece-me que a verdadeira coragem estaria em condenar com razão ou em absolver com razão, com justeza, com certeza também. Queria dizer-lhe da minha solidariedade; é uma solidariedade que lhe dou até sem ênfase, porque a matéria não me pareceu quente; pareceu-me requentada e não quente.

O SR. GERALDO MESQUITA JÙNIOR (PMDB - AC) - Querido amigo, Senador Arthur Virgílio, na verdade, o que menos importa para quem trama essa coisa macabra, para mim, é o conteúdo. Na verdade, o objetivo é só um, é começar a pontuar: “Senador Geraldinho fez isso”, “Senador Geraldinho fez aquilo”. Até meu ingresso no PMDB foi motivo de reportagem injuriosa. Fui convidado pelo PMDB, pelo seu Líder, para ingressar no Partido. No dia seguinte, a matéria divulgada dizia o seguinte: “Senador Geraldo Mesquita corre atrás do PMDB para se abrigar de possível cassação”.

O objetivo, Senador Arthur, é ir pontuando, pontuando, trazendo pequenos fatos, grandes fatos, médios fatos, para demonstrar: “Olha, daqui a pouco, as pessoas vão tirar a seguinte conclusão...”. O objetivo é colocar as pessoas em dúvida. “É tanta coisa envolvendo o nome do Senador Geraldo, vai ver que ele é safado mesmo”. O objetivo é esse, Senador Arthur Virgílio, não se iluda. O objetivo é esse. A matéria publicada na ISTOÉ pecou por um pequeníssimo detalhe.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª me permite?

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Pois não, Senador.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - É outra falácia, porque Partido grande não livra ninguém de cassação. Só os fatos determinam isso. Cito o exemplo de uma figura. Não estou aqui para espicaçar quem quer que seja, até porque não está no jogo, não está na luta. Não estou aqui para polemizar nem com nem em torno do Ministro José Dirceu. Mas havia alguém mais poderoso do que ele? E, no entanto...

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - É verdade. V. Exª lembrou bem.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Até com coragem, enfrentou o processo de cassação. Não renunciou. Enfrentou-o com coragem até o final. Isso eu até louvo. Mas o fato é que seu Partido, que é grande, forte e poderoso, não lhe deu abrigo, não lhe pôde dar abrigo. O meu Partido não teria força para dar abrigo a quem quer que fosse, nem o PMDB.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - E a matéria foi absolutamente...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Os fatos é que determinam. Não adianta. Se uma coisa é fato, a verdade aparece.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Exato, é claro.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Se não é fato, esse falso fato se dilui. Causa mal? Causa. Alguém dizia: “Calomniez, calomniez, quelque chose va rester - calunie, calunie, que alguma coisa fica!”. É um provérbio, um ditado francês.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Josef Goebbels também praticava coisa parecida: mentira, mentira, mentira, até virar verdade.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - É um ditado francês muito antigo, mas que diz “sempre fica”, até porque aquela pessoa que ouve a acusação não necessariamente ouve sua resposta. Digamos que 500 mil pessoas tenham ouvido uma acusação a V. Exª e que outras 500 mil tenham ouvido sua resposta. Não são as mesmas 500 mil. Elas não estão de prontidão, esperando que V. Exª torne a falar.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - É claro.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Sei que sempre fica um certo mal, mas, quando não tem consistência, isso se dilui no tempo e no espaço. Por isso é que vi mesmo o “requentamento”, não vi nada demais.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Encaminho-me para a conclusão do meu pronunciamento, senão aproprio-me do tempo de V. Exªs. Sei que muitos ainda querem falar.

Quero dizer que a matéria pecou, Senador José Agripino, por um ponto crucial. Essa moça deu o depoimento ao mesmo jornalista, que, por sinal, adjetiva. Ele adjetiva.

Veja: liberdade de imprensa. Um dia desses, eu disse aqui: “Jamais vou me insurgir contra a liberdade de imprensa. Pelo contrário, vou ser um soldado na defesa da liberdade de imprensa”. Mas uma coisa é liberdade de imprensa, Senador José Agripino, e outra é libertinagem de imprensa.

