Discurso durante a 17ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

A violência no País. Críticas ao Programa de Aceleração do Crescimento. Comentários a respeito das concessões do governo brasileiro aos países vizinhos.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA DE DESENVOLVIMENTO. POLITICA EXTERNA.:
  • A violência no País. Críticas ao Programa de Aceleração do Crescimento. Comentários a respeito das concessões do governo brasileiro aos países vizinhos.
Publicação
Publicação no DSF de 03/03/2007 - Página 3740
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. POLITICA DE DESENVOLVIMENTO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, NOTICIARIO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), SITUAÇÃO, VIOLENCIA, BRASIL, IMPUNIDADE, CRIME, CRITICA, DECLARAÇÃO, AUTORIDADE FEDERAL.
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, NOTICIARIO, IMPRENSA, ANALISE, PROGRAMA, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO, DIFERENÇA, ESTIMATIVA, GOVERNO, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, APREENSÃO, PARALISAÇÃO.
  • ANUNCIO, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), ALTERAÇÃO, CRITERIOS, INDICE, CRESCIMENTO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), PREVISÃO, AUSENCIA, MELHORIA, AVALIAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, ANALISE, JORNALISTA, PROBLEMA, EXCESSO, TRIBUTAÇÃO, DADOS, AMPLIAÇÃO, IMPORTAÇÃO, COBRANÇA, BANCO MUNDIAL, ATENÇÃO, GOVERNO, INFRAESTRUTURA.
  • COMENTARIO, NEGOCIAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FAVORECIMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI, OBJETIVO, PERMANENCIA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), PREJUIZO, INTERESSE NACIONAL, DETALHAMENTO, ACORDO, ESTADOS MEMBROS, INSUCESSO, POLITICA EXTERNA, QUESTIONAMENTO, CONVITE, PARTICIPAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, BOLIVIA, VENEZUELA, ALTERAÇÃO, NORMAS.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago, em três tempos, a quantas anda a violência no nosso País:

1º tempo:

Programa “Última Edição”, da Globo News, do dia 27:

(...) Omissão que gera impunidade. Mais de 80% dos roubos e furtos não são denunciados pelas vítimas, em todo o País.

2º tempo:

            Coluna do jornalista Merval Pereira, dia 28 de fevereiro, em O Globo:

(...) A mulher do Ministro da Cultura, Flora Gil, depois de ter seu carro blindado alvejado 16 vezes, numa tentativa de assalto, ano passado no Rio, disse que aquilo poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo.

(...) A Ministra Ellen Gracie, Presidente do Supremo Tribunal Federal, depois de assaltada na Linha Vermelha, no Rio, juntamente com o Vice-Presidente Gilmar Mendes, disse que assaltos acontecem.

(....) A mulher do Ministro da Fazenda, a psicanalista Eliane Mantega, depois de ter ficado seqüestrada com o marido e filhos durante três horas, disse que os bandidos foram “supergentis”. O Ministro demorou 12 horas para comunicar o crime.

            3º tempo:

O Presidente da CCJ, Senador Antonio Carlos Magalhães, tem toda a razão do mundo (e bastaria a do Brasil), em querer mais velocidade na aprovação de medidas legislativas para conter a violência no País.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como segundo assunto, quero dizer que o Programa de Aceleração do Crescimento ainda é intenção do atual Governo brasileiro. Não digo mera intenção, apenas que não é real.

O que há de real é uma quase desaceleração a rondar pelo País. Os números não mentem. O PIB de 2006 foi pífio, decepcionante, mas o Presidente Lula, mesmo admitindo o malogro, preferiu afirmar que o índice de 2,9% é um número maior que os analistas previam e menor do que aquele que eu desejo e menor do que o Brasil deseja.

Para os analistas de mercado, o resultado, além de não ser bom, revela infelizmente que o Brasil cresceu pouco, menos do que é preciso para, aí sim, se falar em aceleração do desenvolvimento.

Por enquanto, o que se pode falar é em desaceleração, como mostra matéria publicada hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo, com o seguinte título:

Com Lula, distância para crescimento mundial aumenta

País ficou 2,10 pontos porcentuais abaixo da média, diferença maior que nos oito anos de Fernando Henrique

Irany Tereza e Nilson Brandão Junior

Com um crescimento médio do PIB de 2,64% nos seus quatro anos de governo, o governo Lula conseguiu, aparentemente, um desempenho um pouco melhor que o de Fernando Henrique Cardoso, que registrou um crescimento médio de 2,56% em seu primeiro mandato. Porém, quando esses números são comparados com a média do crescimento mundial - de 4,7% nos últimos quatro anos -, surge uma outra realidade: sob o governo Lula, o País aumentou a distância que o separa do ritmo de desenvolvimento global.

