Discurso durante a 201ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Voto de louvor ao escritor Mário Quintana por ocasião da comemoração do centenário do seu nascimento. Defesa da Universidade do Mercosul e das Escolas Técnicas Federais do Rio Grande do Sul.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA. EDUCAÇÃO.:
  • Voto de louvor ao escritor Mário Quintana por ocasião da comemoração do centenário do seu nascimento. Defesa da Universidade do Mercosul e das Escolas Técnicas Federais do Rio Grande do Sul.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2006 - Página 37646
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, MARIO QUINTANA, POETA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ELOGIO, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, LITERATURA BRASILEIRA, REGISTRO, PROGRAMAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, DIVULGAÇÃO, OBRA LITERARIA, BIOGRAFIA.
  • SAUDAÇÃO, INICIATIVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROTOCOLO, CRIAÇÃO, UNIVERSIDADE, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), ATENDIMENTO, REGIÃO, FRONTEIRA, REGISTRO, OCORRENCIA, FORO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), DEBATE, EDUCAÇÃO, AMBITO, ESTADOS MEMBROS, ORGANISMO INTERNACIONAL, DISCUSSÃO, POSSIBILIDADE, IMPLEMENTAÇÃO, PROJETO, ANALISE, IMPORTANCIA, INTEGRAÇÃO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL.
  • ANALISE, VANTAGENS, ENSINO PROFISSIONALIZANTE, REGISTRO, DADOS, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), SUPERIORIDADE, NUMERO, ESCOLA TECNICA, DEFESA, AMPLIAÇÃO, SOLIDARIEDADE, PEDIDO, PREFEITO, EMENDA, BANCADA, DESTINAÇÃO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, SETOR.
  • JUSTIFICAÇÃO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, AUTORIA, ORADOR, CRIAÇÃO, FUNDO DE DESENVOLVIMENTO, ENSINO PROFISSIONAL.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador Pedro Simon foi o primeiro autor desse requerimento, e, com muito orgulho, o Senador Zambiasi e eu assinamos em seguida.

Senador Simon, sei que a sua intenção - V. Exª havia conversado conosco - é realizar uma sessão de homenagem especial a Mário Quintana. E V. Exª, juntamente com o Senador Zambiasi - e, naturalmente, com a minha participação -, transformaram-na, devido ao momento pelo qual passamos, numa sessão de lembrança do grande Mário Quintana, via este voto de louvor.

Senador Simon e Senador Zambiasi, eu estava ansioso para vir à tribuna. Vou falar um pouco - V. Exªs conhecem o assunto - sobre uma conversa que tive com o Júnior, que é meu filho menor, quando ele me contava como foi a aula, na escola dele, em relação ao centenário de Mário Quintana.

Sr. Presidente, todos nós aqui temos muita convicção de que o nosso Rio Grande, terra do nosso querido Mário Quintana, é um Estado de belas praias, tanto ao norte quanto ao sul, nas quais sempre lá estamos, até porque os três acabamos passando o veraneio ali, nas praias da região norte do Estado.

O povo gaúcho gosta muito do verão, mas também gostamos muito do inverno. Senador Simon, numa dessas noites frias, em que o minuano se confundia com a neve que caía, eu estava lá, à beira de um fogão à lenha; eu estava ali, assando o velho pinhão, que é fruto da nossa árvore chamada araucária. E conversava com o Júnior. Ele, todo animado, quando lhe perguntei como estava a escola, disse-me: “Pai, espera um pouco que vou buscar uns papéis pra te mostrar”. Voltou em seguida e, louco para falar, disse-me, em tom muito sério, que o assunto era sobre um diamante que ele havia conhecido na escola. E eu, de pronto, disse-lhe: “O diamante, de fato, é uma pedra de grande valor e de beleza única”. E ele me respondeu: “É, foi assim mesmo que a professora o definiu, só que este diamante de que lhe falo, pai, não é o mesmo a que o senhor está se referindo. Sabe, pai, durante uma das aulas, a professora nos disse: ‘Mário Quintana é um poeta de valor inestimável e de uma beleza ímpar. A escola está presenteando todos vocês com este diamante, com esta nobre criatura que jamais passará, pois, como ele disse: ‘Eu, passarinho’. Ela disse ainda que, durante o ano de 2006, a vida e a obra de Mário Quintana seriam lembradas em uma extensa programação de eventos culturais, marcando os 100 anos de nascimento do poeta. Explicou que este é o ‘Ano do Centenário de Mário Quintana’ e que tínhamos a oportunidade de, a cada passo que dávamos, encontrar, afixadas nas paredes da escola, as poesias do grande Mário Quintana, suas palavras encantadas, para podermos viajar pelos seus pensamentos.

