Discurso durante a 207ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Posicionamento sobre o reajuste salarial concedido aos parlamentares. Voto de pesar à família de Severino Dias de Oliveira, o sanfoneiro paraibano Sivuca, destaque no exterior, falecido no último dia 14.

Autor
José Maranhão (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: José Targino Maranhão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLATIVO. HOMENAGEM.:
  • Posicionamento sobre o reajuste salarial concedido aos parlamentares. Voto de pesar à família de Severino Dias de Oliveira, o sanfoneiro paraibano Sivuca, destaque no exterior, falecido no último dia 14.
Aparteantes
Alberto Silva, Eduardo Suplicy, Heráclito Fortes, Marco Maciel, Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2006 - Página 39017
Assunto
Outros > LEGISLATIVO. HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, DECISÃO, MESA DIRETORA, CAMARA DOS DEPUTADOS, SENADO, AUMENTO, SALARIO, CONGRESSISTA, PROVOCAÇÃO, PROTESTO, POPULAÇÃO.
  • EXPECTATIVA, MESA DIRETORA, CONGRESSO NACIONAL, RECONSIDERAÇÃO, DECISÃO, REAJUSTE, SALARIO, RESTITUIÇÃO, PLENARIO, CAMARA DOS DEPUTADOS, SENADO, COMPETENCIA, FIXAÇÃO, REMUNERAÇÃO, CONGRESSISTA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, MUSICO, ESTADO DA PARAIBA (PB), RELEVANCIA, CONTRIBUIÇÃO, MELHORIA, APERFEIÇOAMENTO, MUSICA POPULAR, BRASIL, ELOGIO, HISTORIA, VIDA PUBLICA.
  • ENCAMINHAMENTO, VOTO DE PESAR, FAMILIA, MUSICO.

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de tudo, aproveito esta oportunidade, quando tantos oradores ilustres analisaram a recente decisão da Mesa do Congresso Nacional, Câmara e Senado, de estabelecer novos subsídios, nova remuneração para os integrantes do Legislativo, para dizer que, embora tenha o melhor apreço e o maior respeito aos integrantes das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, caberia uma posição de prudência. Em nome da ética, da prudência e da transparência dos atos públicos, os próprios membros das Mesas de ambas as Casas poderiam reunir-se outra vez para reconsiderar essa decisão, que não foi feliz. Como estamos vendo pelas manifestações da imprensa nacional e de outros meios de comunicação, como a Internet, trata-se de algo que desagradou profundamente o sentimento nacional.

Não seria um recuo nem mesmo uma humilhação, mas um ato de coragem dos integrantes das Mesas da Câmara e do Senado rever e revogar o ato que já praticaram, devolvendo ao Plenário das duas Casas do Congresso a atribuição para fixar a remuneração, de acordo com critérios que possam ser razoáveis e, como tal, assimilados pela opinião nacional.

Evidentemente, qualquer lei precisa desse respaldo da sociedade, especialmente numa democracia. Não há dúvida nenhuma de que trabalhamos aqui sob os olhares da opinião nacional. O povo acompanha todos os nossos atos, hoje, com a TV Senado e com a Rádio Senado, assim como lá na Câmara e em muitas Assembléias Legislativas. As Casas Legislativas estão cada vez mais colocadas numa vitrine, e os seus membros são acompanhados, são vistos e são analisados por todos os conceitos.

Sejam quais forem eventuais ganhos que tal medida possa ter trazido à situação financeira pessoal de qualquer membro, ou de todos os membros do Congresso Nacional, certamente esse preço não paga o desgaste, não paga o desconceito que o Congresso Nacional já está sofrendo na sociedade brasileira em função dessa decisão.

Era essa observação que eu queria fazer aqui, sem nenhuma pretensão de tripudiar sobre os erros das Mesas da Câmara e do Senado. Nunca é tarde para acertar, e eu acho que os caminhos para o acerto estão aí, às vistas de qualquer pessoa, desde o cidadão mais qualificado até o cidadão mais simples da sociedade brasileira.

Em segundo lugar, Sr. Presidente, venho a esta tribuna para expressar as minhas condolências à família de Severino Dias de Oliveira, conhecido mundialmente como Sivuca, paraibano da cidade de Itabaiana e cidadão do mundo, que nos deixou no último dia 14, aos 76 anos de idade.