Não é diferente a análise da revista Veja:

Quinta-feira, 01 de Março de 2007

Economia

Brasil fica ainda mais para trás com Lula

No primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o desenvolvimento do Brasil ficou mais distante do resto do planeta. Apesar da promessa de um "espetáculo do crescimento" e dos freqüentes discursos criticando o fracasso dos líderes que o antecederam, Lula acumula em seus quatro primeiros anos um resultado pior do que o mandato inicial do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), de acordo com os dados do PIB brasileiro divulgados na quarta-feira pelo IBGE.

Com a taxa de crescimento de 2,9% em 2006, Lula fechou o primeiro governo com uma expansão média do PIB de 2,6% ao ano. A taxa média de crescimento econômico de FHC entre 1995 e 1998 também foi de 2,6% ao ano. Com Lula, contudo, o Brasil ficou ainda mais para trás. Na comparação com a média do crescimento mundial, que foi de 4,7% nos últimos quatro anos, o governo Lula perde na comparação com a administração anterior, sempre muito criticada pelo atual presidente.

De positivo, mas mesmo assim, pouco expressivo, foi o crescimento da indústria no ano passado, com o índice de 3,8% no último trimestre. Pode ser a sinalização de recuperação, decorrente, ainda segundo os analistas e o próprio Governo, de investimentos privados, na indústria e na construção civil.

Do lado do Governo, é mais cômoda afirmar pura e simplesmente que esses índices favoráveis mostram, como se expresso o Ministro da Fazenda, que a economia está crescendo, aumentando a sua capacidade produtiva.

Pode ser que sim, porém, não obstante é uma taxa ainda decepcionante, que situa o Brasil na vice-lanterninha entre as nações latino-americanas, perdendo apenas para o Haiti.

Agora, anuncia-se que o IBGE estuda uma modificação nos levantamentos da economia brasileira. Para a analista Miriam Leitão, de O Globo, (...) esses números vão mudar no fim de março, quando o IBGE recalcular tudo pela nova metodologia.O número do PIB é muito fraquinho, não tem como esconder. O mercado esperava de 2,7% a 2,8%, e saiu 2,9%, um tantinho maior.

Lembra a jornalista que, ainda hoje, o cálculo leva em conta o censo econômico de 20 anos atrás, necessitando ser atualizado, tudo para melhorar a qualidade da conta.

Mais aspas para Miriam Leitão:

(...) O resultado pode levar o PIB de 2006 para mais de 3%. Ainda assim, é pouco, pouquíssimo. Não é o espetáculo do crescimento prometido pelo presidente Lula. Não são os 4% que o ministro Guido Mantega garantiu que aconteceria.

A mesma analista econômica explica por quê o Brasil não cresce, lembrando que (...) o eterno suspeito é o Banco Central, mas os juros não explicam tudo. No ano passado, de novo, o governo tirou mais dinheiro da sociedade: a carga tributária subiu para 38,8%. Era de 34% no primeiro ano do governo Lula. Em 1990, era de 24%.

Essa é uma análise correta. Ainda ontem, mostrei que o Governo do Brasil está deixando passar o bonde e os bons ventos da economia mundial. Ao contrário, os setores econômicos da iniciativa privada estão atentos, daí o crescimento da produção industrial.

Melhor seria que o Governo cuidasse melhor do que é pré-requisito para, aí sim, acelerar o crescimento do País. O pré-requisito chama-se infra-estrutura. E não é apenas a oposição a reclamar.

Leio o noticiário online de hoje, para ressaltar que as reclamações já não se limitam à população brasileira. Agora, é também o Banco Mundial a sugerir que o Brasil deve voltar maior atenção a obras de infra-estrutura.

O próprio Presidente deveria se preocupar com esse setor, em vez de apenas lamentar o decepcionante crescimento do PIB. Ontem, em Pernambuco, ele disse:

“Não é a vontade do Governo que fará a economia crescer”.

E mais:

O PIB vai crescer na medida em que a gente tenha uma dinâmica no País em que as pessoas acreditem que as coisas estão sendo feitas com seriedade.

