Pronunciamento de Fernando Bezerra em 14/12/2006
Discurso durante a 206ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Agradecimentos ao povo do Rio Grande do Norte, pela oportunidade dada a S.Exa. de servir ao país, com o mandato que lhe foi conferido e do qual se despede, após 12 anos. (como Líder)
- Autor
- Fernando Bezerra (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RN)
- Nome completo: Fernando Luiz Gonçalves Bezerra
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
- Agradecimentos ao povo do Rio Grande do Norte, pela oportunidade dada a S.Exa. de servir ao país, com o mandato que lhe foi conferido e do qual se despede, após 12 anos. (como Líder)
- Aparteantes
- Augusto Botelho, Cristovam Buarque, César Borges, Delcídio do Amaral, Flexa Ribeiro, Gilberto Mestrinho, Heráclito Fortes, José Jorge, Magno Malta, Mão Santa, Ney Suassuna, Patrícia Saboya, Romero Jucá, Sergio Guerra, Sibá Machado, Teotonio Vilela Filho.
- Publicação
- Publicação no DSF de 15/12/2006 - Página 38883
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, HELOISA HELENA, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, DEFESA, INTERESSE NACIONAL.
- DESPEDIDA, ORADOR, MANDATO PARLAMENTAR, REGISTRO, HISTORIA, VIDA PUBLICA, EMPENHO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, PARTICIPAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
- DETALHAMENTO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, SENADO, PARTICIPAÇÃO, CRIAÇÃO, VOTAÇÃO, LEGISLAÇÃO.
- REGISTRO, ATUAÇÃO, ORADOR, ANTERIORIDADE, GOVERNO, EXERCICIO, FUNÇÃO, MINISTRO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL.
- APOIO, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, EFICACIA, DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA NACIONAL.
- RELEVANCIA, CONGRESSO NACIONAL, GARANTIA, DEMOCRACIA, BRASIL, ELOGIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, RENAN CALHEIROS, SENADOR, PRESIDENTE, SENADO.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN. Pela Liderança do PTB. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Heloísa Helena; Srªs e Srs. Senadores, eu tenho algumas dificuldades - aliás, muitas. Mas a despedida é sempre algo muito difícil.
Cheguei atrasado ontem e queria começar, Senadora Heloísa Helena, desculpando-me. Foi involuntário. Eu não sabia que V. Exª ia falar e perdi a oportunidade de manifestar, naquela ocasião, o grande respeito e a grande admiração que tenho por V. Exª. Tivemos divergências, mas elas foram sempre marcadas por respeito mútuo, e eu quero dizer, sinceramente, do fundo do meu coração, que esta Casa perde uma grande Senadora, que marcou aqui um momento muito importante da História do Brasil, sobretudo por suas atitudes corajosas, francas, sinceras, patrióticas. O Senado perde muito com a ausência de V. Exª. E quero iniciar minhas palavras me associando a tantos que aqui, de maneira muito mais fácil, pelo uso que fazem da palavra, puderam manifestar este sentimento que eu transmito agora com toda sinceridade. Desejo a V. Exª muitas felicidades pessoais. Não tenho dúvida de que, na sua trajetória de professora universitária, de enfermeira vitoriosa, de humanista, de alguém que tem uma sensibilidade tão grande pelas causas populares, não vai ser a ausência do Senado que vai encerrar a vida tão brilhante e tão admirada que V. Exª tem!
Mas fiquei confuso se me deveria despedir, se deveria fazer uma carta para cada um dos Senadores, dizendo quão caro foi o convívio, o quanto aprendi, e agradecer, primeiro, ao povo do Rio Grande do Norte a oportunidade que me deu de servir ao meu Estado e ao Brasil.
Cheguei aqui, não diria que tenha sido por acaso, mas pelas circunstâncias que a vida nos coloca em determinadas situações. Marquei a minha vida por querer ser um empresário, um empreendedor, e cheguei ao Senado porque recebi um convite do Senador Garibaldi Alves Filho, que se candidatava, em 1990, a Senador.
Na verdade, destacara-me no setor privado como um líder sindical que brigava pelas coisas em que acreditava e talvez pelo exagero, pela dedicação, pela forma franca com que me dedico a tudo o que faço, tenha-me projetado como Presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte. E, ao receber esse convite de Garibaldi, pensei que fosse uma contribuição que poderia dar ao meu Estado, mesmo na condição de reserva. E confesso que aceitei porque pensei que isso não me iria tirar da minha atividade. Apenas iria dar uma contribuição política! E, para minha surpresa, em 1994, Garibaldi se candidata ao Governo do Estado e, no dia 21 de dezembro de 1994, cheguei a esta Casa. Portanto, na próxima semana, fará 12 anos.
Em 1998, candidatei-me a Senador e tomei quase um susto, porque fui o Senador mais votado de toda a história política do Rio Grande do Norte. Eu, que nunca tinha disputado um voto sequer! Fiquei emocionado e grato ao povo do Rio Grande do Norte e, por isso, dediquei-me.
Tive uma trajetória política muito mais marcada pela sorte e talvez pela dedicação, mas foi tão rica e tão rápida que talvez não tenha tido a capacidade de absorvê-la.
Com o passar do tempo, com os cabelos brancos que o Senador Heráclito Fortes aqui citou - às vezes, brinco, dizendo que é charme, mas é o tempo mesmo -, vi-me Líder do Governo anterior e, reconheço, numa situação para a qual estava absolutamente despreparado. Foi feito um grande apelo, e a única coisa que dizia e que era sincera, que vinha da minha alma, era que eu não estava preparado para aquilo.
E, mal aprendi o ofício de Líder, fui convidado para ser Ministro da Integração Nacional. Dediquei-me, de corpo e alma, a projetos polêmicos, tão polêmicos que me colocaram, como em outras situações, mas sempre com a marca do respeito, eu numa posição, e V. Exª em outra, Srª Presidente. Participava de uma luta de que acreditava - e ainda acredito - e, por isso, dedicava-me de corpo e alma, mas não consegui vencê-la.
Depois, voltei a esta Casa, tendo passado por um período de um longo sofrimento, injusto, o qual esperamos que só o tempo apague. Tive um momento aqui inesquecível, quando o Ministério Público Federal, depois de uma longa investigação, disse aquilo que sempre sei que fui: um homem honesto, um homem honrado, um homem correto. E esta Casa me consagrou, numa tarde muito parecida com a de ontem, quando foi sua despedida, que teve tantos apartes que acabamos rasgando o Regimento. Ouvi depoimentos de muitos Senadores, que me marcaram de forma definitiva, pois jamais poderei agradecer o apreço e o reconhecimento. Tudo cria uma dimensão muito maior quando renascemos de um sofrimento.
O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Permite-me V. Exª um aparte, nobre Senador Fernando Bezerra?
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Pois não, Senador Ney Suassuna.
