O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Valdir Raupp que preside esta sessão, Senadoras e Senadores aqui presentes, brasileiras e brasileiros que nos ouvem e nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado e leitores do Jornal do Senado, professor Gilberto Mestrinho, estou vendo ali Rui Barbosa. Senador Valdir Raupp. Rui Barbosa está ali porque teve coragem - foi Senador da República por 32 anos!

Senador Flexa Ribeiro, ele foi oposição no Império; ele tramou derrubar os reis; ele ajudou a libertar os escravos. Então foi oposição às normas do Império e fez nascer a República. E, então, se enquadrou; foi governo, Raupp - V. Exª está encantado com este Governo! Rui Barbosa foi Ministro da Fazenda de Deodoro, de Floriano. Ministro da Fazenda, dono da chave do cofre. Aí os militares queriam colocar outro militar. Mestrinho, ele disse: “estou fora”. Ele que tinha tramado contra o Império, contra os reis, disse: “estou fora!” E foram convencê-lo: Não, V. Exª volta a ser Ministro. Presidente Sarney, ele disse: “não troco a trouxa de minhas convicções pelo Ministério”.

Atentai bem, Presidente Sarney, este Governo está uma lástima. O PMDB não está nele, não. Não vamos fazer parte disso. Ó, Raupp, leve lá este recado para esses aventureiros que querem desvirtuar. Olhai a verdade! E eu fiquei pacientemente esperando.

Mestrinho, aprendi, lá no Nordeste, onde eles dizem: é mais fácil tapar o sol com a peneira do que esconder a verdade. Não há Duda Mendonça que esconda isso; não há Globo nem mídia, nem Lula.

“Cai número de alunos que concluem ensino básico”. A mídia todinha de propaganda. Mas não se tapa o sol com a peneira.

“Cai número de alunos que concluem ensino básico”. Que vergonha, Lula! Tiraste o Boris Casoy por dizer isso. Que vergonha! Aqui assenta o espírito de Boris Casoy. O resto é a mídia comprada, paga pela Petrobras, que nos rouba a todos os brasileiros. É o petróleo mais caro! Que petróleo é nosso?! Fica inventando aí despesa extra. Não aprende nem isso do Chávez. Um tanque de gasolina na Venezuela é R$5,00. Botem aí vocês, brasileiras e brasileiros.

Este é o Governo da mentira! E a verdade está aqui. E quis Deus adentrasse o plenário um homem de vergonha do Piauí, que foi Senador e que governou Minas. Olhai lá a verdade: Francelino Pereira, que aqui incorporo.

Rui Barbosa ganhou as eleições no Piauí, Senador Raupp. Aprenda a grandeza. Mandamos o Francelino Pereira governar Minas. E estou aqui em nome dessa gente, de Evandro Lins e Silva, de Carlos Castello Branco, de João Paulo dos Reis Velloso, de Petrônio Portela, de Lucídio, de Francelino Pereira.

Mestrinho, eu tenho minhas crenças: creio em Deus, creio no estudo e creio no trabalho. Estou aqui, Lula, pelo estudo e pelo trabalho. V. Exª é um mau exemplo. Ô Flexa Ribeiro, mau governante está ali: é o pior Presidente da República nos 506 anos de Brasil! Pior do que os das Capitanias Hereditárias, do que os governadores-gerais, do que os do Império e do que todos. É educação. Não há esse negócio de apagão aéreo, não. Isso é muito pouco. Aqui, a falta é de vergonha. Isso é uma vergonha! Tanta propaganda! Caiu o número. Um quadro vale por dez mil palavras.

O SR. PRESIDENTE (Valdir Raupp. PMDB - RO) - Senador Mão Santa, peço permissão a V. Exª para interrompê-lo a fim de prorrogar o prazo da sessão por mais vinte minutos. V. Exª usa mais dez minutos e eu uso dez para fazer meu pronunciamento.