Quando o jornalista adjetiva sem qualquer... A acusação está aqui, os fatos que ele reuniu, supostamente, teriam de ser comprovados etc. Mas ele não se satisfaz. Ele já passa a adjetivar. Na matéria, a moça diz que eu pedi a ela que pegasse, na praça de Sena Madureira, notas frias para justificar despesas, Senador João Alberto Souza. Na manchete da matéria, ele diz: “Senador nota fria”. Quer dizer, eu já fui julgado, isso já é uma realidade. Ele incorreu em grande falha. Imagino que ele não teve a preocupação de perguntar a essa moça por que ela havia sido exonerada do meu gabinete.

Essa moça Maria das Dores, chamada de Dóris pelas pessoas que a conhecem, em quatro oportunidades, Senador João Alberto, manifestou-se em pelo menos três instâncias distintas: Justiça do Trabalho, Conselho de Ética do Senado e Polícia Federal, onde foi ouvida, e em uma carta pessoal que me enviou. Logo que o fato veio à luz, ela me enviou uma carta pessoal.

Leio trechos da carta: “Fui eu que inventei todas as mentiras para ganhar tempo, não sabendo que estava sendo gravado. Era uma armação política. O senhor nunca me pediu dinheiro, nunca me cobrou nada. Pelo contrário, me ajudou muito. Eu assumo a culpa. Eu menti, sou a única culpada por toda essa confusão”. E por aí vai.

Na Justiça do Trabalho, onde o rapaz, o parceiro, o outro que havia sido exonerado, protocolou uma reclamação trabalhista, ela atuou como testemunha e disse a mesma coisa: isentou-me da responsabilidade dos fatos ocorridos no Município de Sena Madureira. E, por último, no Conselho de Ética, apesar de ela haver se perdido, inclusive - seu depoimento é uma coisa lastimável -, ela, no conteúdo do seu depoimento, igualmente me isentou de responsabilidade, Senador Eduardo Suplicy. Eu tenho isso documentado. Tenho documentos. Ela prestou o depoimento e assinou. Agora, vem, de forma leviana, atribuir a mim atos jamais acontecidos.

Quanto às notas frias, não duvido de que ela tenha realmente as colhido no Município de Sena Madureira, mas em seu próprio proveito. Vou mostrar a V. Exª do que ela foi capaz e por que ela foi exonerada.

Em 1º de setembro, ela me enviou uma carta - deixem-me localizar a carta -, de próprio punho, e a assinou. É algo inacreditável! Eu nunca havia visto isso. O teor da carta é uma tentativa de extorsão, simplesmente, Senador João Alberto. Eu nunca havia visto uma tentativa de extorsão documentada, assinada por um cidadão ou por uma cidadã. Ela diz, na carta, entre outras coisas: “Tomei uma decisão. É melhor para todos nós. O senhor me dá uma indenização de R$50 mil e me demite. E pode falar o que quiser. Eu não vou mais responder. Eu aceito duas parcelas, uma no dia 10 de setembro e outra em dezembro”.

Senador José Agripino, o que eu fiz? O que um cidadão de bem tem de fazer em uma hora dessas? Exonerei-a, incontinentemente, e representei contra ela na Delegacia de Polícia do Município de Sena Madureira.

Tenho de temer o quê, Senador Eduardo Suplicy? Pelo amor de Deus! O que tenho de temer? Representei contra ela, pedi ao Delegado que observasse a Ocorrência de Cometimento de Crime e que instaurasse o inquérito.

Poucos dias depois, eu estava em Rio Branco, quando ela soube da sua exoneração. Foi comunicada, foi ao meu escritório, descabelando-se, chorando e pedindo reconsideração do ato. Eu disse: “Não reconsidero. Você está exonerada”. Ela pediu: “Pelo amor de Deus, não faça isso comigo, Senador. Tenho muitas dívidas. Não posso ficar sem esse emprego”. Eu disse: “Esse é um assunto encerrado”. E ela puxou da bolsa dela, para demonstrar a situação em que se encontrava - cheia de dívidas -, o extrato. Ele está aqui, pois ela me permitiu, inclusive, tirar cópia. Meu advogado me disse que não posso entregar isso a ninguém, mas posso falar dele. Desses empréstimos em consignação que o Banco do Brasil permite que sejam feitos nas máquinas de auto-atendimento, ela acumulava - ganho R$12,7 mil no Senado Federal e não tenho um centavo em empréstimos em consignação -, ganhando um bom salário para o Acre, R$3 mil, compromissos de quase R$40 mil com o Banco do Brasil. Por conta disso, ela queria que eu reconsiderasse sua exoneração, porque ela tinha dívidas e uma situação muito complicada para administrar. De fato, passei a saber de complicações e mais complicações com relação a Dóris.