O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador, V. Exª está sendo extremamente modesto quando diz que não estava preparado, que foi uma surpresa, porque isso não é verdade. A verdade é que V. Exª é um homem extremamente eficiente, que chegou a esta Casa e brilhou pelos seus méritos, a quem tive a honra de acompanhar, no meu Partido, o PMDB - fomos partidários por algum tempo. Vi o brilho de V. Exª no Partido e no trabalho, razão pela qual V. Exª foi alçado a posições muito importantes. Fiquei muito feliz de ver como V. Exª, apesar do sofrimento e da injustiça - porque são muitos os casos de injustiça na vida pública -, teve o recibo de que tudo não passava de uma graça, de uma grosseira acusação, e tudo foi colocado em panos limpos. V. Exª teve a satisfação de ver um direito seu, uma coisa que era sua, de cujo conhecimento todos nós tínhamos, ser reconhecido, pois precisava ter um atestado. Como Ministro, V. Exª foi excelente. Também ocupei a mesma Pasta. Às vezes, brinco com V. Exª, dizendo que as nossas vidas têm sido paralelas: ambos empresários, ambos suplentes, ambos Ministros, ambos Líderes, ambos fomos da Comissão de Assuntos Econômicos, enfim, tivemos muitos fatos similares. Pelo amor de Deus, não use expressões como “não estava preparado” e “não digeri”, porque V. Exª tem capacidade para muito mais. E quem perdeu não foi V. Exª, mas o Rio Grande do Norte, ao não ter como Senador uma pessoa como V. Exª, que trabalha duramente pelo Estado e defende as cores do seu Estado e da nossa Região com muito garbo. Então, fica aqui a minha solidariedade. Continuamos a nossa vida, com toda certeza, mas sei que V. Exª ainda vai oferecer muito de si a este País. Parabéns.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Obrigado.
Senador Ney Suassuna, apenas me referi ao fato, mas isso é uma página virada. O Rio Grande do Norte sabe quem eu sou, o Brasil sabe quem eu sou. Às vezes, digo até brincando: sou dos raros políticos brasileiros que andam com atestado de honestidade no bolso. Não deveria ser assim. Mas tinha de haver alguma compensação para tudo isso. Mas é uma pagina virada sem mágoas, sem ressentimentos, com reconhecimento do tanto que aprendi, da imensa solidariedade que recebi dos meus colegas Senadores e do povo da minha terra.
Tive aqui muitas chances. Tive um irmão que faleceu muito cedo, foi político, foi Deputado Federal do PSD, e a doença fez com ele se afastasse e viesse a falecer aos 51 anos. Ao deixar a política, estimulou-me a substituí-lo na sua vida pública no Rio Grande do Norte, e não aceitei. Isso ocorreu na década de 1970. Disse a ele que queria ser empresário. Eu havia ganhado uma bolsa de estudo, fui para os Estados Unidos, voltei com o sonho de ser professor universitário. A universidade não pôde me acolher, e, à falta de outras oportunidades, ingressei na vida empresarial, onde estou até hoje, graças a Deus, de forma vitoriosa.
A grande lição que me deu meu irmão, ex-Deputado Aloísio Bezerra, foi quando disse: “Olha, você não foi para a universidade, não passou quatro anos fazendo seu curso de Engenharia, não foi fazer uma pós-graduação numa universidade americana? Pois bem, queria lhe dizer que a melhor pós-graduação que você pode fazer é ir para o Congresso Nacional. Faça isso. Passe quatro anos lá. Você conhecerá o País, conhecerá os homens mais capazes, mais patriotas. É o retrato da sociedade brasileira”.
E só vim compreender isso vinte anos depois, quando cheguei a esta Casa e tive o privilégio de, por doze anos, conviver com as melhores cabeças deste País. Compreendi o que é a democracia, onde pulsa de forma mais forte, mais viva, tantas vezes injustiçada. Este é o Poder mais injustiçado desta República. Digo com toda a certeza, com a convicção de quem vai sair por aquela porta, que nenhum Poder deste País é melhor do que o Poder Legislativo. Sem a diminuição dos outros, com o respeito que tenho pelo Poder Judiciário, com a reverência e o respeito que tenho pelo Poder Executivo, mas porque somos nós os mais passíveis de críticas, os mais abertos à sociedade brasileira.
Tive aqui muitas chances. Lembro-me muito bem, ainda não sabia nem bem o que era o Senado, de que bati à porta do Senador José Sarney, à época Presidente desta Casa, e disse: “Presidente, gostaria de ser Relator da Lei de Patentes. Entendo que a Lei de Patentes tem algo a ver com a minha atividade de empresário”. Eu mal sabia que iria relatar uma das matérias mais complexas que já encontrei em minha vida. Ao receber esse projeto, confesso até que me arrependi, pela complexidade. Eu tinha - e tenho - a convicção de que o meu dever era fazer aquilo o mais rapidamente possível, com a pureza de quem queria dar uma contribuição. E lembro-me muito bem de um ex-colega nosso, vivido, que dizia: “Senador Fernando Bezerra, guarde esse projeto, no mínimo, por um ano, que é para você ocupar a imprensa brasileira”. Esse projeto já tinha quatro anos, e, em noventa dias, eu e o Senador Ney Suassuna, em uma boa briga pelo Brasil - ele relatando o projeto na Comissão de Constituição e Justiça, eu o relatando na Comissão de Assuntos Econômicos -, discutindo algo de uma complexidade enorme, mas ambos querendo o melhor para o Brasil, fizemos um projeto bom, que culminou na Lei de Patentes.
Orgulho-me de ter sido Relator da Lei das Telecomunicações e de tantos outros projetos de lei. Ultimamente, tive participação na reforma tributária, na lei que estimulou a construção civil - não me vem à cabeça, não enumerei aqui -, na Lei de Recuperação de Empresas, na Lei de Falências e de tantas leis. Orgulho-me de ter participado delas, porque foi - tenho certeza - uma contribuição para o Brasil.
Há momentos desta Casa que jamais esquecerei, e queria citar apenas dois. Sentando ali atrás, certo dia, já no término do seu mandato - a doença já avançava de forma inexorável -, vi Darcy Ribeiro. Presidia a sessão o Presidente José Sarney, e a Casa inteira aprovava a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que já tramitava aqui há nove anos. Naquele momento, todo o Congresso Nacional, todo o Senado levantava-se, um por um, para dizer o quanto o Brasil devia a Darcy Ribeiro.
Eu fiquei ali, novato, assistindo a tudo aquilo. Ele, apoiado numa bengala, já não tinha forças sequer para se levantar. Pelas regras da Casa, fala-se em pé e aparteia-se sentado, mas o Senador José Sarney disse a ele: “V. Exª pode falar sentado”. Ele respondeu que não; apoiou-se na bengala e disse uma coisa de que jamais me esqueci. Ele disse: “Eu não sei por que vocês estão me homenageando, porque o projeto que, há quase dez anos, eu apresentei nesta Casa não tem nem 25% daquilo que eu trouxe”. Fez-se aquele silêncio, e ele continuou: “Mas é muito melhor!” É isso. O diálogo e a discussão fazem com que as propostas cresçam nesta Casa.
Vi, num dia de domingo, Senador Tião Viana, aquilo que só o Antonio Carlos Magalhães sabe fazer: ele convocara uma reunião do Senado para um domingo de manhã, com o plenário lotado, e, nesta tribuna que eu ocupo agora, com uma pilha de livros enorme, Josaphat Marinho relatava o novo Código Civil Brasileiro, se não me engano. Não abriu nem usou um sequer desses livros, de uma pilha enorme, e, com apenas um pequeno pedaço de papel, falou aqui por quatro ou cinco horas seguidas, para depois receber o aplauso unânime do Senado Federal, na renovação que ele fazia do Código Civil Brasileiro.