Mas, antes de nos deixar sair da sala, ela disse: ‘Eu vou falar um pouco para vocês de Mário Quintana’”.

Mario Quintana nasceu na cidade de Alegrete (RS), no dia 30 de julho de 1906, quarto filho de Celso de Oliveira Quintana, farmacêutico, e de D. Virgínia de Miranda Quintana. Com sete anos, auxiliado pelos pais, aprende a ler, tendo como cartilha o jornal Correio do Povo. Seus pais ensinaram-lhe também rudimentos de francês.

No ano de 1914, inicia seus estudos na Escola Elementar Mista de Dona Mimi Contino.

Em 1915, ainda em Alegrete, conclui o curso primário. Nessa época, trabalhou na farmácia da família. Foi matriculado no Colégio Militar de Porto Alegre, em regime de internato, no ano de 1919. Começa a produzir seus primeiros trabalhos, que são publicados na revista Hyloea, órgão da Sociedade Cívica e Literária dos alunos do colégio.

Por motivos de saúde, em 1924 ele deixa o Colégio Militar. Emprega-se na Livraria do Globo, onde trabalha por três meses com Mansueto Bernardi. A livraria era uma editora de renome nacional.

Em 1925, retorna a Alegrete e passa a trabalhar, aí, sim, definitivamente, na farmácia do pai. No ano seguinte, a mãe falece. Seu conto “A Sétima Personagem” é premiado em concurso promovido pelo jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre.

Infelizmente, em 1927, o pai de Quintana falece.

Em 1929, ele começa a trabalhar na redação do diário O Estado do Rio Grande. No ano seguinte, a revista O Globo e o Correio do Povo publicam seus poemas.

Em 1930, ele vai para o Rio de Janeiro. Fica lá seis meses, entusiasmado com a revolução liderada por Getúlio Vargas, também gaúcho, como voluntário do Sétimo Batalhão de Caçadores de Porto Alegre.

Volta a Porto Alegre em 1931 e volta à redação do jornal O Estado do Rio Grande.

O ano de 1934 marca a primeira publicação de uma tradução de sua autoria: Palavras e Sangue, de Giovanni Papini. Começa a traduzir, para a Editora Globo, obras de diversos estrangeiros famosos: Proust, Voltaire, Virginia Woolf, entre outros. O poeta, com certeza, deu imensa colaboração para que obras como o denso Em Busca do Tempo Perdido, do francês Marcel Proust, fossem lidas pelos brasileiros que não dominavam a língua francesa.

Retorna à Livraria do Globo, onde trabalha sob a direção do grande Érico Veríssimo, em 1936.

Em 1939, Monteiro Lobato lê doze quartetos de Quintana na revista Ibirapuitan, de Alegrete, e encomenda a ele um livro. Com o título Espelho Mágico, o livro vem a ser publicado em 1951 pela Editora Globo.

A primeira edição do seu livro A Rua dos Cataventos é lançada em 1940, pela Editora Globo. Obtém repercussão, e seus sonetos passam a figurar em livros escolares e antologias do País.

Em 1951, é publicado, pela Editora Globo, o livro Espelho Mágico, uma coleção de quartetos que trazia na orelha comentários do grande Monteiro Lobato.

Com o seu ingresso no Correio do Povo, em 1953, reinicia a publicação de sua coluna diária do Caderno H (até 1967).