Continua V. Exª com a palavra.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Atentai bem, Sr. Presidente: bem ali, no Chile, Mestrinho, eram oito anos de ensino obrigatórios. Porém, no governo de Ricardo Lagos - Presidente, que foi Ministro da Educação -, foi editada uma lei que instituiu o ensino obrigatório de 12 anos. Aqui - atentai bem, Flexa Ribeiro -, dos que se matricularam em 1997, esperava-se que 65,8% terminassem o curso. Foram só 52%. Caiu. Deixaram as escolas.

Aquela perspectiva caiu. E, no Nordeste? Como que o Nordeste... É, enganou-se. Mas essa eleição não me apavora, porque sou um homem cristão, ô Raupp. E nós, cristãos, sofremos quando Cristo disputou a eleição, e Barrabás ganhou Dele. Poder não nos assombra. É Presidente? É. Nero foi imperador. Calígula foi imperador. O fato é que está aqui. O que se vê é propaganda, enganação.

Senador Raupp, a V. Exª, encantado pelo Governo, estou apresentando dados do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que é um órgão do Governo. Ô Flexa, desligue aí o telefone e ouça esses números. Sei que V. Exª quer fazer uma propaganda do Fernando Henrique Cardoso, que é do PSDB e privatizou a telefonia...

No Nordeste, pouco mais de 30% concluíram os oito anos; os outros saíram antes. No Chile, eram oito anos, ô Flexa Ribeiro, mas Ricardo Lagos - que era um Cristovam Buarque, foi Ministro da Educação e Presidente - criou uma lei naquele País, obrigando cada chileno hoje a ter 12 anos de escola. Aqui, são oito anos, mas se deixa pela metade. No Sul e no Nordeste, um terço do previsto. Caiu!

Como vamos para frente sem educação?

Flexa Ribeiro, um quadro vale por dez mil palavras. Eu vinha ali da Itália, e nós vemos a educação. Esse País vai bem? Quando eu fui àquela fonte onde jogamos uma moeda, eu estava imaginando: às 3h da madrugada, três mil pessoas estavam jogando moedas!

O Rio de Janeiro é bonito. Flexa Ribeiro, vá andar com a sua esposa pelo Rio de Janeiro às 3h da madrugada, na Praça Paris, na Cinelândia ou na Rua do Ouvidor.

Estamos mal educados, porque este Governo só faz propaganda. Ele não está educando. Está caindo! Nós deveríamos crescer e melhorar.

Mas, Flexa Ribeiro, quando eu cheguei a São Paulo - agora, vou dar um quadro do que é o nosso Presidente da República, pois estou aqui como Rui Barbosa, em cujo mandato, na sua maior parte, esteve na Oposição - e estava no aeroporto numa dessas lojas de conveniência, Senador Valdir Raupp, onde havia uma livraria. De repente, entraram dois jovens que traduzem o Brasil de hoje. Eram dois jovens, e eu estava com a minha mulher, Adalgisa, e um deles disse: “Livro?! Tenho horror a leitura! Detesto ler!”

Esse é o nosso País. O Presidente da República disse que era uma canseira ler uma página; era pior do que fazer uma hora de esteira.

Apagão?! Isso aqui é muito mais grave. Caiu!

Os dados são da Presidência da República. “A tendência é menos gente se formar”, diz o consultor da Fundação Cesgranrio, especialista em indicadores educacionais, Sr. Ruben Klein.

Ô Raupp, V. Exª foi prefeitinho e Governador. Ô Flexa, eu fui e tinha uma placa na minha cidade. Cresci no Rio e vi Lacerda. “Há vagas”. Aqui, não há, não. Há saída!

Não existem mais creches. Raupp, sabe por que nós estamos aqui? Porque o Governo Federal era melhor. Nós fomos Prefeitos. Creche era fácil. Tinha a LBA somente para abrirmos creches. Não existe mais creche. A creche é para pobre. Existe essa enganação do Bolsa-Família.