Levo desta Casa grandes lições. Eu não as compreendia quando o meu irmão me dizia: “Vá para o Congresso, porque aquilo lá é uma universidade”. Mas saio daqui, dizendo: freqüentei universidades aqui e no exterior...
O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Pois não, Senador. Permita-me apenas terminar este raciocínio. Freqüentei universidades aqui e no exterior, mas nenhuma universidade me ensinou tanto quanto a convivência, nesses doze anos, que tenho no Senado da República.
Ouço V. Exª, nobre Senador Heráclito Fortes, meu amigo e grande conhecedor de vinhos, com quem já tive o privilégio de dividir a mesa.
O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Fernando Bezerra, para mim, na vida, o vinho é um detalhe; o que funciona é a companhia. O que me dá prazer na vida é ter a oportunidade rara - porque V. Exª é um homem muito ocupado - de, nas poucas vezes em que sua agenda permite, ter o prazer da convivência que para mim é sempre um aprendizado. Fique tranqüilo com relação a isso. V. Exª disse que não se sentia um homem preparado para esta Casa. Ou é uma modéstia ou demagogia! Seja lá o que for, nós vamos aceitar. Creio que V. Exª só não está preparado na vida para a saudade, que é inevitável e que se aproxima. Veja bem, a saudade, no caso, não é um monopólio exclusivo de V. Exª, mas de todos os seus companheiros, que vão se privar dessa convivência amena, agradável. Uns mais do que outros. É o caso meu e do Mão Santa, que, compulsoriamente, pela geografia do Senado, somos seus vizinhos e aproveitamos mais do que os que distante sentam, ouvindo sempre a sua palavra abalizada e experiente. Aliás, Tião Viana, a respeito de saudade, um poeta piauiense que percorre a minha história, a do Senador Sibá Machado e a do Senador Mão Santa diz, em um dos seus versos: “Saudade - asa de dor do pensamento!” Refiro-me a Da Costa e Silva, que, quando sai do Piauí e vai ao Sul, chora noites a fio com saudade da terra. Aí - o Senador Mão Santa e o Senador Sibá Machado são melhores de memória do que eu - ele vem com o verso: “Ringe e range, rouquenha, a rígida moenda”. É a história da saudade, ele lembrando o moinho de cana-de-açúcar na sua época. Esse Da Costa e Silva, natural de Amarante, passa, pelas águas do velho Parnaíba, por Teresina, minha terra, vai à União do Senador Sibá Machado e deságua na Parnaíba do Senador Mão Santa. V. Exª está vivendo esse drama, que é inevitável. Fico muito constrangido quando vejo despedida de pessoas jovens como V. Exª, embora tenha cabelos brancos. Aliás, esse é o único contraste entre V. Exª e o Senador Ney Suassuna, que se disse tão semelhante a V. Exª. Ele não pode se queixar de cabelos tão brancos, até porque não os possui. Quero dizer que o tempo só é longo para quem quer. Encurtar o tempo é não se tornar ocioso - essa não é a vocação de V. Exª. Tenho certeza de que cedo, cedo V. Exª estará aqui de volta, servindo ao Rio Grande do Norte e ao País. É só uma questão de paciência e é só uma questão de espera. Até breve.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Muito obrigado, Senador Heráclito Fortes.
Estou caminhando para o final do meu discurso. Eu ia falar muito pouco; aliás, eu não ia nem falar porque acho uma coisa complicada. Vou ouvir alguns nobres Senadores e amigos, mas eu queria dizer o seguinte: seria uma marca de ingratidão, algo que não quero carregar comigo, se eu não me referisse ao período em que fui honrado como Ministro da Integração Nacional do Governo do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso. Honrou-me muito, prestigiou-me. Dei tudo de mim e creio que não seria eu autêntico aqui se não me referisse a isso.
Também quero dizer - e a vida é interessante, algo quase paradoxal - que fui Líder do Governo Fernando Henrique Cardoso e sou, com muita honra, Líder do Governo do Presidente Lula. Não quero fazer deste instante um momento de polêmica. Acredito no Governo do Presidente Lula. O Brasil avançou, o Brasil tem saldos positivos. Tenho respeito às críticas que se fazem e creio que não é este o momento de se estabelecer um debate - vim aqui apenas para uma despedida -, mas tenho a mais absoluta convicção de que estamos caminhando. Que precisamos crescer mais é verdade; que poderíamos ter crescido mais é também verdade; que a taxa de juros devia ser mais baixa também é verdade. Mas vamos levar em consideração os avanços que tivemos, a honestidade de propósito.
E aqui quero confessar minha gratidão e minha profunda admiração pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem nenhum outro objetivo que não o do reconhecimento que tenho à confiança que em mim foi depositada por esse grande homem público.
Quero dizer a todos: carrego comigo uma grande esperança no futuro do Brasil. Este País tem tudo, meu Deus! Tudo! Compreendo, como forma de construção, esse contraste. Nesta Casa convivem os contrários. Tenho grande respeito por isso - talvez eu não tenha me envolvido nas polêmicas -, porque acho que esse debate contribui. Como disse - e já o citei - Darcy Ribeiro: “Do meu projeto, apenas um quarto. Três quartos foi esta Casa que fez”. E ele teve a grandeza de dizer: “Mas é muito melhor”.
Vamos caminhar. Este é um País que tem futuro. É preciso que acreditemos nele.
Repito: este Congresso Nacional é muito, muito, mas muitíssimo melhor do que tantas vezes a crítica da mídia e da sociedade brasileira o apresentaram. Fizeram-no muitas vezes de forma cruel, muitas vezes fria. Mas é aqui que se sustenta o nosso futuro, é aqui que se sustenta a democracia. E nesse futuro acredito.
Vou sair, é verdade, com saudade. Mas vou sair daqui também com a certeza de que honrei o voto que o povo do Rio Grande do Norte me deu, o querido povo do Rio Grande do Norte.
Não tenho ressentimentos, mágoas de nada, nem da eleição que perdi por tão pouco. É uma decisão do povo, e temos de respeitar.
Meus amigos, comecei dizendo: “Como é difícil despedir”! Eu tinha até dúvida se faria isso, mas terminei fazendo.
Vejo aqui meu companheiro e amigo Gilberto Mestrinho, com quem dividi tantos momentos difíceis na Comissão de Orçamento!
Senador Mestrinho!
O Sr. Gilberto Mestrinho (PMDB - AM) - Eminente Senador Fernando Bezerra, V. Exª pode sair daqui tranqüilo. Sou testemunha da sua dedicação, do seu esforço, da sua capacidade de conciliação e da sua busca de entendimento, de modo que a sua missão de Líder do Governo fosse coroada de êxito. As lutas que travamos na Comissão de Orçamento, na Comissão de Assuntos Econômicos, na CPI do Sistema Financeiro, em todos esses momentos aprendi a admirar V. Exª, sobretudo sua capacidade de coleguismo, de solidariedade, de amizade. Isso marcou muito sua imagem nos meus olhos e no meu sentimento. Assim, Senador, o povo do Rio Grande do Norte fez isso assim e pode fazê-lo. Tenho uma experiência muito grande em relação ao assunto, porque, durante 50 anos, ganhei a eleição. Agora perdi uma eleição também, mas encaro esse fato naturalmente. Ele é uma conseqüência das vitórias anteriores; não digo de vitórias que virão, porque me vou retirar, mas V. Exª ainda poderá ter muitas vitórias para a glória do Rio Grande do Norte. Muito obrigado.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Obrigado, Senador Mestrinho. Foi um privilégio conviver com V. Exª e desfrutar do seu companheirismo.