Mário Quintana adorava a sua Porto Alegre. Preso a sua querida Porto Alegre, mesmo assim Quintana fez excelentes amigos entre os grandes intelectuais da época. Seus trabalhos foram elogiados por Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, além de Manoel Bandeira.

O fato de não ter ocupado uma vaga na Academia Brasileira de Letras só fez aguçar o seu conhecido humor e sarcasmo. Ele foi por três vezes indicado para a Academia de Letras e não foi aceito. Por outro lado, o Rio Grande e o povo brasileiro o eternizam e o adoram.

A Câmara de Vereadores da capital do Rio Grande, Porto Alegre, concede-lhe o título de cidadão honorário em 1967.

Em 1968, Quintana é homenageado pela Prefeitura de Porto Alegre com placa de bronze na praça principal, onde estão as palavras do poeta: “Um engano em bronze, um engano eterno”.

Em 1981, participa da Jornada de Literatura Sul-Rio-Grandense, uma iniciativa da Universidade de Passo Fundo e da Delegacia da Educação do Rio Grande do Sul. Recebe de quase duzentas crianças botões de rosa e cravos, em homenagem que lhe é prestada.

O autor recebe o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no dia 29 de novembro de 1982.

Ele segue escrevendo suas poesias, suas crônicas, e, em 1992, e a editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) reedita, em comemoração aos cinqüenta anos de sua primeira publicação, A Rua dos Cataventos.

E, lamentavelmente, no dia 5 de maio de 1994, falece em Porto Alegre, próximo de seus 87 anos, o poeta e escritor Mário Quintana, o nosso diamante.

Sr. Presidente, Mário Quintana tem essa história bonita que, com certeza, alegra a todos nós.

E aí, Sr. Presidente, Senador Simon, meu filho terminou o relato - é ele que me conta essa história - e me pergunta: “Pai, com uma história tão bonita, tão linda, tão maravilhosa de Mário Quintana, por que ele não foi indicado para a Academia Brasileira de Letras?” E eu respondo: “Também não sei o porquê. Só sei te dizer que ele não perdeu; quem perdeu foi a Academia de Letras do Brasil, por não poder dizer que o imortal poeta Mário Quintana está entre os seus escolhidos”.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Paim.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Concluo essa parte e passo para V. Exª, Senador Mão Santa.

O Brasil todo reconhece que Quintana foi o melhor entre os melhores, e o seu “Poeminha do Contra” diz tudo, ficará entre nós pela eternidade. Quando, pela terceira vez, é-lhe negado o acesso à Academia de Letras, ele responde somente com este poeminha:

Todos esses que aí estão

atravancando meu caminho,

eles passarão...

eu passarinho!

Com a palavra o Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Paim, hoje o Rio Grande do Sul transforma-se na capital da cultura deste País, quando está na Presidência da sessão este líder ímpar do atual momento da democracia que é Pedro Simon, Zambiasi e V. Exª, ressaltando Quintana. Olha, o Rio Grande do Sul é destaque em tudo, em todos os fatos da História. Eles foram precursores da República com a Guerra dos Farroupilhas; atraíram até estrangeiros, como Giuseppe Garibaldi, que levou coragem e fibra à Batalha dos Farroupilhas e saiu, mundo afora, proclamando a República, não só no Brasil. Mas, com Quintana, isso ocorre, a Academia de Letras é useira e vezeira desse procedimento. O País todo lamenta ter sido derrotado Juscelino Kubitschek de Oliveira, não porque ele tenha sido aquele extraordinário médico cirurgião, político, administrador e Senador, mas porque as obras de Juscelino, as obras literárias - como, por exemplo, Por Que Construí Brasília -, a vida, as memórias, a história, todos os escritos, discursos são muito bons. Assim é a vida. Rui Barbosa não chegou à Presidência da República, como Pedro Simon, que está sentado na cadeira do Senado. Está aí um candidato bom à Presidência do Senado, já que não podemos elegê-lo Presidente do Brasil, como era desejo dos piauienses.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito obrigado, Senador Mão Santa.

