Discurso no Senado Federal

Críticas ao Presidente Lula por declarações relacionadas ao sistema de saúde e ao médico Adib Jatene. Repúdio à negociação de cargos no governo federal. Satisfação com o resultado de pesquisa eleitoral que atesta o crescimento do candidato Alckmin na disputa pela Presidência da República.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Críticas ao Presidente Lula por declarações relacionadas ao sistema de saúde e ao médico Adib Jatene. Repúdio à negociação de cargos no governo federal. Satisfação com o resultado de pesquisa eleitoral que atesta o crescimento do candidato Alckmin na disputa pela Presidência da República.
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2006 - Página 22069
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • PROTESTO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OFENSA, ATUAÇÃO, ADIB JATENE, MEDICO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, ESPECIALISTA, MEDICINA, PAIS.
  • ANUNCIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, ROBERTO SATURNINO, SENADOR, DEBATE, RADIO, COMPORTAMENTO, ELEITOR, PESQUISA, ELEIÇÃO.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FAVORECIMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), CARGO PUBLICO, MINISTERIO, OBJETIVO, APOIO, ELEIÇÃO, QUESTIONAMENTO, DEMISSÃO, ROBERTO RODRIGUES, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), MINISTERIO DA SAUDE (MS), PRESIDENTE, AGENCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES (ANATEL).
  • COMENTARIO, CRESCIMENTO, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PESQUISA, ELEIÇÃO, REGISTRO, DADOS.
  • SOLICITAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), LEITURA, CORRESPONDENCIA, HIPOTESE, AUTORIA, JOSE SARNEY, SENADOR, CONVENÇÃO, ESTADO DO MARANHÃO (MA).
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), INCAPACIDADE, GOVERNO, NEGAÇÃO, IDEOLOGIA, ANTERIORIDADE.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vim a esta Casa, hoje, com o intuito de fazer um pronunciamento sobre declarações prestadas, ontem, pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao me dirigir para cá, a imagem que me surgia era exatamente a de V. Exª, a da sua ira e a da sua revolta como enfermeira, porque o Presidente da República disse que o doente morre satisfeito desde que seja nas mãos do médico Adib Jatene. Que ofensa a um homem que deu toda a sua vida à Medicina brasileira!

Senadora Heloísa Helena, nunca vi alguém morrer sorrindo; serenamente, vi muitos, principalmente os que se foram desta vida com a certeza de que cumpriram com dignidade seu dever.

É um absurdo o que disse o Presidente, e isso me tocou mais, Senadora Heloísa Helena, porque, há cerca de 15 anos, acompanhei a agonia do ex-Ministro Renato Archer, que morreu em São Paulo durante um pós-operatório. O seu médico era exatamente o Dr. Jatene. Vi a angústia, o abatimento e a tristeza daquele médico diante do episódio. Em determinado momento, diante do corpo já inerte do amigo comum, ele disse que ainda não conseguira habituar-se à morte de um paciente sob seus cuidados ou sob seu olhar e que isso era algo que lhe tirava o sono, a tranqüilidade, enfim, o sossego.

Imagino como o Dr. Jatene foi pego de surpresa, Senadora Heloísa Helena, por uma declaração dessa natureza. Lembrei-me de V. Exª, que, como enfermeira, conviveu, durante anos e anos, com o drama de pessoas que se submetem a todo tipo de dor e de sacrifício por mais um dia de vida, às vezes nem por si próprias, mas pelos filhos, pela família e pela responsabilidade que têm com os compromissos feitos na terra. Ouvir uma frase dessa natureza de um homem que tem a responsabilidade de presidir o País é não esperar mais coisa alguma.

Senadora Heloísa Helena, essas são as frases que o Brasil ouve, mas V. Exª já imaginou se houvesse um acompanhamento de tudo o que o Presidente diz, das asneiras e das impropriedades, ao longo desses três anos e meio?

Veja, Senadora, que quem conhece o Hospital das Clínicas e o Instituto do Coração sabe que aquelas são casas de permanente luta da vida contra a morte. Penso em como as pessoas que estão sob cuidados médicos podem imaginar que o Presidente do Brasil, o Chefe maior da Nação, admita uma brutalidade dessa natureza.

Senadora Heloísa Helena, ao me dirigir para cá, recebi um telefonema da CBN propondo-me um debate, a respeito das pesquisas de ontem, com o Senador Roberto Saturnino. Para mim, um debate na CBN, além de prazeroso, é certeza de audiência no Brasil inteiro.

O reflexo disso pude testar agora, com os telefonemas que recebi.