Vejo alguns companheiros.
Concedo um aparte ao Senador Mão Santa.
O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Fernando Bezerra, quero dar um testemunho: primeiramente mostrarei V. Exª como um homem da indústria. Falo em nome do Piauí. V. Exª é reconhecido e homenageado, é um nome, é o patrono do maior auditório da Capital do Piauí, Teresina, no prédio da Federação das Indústrias, cujo auditório chama-se Auditório Fernando Bezerra, que traduz o sentimento de respeito e gratidão do povo do Piauí a V. Exª. Mas, pessoalmente, quero lhe dizer o seguinte: V. Exª é um homem de grande visão. Quanto ao fato de não ter ganhado as eleições, lembro-me de que o maior homem público da história contemporânea foi Winston Churchill. Foi ele quem trouxe a democracia, uniu Franco Delano Roosevelt a Stalin e trouxe até Getúlio, que estava encantado com Mussolini e com a Itália. Winston Churchill, depois da guerra, perdeu as eleições. São momentos, é a eleição. Depois ele foi reconhecido, assim como o povo do Rio Grande do Norte, do Piauí e do Brasil haverá de reconhecê-lo como um grande homem público. Ninguém neste País sabe mais e levou mais a sério a transposição do rio do que V. Exª. Quando Ministro da Integração, V. Exª convidou os Governadores do Nordeste e outras Lideranças para visitar o Estado de Denver, Colorado, no Mississipi, para ver a realidade dos benefícios, a possibilidade e a complexidade de uma transposição, já que os americanos a fizeram em 100 anos. Por isso, hoje, a grande contribuição que o PMDB dá ao Governo do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, é o nome de V. Exª. Sou testemunha de que ninguém neste País sabe mais sobre transposição de rio. É algo plenamente viável, como sabemos que Leonardo da Vinci, em 1500, já o fazia no rio Arno, na Itália. V. Exª tem essa valia, foi um Ministro extraordinário e soube liderar aqui. Todos têm respeito por V. Exª. Esses cabelos brancos me lembram aquele artista Jeff Chandler que fazia filmes que empolgavam e encantavam todos. Esses seus cabelos brancos também encantaram muitas pessoas aqui, em Brasília!
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Muito obrigado, Senador Mão Santa! Obrigado de coração!
Ouço o Senador Sérgio Guerra, meu prezado e velho amigo nesta Casa.
O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Senador Fernando Bezerra, tive a boa notícia, pelo Senador Mão Santa, da sua nomeação pelo PMDB para o próximo Governo do Presidente Lula! Mas, nomeá-lo ou não, estando no Governo ou fora dele, em qualquer lugar, o Senador Fernando Bezerra continua amigo dos amigos dele, e nesta Casa todos são seus amigos. Comprovo esse fato com a maior satisfação. O Nordeste perderá com a sua ausência no Senado. Aquela região nossa sempre teve algumas vozes muito consistentes na defesa do seu interesse. Uma delas era a do Senador Fernando Bezerra: conciso, objetivo, prático e eficiente. Pessoas eficientes, práticas, objetivas, concisas são necessárias ao Nordeste, para que não nos percamos nas palavras e para que ganhemos nos resultados. O Senador Fernando Bezerra faz parte de uma geração que produz resultados e de uma categoria intelectual que tem essa natureza - aliás, natureza que falta, no geral, aos políticos do Nordeste: falamos demais e produzimos resultados de menos. O Senador Fernando Bezerra é alguém que não fala tanto assim, mas produz resultados, e o Nordeste precisa deles. Quero lhe dar meu abraço e dizer da nossa preocupação por não tê-lo aqui nos próximos quatro anos.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Obrigado, Sérgio! Obrigado por sua amizade.
Volto para o local de onde vim, volto para a iniciativa privada. Vejo oportunidades de servir ao meu Estado, à minha região e ao meu País, produzindo. Acho que o Brasil precisa produzir.
Senador Romero Jucá, meu Líder!
O Sr. Romero Jucá (PMDB - RR) - Meu caro amigo, companheiro e parceiro de trabalho, Senador Fernando Bezerra, quero, neste momento, falar em nome do Governo, para reconhecer o trabalho, a capacidade, a lealdade, a competência, o compromisso de V. Exª com o País e, conseqüentemente, com as funções que exerceu ao longo desse mandato. Tive a honra de ser seu Vice-Líder na Liderança do Governo no Congresso. Fomos companheiros de Partido, fomos Ministros do mesmo Governo, fomos, enfim, parceiros de uma ação que tinha, como compromisso, melhorar a vida do Brasil. V. Exª contribuiu muito para isso. Tenho certeza de que, independentemente de ter mandato eletivo, a contribuição de V. Exª é muito importante para o País. Duvido que V. Exª fique fora do circuito político e administrativo brasileiro, porque o País não pode abrir mão da experiência e da competência de alguém que foi Líder do Governo, Ministro, Presidente da CNI, enfim, que tem uma visão nacional e regional muito equilibrada. Eu, como Líder do Governo, sou testemunha de que em todos os embates e questões levantados, em que estavam em jogo o Rio Grande do Norte e o Nordeste, V. Exª sempre teve uma palavra muito forte e decisiva na defesa dos interesses do seu Estado, da sua Região e, conseqüentemente, do País. O Brasil não pode querer se desenvolver e crescer sem que o Nordeste e o Norte recuperem, efetivamente, o desenvolvimento de que precisam. V. Exª, ao longo de todo esse período no Ministério da Integração Nacional, aqui, na CNI e em todos os locais por onde passou, sempre foi um lutador por esse caminho. Sou seu amigo, admirador e companheiro de trabalho. Estivemos juntos em muitas lutas na Comissão Mista de Orçamento, votando matérias importantes, de renegociação de dívidas dos Estados e dos agricultores, tratando da questão do petróleo, enfim, de vários assuntos diferentes. V. Exª sempre foi uma posição muito firme em defesa do Brasil. É difícil a despedida que faz, neste momento, no plenário do Senado, mas tenho certeza de que V. Exª, dentro em breve, estará no jogo, no processo político-administrativo. Volto a dizer que o Brasil não pode abrir mão da sua competência e da sua experiência. Muitas felicidades.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Obrigado, Senador Romero Jucá. A generosidade das suas palavras é fruto da amizade e do companheirismo. Sou-lhe muito grato por isso.
Governador Cristovam Buarque, V. Exª sinalizou que quer um aparte e sinto-me muito honrado em concedê-lo.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Fernando Bezerra, estes dias têm sido de despedidas e, ao escutar a sua fala, comecei a ficar preocupado. Duvido que os que vão entrar compensem os que vamos perder. Quando olho o perfil dos que estão saindo, sem emitir juízo de valor sobre os que virão, fico preocupado. Estão saindo alguns dos articuladores do Senado, alguns que têm demonstrado um grande patriotismo na defesa do Brasil. Falo isso indo da Heloísa Helena ao Jorge Bornhausen, passando por V. Exª. Em relação a V. Exª, quero falar do meu respeito e do meu carinho. Além disso, permita-me fazer essa infidelidade para com os outros, fazemos aniversário no mesmo dia.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Em 20 de fevereiro.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - V. Exª chegou como, especialmente, um líder de classe, de categoria, e transformou-se ou demonstrou ser, sobretudo, um patriota. Não ficou preso aos interesses da categoria em que fez sua carreira inicialmente. Não apenas foi um líder empresarial, mas um líder do Brasil. Como nordestino, fico muito satisfeito por ter sido seu companheiro e ter visto a sua luta pelo Nordeste. Deixo patente a minha preocupação com a saída de um Senador do seu calibre.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque. V. Exª está sendo generoso e eu lhe sou grato.