Concluo, Senador Simon, mas gostaria de dizer, meus caros Parlamentares, que Mário Quintana deixou seus passos marcados nas ruas da capital dos gaúchos, Porto Alegre, por onde tanto passeou e, portanto, iluminou o coração dos seus leitores. Ele tinha a capacidade de captar o cotidiano e, com sensibilidade e refinamento, devolver ao eleitor o seu olhar sobre versos e prosas.

Sr. Presidente, eu gostaria de ler aqui muitos poemas. Comprometi-me com o Senador Sérgio Zambiasi de não ler todos os que a Assessoria colocou aqui, mas dois bem pequenos. Um diz:

Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos se não fora

A mágica presença das estrelas!

Não as alcançamos, mas as admiramos.

O outro poema:

Da Observação

Não te irrites, por mais que te fizerem...

Estuda, a frio, o coração alheio.

Farás, assim, do mal que eles te querem,

Teu amável e mais sutil recreio...

Sr. Presidente, finalizo dizendo que não posso deixar de agradecer aqui à professora que contou essa história bonita para o meu filho, pois foi muito bom para mim ouvi-lo falar de Mário Quintana, e eu trouxe à tribuna.

Ele era de fato o poeta e velho menino que queria ser estrela para iluminar a lua e aquecer a alma tua, minha e de todos nós.

Viva Mário Quintana!

Muito obrigado.

Sr. Presidente, pediria que V. Exª publicasse meu discurso na íntegra, já que reduzi para um terço o meu pronunciamento.

 

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SEGUEM, NA ÍNTEGRA, DISCURSOS DO SR. SENADOR PAULO PAIM.

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O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) -

Pronunciamento em que destaca o centenário do poeta gaúcho Mario Quintana.

Sr Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos vocês sabem que o nosso Rio Grande do Sul, terra do nosso querido Mario Quintana, é um estado de belas praias tanto ao norte quanto ao Sul, nas quais nós nos deliciamos. O povo gaúcho gosta demais do seu verão.

Mas, nós também gostamos muito do inverno e numa dessas noites muito frias em que o Minuano se confundia com a neve que caía eu estava na beira de um fogão a lenha a conversar com meu filho Junior sobre como ia a escola.

Ele, todo animado me pediu:

“Pai, espera um pouco que eu vou buscar uns papéis prá te mostrar”

Voltou em seguida, e louco para falar, me disse em tom muito sério que o assunto era sobre um diamante que ele havia conhecido na escola.

Então eu lhe disse: “O diamante é uma pedra de grande valor e beleza única”

Ao que ele me respondeu: “É, foi assim mesmo que a professora o definiu, só que este diamante que eu estou falando pai, não é o mesmo que você está se referindo.

Sabe pai, durante uma de nossas aulas, a professora nos disse: “Mario Quintana é um poeta de valor inestimável e de uma beleza ímpar. A Escola está presenteando a todos vocês com este diamante, com esta nobre criatura que jamais passará, pois como ele mesmo disse: Eu passarinho!

Ela disse ainda que durante todo o ano de 2006, a vida e obra de Mario Quintana seriam lembradas em uma extensa programação de eventos culturais, marcando os 100 anos de nascimento do poeta.

Ela explicou que este é o "Ano do Centenário de Mario Quintana" e que nós tínhamos a oportunidade de, a cada passo que dávamos, encontrar afixadas nas paredes da Escola, as poesias de Mario Quintana, suas palavras encantadas, para a gente poder viajar pelos seus pensamentos.

Mas, antes de nos deixar sair ela disse que iria falar um pouco sobre a vida dele. Eu tenho aqui pai, todas as anotações do que ela falou”:

Mário de Miranda Quintana nasceu na cidade de Alegrete (RS), no dia 30 de julho de 1906, quarto filho de Celso de Oliveira Quintana, farmacêutico, e de D. Virgínia de Miranda Quintana. Com 7 anos, auxiliado pelos pais, aprende a ler tendo como cartilha o jornal Correio do Povo. Seus pais ensinam-lhe, também, rudimentos de francês.