Por que não demiti a Dóris logo que surgiu aquela conversa telefônica? O Senador Demóstenes Torres me cobrou essa resposta. Por que eu não a demiti? Porque, até então, Senador José Agripino, eu não enxergava má-fé na conduta da Dóris. Ela é estabanada e desorganizada, mas eu não enxergava má-fé na sua postura. E, assim como não quero julgamento sumário para mim, não o quero para ninguém.

Pedi a ela que se recompusesse e que voltasse a trabalhar. Eu quero, aqui, registrar que, do ponto de vista da atuação, ela foi eficiente no escritório. Ela elaborou boas agendas, inclusive na zona rural, onde gosto de estar. Eu não nego isso. Pedi: “Dóris, volte a trabalhar, envolva-se de novo com o trabalho”.

Ela entrou em parafuso, Senador Eduardo Suplicy, numa desestabilização emocional inacreditável. Tentamos ajudá-la, mas ela chegou ao cúmulo do desvario de me fazer uma tentativa de extorsão escrita e assinada! Dívidas e dívidas!

Fico chateado em trazer um assunto desse para a tribuna do Senado Federal, mas tenho somente esta tribuna. Nos jornais da minha terra, o esquema é o seguinte: o jornalista produz a matéria, normalmente escandalosa, e ela é reproduzida no meu Estado. Não tenho espaço na mídia do meu Estado, com raras exceções. Mas tenho a tribuna do Senado Federal e vou usá-la na defesa da minha honra! Falo hoje, vou falar amanhã, vou falar na quarta-feira e vou falar tantas vezes quantas forem necessárias, para mostrar a iniqüidade de um ato que está sendo perpetrado contra minha pessoa!

Pois não, Senador Eduardo Suplicy, concedo-lhe o aparte.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Geraldo Mesquita Júnior, desde quando V. Exª chegou ao Senado Federal, temos tido uma relação de respeito mútuo e de construção. Ouvi V. Exª com atenção quando aqui observou que, desde quando deixou seu Partido e mudou-se para o P-SOL e, depois, para o PMDB, estaria havendo denúncias dessa natureza. Ouvi quando V. Exª mencionou que, inclusive em seu Estado, estariam preparando uma cilada para atribuir a V. Exª fatos que, de maneira nenhuma, seriam verdadeiros e que, inclusive, obteve de sua senhora a solidariedade para o estar acompanhando, até mais do que o normal, para evitar qualquer situação de constrangimento inadequado. Li essa matéria na ISTOÉ e considero importante que V. Exª tenha, aqui, a oportunidade de esclarecer esses episódios inteiramente. Acredito que seja importante que a própria revista, tendo em conta os esclarecimentos que aqui nos transmite, procure trazer a verdade por inteiro, uma vez que V. Exª aqui nos transmite que não foi ouvido a respeito dos esclarecimentos que agora presta.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Senador Eduardo Suplicy, não fui ouvido por uma razão muito simples. O repórter até me procurou. Ontem, ligou-me um amigo Parlamentar do nosso Estado, dizendo: “Senador, eu soube na quinta-feira que alguma coisa iria acontecer, uma publicação de uma revista nacional etc.” E ele riu, porque eu disse: “Você soube na quinta-feira. Eu estava sabendo disso desde setembro”.

Quando eu disse à moça, Dóris, que, definitivamente, não tinha reconsideração, ela saiu do meu escritório ameaçando que o mundo iria desabar sobre a minha cabeça. Eu disse: “Minha filha, você faça o que bem entender!”.

Há um fato, Senador Eduardo Suplicy, que é extremamente relevante para a compreensão disso tudo. Um mês depois da sua exoneração - ela é servidora do Governo do Estado do Acre, uma modesta servidora; ela estava requisitada para o Senado, e o Senado a devolveu -, ela ligou a cobrar para meu celular, desesperada, chorando, dizendo que tinha perdido o emprego dela. Eu não entendi, pensei que ela estava se referindo à exoneração no Senado. E ela disse: “Não, é o meu emprego no Estado”. Eu, então, disse: “Não é possível que você tenha perdido seu emprego! Você é servidora, reapresente-se e volte a trabalhar”. Ela me respondeu: “Mas disseram que perdi meu emprego”.