Devemos ter deferência para com as mulheres. A brava cearense, Senadora Patrícia Saboya Gomes, pede-me um aparte e eu o concedo.
A Srª Patrícia Saboya Gomes (Bloco/PSB - CE) - Senador Fernando Bezerra, vindo de casa, eu ouvia o pronunciamento de despedida de V. Exª. Assim como ontem, fiquei com o coração apertado, pois nossa convivência tão produtiva acrescentou-me muito. Muitas vezes, V.Exª e eu tivemos a oportunidade de conversar, de falar sobre as nossas angústias, os problemas dos nossos Estados e as dificuldades naturais daqueles que representam os seus Estados. V. Exª teve um papel fundamental na Liderança do Congresso e exerceu com muita nobreza um lugar que lhe foi dado com destaque. Eu queria falar do enorme apreço e admiração, mas, acima de tudo, do carinho que tenho por V. Exª. Tive a oportunidade de lhe dizer, na semana passada, quando nos encontrávamos aqui no corredor, que V. Exª tem em mim uma amiga para o que der e vier. Tenho uma enorme admiração por V. Exª e um carinho muito grande. Sei que este é apenas um momento da sua vida pública, ao longo da qual o povo do Rio Grande do Norte tem demonstrado o carinho, o afeto e o acolhimento que sente por V. Exª, que sempre o representou com muita dignidade. V. Exª passou por momentos difíceis nesta Casa, mas também foi consagrado na tarde de ontem, assim como a Senadora Heloísa Helena, na sua despedida. V. Exª, depois de ter sido acusado injustamente, conseguiu provar a sua inocência, a sua seriedade e a sua honestidade. Por isso, leve desta Casa, de todos nós, de mim, especialmente, um carinho muito grande e a certeza de que em breve estaremos juntos de novo, na luta por um Brasil melhor, mais justo e mais digno. Receba todo o meu carinho. Um abraço muito carinhoso para V. Exª, para toda a sua família e para a sua esposa, que encontrei aqui, passeando em sua companhia, num final de semana. Portanto, um carinho muito grande para toda a família. Boa sorte e que Deus o ilumine.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Obrigado, Senadora Patrícia. A recíproca é verdadeira em tudo. V. Exª é uma dessas pessoas raras e caras que encontramos nesse acaso que é a própria política, e que tem defendido com tanta bravura as suas causas: o fim da violência sexual contra a criança, o nosso Nordeste, o seu Ceará.
Certamente, Senadora Patrícia, saio daqui muito orgulhoso por dizer que tive o privilégio de desfrutar da sua amizade e por ter dividido aqueles momentos e aquelas angústias a que V. Exª se referiu.
Gratíssimo, de coração mesmo. Obrigado.
Ouço o Senador Delcídio Amaral.
O Sr. Delcídio Amaral (Bloco/PT - MS) - Meu caro Senador Fernando Bezerra, eu já o conhecia há muitos anos, não somente pela sua carreira política, mas pelo seu trabalho como empresário e Presidente da Confederação Nacional das Indústrias. A vida me ensinou a admirá-lo pela sua competência como executivo e político, mas, acima de tudo, pelo seu perfil de lealdade e sinceridade para com as pessoas. Mesmo sendo sincero, o que não é fácil no relacionamento do nosso dia-a-dia, e colocando suas idéias de maneira franca, nunca vi V. Exª, Senador Fernando Bezerra, ser deselegante com as pessoas, magoá-las ou criar qualquer tipo de desavença. Sei que muitas vezes, simplesmente pelo fato de dizer a verdade sempre que discutia, principalmente nestes quatro anos em que convivi proximamente com V. Exª no Senado Federal, enfrentou dificuldades nesse duro desafio de ser Líder do Governo no Congresso Nacional. Quantas vezes vi V. Exª não somente defendendo os projetos do Governo no Congresso Nacional, mas, especificamente, discutindo a peça orçamentária - é importante registrar - com espírito absolutamente crítico, sempre indicando suas mazelas, exercendo um mandato propositivo. Porque criticar, Senador Fernando Bezerra, é muito fácil. O importante é apresentar soluções. E V. Exª, em muitas situações, não apenas tinha posições contundentes, como também manteve uma postura propositiva. Como V. Exª disse, o povo sabe o que faz. V. Exª tem uma folha de serviços prestados ao Rio Grande do Norte, seu Estado, e ao Brasil. V. Exª é um homem público exemplar. Não tenho dúvida alguma de que, a partir do próximo ano, V. Exª começa uma nova etapa. Imagino que o Presidente Lula terá o bom senso necessário para fazer com que V. Exª venha a assumir um papel importante no Governo Federal, pois todos os trabalhos e todas as missões confiadas a V. Exª foram exercidos com competência, eficiência, honestidade e dignidade. V. Exª é uma pessoa absolutamente testada nas posições e nas situações as mais difíceis que um homem público poder vir a enfrentar. V. Exª encerra este mandato, mas assume novos mandatos. São novos desafios que, com certeza, vão nos ajudar a enfrentar os próximos quatro anos, especificamente voltados para o crescimento do País. V. Exª é um homem de construção, um empreendedor, conhece a realidade que pauta o dia-a-dia dos empresários, das pessoas que investem para produzir um Brasil melhor. As referências de V. Exª permanecem aqui no Senado Federal, mas vamos continuar juntos na construção de um grande Brasil, um Brasil que contou e contará sempre com a colaboração absolutamente inquestionável e competente de V. Exª. Agradeço muito as horas que compartilhamos, as horas em que discutimos questões importantes para o País. Senador Fernando Bezerra, a partir do próximo ano, continuaremos a trabalhar pelo País, pelo Governo do Presidente Lula, com a lealdade que sempre pautou a conduta de V. Exª ao longo de toda essa jornada. Parabéns pelo trabalho. Que Deus ilumine V. Exª e sua família. Que a partir de janeiro V. Exª continue enfrentando outros desafios da forma contumaz com que enfrentou ao longo de sua vida vitoriosa, e, mais do que nunca, com a conquista do respeito de todos aqueles que privaram da sua amizade, do seu companheirismo e do seu trabalho.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Senador Delcídio Amaral, V. Exª me emociona. Agradeço de coração. Eu tive o grande privilégio de conviver com V. Exª, um homem público que tem pautado sua vida pelos caminhos da honradez, da honestidade, dos sonhos de um Brasil melhor. V. Exª me deu a oportunidade de, juntos, compartilharmos tudo isso.
Sr. Presidente, sei que o tempo está esgotado, mas asseguro que é a última vez que estouro o tempo aqui. Gostaria de ouvir o Senador Sibá Machado.