No ano de 1914 inicia seus estudos na Escola Elementar Mista de Dona Mimi Contino.

Em 1915, ainda em Alegrete, conclui o curso primário. Nessa época trabalhou na farmácia da família. Foi matriculado no Colégio Militar de Porto Alegre, em regime de internato, no ano de 1919. Começa a produzir seus primeiros trabalhos, que são publicados na revista Hyloea, órgão da Sociedade Cívica e Literária dos alunos do Colégio.

Por motivos de saúde, em 1924 deixa o Colégio Militar. Emprega-se na Livraria do Globo, onde trabalha por três meses com Mansueto Bernardi. A Livraria era uma editora de renome nacional.

No ano seguinte, 1925, retorna a Alegrete e passa a trabalhar na farmácia de seu pai. No ano seguinte sua mãe falece. Seu conto, A Sétima Personagem, é premiado em concurso promovido pelo jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre.

O pai de Quintana falece em 1927.

Em 1929, começa a trabalhar na redação do diário O Estado do Rio Grande. No ano seguinte a Revista do Globo e o Correio do Povo publicam seus poemas.

Em 1930 ele vai para o Rio de Janeiro por seis meses, entusiasmado com a revolução liderada por Getúlio Vargas, também gaúcho, como voluntário do Sétimo Batalhão de Caçadores de Porto Alegre.

Volta a Porto Alegre, em 1931, e à redação de O Estado do Rio Grande.

O ano de 1934 marca a primeira publicação de uma tradução de sua autoria: Palavras e Sangue, de Giovanni Papini. Começa a traduzir para a Editora Globo obras de diversos escritores estrangeiros: Proust, Voltaire, Virginia Woolf, dentre outros. O poeta deu uma imensa colaboração para que obras como o denso Em Busca do Tempo Perdido, do francês Marcel Proust, fossem lidas pelos brasileiros que não dominavam a língua francesa.

Retorna à Livraria do Globo, onde trabalha sob a direção de Érico Veríssimo, em 1936.

Em 1939, Monteiro Lobato lê doze quartetos de Quintana na revista lbirapuitan, de Alegrete, e escreve-lhe encomendando um livro. Com o título Espelho Mágico o livro vem a ser publicado em 1951, pela Editora Globo.

A primeira edição de seu livro A Rua dos Cataventos, é lançada em 1940 pela Editora Globo. Obtém ótima repercussão e seus sonetos passam a figurar em livros escolares e antologias.

Em 1951 é publicado, pela Editora Globo, o livro Espelho Mágico, uma coleção de quartetos, que trazia na orelha comentários de Monteiro Lobato.

Com seu ingresso no Correio do Povo, em 1953, reinicia a publicação de sua coluna diária Do Caderno H (até 1967).

Preso a sua querida Porto Alegre, mesmo assim Quintana fez excelentes amigos entre os grandes intelectuais da época. Seus trabalhos eram elogiados por Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Cecília Meireles e João Cabral de Melo Neto, além de Manuel Bandeira. O fato de não ter ocupado uma vaga na Academia Brasileira de Letras só fez aguçar seu conhecido humor e sarcasmo.

Ele foi por três vezes indicado para a Academia e não foi aceito. Por outro lado o Rio Grande do Sul e o povo brasileiro o eternizam e adoram.

A Câmara de Vereadores da capital do Rio Grande do Sul -- Porto Alegre -- concede-lhe o título de Cidadão Honorário, em 1967.

Em 1968, Quintana é homenageado pela Prefeitura de Alegrete com placa de bronze na praça principal da cidade, onde estão palavras do poeta: "Um engano em bronze, um engano eterno”

Em 1981, participa da Jornada de Literatura Sul Rio-Grandense, uma iniciativa da Universidade de Passo Fundo e Delegacia da Educação do Rio Grande do Sul. Recebe de quase 200 crianças botões de rosa e cravos, em homenagem que lhe é prestada.

O autor recebe o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no dia 29 de outubro de 1982.

