Discurso durante a 199ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao artigo do articulista Vinícius Torres Freire, publicado no jornal Folha de S.Paulo, do dia 19 de novembro, que faz um comparativo entre o crescimento econômico nos governos do Presidente Fernando Henrique Cardoso e do Presidente Lula. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários ao artigo do articulista Vinícius Torres Freire, publicado no jornal Folha de S.Paulo, do dia 19 de novembro, que faz um comparativo entre o crescimento econômico nos governos do Presidente Fernando Henrique Cardoso e do Presidente Lula. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2006 - Página 37096
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMPARAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL, ANTERIORIDADE, GOVERNO, ECONOMIA, MUNDO, IMPOSSIBILIDADE, ATENDIMENTO, EXPECTATIVA, GOVERNO FEDERAL, AMPLIAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FALTA, REESTRUTURAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA FISCAL, ELOGIO, EFICACIA, POLITICA MONETARIA, GARANTIA, CONTENÇÃO, INFLAÇÃO.
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, COMPARAÇÃO, ECONOMIA INTERNACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, AMERICA LATINA, SOLICITAÇÃO, ATENÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RISCOS, INCOMPETENCIA, ADMINISTRAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, o Presidente Lula se aborrece quando comparam o crescimento do Brasil, em seu governo, com o resto do mundo. Vinicius Torres Freire abordou o assunto em lúcido e recente artigo na Folha de S.Paulo do dia 19 de novembro.

(...)

No primeiro FHC (1995-98), o Brasil cresceu o equivalente a 70% do crescimento mundial. No segundo FHC (1999-2002), a economia planou mais raso, a 60% do que crescia o planeta. Para que o governo Lula empate com o segundo FHC, será preciso crescer uns 3,8% neste ano.

Sabemos que não atingirá sequer os 2,8% que eu havia cravado desta tribuna, em contraposição aos otimistas e absolutamente delirantes 4% do Ministério da Fazenda.

Volto a Vinícius Torres Freire:

Na sexta-feira, economistas da Febraban, o supersindicato dos bancos, também passaram a estimar em 3% a alta do PIB 2006. O crescimento luliano seria assim equivalente a 56% do desempenho mundial.

Para não contrariar o Presidente Lula à toa, fui conferir os dados. É mais ou menos como Freire diz, ou pior. Confiramos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

Peguei as taxas de crescimento do PIB brasileiro, apuradas pelo IBGE, no site do Banco Central. As do produto bruto mundial, fui recolhê-las no site do FMI. Comparando os dados, temos que:

Nos primeiros quatro anos de FHC, de 1995 a 1998, o produto bruto do mundo cresceu, em média, 3,7% ao ano e o do Brasil, 2,6%, equivalentes, portanto, a 69% do crescimento mundial.

Nos primeiros três anos de Lula, de 2003 a 2005, o produto bruto do mundo cresceu, em média, 4,7% ao ano e o do Brasil - espetáculo! -, os mesmíssimos 2,6%, só que equivalentes a 54% apenas do crescimento mundial.

Vantagem de 15 pontos percentuais para o Governo Fernando Henrique Cardoso. A coisa não muda muito se forem incluídas as estimativas de crescimento do mundo e do Brasil para 2006.

Eu também poderia comparar os quatro últimos anos de FHC com os três primeiros de Lula, como faz Freire. A vantagem de Fernando Henrique Cardoso, nesse caso, fica em 4,6 pontos percentuais. Mas a comparação é, no mínimo, extemporânea. Vamos esperar Lula completar o segundo mandato para ver como é que ficam os quatro últimos anos dele em relação aos quatro últimos do seu antecessor.

Se é para estender unilateralmente o período de comparação, em todo caso, que tal esta: nos 10 anos a partir do Plano Real, de 1993 a 2002, o produto bruto do mundo cresceu, em média, 3,5% e o do Brasil, 2,9%, equivalentes a 83% do crescimento mundial. A vantagem de Fernando Henrique sobre Lula, nesse caso, pula para 29 pontos percentuais. Ou o crescimento do Brasil, entre 1993 e 1994, não teria nada a ver com a gestão de Fernando Henrique como Ministro da Fazenda do Governo Itamar Franco?