O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Fernando Bezerra, ontem, não tive oportunidade de apartear à Senadora Heloísa Helena, pois, por outros motivos, tive de me ausentar do plenário. Hoje, tentei fazê-lo no encerramento da CPI. Também não foi possível. Agora à tarde, vim para o plenário, mas S. Exª deixou a Mesa. Como V. Exª está aqui neste momento, vou me reportar a V. Exª, estendendo as palavras também à Senadora, ao Senador Leonel Pavan e a outros que com certeza ocuparão a tribuna para tal. Quem dera eu tivesse a competência, o conhecimento histórico e a oratória dos demais colegas para expressar um pouco a experiência que compartilhamos. V. Exª lembrou muito bem o que foi a sua escolaridade dentro do Senado Federal, tendo convivido com pessoas do porte de Afonso Arinos e do nobre Senador Darcy Ribeiro, pai de uma das matérias com que hoje o Brasil inteiro convive, a LDB. Pude acompanhar V. Exª neste período, como líder do Governo. No início de minha carreira política, tive um professor que se chamava Ranulfo Veloso, do Estado do Pará, de Santarém do Pará, e muito do que ele me ensinava eu jamais deverei esquecer. Ele dizia: “Olha, tudo na vida passa, mas tem uma coisa que pode ser eterna: a fé e a esperança. Como as outras coisas deverão passar, procure sempre, por onde passar, deixar saudades. Ao deixar saudades, deixa também a marca de um momento, de uma oportunidade que lhe foi confiada”. Eu não conhecia V. Exª antes de chegar ao Senado Federal, mas pude conviver com a pessoa que deixa aqui a marca da esperança, da fé e também da saudade, pois V. Exª deixou muito bem marcado o trabalho que lhe foi confiado de Liderança do Governo e também na função de Senador da República, conferida pelo povo do Rio Grande do Norte. Fica aqui, então, a palavra desta pessoa que, assim como V. Exª colocou que era um aprendiz quando aqui chegou, é um aprendiz neste momento. Quanto à juventude de V. Exª, é como costumamos dizer em nosso Estado: quanto maior a idade de uma pessoa, maior o índice de jovialidade, porque mais experiente se torna e, com certeza, ser jovem há mais tempo é muito melhor do que os que estão começando a vida. Que V. Exª seja sempre exemplo para sua família, para as pessoas que lhe assistem no trabalho, para os profissionais de qualquer área, e especialmente para os que fazem política, pois o efeito da democracia nos desvia, de vez em quando, de determinados percursos de trabalho. V. Exª foi Senador da República pela segunda vez, tendo sido o mais votado naquela eleição, mas agora a sociedade quis que outra pessoa viesse para cá.
Interpreto o fato da seguinte maneira, Senador Fernando Bezerra - até apresentei projeto de lei propondo o fim da reeleição, porque, na política, a população brasileira tem por natureza a descontinuidade. Portanto, é apenas uma questão de teste. Com absoluta certeza, se V. Exª concordar, estará de volta ao Senado Federal a partir de fevereiro de 2011. Fica aqui o abraço apertado de toda a nossa Bancada, pelo período em que convivemos, e a grande saudade que V. Exª vai deixar.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Obrigado, Senador Sibá Machado.
Senador César Borges, V. Exª me honra com o seu aparte.
O Sr. César Borges (PFL - BA) - Senador Fernando Bezerra, este é um momento que temos de lamentar, porque V. Exª é, sem sombra de dúvida, um grande Senador, e tem desempenhado seu papel com competência e com dignidade, com um tratamento extremamente educado e lhano. Já há algum tempo nós nos conhecemos. Aproveito este aparte inclusive para dizer publicamente que tivemos divergências muitas vezes acaloradas, quando eu era Governador e V. Exª Ministro. V. Exª sempre manteve firmes seus princípios, seus ideais, sua visão e seu sonho, como rio-grandense-do-norte, de ver a transposição do rio São Francisco, ver suas águas chegando e servindo ao povo do seu Estado, e eu defendendo também a minha Bahia, que tem uma visão oposta a essa. Mas as divergências não passaram desse ponto. O aparte que faço neste momento é para lamentar, pois vamos perder um grande companheiro, um grande Senador. Nós tivemos aqui nesta Casa momentos em que somamos os nossos esforços para atender os produtores rurais. E V. Exª se revelou, mais uma vez, um grande negociador; trabalhou junto ao Governo, avançamos. Eu procurei estar ao seu lado, com muita satisfação. Construímos algo que terminou redundando em benefício aos produtores. Então, é um momento de tristeza, porque vamos perder esse companheiro. Mas é um momento também em que eu me sinto muito satisfeito, porque posso aqui publicamente dizer do meu reconhecimento, da minha admiração à sua figura: à figura humana e à figura política. Portanto, eu quero que nós possamos, neste momento, relevar qualquer arranhão que tenha ficado em função das discussões, em função da transposição ou não. Tudo isso passa. Eu quero que fique a amizade e o reconhecimento que eu tenho por V. Exª, que será permanente. Acho que V. Exª é fiel ao seu Estado, fiel aos seus ideais, e isso merece o nosso aplauso. Só posso desejar a V. Exª sucesso pessoal. Não sei quais os seus caminhos. Talvez, nem V. Exª saiba. Mas, eu tenho certeza, onde estiver, vai desempenhar bem a sua tarefa, porque tem competência para isso. Portanto, seja muito feliz e que Deus o abençoe na sua caminhada!
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Muito obrigado, Senador César Borges. Quero assegurar a V. Exª que não há...
O SR. PRESIDENTE (Valter Pereira. PMDB - MS) - Eu gostaria de pedir licença ao orador que está na tribuna, para convidar o membro da Mesa mais graduado, o Senador Efraim Morais, para assumir a Presidência, uma vez que eu tenho de me ausentar neste exato momento.
Retorno a palavra ao orador inscrito.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Se V. Exª permite, o Senador Efraim Morais queria me apartear.
O Sr. Efraim Morais (PFL - PB. Fora do microfone) - Eu o farei daí, da Presidência.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Pois não.
Senador César Borges, quero lhe assegurar a reciprocidade da minha admiração como um grande Governador do seu povo. Divergimos no dever e no amor que de cada um de nós tem em defesa do povo que representamos: V. Exª, o povo baiano; eu, o povo do Rio Grande do Norte. Tenho profunda admiração por V. Exª. De vez em quando, nos encontrávamos por caminhos adversos, mas nunca me faltaram o respeito e a grande admiração que lhe tenho. V. Exª, ainda ontem ou antes de ontem, veio tocar como se eu tivesse deixado transparecer alguma coisa. Eu lhe asseguro: não há arranhões, há admiração. Esta Casa pode ter certeza que vai aqui continuar com um grande Senador, com um grande representante do povo baiano, que é V. Exª, e que tem a minha mais profunda admiração. Eu sou grato a V. Exª pelas palavras generosas, pela compreensão dessas divergências, que fazem parte do jogo democrático. Muito obrigado.
Sr. Presidente, eu pretendia pedir para ouvir V. Exª, mas o meu companheiro e amigo Augusto Botelho, creio seja o último. Ah, tem o Flexinha, desculpe-me, Senador Flexa Ribeiro.
Senador Augusto Botelho.