Ele segue escrevendo suas poesias, suas crônicas e em 1992, a editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) reedita, em comemoração aos 50 anos de sua primeira publicação, A Rua dos Cataventos.

E lamentavelmente, no dia 5 de maio de 1994, falece em Porto Alegre, próximo de seus 87 anos, o poeta e escritor Mário Quintana, o nosso diamante.

Em sua poesia RECORDO AINDA ele diz:

Recordo ainda... e nada mais me importa...

Aqueles dias de uma luz tão mansa

Que me deixavam, sempre, de lembrança,

Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança

Soprando cinzas pela noite morta!

E eu pendurei na galharia torta

Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,

            Embora idade e senso eu aparente

Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!

Sou um pobre menino... acreditai!...

Que envelheceu, um dia, de repente!...

Bom pai, depois a professora nos liberou e disse: Agora vocês estão liberados, façam as suas leituras nos corredores da escola e conheçam este poeta, este ser humano que com sua luz ilumina aqueles que se permitem o privilégio de conhecê-lo.

Meu filho terminou o relato e me perguntou: “Com toda esta história de vida e suas maravilhosas poesias, por que Mario Quintana não foi indicado para a Academia Brasileira de Letras?”

Porque também não sei. Só sei te dizer que ele não perdeu, quem perdeu foi a Academia Brasileira de Letras do Brasil por não poder dizer que o imortal poeta Mario Quintana está entre os seus escolhidos.

Mas, temos que reconhecer que ele foi o melhor entre os melhores e o seu Poeminha do Contra, que diz tudo, ficará entre nós pela eternidade. 

            Poeminha do Contra

Todos esses que aí estão

atravancando meu caminho,

eles passarão...

eu passarinho!

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu sinto tanto orgulho desse poeta gaúcho, desse ser encantado, que o meu amado Rio Grande homenageia com carinho, respeito e até mesmo com devoção e que esta Casa também abre espaço para homenagear.

Este poeta incrível encantou esta terra com a sua presença e deixou estrelas de infinito valor para que nos deleitássemos.

Ele cantou para sua amada Porto Alegre:

            O MAPA

Olho o mapa da cidade

Como quem examinasse

A anatomia de um corpo...

(É nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita

Das ruas de Porto Alegre

Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,

Tanta nuança de paredes,

Há tanta moça bonita

Nas ruas que não andei

(E há uma rua encantada

Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,

Poeira ou folha levada

No vento da madrugada,

Serei um pouco do nada

Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar

Pareça mais um olhar,

Suave mistério amoroso,

Cidade de meu andar

(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

Meus Carlos Parlamentares, Mario Quintana deixou seus passos marcados nas ruas da nossa capital, por onde ele tanto passeou e nos corações de seus leitores. Ele tinha a capacidade de captar o cotidiano e, com sensibilidade e refinamento, devolver ao leitor o seu olhar sob a forma de versos.

A história da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, teve início em julho de 1980, com a compra do antigo prédio do Hotel Majestic, pelo Banrisul.

Em 29 de dezembro de 1982, o governo do Estado adquiriu o Majestic do Banrisul e, um ano mais tarde, o prédio foi arrolado como patrimônio histórico, tendo início, a partir de então, sua transformação em Casa de Cultura. No mesmo ano, recebeu a denominação de Mario Quintana, passando a fazer parte da então Subsecretaria de Cultura do Estado.

A construção do edifício do Hotel Majestic, hoje Casa de Cultura Mario Quintana, ocorreu entre os anos de 1916 e 1933,

Os anos trinta e quarenta foram os de maior sucesso do Majestic, período em que nele se hospedaram desde políticos importantes, como Getúlio Vargas, a artistas famosos, como Virgínia Lane e Francisco Alves. Porém, nas duas décadas posteriores, o hotel foi vítima da desfiguração que atingiu o centro da maioria das cidades brasileiras - em decorrência do período denominado "desenvolvimentista" -, passando a sofrer a concorrência de novos hotéis que contavam com instalações mais amplas e modernas. Os antigos hóspedes foram, aos poucos, sendo substituídos por lutadores de "cath" e luta livre, além de solteiros, viúvos, boêmios e poetas solitários como Mário Quintana, que ali esteve hospedado de 1968 a 1980.