Em segundo lugar, e eu disse no ar o que repito agora, debater com o Senador Roberto Saturnino, para mim, é prazeroso também, porque S. Exª é um homem civilizado, humilde, com virtudes que, com certeza, não aprendeu no PT. S. Exª as trouxe das outras siglas por onde passou. S. Exª debate de maneira lógica, com muitos dados, sem sofismas, sem apelações.

Discutimos um pouco esse começo de reação por parte do eleitorado brasileiro, no que diz respeito às eleições que se avizinham, Senadora Heloísa Helena.

Lembrei ao jornalista e professor Heródoto Barbeiro que, há cerca de 15 dias, dei entrada no Conar em uma ação contra propaganda enganosa da Petrobras, com relação à auto-suficiência em petróleo. Essa ação foi motivada pelo comentário que ouvi no programa do jornalista Carlos Alberto Sardenberg, especializado em Economia. Por essas e por outras coisas, pelo direito que tem ao monopólio da notícia - 80% do dia -, o nome do Presidente da República, que disputou as sete últimas eleições nacionais, em primeiro e em segundo turno, é mais lembrado do que o de qualquer outro brasileiro, com exceção, neste momento, do de Ronaldo, aquele que Sua Excelência disse que estava gordo.

Srª Presidente, Senadora Heloísa Helena, o povo brasileiro é observador, gosta de política. V. Exª, nessas suas andanças pelo Brasil, deve sentir a mesma coisa que sinto: alegria ao ser abordado pelas pessoas, por causa da eficiência da TV Senado. Ontem mesmo, ao chegar ao aeroporto de Brasília, encontrei-me com uma senhora que vinha do Maranhão, da cidade de Barra do Corda, que mora aqui em Brasília há 30 anos e que me disse: “Permita-me chamá-lo de você, porque você entra na minha casa todos os dias? Às vezes, tenho vontade de responder-lhe ou de perguntar-lhe algo. Aposentei-me, e a TV Senado é, para mim, a maior opção de preenchimento do meu tempo”.

Essa gente observadora brasileira viu, Senador Paulo Paim, recentemente, o programa do PFL mostrando as mazelas do atual Governo, o programa do PSDB mostrando ao Brasil o candidato e, acima de tudo, as cenas daquela bárbara invasão à Câmara dos Deputados por parte de correligionários do Presidente Lula, de pessoas da sua intimidade, que dividem os banquetes palacianos, como V. Exª bem diz, os banquetes da intimidade. Comandaram ação daquela natureza, atacando patrimônios público e privado, destruindo caixas eletrônicos, prestadores de serviços à Casa. A televisão mostrou a preparação do ataque. A maneira como os fatos ocorreram fez a população brasileira pensar muito.

Em Minas Gerais, há grande percentual de piauienses que lá residem. Hoje, Senador Paulo Paim, os fatos têm efeito em tempo real. Recebi dois telefonemas, que, para mim, são reveladores, sobre a revolta de ex-petistas devido à defesa feita ontem pelo Presidente Lula da vitória de Newton Cardoso sobre Itamar Franco. Que bela parceria! Que companhia agradável!

Senadora Heloísa Helena, pergunto: quem estava enganando quem naquele passado? O defensor de direitos humanos Nilmário Miranda estava de mãos dadas com Newton Cardoso, subindo as serras das Gerais. Que bela parceria!

Senador Paulo Paim, como V. Exª, peemedebista histórico, vai sentir-se, quando for convidado, como nome nacional que é, para ir a um comício em São Paulo e quando tiver de sair abraçado com Mercadante e com Quércia? É parceiro indireto, porque fora repelido em uma aliança com José Serra, mas de acertos já apontados para o segundo turno.

Ontem, cumprindo a função de Chefe de Estado, o Presidente da República foi ao Palácio dos Bandeirantes, pela primeira vez, neste Governo. Que bom! Sua Excelência deveria ter ido lá mais vezes. Só reconheceu que é Chefe de Estado agora, às vésperas de eleição. E em companhia de quem? Os salvos do incêndio do “valerioduto” ou por renúncia ou por generosidade da Câmara.

Imagino, Senador Paulo Paim, o povo brasileiro observando tudo isso. Houve aquela cena de vandalismo, ontem, em Minas Gerais, com quebra-quebra em frente do hotel, com vidros espatifados. Newton Cardoso, vitorioso, com 70%, era chamado por Lula de companheiro. Daqui a pouco, vai chamá-lo de irmão! Mais um pouco, convida-o para ser Ministro!

Senadora Heloísa Helena, a negociação que está feita para a ocupação de Ministérios, com objetivo eminentemente eleitoral, é vergonhosa! A saída, não explicada, do Ministro Roberto Rodrigues é fato grave! Basta a população brasileira observar como vai ser feita a substituição.