O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Senador Fernando Bezerra, há quatro anos cheguei aqui, sem experiência política, para fazer pós-graduação, como seu irmão falou, aqui dentro. Com o senhor aprendi, lá no Orçamento, que temos que ouvir as pessoas falarem o que quiserem, dizerem coisas com as quais nos sentimos ofendidos. V. Exª agüentava, ficava calado, contornava e achava uma solução para aquele problema grave, porque estava além da sua pessoa a solução do Orçamento do País. Eu vi V. Exª, muitas vezes, no meio de confusões, e não conseguia entender como agüentava, ficava calado, ouvia e achava uma solução. No fim, V. Exª sentava com a pessoa, mostrava o caminho, e todo mundo se acalmava. Então, aprendi isso com V. Exª, além de outras coisas, como a sua forma cordial de sempre tratar as pessoas, respeitosa. E também tenho certeza de que V. Exª é um homem de caráter puro, limpo, e nada do que tentaram conseguiu atingi-lo. V. Exª viu o exemplo, nesta Casa, naquele dia em que teve de tomar uma atitude pública. Mas tenha certeza de que o povo da sua terra reconhece o seu trabalho. Essa eleição foi atípica. Nas próximas, em 2011, tenho certeza de que V. Exª estará aqui, assumindo a sua cadeira de Senador, porque o País precisa de V. Exª, o seu Estado precisa de V. Exª. Tenho certeza de veremos isso acontecer. É uma grande lacuna que V. Exª vai deixar aqui, principalmente lá no Orçamento. Este ano, V. Exª não quis muito ir ao Orçamento, mas, no ano passado, V. Exª resolveu aqueles abacaxis que estavam por lá. Tenho certeza de que Deus vai lhe dar tranqüilidade, que V. Exª já tem, para depois refazer o caminho e voltar para trabalhar pelo nosso País e pelo seu Estado.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Muito obrigado, Senador Augusto Botelho.
Quero até aproveitar para dizer que volto para a iniciativa privada, mas digo ao meu Rio Grande do Norte que não deixo a vida pública.
Ouço o meu companheiro, amigo, industrial brilhante, Senador Fernando Flexa Ribeiro.
O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Meu caro amigo, Senador Bezerra, meu xará Fernando Bezerra, eu estava na reunião da Comissão de Orçamento, no Comitê das Emendas de Bancadas, com a Governadora, finalizando a questão do Orçamento para o Estado do Pará. Mas vim, assim que soube que V. Exª estava na tribuna, para dar o meu testemunho da grandeza de V. Exª no mandato de Senador da República pelo seu Estado, o Rio Grande do Norte. Temos uma convivência de mais de 15 anos, ainda na diretoria da CNI, depois sendo presidido por V. Exª por dois mandatos, interrompidos para assumir o Ministério, mas, em todas as missões que lhe foram atribuídas, V. Exª sempre teve a característica da competência, da determinação, da honradez. A Nação brasileira e o Estado do Rio Grande do Norte reconhecem essas suas características e qualidades. V. Exª não está se afastando da vida pública, está passando por um hiato, porque, ainda agora, em 1º de janeiro - tenho lhe dito isto em todos os nossos encontros nos corredores do Senado -, sem sombra de dúvida, V. Exª ocupará um cargo de grande importância no Ministério do Presidente Lula, no seu segundo mandato. Se Sua Excelência quiser acertar, não abrirá mão de um Ministro com suas qualidades. Parabéns ao Rio Grande do Norte! Felicidades! Que Deus continue abençoando V. Exª e iluminando o seu caminho!
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Obrigado, meu querido amigo, Senador Flexinha.
Eu vejo o nobre Governador das Alagoas, meu velho amigo Senador Teotonio Vilela, que está querendo dar uma palavrinha.
Quero ouvi-lo, Senador. Tenho uma grande honra.
O Sr. Teotonio Vilela Filho (PSDB - AL) - Rápidas palavras, meu caríssimo Senador Fernando Bezerra. V. Exª, há muito, já entrou no tempo do meu pronunciamento, mas a tolerância da Presidência...
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - É a última vez...
O Sr. Teotonio Vilela Filho (PSDB - AL) -... mais do que se justifica, porque V. Exª merece todas as concessões no momento em que se despede do Senado da República. Eu gostaria, aqui, de, em rápidas palavras, em primeiro lugar, fazer minhas as considerações que os nossos colegas aqui teceram a seu respeito -todas absolutamente justas e verdadeiras. Acrescento uma característica de V. Exª, meu querido amigo, Senador Fernando Bezerra, que muito encanta a todos os Senadores e a todos que acompanharam seu trabalho aqui no Senado. V. Exª consegue reunir na sua personalidade, na maneira de se conduzir na vida, aparentes contrastes que se harmonizam perfeitamente na personalidade de V. Exª. V. Exª - sou testemunha - é um homem sereno e, ao mesmo tempo, firme. Um homem habilidoso, e, ao mesmo tempo, coerente na defesa das suas convicções. Manso e corajoso. Presenciei neste plenário quando um incauto assacou contra a honra de V. Exª, e o Brasil testemunhou a coragem de V. Exª em defesa de sua honra ferida. O Brasil testemunhou a coragem política de V. Exª neste plenário também quando, como Líder do Governo, em alto e bom som anunciou que, na votação em defesa dos pequenos agricultores, por ocasião da votação do projeto de renegociação da dívida dos pequenos agricultores, votaria contra o Governo, porque votaria a favor de suas convicções, do seu Estado, das pessoas que V. Exª se comprometeu a defender como Senador da República. E o Governo manteve V. Exª na Liderança, como sinal de respeito à sua postura honesta, franca e verdadeira. Tenho muito orgulho de ser seu amigo, meu caro Fernando Bezerra, e de ter tido o privilégio de conviver com V. Exª no Senado Federal. Um grande abraço, e até breve!
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Senador Teotonio Vilela, muito obrigado. A honra da amizade é minha. Só lamento não ter uma moto para sairmos pelo Brasil. Seria um grande privilégio para mim.
Ouço o Senador Magno Malta. Creio que será o último. Agradeço sua tolerância, Sr. Presidente.
O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Senador Fernando Bezerra, o Presidente Efraim Morais já é tolerante por natureza.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - S. Exª é bravo.