Tiro as aspas, para responder:

Ninguém supõe que não há seriedade nas coisas que estão sendo feitas. O que ocorre é que nada ou quase nada está sendo feito, da parte do Governo. A iniciativa privada, esta sim, faz, e corretamente, seu dever de casa.

Sr. Presidente, Srªs e Sr. Senadores, como terceiro e último assunto, os jornais destacam a negociação fechada ontem pelo Presidente Lula no Uruguai para preservar aquele país no Mercosul. Mais uma vez, o Brasil cedeu a seus vizinhos, com acordos comerciais “francamente favoráveis”, para a Folha, aos uruguaios. Já está se tornando praxe: para contemplar os interesses de outros países, a diplomacia do governo brasileiro não economiza generosidade. Para defender os interesses nacionais não se vê a mesma disposição - como no caso dos recorrentes embates entre a indústria local e a argentina, à qual o Itamaraty costuma fazer ouvidos moucos.

No pacote de ontem, o Brasil aceitou fechar acordos para facilitar investimentos brasileiros no Uruguai. Prevê-se apoio à construção de uma fábrica de etanol e o financiamento, por parte do BNDES, da construção de uma fábrica de cimento no Uruguai - são US$ 130 milhões, em investimento a ser tocado por uma subsidiária da Camargo Corrêa. Também foram acertadas participações brasileiras na restauração de uma ponte e na construção de uma nova. Um outro acordo foi para a promoção comercial e investimento para a aceleração do processo industrial uruguaio.

Para Miriam Leitão, a onda de bondades recentes para com países vizinhos pode ter custo muito alto para o Brasil. Ela lista alguns dos problemas: “O Brasil acena com vantagens para a Bolívia para que ela se integre ao Mercosul, a Argentina não concorda, o Uruguai quer o mesmo tratamento, e o Paraguai se pergunta o que sobra para ele. O Brasil concorda com o aumento do preço do preço do gás boliviano e enfrenta o risco de ter que rever o preço da energia de Itaipu.”

O custo incorrido pela Petrobras com o acordo fechado há duas semanas com a Bolívia pode até não ser financeiramente significativo: são R$ 100 milhões numa empresa que lucrou quase R$ 26 bi no ano passado. O problema é o precedente da quebra de regras contratuais. Não custa lembrar que o ativo mais caro na economia globalizada são a previsibilidade e estabilidade de regras.

O intrigante é que o governo Lula não se sensibiliza tanto, por exemplo, quando os argentinos impõem travas ao comércio brasileiro de produtos de linha branca (como geladeiras e fogões) ou de resina PET. Mais intrigante ainda é o que mostra o Valor em manchete: para a SEAE (Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda) “algumas medidas antidumping que vêm sendo adotadas pelo governo brasileiro, nos últimos anos, estão servindo mais para proteger a indústria nacional do que para cumprir seu objetivo original, de proteção da economia local contra práticas desleais de comércio”.

Ou seja, um importante órgão do Governo brasileiro agora fornece munição aos fornecedores internacionais que quiserem contestar eventuais medidas tomadas para proteger a produção nacional.

A realidade é que o Mercosul tem perdido força. Um exemplo vem do próprio Uruguai: em 1998, as exportações uruguaias para o bloco montavam 55% do total; hoje caíram para 30%. Mas não se vê da diplomacia brasileira, país líder natural na região, um esforço efetivo para dar bases mais sólidas ao bloco. O que se vê são parolagens como as que o governo brasileiro dispensa à Bolívia e à Venezuela, que estão ingressando no Mercosul rompendo regras a que os demais estão sujeitos.

Os problemas se acumulam, mas o governo brasileiro acha que tudo se resolve com retórica. “Cada vez que a situação se complica, o governo do Brasil usa a técnica da fuga para a frente; anuncia um plano ambicioso que, se for realizado, levará dez anos, em vez de enfrentar as dificuldades do momento”, analisa José Roberto Mendonça de Barros em O Globo.

A diplomacia companheira do Brasil, que afaga Tabaré Vasquez, Evo Morales e Hugo Chávez, deveria atentar para o que está ocorrendo na Venezuela, como mostra O Globo. Por causa da inflação em galope (16% em 2006) devido ao aumento expressivo de gastos públicos, a saída de recursos dos residentes (pessoas físicas e empresas) do país quadruplicou desde 1999, quando o caudilho assumiu o poder. De U$2 bi passaram a US$8 bi.