Senador Paulo Paim, um País com problemas graves na saúde está sem o Ministro titular da Pasta, porque o PT discute a substituição, num pacote chamado “porteira fechada” com o PMDB!

Senadora Heloísa Helena, não se procura saber qual o nome mais preparado para ocupar aquela Cadeira - um sanitarista, um especialista em doença tropicais, um economista, um cientista -, mas, sim, quem possa melhor atender às necessidades eleitorais do Partido dos Trabalhadores.

A Anatel, Senador Paulo Paim, no momento em que o Governo discute, sem dar satisfação à sociedade, o modelo tecnológico que será usado na questão da TV digital, está sem titular. O motivo também é o mesmo: é preciso atender aos queixumes e à sede da ala governista do PMDB.

Por essas e por outras razões, o eleitorado brasileiro começa a ver que cometeu algum erro, começa a ver que aquilo que foi prometido não é exatamente o que está sendo praticado em praça pública.

Senador Paulo Paim, faço-lhe um pedido de amigo, que o admira há muito tempo - ouvi, agora, seu emocionado discurso em defesa dos carteiros brasileiros: não vá a Minas Gerais! Não pose para uma foto com Nilmário Miranda e com Newton Cardoso! Sua biografia não permite isso! Sua história não dá lugar para fotografias dessa natureza! Newton Cardoso, numa foto, com partidos tradicionais até seria possível; nunca se atacaram! Mas posar com o Partido dos Trabalhadores, que o combateu, que o acusou?! Lula abraçado a Newton Cardoso, que foi por ele processado e denunciado, é perda de compostura! É perda de razão, ou, então, é desespero!

Senadora Heloísa Helena, tomamos conhecimento de que a distância entre Alckmin e Lula começa a diminuir. Os números que nos chegam nos dizem que a diferença diminuiu: numa pesquisa, Lula está com 45% dos votos; e Alckmin, com 32%; em outra pesquisa, esses índices são de 45% e de 29%, respectivamente. Essa é a informação que nos chega. Mas o Presidente da República, que tudo sabe quando quer, já deve ter as projeções de futuro. E daí vêm sua preocupação e seu desespero.

Senador Paulo Paim, vemos, por exemplo, pessoas que admiramos ao longo do tempo - como é o caso, por exemplo, do seu conterrâneo Tarso Genro - perderem a razão. Vemos o Presidente da República se queixar da Justiça e dizer que a lei eleitoral não pode ser cumprida porque está errada. O que vemos é má intenção.

Senadora Heloísa Helena, recentemente, o Tribunal Eleitoral baixou normas, limitando gastos de campanha. Ontem, na convenção do PT no Piauí, o Estado mais pobre da Federação, havia mais de 80 ônibus parados na porta da assembléia do Centro de Convenções. E havia, Senadora Heloísa Helena - pasme! -, um palanque, um palco iluminado, com jogos de som e de luz, próprio para shows, também proibido pela legislação eleitoral.

Como será feita a prestação de contas desses gastos pré-eleitorais? De onde saiu esse dinheiro? Sabemos do prestígio que o Governador do Piauí gozava com Delúbio. Será que é saldo, que é sobra, que é resto, ou é dinheiro novo cuja origem não descobrimos ainda?

Digo isso, Senador Paulo Paim, porque um jornal da minha terra denunciou ontem a abertura de licitações - imagine para onde? - para a construção de estradas e para tapa-buracos, de vários milhões, e todos os beneficiados têm ligações políticas com o esquema do Governo e do PT.

É muito grave o que está acontecendo neste País. Os homens públicos que pregaram moral ao longo do tempo, ao terem acesso à caneta, perderam completamente a cerimônia e a compostura.

Ontem, no meu Estado, via a cena do movimento dos ônibus. Dirão que isso foi de graça. Mas quem os pagou? Empresários? Dependentes? Quem os pagou? Disseram que o show foi uma oferta não sei lá de quem. À custa de quê?

Senadora Heloísa Helena, chego a achar que o Presidente Lula tem razão quando diz de alguém que morre sorrindo. E morre sorrindo por que sabe que se vai da terra sem ver o resto da desgraça. Era eleitor do PT; só pode ser isso! Morrer satisfeito por que está nos braços de fulano, de cicrano, de médico “a” ou “b”? Jamais!

Senador Paulo Paim, Senadora Heloísa Helena, era preciso que o PT esclarecesse um fato que me incomoda muito, pela história do Presidente José Sarney: aquela correspondência lida na convenção do Maranhão - acompanhei o fato na imprensa - continha a assinatura do Presidente ou era um documento falso? A denúncia foi feita pelo Secretário-Geral do Partido dos Trabalhadores no Maranhão, e o fato é grave. É preciso que isso seja apurado.

