Discurso durante a 210ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Solicita a transcrição de seu discurso de despedida da Casa.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. SENADO.:
  • Solicita a transcrição de seu discurso de despedida da Casa.
Publicação
Publicação no DSF de 21/12/2006 - Página 39330
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. SENADO.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, DECISÃO, ORADOR, AUSENCIA, PRONUNCIAMENTO, DISCURSO, DESPEDIDA, SENADO, MOTIVO, PARTICIPAÇÃO, VOTAÇÃO, PAUTA, PLENARIO.
  • CONCLAMAÇÃO, CONGRESSISTA, URGENCIA, COMPARECIMENTO, PLENARIO, VOTAÇÃO, PAUTA, SOLICITAÇÃO, APOIO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO, COMPENSAÇÃO, ESTADOS, EXPORTAÇÃO.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Para uma questão de ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, nesta questão de ordem, quero fazer três pedidos.

            O primeiro deles é que não farei despedida. Ela será feita trabalhando na sessão do Senado. Portanto, peço que fique publicado nos Anais o meu discurso de despedida, que não farei, pois quero que votemos até o último momento.

            O segundo pedido é para que todos os Senadores do PMDB, inclusive os que estão na Comissão de Serviços de Infra-estrutura e que já votaram lá, venham com urgência para votarmos alguns itens.

            O terceiro pedido, Sr. Presidente, já que fizemos um acordo entre Líderes, é relativo à Medida Provisória nº 328, que é uma divisão de cerca de R$1,9 bilhão para a Lei Kandir nos Estados, de importância. No bojo da referida medida provisória, há vários acordos importantes sobre a área de computação que vencem no dia 31. Então, uma vez que fui designado Relator, eu gostaria que conseguíssemos lê-la e votá-la ainda hoje, pois há acordo.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR NEY SUASSUNA.

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            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, despeço-me desta Casa com a sensação de que o tempo aqui vivido não foi em vão.

            Aqui cheguei para concluir o mandato do saudoso Senador Antonio Mariz, exemplo de homem público que a Paraíba ofereceu ao Brasil e que, eleito Governador do Estado, faleceu após nove meses de mandato.

            Rendo à memória desse grande brasileiro, sinônimo de integridade no exercício da vida pública, minhas sinceras homenagens.

            Ao todo, foram doze anos de permanência nesta Casa, confirmados pela expressa, livre e direta manifestação de meus conterrâneos.

            Decorrido todo esse tempo, posso afirmar: foi neste ambiente que logrei fazer um dos maiores, mais profundos e duradouros aprendizados de minha vida.

            No Senado da República pude compreender - bem mais e muito melhor - o que é o Brasil.

            Senti, nos embates ideológicos, no confronto das idéias e no cotejo das diferenças, a verdadeira dimensão da política.

            Pude colocar à prova, a cada dia de exercício do meu mandato, o que antes sabia, ou imaginava conhecer.

            Aquele saber nascido da leitura ou da intuição passou pela prova da experiência vivida.

            A posição privilegiada que conquistei permitiu-me ser mais que atento observador da cena política brasileira.

            Mais que acompanhar, nela procurei intervir.

            Foi o que fiz, com dedicação e espírito público, nas mais diversas situações e a partir dos distintos cargos que ocupei.

            Em primeiro lugar, e o destaque nada tem de fortuito, pude fazê-lo sob indicação e com o respaldo do maior Partido da Casa, o nosso PMDB.

            Ter sido líder partidário e da Maioria inscreve-se entre as maiorias glórias a que poderia almejar.

            No exercício dessas funções, procurei ouvir sempre a Bancada, na certeza de que assim o fazendo estaria sintonizando o ponto de vista majoritário de seus integrantes com as mais legítimas aspirações nacionais. Atitude mais que correta, sobretudo quando se considera a extraordinária identificação do PMDB com o conjunto da sociedade brasileira, razão pela qual é o Partido de maior presença em todo o território nacional.

            Tive a honra de integrar Comissões de indiscutível relevância, a exemplo da Comissão de Assuntos Econômicos, de Fiscalização e Controle, do Orçamento.

            Nelas, como em Plenário, não raro, relatei matérias cruciais para o desenvolvimento do País.

             Podem e devem ser destacados alguns projetos que transformamos em lei, todos eles de importância considerável para o Brasil, inclusive por seu impacto direto na vida das pessoas.

             Reporto-me, entre outras, à Lei de Informática, de Patentes e da Biossegurança.

            Além dos aspectos técnicos inerentes a essas matérias, esforcei-me por construir consensos em torno delas.

            Quando isso se tornava impraticável, atuei no sentido de obter a necessária maioria.

            Em ambos os casos, o que falava mais alto era a intenção de oferecer a melhor alternativa ao País.

            Esse mesmo espírito conduziu minhas ações à frente do Ministério da Integração Nacional.

            Foi o período em que, licenciado do Senado Federal, aceitei colaborar com o Executivo em seu objetivo de reduzir as desigualdades e promover, em bases inovadoras, um projeto de desenvolvimento mais equânime, não-discriminatório e verdadeiramente integrador.

            Em momento algum, Senhor Presidente, deixei de me manifestar a respeito das importantes matérias que tramitaram no Parlamento nestes doze anos em que aqui permaneci.

            Jamais permiti que a omissão acompanhasse minha trajetória de homem público.

            Consciente das enormes e complexas demandas da sociedade, estive na linha de frente de defesa das propostas comprometidas com o desenvolvimento econômico, com a justiça social e com o aperfeiçoamento de nossas instituições.