O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - S. Exª é paraibano. Nós temos que tolerar, até porque a Bíblia diz: “Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei vós também”. Um dia farei o meu último discurso, bem como S. Exª. Não viemos para nos eternizar aqui. Isto passa. Quem faz vida pública pode ir para outras funções ou até deixá-la. As pessoas refletem, e ficam ou vão conforme a orientação de Deus para suas vidas. Gostaria de falar neste dia, que significa muito para sua família, que deve estar assistindo a esta sessão, e para nós, que somos seus amigos, pois separação não é uma boa coisa. Uma separação, ainda que seja dessa forma, não é traumática, mas é uma separação sofrida quando se consegue criar uma relação respeitosa, uma teia de admiração por conta das vertentes de sua natureza, de sua pessoa. Confesso que, quando fui Deputado Federal - V. Exª era Senador, depois Ministro -, eu o conhecia de longe, de ouvir falar. A nossa proximidade se deu com a minha eleição para o Senado Federal. A nossa relação de amizade e de proximidade se deu de uma forma tão natural, exatamente por atributos da sua natureza, como foi tão bem dito por outros Senadores - o Senador Teotonio Vilela Filho acabou de dizer isso tão bem -, e também por admirar sua facilidade de tratar as pessoas, independentemente de elas estarem exaltadas ou não, de elas se relacionarem bem ou não. V. Exª tem essa capacidade de convivência que parece ser uma coisa muito do nordestino - em alguns, em dose dupla, como é o seu caso. Ficou muita coisa da convivência com V. Exª nesses quatro anos, um aprendizado, a relação de respeito, o carinho e a maneira diferenciada de dizer bom dia e boa tarde, de apertar a mão e de ser solidário. Aliás, o caminho da solidariedade é um caminho que todos precisávamos conhecer com muita força, com muita veemência. Deveríamos conhecê-lo com profundidade porque solidariedade não existe somente na hora em que precisamos; é preciso que ela seja da nossa vida para os outros, exatamente para que sejamos medidos pela mesma medida. V. Exª tem isso na sua natureza. Pode acreditar. Estou falando do fundo do meu coração. Não tenho técnica para falar e não tenho palavras frias. Eu sou um homem - acho que este é o meu grande defeito - que só sei falar com o coração. Sou extremamente emocional. Então, quando falo com V. Exª, eu abraço a sua família que lhe emprestou, por esse tempo todo, para o Brasil e para nós. Hoje, sua família o ganha; por incrível que pareça, sua família o ganha de volta. Também suas empresas começam a ganhá-lo de volta. V. Exª volta para a sua família e para a sua empresa com mais força. Eu falo da presença física. V. Exª é pai exemplar, avô exemplar, marido exemplar. Agora, o Rio Grande do Norte o terá mais perto por mais tempo. Certamente, ao cabo de quatro anos, vai lhe dizer: olha, é hora de você ir um pouco para lá, de volta, para sentirmos saudade de você. E o mandará para cá. Espero em Deus que estejamos aqui para recepcioná-lo; mas, se assim não for, certamente outros estarão fazendo este tipo de aparte para nós, que estaremos nos despedindo da tribuna. Que Deus o abençoe e guarde o seu caminho e o da sua família! Parabéns pelo Parlamentar e pelo homem que é! Muito obrigado por esta relação de quatro anos, que só me acrescentou.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Obrigado, Senador Magno Malta, foi um privilégio para mim.
Sr. Presidente, quero agradecer a tolerância de V. Exª e dos Presidentes que o antecederam nesta sessão.
Nestas últimas palavras, quero dizer que, quando aqui cheguei, presidia esta Casa um paraibano, e hoje vou me despedir com um paraibano na Presidência. Naquela época, presidia Humberto Lucena, depois vi o Presidente Sarney, Antonio Carlos, Jader Barbalho, Sarney, Renan Calheiros, se não tiver omitido alguém. De todos eles, guardo na memória o grande serviço que prestaram ao Brasil, e o meu grande respeito e amizade. Mas me permitam todos que, ao encerrar as minhas palavras, faça uma referência especial ao Presidente Renan Calheiros, pela demonstração de amizade e consideração que S. Exª me dedicou. Não que não tenha recebido de todos, mas é uma coisa mais próxima. Não seria justo, pelas oportunidades que me deu. Eu, num pequeno Partido, aqui não teria tantos espaços que me foram dados pela generosidade, pelo carinho e pela amizade do Presidente Renan Calheiros, a quem quero, de forma muito especial, agradecer.
Minha última palavra é para o povo do meu Estado, de agradecimento pela confiança e a certeza que levo daqui,...
O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Fernando.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Senador José Jorge, deixe-me só completar esta frase: ...a certeza que levo daqui, de cabeça erguida, a convicção de que honrei o voto que o Rio Grande do Norte me deu. Eu me dediquei intensamente. Não que não tenha cometido erros. Cometi. Quero aproveitar a oportunidade para dizer que, aqui e acolá, talvez tenha sido uma coisa muito rara e involuntária, eu tenha tido uma palavra mais dura com um companheiro e quero me desculpar.
Quero dizer ao Rio Grande do Norte do meu reconhecimento, da minha gratidão. Volto de onde vim, volto para a iniciativa privada, volto para as minhas empresas, ali encontro um caminho para ajudar o meu Estado e o Brasil, mas afirmo que isso não significa que estarei deixando a vida pública. Quem teve tantos votos, quem teve tanto apoio, quem teve tanto carinho do povo não pode dar as costas a esse povo. Por isso, quero reafirmar, na minha despedida: volto ao meu Estado, para a iniciativa privada, mas não deixo a vida pública.
Se o Presidente Efraim Morais permitir, ouvirei o nobre Senador, companheiro, colega engenheiro, José Jorge, brilhante Senador da República.
O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador e amigo Fernando, cheguei atrasado, estava recebendo uma pessoa, mas estava ouvindo o pronunciamento de V. Exª pela televisão. Nesses oito anos em que fui seu colega aqui no Senado Federal, pude ser testemunha da competência com que V. Exª exerceu todas as suas funções, de Líder do Governo, uma pessoa sempre muito delicada e muito inteligente no trato com seus colegas. V. Exª representou bem os interesses do seu Estado, o Rio Grande do Norte, e do Nordeste. V. Exª, assim como eu, vai se retirar do Senado Federal, mas certamente estaremos juntos em outras batalhas em favor do Nordeste e do Brasil. Muito obrigado.
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Obrigado, Senador José Jorge. O Senado perde com a ausência de V. Exª, com certeza.
Sr. Presidente, muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Senador Fernando Bezerra, permita-me, em nome de todos que compõem a Mesa Diretora do Senado, parabenizá-lo pelo brilhante trabalho que fez, como representante do povo potiguar, nesta Casa. Quero dizer, em nome da Paraíba, que V. Exª nos honra muito. V. Exª chegou aqui quando era Presidente um homem experiente, sério, trabalhador, e que tem uma história não só na Paraíba, mas também no Brasil, que foi o Senador Humberto Lucena, que por duas vezes presidiu esta Casa. V. Exª disse que chegou aqui como um aprendiz, e é um aprendiz que preside a sessão em que V. Exª anuncia sua saída. Aqui, estou como aprendiz, no meu primeiro mandato nesta Casa. Tive a oportunidade de conhecer pessoas importantes, homens e mulheres, que estiveram nesta Casa, e V. Exª é um deles, um homem com quem tive a oportunidade de aprender, de divergir e de convergir, às vezes. Na época em que V. Exª era Líder do Governo, eu era Líder da Minoria, e é evidente que o debate democrático nos levou a algumas divergências.
Os espaços que V. Exª agradece ao Presidente Renan, eu diria que foram conquistados por V. Exª, pela dedicação, pela vontade de servir ao País e ao seu Estado.
Todos nos orgulhamos de dizer que o Senador Fernando Bezerra cumpriu com a sua obrigação, cumpriu com o seu dever. Tenho certeza de que V. Exª sai daqui de cabeça erguida, com a consciência tranqüila pelo dever cumprido.
Tenho a honra de ser vizinho de Estado de V. Exª. Espero, acima de tudo, que o destino de V. Exª seja tomar conta da volta das águas do São Francisco, para que possa, mesmo contrariando o nosso companheiro César Borges, fazer com que aquele projeto volte a andar, e as águas do São Francisco cruzem o meu Estado, a Paraíba, e o Estado de V. Exª, o Rio Grande do Norte, chegando até o Ceará.
Que Deus o proteja na nova missão, Senador Fernando Bezerra!
Pode ter certeza de que a Paraíba e seus representantes se sentem honrados por ter V. Exª aqui chegado, dizendo ser um aprendiz, e daqui sair - posso dizer assim -, com mestrado, com pós-graduação em serviços prestados ao seu povo e ao seu País.
Que Deus o abençoe e o proteja nessa nova missão!
O SR. FERNANDO BEZERRA (PTB - RN) - Muito obrigado, Presidente.