Autodidata, filho de família humilde de agricultores e sapateiros do interior da Paraíba, Sivuca, mesmo sem acesso aos meios de comunicação e até a uma escola específica para desenvolvimento dos seus talentos, desde os quatro anos de idade, começou a revelar os talentos, o seu pendor para a música.

Aos nove anos, já era conhecido no interior da Paraíba, tocando acordeão, a conhecida sanfona, em feiras e animando casamentos e festas populares. Teve uma carreira marcante em nível nacional, atuando em Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro, além de brilhar nos palcos internacionais.

Iniciou-se profissionalmente em Recife. Em 1945, aos quinze anos de idade, após participar de programas de calouros dirigido pelo maestro pernambucano Nelson Ferreira, que o batizou com o famoso nome artístico de Sivuca.

Nenhuma homenagem ao mestre Sivuca pela contribuição à musica popular brasileira e a disseminação dos nossos ritmos será demais. Sivuca foi um homem simples, de índole pacata, um ser humano inovador e devotado ao desenvolvimento da música de raiz nordestina e brasileira.

Quem o assistiu, como eu, nas várias oportunidades em que tive a honra de privar da sua amizade, não poderia deixar de ficar encantado com o que ele era capaz, com a magia que este músico exímio desenvolvia com um instrumento conhecido do nordestino, a sanfona, e que notabilizou tantos outros músicos, nacional e internacionalmente conhecidos, como no caso do Pernambucano Luís Gonzaga. Ele tirava efeitos extraordinários e tinha-se a impressão de que estava se ouvindo não uma simples sanfona, mas um outro instrumento, do porte do violino ou do piano, tamanha era a sua habilidade e tamanhos eram seus dons.

Interessante, autoditada, ele não precisou freqüentar nenhuma escola para se tornar inclusive parceiro de várias orquestras sinfônicas, como na Paraíba, Pernambuco e Nova Iorque.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Ouço V. Exª com toda honra.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - Desejo, interrompendo o excelente pronunciamento de V. Exª, associar-me à homenagem que presta, merecidamente, no Senado, pelo traspasse do Sivuca. A sua morte nos deixa muito tristes porque ele foi - aliás como V. Exª salientou - um mestre na arte da sanfona ou do acordeão. Sabia extrair - e isso é o dom do artista, como V. Exª também lembrou - sons sempre novos daquele instrumento. Ele conseguiu fazer da sanfona ou do acordeão um instrumento que valia quase por uma orquestra. Sivuca teve presença muito forte em Pernambuco. Observou V. Exª que ele teve o seu aperfeiçoamento no campo da música com Nelson Ferreira, compositor pernambucano, mas, sobretudo, um grande maestro, e interpretou, de forma muito competente, o sentimento nordestino. Sua música era impregnada de “teluricidade”, se assim posso dizer, voltada para as nossas raízes, os nossos costumes e, de modo especial, aqueles do agreste, do sertão nordestino. Sivuca foi uma pessoa que ajudou a projetar a Paraíba e também, permita-me dizer, Pernambuco, no plano internacional, porque transpôs as fronteiras do Brasil...

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - É verdade.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - ...que são bastante extensas. Não é fácil alguém se projetar fora do País. Era habitual receber convites do exterior. Ele, com freqüência, era chamado a fazer shows, apresentações, em vários países do primeiro mundo, inclusive na França. Então, ele ajudou a projetar o País, pela sua capacidade de compor, de criar e, conseqüentemente, de levar enlevo e distração a todos os que escutavam músicas de seu amplo repertório. A homenagem, portanto, é muito merecida. Senti muito a morte dele, porque era, acima de tudo, um cidadão, uma pessoa simples, sempre disponível. Sua morte, conseqüentemente, suscitou muita tristeza, não somente na sua terra, a Paraíba, onde nasceu, mas também em Pernambuco, e por que não dizer no Nordeste e no Brasil. Muito obrigado a V. Exª.

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Agradeço a contribuição de V. Exª, que assim se revela um grande conhecedor da música e dos compositores e músicos que representam a música popular nordestina, reconhecida mundialmente.