No campo econômico o Brasil continua patinando. Sai, amanhã, o resultado do PIB de 2006. E, mais uma vez, o Brasil figurará na rabeira do crescimento na América Latina, segundo os prognósticos disponíveis. Com prováveis 2,7% de crescimento no ano passado, ficaremos em penúltimo lugar no ranking do continente, com a honrosa companhia do Paraguai e, novamente, à frente apenas do Haiti mergulhado em guerra civil.

Na América Latina, mostra O Globo, a maior expansão econômica em 2006 deve ser da República Dominicana: 10,7% (quatro vezes mais que o Brasil!). A Venezuela cresceu 10,3%. Para Argentina, Uruguai e Paraguai, as projeções são de 8,5%, 7,3% e 4%, respectivamente. Entre os Bric, a distância em relação ao Brasil será também cavalar: a China avançou 10,7% (quatro vezes mais que o Brasil!) e a Índia deve ter crescido 9,2% (mais de três vezes o desempenho do Brasil) em 2006.

As razões do mau desempenho brasileiro, segundo analistas ouvidos por O Globo, são juros altos, real valorizado e problemas estruturais. Um dos efeitos está no setor externo, que deve continuar contribuindo negativamente para o PIB, segundo a MB Associados, dos Mendonça de Barros. Estima-se que o PIB tenha deixado de crescer uns dois pontos por causa do “vazamento” de riqueza para o exterior: no último trimestre de 2006, por exemplo, enquanto as exportações cresceram 4%, as importações subiram 20%.

Na avaliação da MB, registrada por Sonia Racy, muito da recuperação relativa anotada no fim do ano deve-se à agropecuária. Também o consumo das famílias ajudou e deve ter uma boa recuperação, com expansão de 4,2% no trimestre. No caso dos investimentos, a construção civil teve um quarto trimestre não tão bom, por causa de uma queda de 0,2% da produção em dezembro.

Era o que eu tinha dizer.

Muito obrigado.

 

*********************************************************************************

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

*********************************************************************************

Matéria referida:

Com Lula, distância para crescimento mundial aumenta

País ficou 2,10 pontos porcentuais abaixo da média, diferença maior que nos oito anos de Fernando Henrique

Irany Tereza e Nilson Brandão Junior

Com um crescimento médio do PIB de 2,64% nos seus quatro anos de governo, o governo Lula conseguiu, aparentemente, um desempenho um pouco melhor que o de Fernando Henrique Cardoso, que registrou um crescimento médio de 2,56% em seu primeiro mandato. Porém, quando esses números são comparados com a média do crescimento mundial - de 4,7% nos últimos quatro anos -, surge uma outra realidade: sob o governo Lula, o País aumentou a distância que o separa do ritmo de desenvolvimento global.

Entre os anos de 1995 e 1998, no governo de Fernando Henrique, a diferença entre o crescimento médio brasileiro e a média mundial era de 1,08 ponto porcentual. Nos últimos quatro anos, essa média foi 2,10 pontos porcentuais. Por esse ângulo, a administração de Lula só conseguiu ser melhor que a de Fernando Collor, quando a diferença entre o crescimento médio brasileiro e o do resto do mundo foi de 3,47 pontos porcentuais. Os dados foram compilados pelo professor do Instituto de Economia da UFRJ Reinaldo Gonçalves, para quem o Brasil está 'andando para trás'.

Dados do IBGE mostram, também, que o crescimento da renda per capita brasileira (1,2%, em média) no governo Lula superou as taxas do primeiro e do segundo mandatos de Fernando Henrique (1% e 0,6%, respectivamente). A gerente de contas nacionais do instituto, Rebeca Palis, explica, contudo, que o menor crescimento populacional influencia este resultado. Segundo Reinaldo Gonçalves, mantido o ritmo registrado entre 2003 e 2006, a renda per capita mundial duplicaria no prazo de 29 anos, enquanto a brasileira levaria 64 anos.

LANTERNA

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, comparou, com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o desempenho econômico brasileiro em 2006 e o de grupos específicos de países, como os emergentes e os latino-americanos. Em ambos os casos, verificou um resultado desapontador, com o Brasil na lanterninha.

Na América Latina, repetindo o que ocorreu em 2005, o País só deve superar o Haiti, que mesmo em guerra civil tem uma expectativa de crescimento de 2,3%, segundo estimativas do FMI. Na comparação com 34 países emergentes, o Brasil está na última colocação, atrás do Paraguai. Enquanto o Brasil registrou crescimento de 2,9%, a média dos emergentes selecionados deverá ficar em 5,5%. 'O fato de o País continuar crescendo a níveis muito baixos diante de um cenário externo favorável comprova que o problema é unicamente na gestão doméstica', diz Agostini.