E ela me fez essa ligação por duas vezes, para dizer a mesma coisa, chorando, descabelando-se, uma confusão danada. Agora, há poucos dias, ligou-me uma pessoa que tem amizade comum com ela e comigo - lá de Sena Madureira -, para me dizer o seguinte: “Senador Geraldo Mesquita, tenho uma boa notícia para o senhor. A Dóris retomou o emprego dela. Está, inclusive, novamente em folha de pagamento”. E eu disse: “Olha, que coisa boa!”. Não tenho mágoa de ninguém, Senador Eduardo Suplicy. Não tenho raiva de ninguém. Desejo a felicidade de todos, até daqueles que me procuram fazer o mal.

Depois, soube da presença de pessoas da revista, de jornais do Acre, assediando a Dóris. Entende? Fechei, então, a conclusão na minha cabeça. E, pelos fatos, estou autorizado a supor, Senador Eduardo Suplicy - e ninguém pode me negar isso -, que ela pode ter sido envolvida numa trama também, ela mesma. A ameaça foi de que ela teria perdido o emprego, e, surpreendentemente, não há processo administrativo nenhum, não há registro de publicação de nenhum ato de exoneração nem de demissão da Dóris do seu emprego lá no Estado. E, surpreendentemente, poucos dias depois, ela retoma seu próprio emprego. Os fatos me autorizam, Senador Eduardo Suplicy, a supor que tenha havido uma pressão ilegítima sobre a Dóris: “Se você falar a respeito do Senador, você retoma seu emprego”.

Estou autorizado a dizer isso; os fatos me autorizam a dizer isso. Deus queira que esse débito aqui não tenha entrado na negociação! Deus queira, Senador Eduardo Suplicy! Deus queira! Espero que não tenha entrado.

Senador, V. Exª já concluiu?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Bem, avalio que seja próprio da revista ISTOÉ, com o objetivo de trazer a informação mais correta, ouvir o esclarecimento que V. Exª está dando agora, para que esse assunto seja melhor esclarecido para os leitores. Obviamente, se realmente não há fundamento na história tal como foi relatada, é muito importante que tenha V. Exª direito ao esclarecimento completo, inclusive no âmbito da revista. E, dada a tradição, a história da revista ISTOÉ de procurar trazer a verdade completa sobre os fatos, que ela, então, possa trazer o esclarecimento mais completo que V. Exª, hoje, nos transmite! Avalio que essa seja uma responsabilidade do editor da revista. É importante, inclusive, que a população do Acre possa conhecer inteiramente os esclarecimentos que V. Exª está aqui nos trazendo.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Acho isso pouco provável. A população vai conhecer porque vou falar, aqui, sobre o mesmo assunto todos os dias. Se eu precisar dos meios de comunicação do meu Estado, do querido Estado do Acre, não vou ter acesso a eles. É uma coisa impressionante! E o País tem de tomar consciência disso.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Por tudo o que conheço do Governador Jorge Viana, avalio que ele terá a responsabilidade de agir com isenção nesse caso. V. Exª nos traz aqui a informação de que essa senhora estaria agindo como um instrumento...

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Senador Eduardo Suplicy, ela, hoje, está na condição do torturado em face do torturador. Entende? É a imagem que tenho da situação.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É importante que, diante da observação de V. Exª, o Governador do Acre esclareça inteiramente o episódio para mostrar sua isenção. V. Exª, sem dizer exatamente como, disse que essa senhora estaria agindo como um instrumento e que isso se devia ao fato de ela ser funcionária do Governo do Estado. Por essa razão, avalio que seja importante o esclarecimento completo dos fatos.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Agradeço a V. Exª a reflexão, pois me ajudou muito no encaminhamento da questão.

Agora, de fato, vou concluir.

Senador, entrego tudo a Deus. Sei que é infinitamente melhor ser alvo da injustiça, mesmo com a dor que ela acarreta, do que ser seu agente. E tenho a certeza absoluta, com a serenidade que Deus me deu, de que, em breve, conseguiremos provar cabalmente como isso está sendo planejado, urdido, executado. Quem sabe, um dia, aparecerá para o Senado Federal, para o Acre, para o Brasil o grande arquiteto desse plano macabro disparado contra minha pessoa. Tenho esta esperança, no fundo da alma: um dia, conseguiremos desmascarar o grande arquiteto que está por trás disso.

Peço desculpas ao Plenário por ter-me estendido.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Geraldo Mesquita, V. Exª me concede um aparte?