            Sem nunca perder de vista a dimensão nacional de nosso trabalho, procurei ser, no Senado, o porta-voz das mais legítimas causas da Paraíba.

            Encerro esta etapa de minha vida pública bem mais consciente do que quando nela entrei.

            Se dúvidas e questionamentos permanecem de pé, certezas e convicções se cristalizaram.

            Levo comigo, entre outras, a certeza de que o Brasil se faz uno por sua diversidade.

            É dessa diversidade que a Nação consegue tecer sua identidade.

            É da convergência de tantos contrastes que se faz o Brasil, único e inconfundível.

            Nada representa tão bem o que somos como Estado e Nação como esta Casa.

            A começar pela absoluta igualdade de representação entre as unidades da Federação, o Senado reflete e traduz a importância de cada uma dessas partes para a configuração do conjunto do País.

            Em cada matéria discutida e votada, no teor e na entonação de cada discurso pronunciado, prepondera, sempre e sempre, o compromisso inarredável com a construção de uma Pátria livre, soberana, justa e cidadã. Isso é lição de grandeza, impossível de ser esquecida.

            Levo comigo a convicção de que a política, quando assentada em princípios éticos e nutrida pelo sentido da justiça, é bem mais que o embate de idéias, que a explicitação de propósitos ou a busca desenfreada pela conquista de determinados objetivos.

            Ela é, isto sim, um gesto de amor à sociedade, a reiteração do valor insuperável da vida, a defesa incondicional da dignidade humana.

            Ao final da trajetória, quando não há mais espaço para ilusões, vivos permanecem os sonhos.

            Esses, estarão comigo, retemperados pela experiência, amadurecidos na luta, fortalecidos pelas vitórias possíveis, reiterados por eventuais revezes.

            Por isso, mais do que por qualquer outra razão, sou grato.

            Grato à Paraíba, meu eterno ponto de partida e permanente porto seguro onde posso me ancorar.

            Grato à gente paraibana, valente e intrépida, que renova a cada dia suas forças para a construção de uma História difícil, tantas vezes doída, mas nunca submissa.

            Gente que me concedeu a suprema honra de representá-la na Casa da Federação brasileira e de cujos anseios mais legítimos busquei ser voz e intérprete.

            Com a convicção de não ter falhado em tão enobrecedora missão, a qual me dediquei com afinco e seriedade, renovo meu comovido agradecimento ao povo de minha terra.

            Grato aos colegas Senadores, pelo convívio amistoso, fraterno e sempre respeitoso.

            Eis a característica essencial e definidora desta Casa: aqui não há lugar para a descortesia, nem espaço para a agressividade gratuita.

            O Senado é a demonstração cabal de que a busca da convergência de contrários, objetivo maior da política comprometida com o bem comum, somente se torna possível quando há respeito às posições de cada um.

            Aqui se prova que idéias só podem ser combatidas com idéias e que o todo não se faz pelo aniquilamento das partes.

            Grato aos servidores desta Casa, sem os quais não seria possível trabalhar e exercer adequadamente o mandato.

            Um agradecimento sincero ao abnegado pessoal da copa, gente que, com presteza e simpatia, ameniza nosso trabalho - tantas vezes interminável - nas Comissões e no Plenário.

            Grato aos funcionários de gabinete, seja o da Liderança, seja o permanente, pelo profissionalismo, pela lealdade e pela disposição de tudo oferecer para que a minha missão pudesse ser cumprida.

            Sem eles, teria sido impossível exercer minhas atividades políticas e parlamentares. Com esse reconhecimento público, deixo meu sincero agradecimento.

            Sou grato, ainda, à Consultoria Legislativa.

            Esta Casa tem a felicidade de poder contar com homens e mulheres que dominam suas áreas de conhecimento, compreendem o sentido de seu trabalho e oferecem aos Senadores o suporte indispensável ao exercício adequado de seu mandato.

            E, ao falar de profissionalismo e competência, não poderia omitir a Secretaria Geral da Mesa e a Advocacia Geral do Senado, exemplos notáveis de seriedade e de devoção à missão que executam.

            Da Segurança à Gráfica, do Prodasen à Taquigrafia, da Comunicação Social à Biblioteca, sem falar da Direção Geral, sempre atenta às necessidades da Casa, estendo a todos, sem exceção, meus profundos agradecimentos.

            Nenhum de nós, Senadores, conseguiria trabalhar como o fazemos sem o concurso desses admiráveis profissionais que, nos mais diversos setores, se esmeram para garantir o bom funcionamento desta Casa.

            Um particular agradecimento aos meus colegas de bancada. Graças a eles, tive a honra de liderar o PMDB nesta Câmara Alta.

            Este glorioso PMDB que, há quarenta anos, é peça fundamental da História do Brasil e cuja origem remonta à luta contra o arbítrio, quando mais sombria era a noite de trevas do regime autoritário, sempre soube ser fiel ao Brasil.

            Orgulho-me, pois, de a ele pertencer e de ter exercido sua liderança no Senado Federal.

            Há muitas formas de ser útil ao País. Quero perseverar no caminho que sempre trilhei.

            Esteja onde estiver, haverei de estar ao lado de homens e mulheres comprometidos com a plenitude da vida, com os excelsos valores da democracia, com a defesa intransigente dos ideais de justiça, com o contínuo fortalecimento da cidadania.

            Diligentemente, continuarei lutando pela Paraíba e pelo Brasil.

            Vitórias ou derrotas passadas tornam-se irrelevantes ante a grandeza de tais propósitos. São eles que me movem. Deles me orgulho. Neles me realizo.

            Muito obrigado e até breve!

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/12/2006 - Página 39330