Entre o Lula e o Luiz Gonzaga, eu sou Luiz Gonzaga! Ele é de Pernambuco, mas o Pernambuco verdadeiro. Luiz Gonzaga, ô Zezinho! O Zezinho é de lá e sua mulher também, do Nordeste. Luiz Gonzaga disse em versos: “Uma esmola que se dá a um homem são ou o mata de vergonha, ou vicia o cidadão”. Essa é a perspectiva, porque escola não estão dando, não; estão é diminuindo os índices de escolarização.

Ô Lula, estou aqui porque estudei. Flexa Ribeiro, vou completar quarenta anos de exercício da Medicina agora, em Fortaleza. Eu acredito em Deus, no estudo e no saber. O estudo leva ao saber, e o trabalho faz as riquezas. Essas são minhas crenças, Raupp. Por isso não estou nesse barco. O que me prende ao PMDB são os mortos, e não os vivos que estão a negociar e a mendigar cargos. Inspiro-me em Ulysses, Tancredo, Teotônio, Juscelino, cassado, e Ramez Tebet, morto recentemente. Este é o PMDB que fez renascer a democracia. Atentai bem: foi o povo que criou a democracia. E o jogo é claro: o povo é soberano. O povo elegeu o PT, para que governe e tenha a responsabilidade. Não me venha com essa irresponsabilidade de diminuir os índices da educação. E nós, que não ganhamos, somos Oposição.

Pergunto ao povo brasileiro, ô Flexa Ribeiro. Tivemos muitos Presidentes, e não sei o nome de dez. Sei de Rui Barbosa, que perdeu a Presidência, Lula, mas se engrandeceu fazendo Oposição, dizendo que só havia uma salvação: a lei e a justiça, ensinando aqui que ao trabalho e ao trabalhador deve-se dar primazia; ele vem antes, ele faz a riqueza e o capital, não este Governo, que se aproveitou do nome do trabalhador para enganar e chegar ao poder e servir aos banqueiros e aos exploradores - aí estão os mais altos juros e tributos!

Este é o pior Governo da história. Vivemos o pior momento da democracia. Democracia não é eleição, não. Eleição é uma partícula da democracia. Democracia foi instituída quando o povo destronou os reis absolutistas, quando o poder era único. A primeira coisa que fez a inteligência humana, com Montesquieu: dividir o poder. Aqui está um desses poderes. Esse Poder que se acocora rapidamente e dá altos salários - há brasileiro ganhando R$ 40 mil hoje -, e é rápido! No entanto, ontem, negamos aos aposentados 16%. Os aposentados do Brasil, ó Lula, estão a se suicidar. Senador Flexa Ribeiro, sou médico há quarenta anos, trabalhei muito, e sei: eles estão se suicidando. Nunca houve tantos suicídios entre os aposentados no Brasil como hoje.

Outro dia, meu padrinho do Rotary, um homem de bem - todo o Piauí se abalou -, enforcou-se. Era um homem de bem, um santo, Flexa Ribeiro.

Acho que ninguém tem de ser julgado por um instante, mas pela vida toda. Enforcou-se, e o Piauí ficou transtornado: um santo. Eu não conheço nenhum Senador que se compare a ele na bondade e nas virtudes - o meu padrinho de Rotary. Aposentado, não tinha dinheiro para pagar o hospital da esposa amada.

Esse é o retrato dos aposentados a quem vocês negaram 16%. Mas não negaram aqui R$40 mil, ultrapassando o teto, com jetom. Em qualquer país organizado - Lula, aprenda! - é diferente. Fui à Itália: a diferença do menor para o maior é de dez vezes.

Flexa Ribeiro, V. Exª, que sabe de dinheiro, tem muito dinheiro, já foi presidente de federação, sabe que tem gente ganhando R$40 mil. Enquanto isso, o mínimo é de R$350,00. Multiplica-se por mais de cem o menor para se chegar ao maior. Essa é a verdade, essa é a podridão, essa é a vergonha da nossa democracia.