Eu, se maranhense fosse, se fosse correligionário do Presidente José Sarney, pediria que esse assunto fosse apurado, porque não se pode macular a honra de ninguém com suspeitas dessa natureza. O Palácio publicou nota dúbia, lacônica. É preciso ser mais claro, até mesmo por gratidão, por reconhecimento pelo que o Presidente José Sarney tem feito por este Governo - penso até que S. Exª está errado, mas é S. Exª quem sabe, pois tem mais experiência do que todos nós - nos seus momentos mais difíceis, de maior crise.

Não é possível que um homem que foi Presidente de República e Presidente desta Casa, que tem uma história, seja enxovalhado, enlameado por uma suspeita. Aliás, Senador Paulo Paim, durante 20 anos, uma ala considerável do seu Partido era useira e vezeira em fazer acusações.

Outro dia, eu estava vendo a relação dos envolvidos em corrupção neste Governo: os membros do “valerioduto”, do “propinoduto”, da operação sanguessuga, do dólar na cueca. A maioria deles é composta de caluniadores do passado. Prevalece um velho ditado que meu avô dizia: a ocasião é que faz o ladrão. Não resistiram aos primeiros encantos na convivência com o cofre, na convivência com o Erário público.

Senador Paulo Paim, finalizo fazendo-lhe um pedido de amigo: V. Exª será solicitado, pelo Brasil todo, pelo prestígio que tem, para fazer discursos, para participar de atos. Não se negue a servir ao seu Partido, mas não se junte com más companhias! Pergunte, primeiro, quem vai estar ao seu lado, defenda aquele PT puro que não se corrompeu! Seja o autêntico que continua, hoje, defendendo o trabalhador e o servidor, que enfrentou a luta do salário mínimo e que agora defende, no Partido, quase solitariamente, a sobrevida para a Varig! Seu Partido, que, durante anos, defendeu os trabalhadores, fica insensível à morte daquela empresa, que, agora, desemprega onze mil funcionários diretos e quarenta mil funcionários indiretos. Fora isso, há o descrédito internacional, o que gerará conseqüências no fechamento dessa tradicional empresa de mais de 70 anos.

Continue defendendo os carteiros brasileiros, não se misture com os mensaleiros, tenha cuidado com os palanques! Vá, mas não censure, que não é do seu feitio, tenha apenas a cautela de não se juntar, na mesma foto, com aqueles que, no Governo, assaltaram os cofres públicos!

Ontem, o Presidente da República foi ao Palácio dos Bandeirantes e levou um grupo dele. A dançarina da Câmara, a Deputada Angela Guadagnin, entrou no Bandeirantes, onde, felizmente, não dançou, mas não precisa, pois a sua imagem de dançarina é transcendental.

Senador Paulo Paim, aquele homem do dólar na cueca continua atuando no Ceará da mesma maneira, com a mesma cara de pau, a mesma desenvoltura. O seu empregador é candidato a Deputado na reeleição sem problema algum. Nunca vi cara de pau tão grande como a do Presidente Lula, aquele que disse que o Ronaldinho estava gordo.

Sr. Presidente, só quero que essas pesquisas, que começam a mostrar a verdade do pleito eleitoral e não mais aquela que refletia apenas um passado, não levem o Chefe maior desta Nação ao desespero, não façam os seus companheiros atacar fazendas nem invadir a Câmara dos Deputados, como aconteceu recentemente, invasão feita por colega seu de vida, de luta e, acima de tudo, de direção nacional do Partido.

Infelizmente, Senadora Heloísa Helena, o PT não tinha nenhum preparo para assumir o poder no Brasil, da mesma maneira que não tem nenhum preparo para deixá-lo.

A sua sorte, Senador Paulo Paim, é que esse poder nunca chegou às suas mãos. V. Exª é do PT rejeitado, é do PT marginalizado porque não abriu mão de suas convicções. É bom que seja assim, porque o povo gaúcho é tido como o mais vigilante, o mais atento ao comportamento das pessoas. Com S. Exª não, a história é diferente, é como diz Chico Buarque: “O tempo passou na janela, e só Carolina não viu”. Para V. Exª foi o poder. V. Exª viu os outros dançarem e se refestelarem com o poder, singrando os céus do Brasil com o Aerolula de R$160 milhões, mas V. Exª permaneceu junto ao servidor público, defendendo o salário mínimo, com a consciência tranqüila de ter cumprido seu dever. Parabéns, Senador Paulo Paim. É exatamente isso que faz a diferença entre os militantes de seu partido, cheio de alas, cheio de divisões, cheio de tendências.

