O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e srs. Senadores:

     Em princípios da década de 1980 uma nova doença, misteriosa e fatal, vitimou milhares de pessoas ao redor do globo. lnicialmente, pouco havia a fazer em razão de o vírus, mais tarde nomeado HIV, atacar e destruir o sistema imunológico do infectado, abrindo as portas para a entrada de inúmeras doenças oportunistas.

     Ao longo desses quase trinta anos, apesar de investimentos abundantes na pesquisa, relativamente pouco se avançou quanto à obtenção de uma cura definitiva. Assim, os cientistas e os responsáveis pela área de saúde pública de todo o mundo passaram a seguir duas estratégias.

     A primeira foi a do caminho da prevenção. De um lado, partiu-se para o incentivo ao uso de contraceptivos como a “camisinha” e o controle de meios de transmissão: tomou-se praxe o teste de sangue colhido para transfusões.

     Na impossibilidade de denotar em definitivo o vírus, a segunda estratégia consistiu em criar medicamentos que pudessem colocá-lo sob controle. Como resultado, surgiu uma série de remédios que agem no sentido de conter a proliferação do vírus no organismo humano. Apesar de ser um método de ação que tem se mostrado eficiente, traz, como efeito colateral, uma série de inconvenientes para o paciente, como diarréia, desconforto, fadiga e náuseas.

     Em suma, hoje chegamos a uma espécie de “beco científico”, quanto ao tratamento daqueles que são portadores do vírus HIV: a tecnologia médica avançou ao ponto de impedir a progressão da doença no organismo humano, mas, infelizmente, não é capaz de produzir a remissão ou a cura definitiva da doença. Se o paciente interrompe o uso de medicamentos, o vírus volta a produzir danos à saúde.

     A única maneira de seguir adiante em termos de pesquisas é encontrar falhas na estrutura biológica do vírus. Até agora, a busca havia se mostrado infrutífera, e todas as vacinas testadas até o momento tiveram o mesmo resultado: fracasso.

     Há, no entanto, alguns indícios de que isso pode estar mudando. Pode ser que, finalmente, os cientistas tenham encontrado uma luz no fim do túnel. Essa luz se chama mais precisamente Gp120. Sob esse nomecódigo se esconde uma importante proteína do vírus, aquela que se une e desativa as células do sistema imunológico do homem.

     A proteina Gp120 foi descoberta em 1998. No entanto, o seu exato mecanismo de funcionamento demorou quase dez anos para ser completamente decodificado. E mais. Sabe-se agora que a Gp120 é vulnerável.

     Segundo o especialista Peter Kwong - autor da descoberta e infectologista do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos - a novidade, agora, é a descoberta de que essa proteína, ao contrário do restante do vírus, não sofre mutação.

     A rápida velocidade de mutação do HIV, como é conhecido largamente por todos os cientistas, é o grande impeditivo para a criação de vacinas eficientes contra a Aids. Encontrar um componente virótico que não sofre mutações pode ser a chave para criar uma vacina eficiente.

     Na corrida pela cura da Aids há de se louvar os esforços levados a cabo pelos pesquisadores brasileiros.

     Apesar das inúmeras restrições que existem à pesquisa no País, que vão desde a falta de recursos até a lentidão da regulação de testes com seres humanos, existem diversos grupos de pesquisa com trabalhos sérios e atuantes para encontrar a cura para a doença que assola o mundo há mais de um quarto de século.

     Creio que o trabalho dos brasileiros deve ser louvado.

     No Rio de Janeiro os trabalhos são coordenados por Mauro Schechter, da UFRJ. Lá faz testes com 110 voluntários.

     Em São Paulo, o pesquisador Ricardo Palacios, da Universidade Federal de São Paulo, coordena outro teste, onde 66 pessoas já receberam uma vacina.

     Penso, no entanto, que mais recursos devam ser direcionados para essa área de concentração de pesquisa.

     Está mais claro, a cada dia, que a biotecnologia é um dos principais pólos de desenvolvimento científico do século XXI.

     A cura da AIDS, quando vier, trará dois gigantescos benefícios.

     O primeiro é livrar o mundo de um dos mais terríveis flagelos do século, salvando a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.

     O segundo é a criação de uma tecnologia revolucionária em termos científicos e médicos, que abrirá possibilidades de pesquisa que ainda estão restritas aos filmes de ficção científica. Tenho a absoluta certeza de que cabe ao Brasil encarar a pesquisa médica e biológica de uma nova forma.

     Não é uma ameaça, como podem imaginar os mais ingênuos ou os mais paranóicos, mas o caminho para enfrentarmos diversas crises pela qual passa o planeta. Investir na cura da AIDS é transformar este País em uma potência nas ciências biológicas. Ou partimos para investimentos maciços no setor ou nos tomaremos, como em tantas outras áreas científicas, apenas meros consumidores a pagar milhões em royalties por produtos feitos no exterior.

     Era o que tinha a dizer. Muito obrigado. Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o segundo assunto é para fazer o registro da matéria intitulada “A corrupção do PT certificada”, publicada no O Estado de S. Paulo em sua edição de 06 de fevereiro do corrente.

     A matéria se refere ao documento que será divulgado amanhã pelo Partido dos Trabalhadores intitulado “Mensagem ao Partido”, onde o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, principal signatário do documento, ataca frontalmente o chamado Campo Majoritário, que controla o PT e aparelha os seus governos, e é controlado pelo ex- deputado, cassado, e ex- Ministro Chefe da Casa Civil, Jose Dirceu. O documento, reabre as feridas do escândalo do mensalão ao afirmar que “o PT viveu uma crise de corrupção programática e ética, não apenas conjuntural e não apenas de desvios comportamentais ou de pequenos abusos de poder e confiança que legou ao partido uma grave crise ética e política e trouxe impactos imprevisíveis acerca do futuro do PT”.

     Sr. Presidente, para que conste dos anais do Senado, requeiro que o artigo acima citado seja considerado como parte integrante deste pronunciamento.

     Muito obrigado.

     Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.