Realmente, Sivuca era um desses expoentes da cultura popular brasileira. Ele representou o Brasil na Europa, em 1958, em conjunto com músicos como Abel Ferreira e com o Trio Iraquitã. Trabalhou em Paris e em Lisboa, de 1960 a 1964. Em 1965, mudou-se para Nova York, onde viveu por dez anos. Ali, dirigiu musicais, criou trilhas sonoras e excursionou pela África, Europa e Ásia.

Também formou parceria com músicos americanos e brasileiros das mais variadas vertentes. Editou belíssimos álbuns e se apresentou, ora como guitarrista, ora como acordeonista.

É outro lado interessante da personalidade e do gênio de Sivuca. Ele era um músico, sempre foi autodidata, mas dominava com maestria não só a sanfona, o seu instrumento original e o mais marcante, mas vários outros instrumentos, como o piano, o violino, a guitarra e outros instrumentos musicais.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Pois não, Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador José Maranhão, Governador da Paraíba e representante do povo da Paraíba, V. Exª hoje expressa o sentimento de homenagem ao extraordinário compositor e sanfoneiro Sivuca, a quem também quero, como o Senador Marco Maciel, V. Exª e o Senador Alberto Silva, expressar minha homenagem. Sivuca tantas vezes encantou os brasileiros de todas as partes, inclusive nós, em São Paulo. Tive oportunidade de assistir a algumas das suas apresentações. E V. Exª, hoje, está dando um exemplo do que é um representante do povo, que expressa o sentimento de tristeza, pela perda de Sivuca, mas também o sentimento de sintonia com a vontade do povo, como na abordagem da primeira parte do seu pronunciamento. V. Exª também expressou, como muitos Senadores hoje, que será melhor que a Mesa Diretora, ouvindo o sentimento da população, retome e reveja a decisão sobre o ajuste de remuneração dos Senadores e Deputados Federais. Meus cumprimentos a V.Exª.

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Agradeço a V. Exª.

Quanto a esse assunto, eu diria que a Mesa Diretora das duas Casas do Congresso não estaria ouvindo apenas o sentimento da sociedade, que já é grande, que já é muito forte, que já é de muito peso, mas estaria também ouvindo o sentimento dos integrantes da Câmara e do Senado.

Em 1975, Sivuca voltou ao Brasil, onde, como instrumentista, compositor e maestro, fez criações em parceria com outros músicos brasileiros e com a esposa, a médica e compositora Glorinha Gadelha, uma jovem de talento extraordinário - digo isso porque conheço profundamente o casal. Além de ter contribuído para muitas composições mais recentes de Sivuca, Glorinha se mostrou uma excelente consultora econômica, pois foi ela quem pôs ordem na vida financeira de Sivuca.

Como todo artista, ou como a maioria deles, Sivuca era uma pessoa inteiramente desprendida. Geralmente não tinha nas finanças o mesmo êxito que possuía na arte, na música. Até seu casamento com Glorinha, Sivuca estava sempre operando no vermelho, com dificuldades financeiras. A partir do casamento, ele entregou toda essa parte a Glorinha, que me surpreendeu. Eu a conheço desde o tempo de estudante - não eu, que sou muito mais velho do que ela, mas da época em que era estudante. E eu nunca tinha encontrado em Glorinha esse talento para as finanças. Sempre vi nela um grande talento para a música, para a composição, para a literatura. De repente, Glorinha foi a pessoa que Deus colocou no caminho de Sivuca para que ele tivesse uma vida financeira exitosa, graças a esse verdadeiro anjo que surgiu na sua vida, que contribuiu não somente como artista, como compositora, mas também como gerente financeira das suas contas.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Permite V. Exª um aparte, Senador?

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Pois não, Senador.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador José Maranhão, estou interrompendo o seu discurso para solidarizar-me com V. Exª. É uma perda para a Paraíba, uma perda para o Nordeste, uma perda para a música popular brasileira. V. Exª, que tão bem está falando do nosso saudoso Sivuca, já fez todo um histórico sobre a vida dele. Quero apenas solidarizar-me com V. Exª e dizer que realmente eles eram um casal que se completava e que V. Exª está fazendo uma homenagem mais do que justa.