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Pois não, Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Ouvi atentamente o pronunciamento de V. Exª sobre uma matéria que o deixa emocionado. Considero isso justo. O que me preocupa é que os apartes levantaram uma dúvida em relação ao comportamento do meu Partido no assunto que V. Exª abordou. E com isso não concordo. Gostaria que os demais colegas não pensassem, nem de longe, numa situação como essa. Acabo de ouvir o aparte do Senador Suplicy e, por isso, penso que os outros Senadores assim entenderam. É um assunto sobre o qual V. Exª tem o inteiro direito de ir até o fim para colocar a público os devidos esclarecimentos. Mas, no que diz respeito à relação feita com o meu Partido, considero uma injustiça com o PT do Acre. Uma injustiça por quê? Assim como, por direito, V. Exª reclama de uma situação criada com o nome de V. Exª, não posso acreditar que essas pessoas que conheço há muitos anos, pelas quais ponho minha mão no fogo e de cujo comportamento não tenho dúvida alguma, tenham criado esse problema. Concordo que V. Exª deva limpar todo esse cenário e corrigir qualquer situação. È do seu direito. E V. Exª goza do apoio de todos nós. Mas não vamos relacionar, nem de longe, conforme aparte aqui proferido, esses fatos à sua saída do PT. V. Exª participou de uma eleição conosco. V. Exª foi membro de governo no nosso Estado.

V. Exª sempre recebeu de nós carinho e respeito. Essa era a relação que tínhamos. Respeitamos quando V. Exª, ao chegar a Brasília com mandato de Senador, passou a não acreditar mais no Governo Federal. Depois, em uma conversa, V. Exª deixou muito claro que, com relação ao Acre, continuava com a mesma admiração pelo nosso projeto de trabalho, pelas coisas que fazíamos. Agora me preocupa imaginar que algum de nós tenha qualquer relação com esse tipo de coisa. Estou dizendo isso porque me preocupa o que poderia estar na cabeça de alguns Senadores que ouviram seu pronunciamento. Fica aqui a minha palavra. E falo pelo meu Partido no Estado do Acre e, com certeza, por todos os nossos companheiros e companheiras que prezam muito a justiça, como todos aqui. Então, neste caso, peço que seja feita a separação para não ficar pairando esse tipo de problema. No mais, expresso a nossa solidariedade. Gostaria muito que V. Exª elucidasse esses fatos. Acompanhei todas as crises que têm assolado neste Congresso nos últimos anos. Estudei vários problemas, expus-me em alguns deles e muitas vezes fui mal interpretado. Este é o nosso caráter, a nossa forma de agir: expondo nossas idéias, nossas opiniões. Fica, portanto, a nossa solidariedade a V. Exª.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Muito obrigado, Senador Sibá Machado.

Concluo passando mais uma vez essa informação e mostrando ao Senado quem é o interlocutor dessa revista. É uma pessoa chamada Doris, que me fez uma tentativa de extorsão clara, assinada, assumida. Portanto, cometeu um crime. É para essa que a ISTOÉ abre as portas para os seus devaneios, para as suas declarações. Para mim, uma pessoa absolutamente desestabilizada e altamente suspeita.

Disse que ela está hoje na condição do torturado em face do torturador. Digo, repito, afirmo quantas vezes eu achar necessário: ela está hoje na condição do torturado em face do torturador. Creio que a linha que ela escolheu leva-a para a subserviência, à condição de estar sujeita ao que alguém determinar e quiser.

Senador Sibá Machado, não sei de quem se trata, já disse aqui. No dia em que souber, vou dizer o nome, o sobrenome, o CPF e as digitais. No dia em que souber, digo. Por enquanto, guardo apenas as enormes coincidências.

Todo o movimento político que faço nesta Casa...Por último, foi minha declaração independente de que o PMDB não deveria compor coalizão com o Governo. Falei isso com sinceridade, com lealdade. Eu disse, inclusive, que, apesar dessa posição independente, estou aqui para apoiar aquilo que for importante para o País e continuar criticando procedimentos, gestos, atitudes deste Governo que tanto errou, de fato.

Espero, do fundo do meu coração, que, neste segundo mandato, o Governo aprenda com os erros cometidos e possa dedicar à Nação brasileira aquilo de que ela precisa e necessita: promover o desenvolvimento desta terra com geração de emprego, com investimentos pesados na agricultura, nos portos, aeroportos e rodovias, para que possamos, enfim, sonhar com o Brasil que tanto amamos.

Peço, mais uma vez, desculpas por ter me estendido tanto e agradeço a paciência dos meus Pares.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/12/2006 - Página 36969