Os espaços tradicionais da Casa de Cultura Mario Quintana estão voltados para o cinema, a música, as artes visuais, a dança, o teatro, a literatura, a realização de oficinas e eventos ligados à cultura. Entre eles estão:

Galeria Augusto Meyer, Teatro Bruno Kiefer, Biblioteca Érico Verissimo, Sala Paulo Amorin, Espaço Romeu Grimaldi, Espaço Elis Regina, Espaço Fernando Corona, Biblioteca Lucília Minssen, Espaço Maurício Rosemblatt e assim por diante.

O nosso poeta era um homem singular e utilizando suas próprias palavras, uma parte da definição de MARIO QUINTANA POR MARIO QUINTANA é assim:

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há ! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai ! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas : ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade”

Sr Presidente, o que eu mais gostava nele, era esse jeito de contar os fatos reais da vida por meio de crônicas e de poesias.

Ele era conhecido por ser o mestre da fina ironia e um desses exemplos é contado desta forma:

Início de mais uma madrugada. O poeta gaúcho chega à pensão em que morava e é mal recebido pelos cachorros. Quintana reage aos latidos com todos os palavrões disponíveis. Em meio à gritaria, abre-se a janela e surge a dona da pensão:

Mas o que é isso, seu Mario? O senhor, um homem tão culto, dizendo estas barbaridades

Ele se defende:

É que a senhora não sabe os nomes que os seus cachorros estão me dizendo...

Eu gostaria de ler para todos nós e para o Brasil inteiro que nos escuta, algumas poesias de Mário Quintana. É uma homenagem a ele e um presente para todos nós:

            DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis... ora!

Não é motivo para não querê-las...

            Que tristes os caminhos se não fora

A mágica presença das estrelas!

            DA OBSERVAÇÃO

Não te irrites, por mais que te fizerem...

Estuda, a frio, o coração alheio.

Farás, assim, do mal que eles te querem,

Teu mais amável e sutil recreio...

            DOS MUNDOS

Deus criou este mundo. O homem, todavia,

Entrou a desconfiar, cogitabundo...

Decerto não gostou lá muito do que via...

E foi logo inventando o outro mundo.

Bem, meus nobres Colegas, como presente para todos nós eu deixo estas duas poesias que tocam especialmente o meu coração.

Quanto a você Mario Quintana, meu querido poeta, eu agradeço por todo o bem que suas palavras nos fazem, por tornar nossos dias mais belos, por nos ter presenteado com seus versos! 

            VIDA

A vida são deveres que nós trouxemos pra fazer em casa.

Quando se vê já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira...

Quando se vê, já terminou o ano...

Quando se vê, passaram-se 50 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado...

Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente

e iria jogando, pelo caminho,

a casca dourada inútil das horas...

Dessa forma eu digo:

não deixe de fazer algo que gosta

devido à falta de tempo.

A única falta que terá, será desse tempo

que infelizmente... não voltará mais.

            OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam vôo

como de um alçapão.

Eles não têm pouso

nem porto;

alimentam-se um instante em cada

par de mãos e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti...

Sr Presidente, para finalizar eu não posso deixar de dizer: “Muito bem professora, foi muito bom ouvir meu filho contar a história deste diamante chamado Mário Quintana.

Ele era de fato o poeta e velho menino que queria ser estrela para iluminar a lua e aquecer a alma tua, minha, de todos.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Pronunciamento sobre a Universidade do Mercosul e as Escolas Técnicas Federais do Rio Grande do Sul.

Sr Presidente, Srªs e Srs. Senadores, um Protocolo de Cooperação firmado entre o ministro Fernando Haddad e o Ministro da Educação, Ciência e Tecnologia da Argentina Daniel Filmus deu início a idéia da criação de uma Universidade do Mercosul.

            A implantação de uma instituição universitária pública que atenda à região sul do continente e venha formar uma rede de universidades brasileiras e argentinas situadas em estados e províncias que fazem fronteira com os dois países é uma louvável iniciativa.