Uma ofensa ao Legislativo

É como se por meio de uma releitura da doutrina de Montesquieu, em relação à separação dos Poderes, quem sabe sob os eflúvios concentracionistas emanados do vaporoso regime chavista, nestes tristes trópicos se chegasse a consignar, tacitamente, no texto constitucional (art. 2º ) o pequeno acréscimo, com estes termos: “São Poderes da União, independentes, harmônicos e promíscuos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”

Sabe-se que no tipo de presidencialismo em voga no Brasil, cujo prato de resistência sempre foi o decreto-lei (de algum tempo para cá, na plena democracia, apelidado de “medida provisória”), a ingerência do Executivo sobre os demais Poderes de Estado, especialmente as Casas Legislativas, sempre foi efetiva e notória, muitas vezes através dos métodos mais espúrios - no que o “mensalão” já se tornou a prática mais emblemática da nossa história política contemporânea. Só que antes se disfarçava um pouco a submissão do Congresso ao Planalto.

Agora, como em tantas outras cenas do espaço público-político, parece que se perdeu, de vez, o pudor.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende se reunir todas as segundas-feiras, no Palácio do Planalto, com os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia, e do Senado, Renan Calheiros, para discutir a pauta de votação no Congresso. A justificativa de Lula é que não quer repetir a fórmula do primeiro mandato, quando delegava a ministros e até a líderes partidários a condução dos processos de tramitação de propostas de interesse do governo. Como não poderia deixar de ser, a idéia foi prontamente repudiada pela oposição. Disse o deputado Arnaldo Madeira: “Lula vai fazer a pauta da Câmara e do Senado junto com Renan e Chinaglia. Isso é uma ofensa ao Legislativo.” E continuou: “Está mostrada uma promiscuidade entre os Poderes. Daqui a pouco vai fazer como no Parlamento da Venezuela, que defendeu a suspensão das votações de matérias para que o presidente governasse melhor.”

Talvez não haja este último risco, apontado pelo deputado tucano, porque os presidentes das Casas Legislativas também devem ter interesse nessas “reuniões de pauta” nos inícios de semana, no recinto planaltino. Os pleitos dos ilustres parlamentares, tais como liberações de verbas orçamentárias, nomeações para postos nos escalões inferiores da administração direta e das estatais, reivindicações específicas relacionadas a determinados Ministérios, negociações mais detalhadas sobre contrapartidas administrativas a votos legislativos de bancadas, etc., etc. e tal, não haverão de ter um fluxo muito mais dinâmico, menos burocrático, com o contato pessoal, direto e semanal dos presidentes das Casas com o da República?

É claro que nesse processo de intensificação da intimidade entre Poderes algumas funções parlamentares tendem a sofrer definitivo esvaziamento (embora já murchassem a olhos vistos), tal o caso da dos líderes partidários e, sobretudo, da do líder do governo. Mas isso, evidentemente, será questão de somenos para os interesses da República. Claro está, também, que os ministros estarão mais vulneráveis às pressões dos parlamentares - na defesa de seus próprios interesses, de seus representados e patrocinadores - porque não poderão “enrolar” respostas a reivindicações intermediadas pelo próprio chefe de Estado e governo, mesmo que este não entenda muito bem de que se trata.

Parlamentares já têm reclamado, ultimamente, da usurpação de suas funções legislativas por parte de entidades e organizações não-governamentais, que atropelam seus projetos de inúmeras maneiras, inclusive na disputa do espaço midiático, como se obtido tivessem representação popular para tanto. Se agora, sem mais nenhum disfarce, o processo de tramitação legislativa passa a ser conduzido inteiramente pelo Planalto - a partir dos empuxos presidenciais irrompidos todas as segundas-feiras -, o que sobrará, para os representantes do povo, em termos de iniciativa própria? Mas isso talvez já seja questão para ser resolvida numa segunda-feira...

Argentina vetou plano de Lula para Uruguai, diz jornal

Três dias antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Uruguai, diplomatas do Brasil e da Argentina reuniram-se para definir a pauta que Lula apresentaria ao colega Tabaré Vázquez. Nessa conversa, os argentinos derrubaram uma das principais propostas que Lula pretendia apresentar e lhes pareceu prejudicial.