E o pior: os pequenos são enganados com o Bolsa-Família de R$95,00. Mas, imoralmente, há os cartões de crédito dos que servem ao Governo, caixas-pretas ilimitadas, e ninguém sabe quanto gastam.

Aqui não será a Venezuela 2! Não vamos deixar! Aqui é diferente; aqui temos exemplos.

Ó Lula, não preciso buscar exemplos em outras histórias, em outros países, pois aqui mesmo há os que resistiram e fizeram a democracia: Rui Barbosa; o meu partido, que lutou contra os ditadores para salvaguardar esta democracia. E é em respeito a eles que ainda estou nesse partido, para poder aqui falar como falou Brossard. Ó Raupp, sabe por que Brossard é grande? Não sei nem onde ele está, mas ele, em um momento difícil para o PMDB, raciocinou e disse desta tribuna - está no livro Brossard - 80 Anos na História Política do Brasil: “O que poderei fazer? Represento um milhão de votos” - era um terço do Estado dele à época - “Então tenho de falar por um milhão de bocas!”

Posso dizer aqui o que o povo do Brasil tem vontade de dizer, o que a grande maioria que não votou em Lula, que é a maioria do povo brasileiro se somarmos os votos de Alckmin com os nulos e com os que não foram, tem vontade de dizer: Ó Deus, dê juízo ao Presidente da República!

Esse Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social é um órgão vinculado à Presidência da República, não pode ir atrás de deputado nem de senador para sua governabilidade.

A governabilidade surgirá quando V. Exª melhorar a educação do Brasil. Essa é a verdade.

Ó Raupp, aqui estou para ensinar. Senador só tem este. No dia em que não achar, peço para sair. O sentido desta Casa, hoje vazia, é isto: sermos os pais da Pátria. Aprenda, Flexa Ribeiro: surgiu o Senado quando Moisés, querendo desistir, quebrou as tábuas da Lei e ouviu de Deus: “Busque os mais velhos e experientes”. E ele foi buscá-los. “Eles o ajudarão a carregar o fardo do povo”. E aí nasceu a idéia do Senado, melhorada na Grécia, na Itália, na França e, aqui, com Rui Barbosa.

A governabilidade virá com a responsabilidade de melhorar a educação, que está uma vergonha, assim como a segurança. Vim agora da Europa: a fama do Brasil é muito pior que a do Iraque. É mais fácil ter turismo no Iraque do que no Brasil. Encontrei lá um espanhol, num congresso, que disse: “O Brasil é muito bom, futebol, Pelé”. Carnaval: Pum! Matou. É essa a violência, aqui se mata mais por ano do que no Iraque.

A segurança, a educação e a saúde têm problemas. O SUS não existe; é enganação. A consulta médica está R$2,50.

Encontro colegas meus e pergunto: “Estão operando?” Uma cesariana é R$100,00; uma consulta médica é R$2,50 pelo SUS. Fui também parteiro, tinha de fazer isso no interior. Raupp, sabe quanto tempo de trabalho para se fazer um parto? Um ano, um pré-natal dura nove meses; depois, faz-se a cesariana, mas o trabalho ainda continua. Não existe saúde para pobre. Este Governo vai mal.

Ó Deus, dê juízo ao Lula. Nunca vi um sujeito ter tanta oportunidade...

E vou encerrar agora. Leiam o livro de Ricardo Kotscho, que é um bom caráter, é um grande jornalista, tem quarenta anos de imprensa. Ele saiu após servir por dois anos. Diante de tanta corrupção e de tanta roubalheira, Ricardo Kotscho - amigo de Marisa, amigo de Lula, quarenta anos de amizade - diz em seu livro, em 2005, que achava muito difícil Lula terminar o governo. Está lá no livro. Mas Deus deu-lhe outra oportunidade.

            Que Deus ilumine Lula para que, com essa grande oportunidade, se refaça e se conscientize de que sua vaidade deve acabar, pois seu governo foi pior para o Brasil. Ó Deus, ilumine-o para que ele melhore para todos nós.