Pois é; Lula comparar o crescimento da economia brasileira no seu Governo e nos períodos imediatamente anteriores, sem levar em conta o crescimento da economia mundial, é mais ou menos como cotejar o desempenho de dois aviões, sem levar em conta a força e a direção do vento.

Lula teve a sorte de pegar a economia brasileira com um fantástico vento de cauda. Faz, no mínimo, um quarto de século que o mundo não vivia três anos seguidos de crescimento tão forte como em 2003/2005. Se, apesar disso, o Brasil está patinando, é por uma de duas razões ou por ambas.

Primeira, falta potência nas turbinas, porque Lula se agarrou à política de juros e câmbio de Fernando Henrique, porém não continuou as reformas estruturais necessárias para melhorar o desempenho econômico do País.

Segunda, como piloto da economia, Lula é, sob os critérios fiscal e administrativo, inadequado para enfrentar turbulências, contrariar interesses e navegar com segurança na direção do futuro.

O Governo Lula sai mal quando se compara o crescimento econômico do Brasil com o mundo. Mas a comparação mais significativa é com a própria América Latina, porque pega o impacto da turbulência financeira do mundo sobre a região na segunda metade da década de 1990 e o vento a favor na primeira metade da década de 2000. Ou seja, turbulência para os seus antecessores e absoluta bonança no período lulista. Nesse confronto, o Governo atual apresenta desempenho ainda mais pífio.

O resumo da ópera é o seguinte: a América Latina cresceu modestos 2,5% ao ano no começo da década de 1990, enquanto o Brasil mergulhava na recessão do Governo Collor.

Em 1993 e 1994, a região acelerou para 4,6% ao ano, a economia saiu do atoleiro e acelerou ainda mais, para 5,4% ao ano, graças ao Plano Real, que, à época, Lula e seu Partido, o PT, no puro estilo “quanto pior melhor”, chamavam de estelionato e daí em diante.

O fato é que o Plano Real não só deu certo como permitiu ao Brasil atravessar inúmeras e sucessivas crises financeiras externas e sistêmicas, crescendo só um pouco menos do que a América Latina (2,6% e 3,2%, respectivamente), no primeiro Governo Fernando Henrique, e muito mais do que ela no segundo Governo (1,2% e 2,1%). Ou seja: as crises fizeram estrago em toda a região, mas o Brasil, graças às reformas estruturais, resistiu melhor e sofreu menos.

E o Governo Lula, dentro da relatividade das coisas, como se saiu? Muito mal, como sabemos! Classificando o Brasil na “lanterna” da América Latina em matéria de crescimento, à frente apenas do paupérrimo e desagregado Haiti. Mas como exatamente? Falhando no front ético, com escândalos que polarizaram o País; fracassando na frente administrativa, pela inércia e pelo aparelhamento petista; claudicando no capítulo dos marcos regulatórios e restringindo a inserção de investimentos em nossa combalida infra-estrutura; vacilando no capítulo do respeito ao direito de propriedade, a partir da leniência com que tratou MST e afins; errou redondamente no campo fiscal, com a gastança pré-eleitoreira, a criação de cargos comissionados para “companheiros”, o exagerado número de ministérios, e por aí afora. Onde acertou foi na política monetária, que garantiu inflação baixa e equilibrou o quadro.

Na disputa com a pobre África subsaariana e os países retardatários da Ásia, o Brasil de Lula perdeu também. A África subsaariana, por exemplo, cresceu 5,5%, em 2005, e deve fechar este ano em posição ainda mais favorável, em torno de 5,8% ou 6%, de crescimento anual.

As opções de que dispõe o Presidente Lula - e já concluo - são cristalinas: a mediocridade, com baixo crescimento e nenhuma reforma estrutural, ou o olhar na direção da história, desviando-o das pesquisas de opinião pública, enfrentando o que tiver de ser corrigido, ainda que a de impopularidade. Repito, Senador Gilberto Mestrinho, se continuar como está, ele pode obter uma popularidade que talvez não seja duradoura e garantir o retrato três por quatro na galeria da história, ou impopularidade talvez não duradoura, com direito a registro respeitoso pelos que escreverão, no futuro, os dias que ora vivemos.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2006 - Página 37096