A informação foi divulgada ontem pelo diário La Nación, de Buenos Aires, e atribuída a um dos diplomatas que participaram do encontro. O que Lula pretendia oferecer a Vázquez era uma flexibilização das 'regras de origem' do acordo do Mercosul, para facilitar as exportações do Uruguai e do Paraguai. Os dois poderiam exportar, com a tarifa menor do Mercosul, itens incorporados de terceiros países. 'Para o Brasil isso pode ajudar os países menores. Mas seria prejudicial às nossas indústrias, por exemplo, porque criaria uma enorme proliferação na área de autopeças', disse o funcionário.

Dobra número de aprovados da rede pública em Medicina

O número de aprovados em primeira chamada para Medicina na Universidade de São Paulo (USP) e na Santa Casa que fizeram o ensino médio em escolas públicas dobrou do ano passado para este ano.

Foram 46 candidatos, segundo dados do boletim socioeconômico divulgado no site da Fuvest na tarde de ontem. Em 2006, foram 22. No total, foram convocados para a carreira, que tinha 32,4 candidatos por vaga, 375 alunos.

No entanto, em Publicidade e Propaganda, a carreira mais concorrida desta edição do vestibular, com 45,7 candidatos disputando cada uma das 50 vagas, houve uma diminuição: em 2006 foram convocados 10 candidatos da rede pública; neste ano, apenas 7. Em Administração também ocorreu queda, de 25 para 23.

Neste ano, pela primeira vez a instituição adotou um programa de inclusão, chamado Inclusp. Quem cursou todo o ensino médio em escolas da rede municipal, estadual ou federal teve um bônus de 3% na nota. Com isso, a universidade conseguiu aumentar em 20% o número total de candidatos aprovados da rede pública na primeira lista do vestibular, conforme adiantou o Estado, número considerado acima do esperado pela USP.

Agora, com a divulgação dos dados do perfil dos alunos, é possível saber a variação por carreira. Além de Medicina, em Direito, outro curso tradicional e entre os mais disputados, também houve aumento: de 43 aprovados da rede pública (9,3% dos chamados no ano passado) para 81 (17,8%). Em Jornalismo, o segundo curso mais concorrido, o número de convocados subiu de 9 para 14.

Observando os dados nas três grandes áreas, Humanas, Exatas e Biológicas, houve aumento da participação da rede pública em todas. Porém, os números ainda podem ser modificados, pois a universidade já apresentou uma segunda lista de convocados e poderá fazer novas chamadas nas próximas semanas se houver vagas remanescentes. A totalização só estará disponível após a última matrícula dos estudantes, prevista para o fim do mês.

Economia

BRASIL FICA AINDA MAIS

PARA TRÁS COM LULA

Quinta-feira, 01 de Março de 2007

No primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o desenvolvimento do Brasil ficou mais distante do resto do planeta. Apesar da promessa de um "espetáculo do crescimento" e dos freqüentes discursos criticando o fracasso dos líderes que o antecederam, Lula acumula em seus quatro primeiros anos um resultado pior do que o mandato inicial do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), de acordo com os dados do PIB brasileiro divulgados na quarta-feira pelo IBGE.

Com a taxa de crescimento de 2,9% em 2006, Lula fechou o primeiro governo com uma expansão média do PIB de 2,6% ao ano. A taxa média de crescimento econômico de FHC entre 1995 e 1998 também foi de 2,6% ao ano. Com Lula, contudo, o Brasil ficou ainda mais para trás. Na comparação com a média do crescimento mundial, que foi de 4,7% nos últimos quatro anos, o governo Lula perde na comparação com a administração anterior, sempre muito criticada pelo atual presidente.

Problema doméstico - De acordo com reportagem publicada nesta quinta-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo, a diferença entre o crescimento médio brasileiro e a média mundial foi de 1,08 ponto porcentual com FHC. Já com Lula, nos últimos quatro anos, a diferença média entre Brasil e resto do mundo foi de 2,10 pontos. Com isso, Lula supera só Fernando Collor - na gestão do primeiro presidente eleito depois da redemocratização, a diferença entre o crescimento do país e do mundo era de 3,47 pontos.

De acordo com o professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, responsável pela compilação dos dados, o Brasil está "andando para trás". O economista Alex Agostini, da Austin Rating, concorda. Depois de comparar o desempenho do país em 2006 com o desenvolvimento dos emergentes e dos latino-americanos, ele concluiu que o Brasil é o último em ambos os grupos. Para ele, o crescimento tímido num cenário externo favorável "comprova que o problema é unicamente na gestão doméstica",


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/03/2007 - Página 3740