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Concedo um aparte ao Senador Alberto Silva.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Senador José Maranhão, fiquei aqui porque sabia que V. Exª ia ocupar a tribuna. Naturalmente, como estou praticamente deixando esta Casa para integrar a outra, esta é uma oportunidade de ouvi-lo. V. Exª traz uma notícia que entristece o Brasil todo. Sivuca foi tudo o que se disse aqui, mas eu gostaria de acrescentar alguns fatos. Perdoe-me por interromper o seu discurso, pois tão bem ecoa no Brasil todo a lembrança de V. Exª como paraibano, como grande Governador que foi e como grande Parlamentar que é. Agora V. Exª fala do Sivuca, este homem que encantou o Brasil, que encantou o mundo. Quero apenas lembrar o seguinte: Sivuca era um autodidata. Realmente. Desde pequeno, também ando nos caminhos da música, que era o desejo de minha mãe. O importante do Sivuca era o fato de ele ser um autodidata que se enveredou por um caminho que a matemática - e só a matemática - explica. Permita-me dois minutos: o que chamamos na música de acordes, isto é, a composição entre várias notas, em qualquer que seja o instrumento, principalmente naquele em que se pode tocar duas ou três notas ao mesmo tempo, como é o caso da sanfona e do piano, esse caminho é de matemática pura. Podemos invocar aí uma das teorias matemáticas: a teoria das combinações. Com 80 notas de um piano, podem-se executar dezenas, centenas, milhares de acordes, cada qual mais bonito e cada qual mais complicado. Pois Sivuca, um autodidata, entrou nessa floresta matemática, e cada vez que foi convidado para participar de uma orquestra sinfônica, ele deu uma aula de alta competência, o que representa o talento de um brasileiro tão simples, como V. Exª se referiu nesta homenagem que faz perante todos nós. Quero parabenizá-lo pela lembrança de Sivuca e associar-me, nesta tarde, a essa perda para o Brasil do homem que representou a música e a variação temática brasileira em todos os Países do mundo. Parabéns a V. Exª!

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Agradeço-lhe o esclarecedor aparte.

Aqui ressalto que realmente V. Exª tem razão, como estudioso da música que é. A música tem muito a ver com a matemática, sobretudo no que respeita à disciplina do músico, à cadência da música. E o que há de curioso nesses gênios como o Sivuca é que, mesmo não tendo tido oportunidade de freqüentar nem uma nem outra escola - nem a escola da matemática nem a escola da música -, ele revelou-se um grande talento.

E aqui invoco um provérbio popular que diz que o poeta nasce feito. Acho que não é só o poeta que nasce feito. O músico também nasce feito, o pintor também nasce feito. E não raro encontram-se em alguns os dois talentos convivendo de forma extraordinária, como em alguns períodos da história, sobretudo na Idade Média, que está plena, está repleta de pintores que foram também grandes matemáticos, inventores, inclusive que já preconizaram instrumentos do desenvolvimento científico que só vieram a se materializar anos depois, como no caso da aviação, como no caso das viagens interplanetárias.

Mas há, realmente, essa conexão nos talentos dos gênios.

A música erudita brasileira, e particularmente as orquestras sinfônicas de Recife e da Paraíba, foram bastante influenciadas pelo magistral domínio do acordeom do mestre Sivuca. Eu já disse antes que eram curiosos os sons, os recursos que ele sabia tirar de um simples acordeom, coisa que não se ouvia nem antes, nem depois de Sivuca.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Sivuca, mesmo ameaçado por um câncer de laringe por mais de dois anos, nunca deixou de criar e nem de entusiasmar platéias.

Em 25 de julho deste ano, foi agraciado em duas categorias com o prêmio Tim de Música de 2006, em cerimônia ocorrida no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ganhou como Arranjador, na categoria Voto Popular (Sivuca Sinfônico/ Sivuca e Orquestra Sinfônica do Recife), e como Melhor Solista, na categoria instrumental.

Há cerca de um mês, em 20 de novembro, Sivuca nos deixou mais um legado. Naquela data, foi lançada, na Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa, coletânea ilustrativa dos 75 anos de sua carreira, em DVD, com a participação de 160 músicos convidados.