Senadora Heloísa Helena, V. Exª foi levada ao tribunal, à inquisição do PT por ter divergido. Qual foi sua divergência? Ideológica. Qual foi sua divergência? Comportamental. Divergiu por quê? Porque queria que o PT continuasse a ser o PT de antes do poder, aquele que combatia o FMI e dizia que as mazelas brasileiras eram devidas ao fato de todo o nosso dinheiro ser utilizado para pagar a divida externa.

Não aquele PT que, ao chegar ao poder, foi buscar um comprometido com a política econômica do governo anterior, o Sr. Henrique Meirelles, eleito Deputado Federal pelo partido tucano.

V. Exª foi punida e alguns companheiros também. Em uma reunião feita pelo então duro Partido dos Trabalhadores na transição democrática, decidiu-se pela expulsão de Airton Soares e Bete Mendes porque votaram em Tancredo Neves acreditando que aquela era a ponte entre a ditadura e a democracia. Senadora Heloísa Helena, aponte-me uma pessoa neste País, com mandato ou sem mandato, que tenha sido punida por ato de corrupção. Conivência geral, silêncio, omissão, em alguns casos defesa acalorada do irmão, do amigo e por aí vai.

O período eleitoral é o caleidoscópio dos atos, Senadora Heloísa Helena, quando as formas saem dos coloridos artificiais e encontram a realidade, o quotidiano. Vamos começar a ver, a partir de agora, Cristovam Buarque, Heloísa Helena e Geraldo Alckmin mostrarem ao Brasil que o Brasil que está sendo vendido pela imagem excessiva da propaganda é um Brasil que não é entregue e jamais será entregue aos brasileiros porque é um Brasil virtual.

O Brasil que está sendo vendido não é o Brasil com que os brasileiros sonhavam. A saída do Ministro Roberto Rodrigues é mais um episódio que mostra isso, Senador Paulo Paim. V. Exª é de um Estado eminentemente agrícola e vai ver que o uso da máquina do Ministério da Agricultura para fins eleitorais é exatamente o motivo da substituição do ministro.

O Presidente Lula também precisa ter mais respeito com os que estão doentes nos leitos dos hospitais brasileiros. O Presidente da República não pode dizer que alguém morre feliz, sorrindo, porque está ao lado do Jatene. E os moribundos de Alagoas? Os do Piauí? Os do Norte do Brasil, Senador Paim, que enfrentam filas e não têm para quem sorrir, não têm um Jatene ao lado? E os que padecem horas a fio esperando o remédio ou a maca que não vem?

O que estarão pensando seus familiares de um Presidente que vai ao hospital público mais caro e sofisticado do País, que presta um serviço respeitável e que deve ser admirado por todos? É impossível a clonagem de Jatenes pelo Brasil inteiro para fazer com que o pobre, o assistido pelo SUS e o faminto tenham o mesmo conforto do Presidente, que periodicamente se dirige àquele hospital, sem precisar enfrentar filas nem demoras, para fazer o seu check-up. Trata-se do melhor hospital do Brasil, dos melhores médicos do Brasil ou pelo menos dos médicos que estão na mídia, dos médicos que estão sendo vistos porque estão na maior cidade brasileira. Senador Paim, e o médico de Guaribas, a cidade do Fome Zero? Será que o doente de Guaribas vai morrer sorrindo? Será que sua família vai ficar satisfeita em saber que este governo, até para que os morrem, tem dois pesos e duas medidas no tratamento?

O Presidente dos pobres gosta de conviver é com os ricos, Senadora Heloísa Helena. O palácio da Rainha Elizabeth lhe fez mal, o fausto, a riqueza, o Aerolula, os helicópteros Puma deformaram o trabalhador Lula, deformaram aquele que prometeu ser o messias em que muitos acreditaram.

Presidente Lula, qualquer que seja a circunstância, ninguém morre sorrindo. Uns morrem serenos porque cumpriram o seu dever e a sua missão, mas a maioria morre triste. Alguns, com certeza, sabem que estão no caminho entre a vida e a morte e, sendo a morte irreversível, morrerão revoltados com a decepção causada por um governo comandado por Sua Excelência, que prometeu ser o pai dos pobres, mas está sendo exatamente a mãe dos ricos, dos banqueiros, dos empresários, está sendo o padrasto do Fundo Monetário Internacional que o ajudou a angariar tantos votos por este Brasil afora. É pena, mas é a triste realidade.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/07/2006 - Página 22069