Discurso durante a 203ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a falta de planejamento do governo do presidente Lula, no setor de infra-estrutura, um grave risco à meta de crescimento pretendida.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a falta de planejamento do governo do presidente Lula, no setor de infra-estrutura, um grave risco à meta de crescimento pretendida.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2006 - Página 38205
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FALTA, PLANEJAMENTO, INFRAESTRUTURA, PREJUIZO, CRESCIMENTO ECONOMICO, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), SUGESTÃO, GOVERNO, CONCESSÃO, RODOVIA, FERROVIA, PORTOS, MELHORIA, POLITICA DE TRANSPORTES.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, GAZETA MERCANTIL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, INCAPACIDADE, MINISTRO, ELABORAÇÃO, PLANEJAMENTO, EFICACIA, CRESCIMENTO, ECONOMIA NACIONAL, DEBATE, PROBLEMAS BRASILEIROS, NECESSIDADE, MELHORIA, SAUDE PUBLICA, ATENDIMENTO, CIDADÃO, CONTROLE, ESPAÇO AEREO, BRASIL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, era o que se temia. A se confirmar, será uma lástima. É bom que a área econômica do Governo ouça o que hoje é apenas um alerta, diante do clamor público que se vai intensificando e que a mídia veicula. Nem seria preciso dizer que se trata da falta de projetos no setor de infra-estrutura, um grave risco à meta de crescimento pretendida pelo Governo.

O alerta não é apenas da oposição. Está em todos os jornais, como essa manchete de página inteira do Correio Braziliense:

Para evitar o colapso

Falta de projetos na área de infra-estrutura pode inviabilizar as metas de crescimento estipuladas pelo Governo. A solução será começar pelo setor de transporte, com a concessão de rodovias, ferrovias e portos.

Essa é apenas uma das matérias de alerta, às vésperas do Mandato-2 do Presidente Lula. Aqui também, neste Plenário e no Plenário do lado de lá, parlamentares de todos os partidos fazem os mesmos sinais para o Governo se pôr vigilante.

A hora presente é o momento que deveria ser aproveitado para, ao menos, traçar roteiros prévios para planejar estratégias. Deveria, sim, como dever de casa. Afinal, o chefe da Casa não mudou, podem mudar os ajudantes. O chefe será o mesmo.

Não é o que se vê. Pelo que se diz, a Casa está confusa. O jornal O Estado de S. Paulo desse domingo publica ampla reportagem, como matéria de capa. Leio o título:

Pressão de Lula por crescimento confunde equipe

Sem rumos definidos, Ministros não conseguem montar plano

Na primeira página, o resumo:

(...) A determinação do Presidente Lula de acelerar o crescimento econômico para 5% já em 2007, sem definição de caminhos para alcançar o objetivo, deixa sua equipe em posição delicada.

(...) Com a falta de rumos, os Ministérios da Fazenda e do Planejamento e o Banco Central montam uma colcha de retalhos de medidas paliativas, truques para animar investimentos e desonerações tributárias que já desagradam à Receita Federal. Lula rejeita fórmulas como as da Argentina (mais inflação em troca de crescimento de curto prazo) ou da Venezuela (mais gastos estatais). Mas se irrita com a agenda ortodoxa de contenção de gastos e reformas da Previdência e tributária.

Há, neste momento, muito por fazer para destravar o Brasil, lembrando o que reivindica Lula. O Presidente precisa saber que a sociedade brasileira, como um todo, acompanha seus novos passos no seu Governo-2.

Com um título bem adequado à realidade brasileira, o ex-presidente da Embraer, Ozires Silva, diz, em artigo na Gazeta Mercantil desta segunda-feira:

            Chegou a hora de o País levantar vôo.

Para ele, (...) o que falta, claramente, são ações. Falta, sim, deixar de lado o caldeirão dos interesses políticos ou de grupos e voltar-se para os anseios maiores da Nação brasileira.

E adverte:

(...) Não há tempo a perder. Hoje, mais do que antes, precisamos estar à altura dos desafios. Se olharmos para o retrovisor, vamos constatar que, no passado, as condições eram mais adversas.

(...) em outras palavras, na década de 70 não havia liberdades pública. Hoje, há. Na década de 70, predominava o ufanismo, hoje impera o espírito crítico (...)

Diz ainda aquele dirigente empresarial, hoje presidente da UNISA, a mantenedora da Universidade de Santo Amaro (SP):

(...) podemos sair da armadilha que armamos para nós mesmos se pensarmos, por exemplo, numa espécie de nova descoberta do País que não seja mais ancorada num destino triunfante (...)

Ozires lembra os desacertos nos nossos aeroportos e conclui:

(...) não é com punições ou com a pura e simples contratação de novos controladores de tráfego aéreo que se irá superar os impasses. Até porque o drama é muito mais amplo.

O drama é, mesmo, muito mais amplo. Ainda agora, foi divulgado estudo do Unicef, mostrando que o Brasil ainda tem taxas de mortalidade infantil piores do que os de uma centena de países. É o 86º num ranking de 160 países. Na América Latina, o Brasil aparece em situação pior do que a da Nicarágua, de Honduras e da Bolívia.

Um desses dramas é o da saúde pública. E, como registra reportagem publicada há 15 dias no Estadão, quem bem definiu o problema é um brasileira de classe média apertada, Vera Regina Souza Silva, coincidentemente reunindo no sobrenome dois nomes bem Brasil, Souza Silva.

Depois de penar pelos hospitais públicos, ela resolveu reservar uma parcela de seu salário para pagar um plano privado de saúde para seu filho de sete meses. E justifica a opção, deixando com clareza a situação que hoje vive a maioria da população brasileira:

(...) hospital público e posto de saúde, não dá mais...

Segundo o jornal, esse é um retrato impressionante dos dramas pessoais e familiares decorrentes do mau funcionamento do SUS, criado há 18 anos para atender a toda a população, independentemente de sua condição social. Diz o Estadão:

(...)Para as pessoas que dependem exclusivamente do SUS, e elas são a maioria da população, o efeito mais cruel da ineficiência do sistema é a demora na prestação dos serviços médicos recomendados.

A reportagem, de autoria do jornalista Emílio Sant’Ana, narra o caso de outra brasileira, Zilda Maria dos Santos: ela conseguiu marcar uma consulta médica para 27 de setembro de 2007, daqui a dez meses.

O jornal conclui com esse diagnóstico:

(...) se o Governo não souber fazer escolhas corretas, e gastar onde não deve, alguma coisa terá que ser sacrificada. O mínimo que se pode exigir é que os governantes não escolham sacrificar a saúde da população.

A propósito disso, é oportuno lembrar, lamentando, recente opinião do Presidente Lula, para quem o serviço de saúde pública no Brasil é quase perfeito.

Srªs e Srs. Senadores, trago esses dados título de colaborar na busca de soluções para os problemas brasileiros.

Para o brasileiro comum, é difícil entender a situação. Resta ao povo o que diz o Caderno Cultura, de O Estado de S. Paulo:

A reedição do livro Febeapá, do saudoso Stanislaw Ponte Preta, não vem para deleite de humor: (...) e sim para lembrar a derradeira instância a que recorremos para entender e explicar o Brasil.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2006 - Página 38205