O DVD, totalmente produzido na Paraíba, denominado “Sivuca - o Poeta do Som”, e representa o epílogo de uma trajetória brilhante e inspiradora. Contém 13 faixas, das quais duas reproduzem o primeiro encontro do instrumentista com a Orquestra Sinfônica da Paraíba, em julho de 2005.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, rendo minha singela homenagem ao mestre que nos deixou, ao paraibano que disseminou e exaltou as raízes nordestinas e que, com capacidade de gênio, contribuiu decisivamente para a música popular brasileira e internacional.

Expresso o meu sentimento, a gratidão e o respeito do povo paraibano e nordestino à família enlutada e à esposa e parceira, querida amiga, Glorinha Gadelha.

Sr. Presidente, era o que eu tinha a dizer.

Peço à Mesa da Casa que faça as devidas comunicações, referentes a este singelo pronunciamento, à família do nosso querido e saudoso Sivuca.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Com muito prazer, Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador José Maranhão, eu me deslocava do aeroporto para cá e ouvia V. Exª cantando Sivuca. Torci para chegar a tempo. Sivuca é, para a minha geração, um ídolo duradouro. Na música, há os ídolos passageiros, aqueles que arrasaram com sucessos transitórios e temporários. Lembro-me bem de uma imagem: eu, garoto - deveria ter quatro ou cinco anos -, e o Sivuca indo a Teresina. Ele era chamado, naquela época, de “o diabo louro da sanfona”. Foi um verdadeiro espetáculo. Depois, o Sivuca optou por morar no exterior e sumiu um pouco. Voltou, mas sempre fazendo sucesso. Eu, já Prefeito de Teresina, na comemoração do aniversário da cidade, resolvi fazer o reencontro do Sivuca com o Piauí. Ele foi com a esposa, Glorinha, que V. Exª acabou de citar, e fez um sucesso extraordinário. Em dois ou três shows que fizemos, ele encheu praças. V. Exª dizia algo que eu atestei. V. Exª falava da Glorinha financista, mas lhe quero falar da mulher exigente, cuidadosa e zelosa. Ela tinha medo de que algo acontecesse com Sivuca no palco e ficava numa posição de proteção. Aquela foi a única vez em que vi o casal, mas fiquei impressionado com a sua dedicação e determinação.

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Total, total.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Total, total, total. E não era apenas palco. Depois, tivemos a oportunidade de conviver por um ou dois dias, em Teresina, e vi, realmente, a sua conterrânea tratá-lo como ele merecia, o grande ídolo que era. Eu pedi pressa para aqui chegar e me associar a V. Exª e a todos que participaram, com apartes, do seu pronunciamento, porque não apenas a Paraíba está de luto, mas o Brasil. Sivuca deixa uma obra fantástica que, tenho certeza, é imorredoura pela qualidade e porque, acima de tudo, para nós, nordestinos, Senador Marco Maciel, ele soube cantar as nossas dificuldades, num canto tão perfeito que, ao cantar a dor, faz-nos esquecê-la. Muito obrigado.

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Agradeço-lhe pelo aparte valioso. V. Exª, conhecendo como conhecia - e revelou isso agora, tão bem - a personalidade de Sivuca e da própria Glorinha, essa mulher extraordinária, que teve um papel preponderante na última fase da sua vida musical, presta uma grande contribuição e homenageia o meu Estado, a Paraíba, e a cultura popular brasileira.

Eu, até em reforço às palavras que V. Exª está lembrando, recordo-me de uma afirmação do escritor gaúcho Érico Veríssimo, num livro de viagem aos Estados Unidos. Passava ele por uma grande livraria, que lançava os best-sellers do ano, quando Malazarte, um personagem de sua imaginação, com quem falava, olhando a vitrine, disse a Érico Veríssimo: “Mas por que os livros de Shakespeare estão lá no fundo da vitrine?” Érico Veríssimo respondeu-lhe: “Eles, amanhã e sempre, estarão nesta livraria, enquanto que esses que estão aí no topo das nossas vistas, os best-sellers do ano, no ano vindouro, ninguém sabe mais se existem.”.

A música de Sivuca tem essa permanência, porque é a expressão profunda da alma e da cultura nordestina, emoldurada pela arte, pelo talento, pelo valor do grande músico que foi Sivuca.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2006 - Página 39017