            Segundo o Ministro Fernando Haddad o objetivo é facilitar a movimentação de professores, pesquisadores e estudantes e priorizar a integração regional do bloco econômico.

            O próximo passo, segundo o Ministério, será levar a experiência para os outros países do bloco - Uruguai e Paraguai, além dos países associados (Chile, Bolívia e Venezuela) - para que todas as instituições possam reconhecer certificados e diplomas expedidos pela Universidade do Mercosul.

            No 3º Fórum Educacional do Mercosul, realizado no último dia 24, em Minas Gerais reuniram-se os Ministros da Educação dos estados-membros do bloco para discutir o projeto e verificar a possibilidade de uma gestão compartilhada para implementação do projeto.

            Acredito que este é um desafio capaz de ampliar e transformar a educação profissional e tecnológica, fomentando a verdadeira integração entre os países e formando profissionais capazes de atuar nas mais diversas áreas do conhecimento, em qualquer lugar da América Latina.

            A aplicação e viabilidade do projeto estão sendo estudadas por um grupo de profissionais que apresentará os resultados no próximo Fórum Educacional do Mercosul, em junho de 2007, na cidade de Assunção.

            É evidente que um projeto desta envergadura vem alavancar o desenvolvimento e o fortalecimento da educação formal, além de ser importante agente de inclusão social.

            Quando o assunto é educação, não posso deixar de falar do Ensino Técnico Profissionalizante.

            No Rio Grande do Sul, temos 496 municípios, 31% deles possuem escolas técnicas profissionais, e apenas 12 escolas são Federais.

            Todos nós sabemos que o ensino tecnológico secundário não satisfaz as atuais necessidades do país, precisamos e queremos mais.

            Estou convencido que o ensino técnico é um instrumento de combate aos preconceitos, de diminuição da violência e fundamental na construção de uma sociedade mais justa, solidária, igualitária e libertária.

            Não podemos sonhar com um país desenvolvido se desvincularmos as políticas humanitárias do avanço tecnológico.

            A escola profissional é vertente de novos conhecimentos, de inovação tecnológica, de pesquisas de capacitação para o trabalho, de combate ao desemprego, enfim, de inúmeras ações que objetivam o desenvolvimento econômico do país como um todo.

            Tenho recebido alguns prefeitos gaúchos que me trazem a solicitação de escolas técnicas profissionais em seu município.

            Percebendo a necessidade e o interesse cada vez mais crescente por escolas profissionalizantes, aprovamos na Comissão de Educação uma emenda destinada ao programa: Fomento ao Desenvolvimento da Educação Profissional - no valor de R$1.200.000.000 (hum bilhão e duzentos milhões de reais).

            Este recurso permitirá a construção de escolas técnicas em nosso país e o fomento da formação profissional de nossos jovens, tema que eu tenho defendido, inclusive com a apresentação da PEC do FUNDEP, que cria um fundo para a educação profissional.

            A Bancada do Estado do Rio Grande do Sul, entendo a necessidade e a importância do ensino profissional também apresentou proposta de emenda no valor de R$50.000.000,00 (milhões de reais).

            A minha constante preocupação com a ampliação do ensino técnico fez com que, em 2003, eu assumisse a coordenação da frente parlamentar que trata do tema no Senado, em parceria com o deputado Alex Canziani, que é o coordenador na Câmara Federal.

            A Frente é composta de 120 deputados e 26 senadores. Precisamos ampliar o número de parlamentares engajados nesta luta, assim poderemos, inclusive, buscar mais investimentos do Orçamento da União para a Educação.

            Temos uma responsabilidade histórica com a educação profissional. Acreditamos que Com a aprovação final do FUNDEP, de imediato estaremos garantindo significativos recursos para o ensino profissionalizante no Brasil.

Tenho sonhos como todos aqueles que acreditam num futuro melhor. Por isso, encerro este pronunciamento com as palavras de Eleanor Roosevelt:

"O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos."

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2006 - Página 37646