Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do recebimento de carta do Secretário-Geral da CNBB a respeito da Campanha da Fraternidade de 2007, que traz reflexões sobre o tema "Fraternidade e Amazônia".

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. FEMINISMO.:
  • Registro do recebimento de carta do Secretário-Geral da CNBB a respeito da Campanha da Fraternidade de 2007, que traz reflexões sobre o tema "Fraternidade e Amazônia".
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2007 - Página 4719
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. FEMINISMO.
Indexação
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, BISPO, IGREJA CATOLICA, SECRETARIO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), APRESENTAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, ANALISE, SITUAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, APREENSÃO, FUTURO, RECURSOS NATURAIS, GRAVIDADE, PREJUIZO, POPULAÇÃO RURAL, ABANDONO, ASSISTENCIA, ESTADO, VITIMA, DISCRIMINAÇÃO, VIOLENCIA, MOTIVO, LUTA, OCUPAÇÃO, TERRAS, CRITICA, INTERESSE ECONOMICO, DESRESPEITO, CULTURA, POVO, REGIÃO, INCENTIVO, TRAFICO, PROSTITUIÇÃO, DESEQUILIBRIO, CRESCIMENTO, CIDADE, COMENTARIO, OBJETIVO, CAMPANHA, DEBATE, SOLUÇÃO, RECUPERAÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, ORIENTAÇÃO, VALORIZAÇÃO, MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, RESPEITO, POPULAÇÃO.
  • CUMPRIMENTO, INICIATIVA, PAULO PAIM, SENADOR, OPORTUNIDADE, DIA INTERNACIONAL, MULHER, HOMENAGEM, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL.
  • IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, MULHER, POLITICA, MELHORIA, SOCIEDADE.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, como todos os Srs. Senadores e Deputados Federais, recebi correspondência de Dom Odilo Pedro Scherer, Bispo Auxiliar de São Paulo e Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a respeito da Campanha da Fraternidade deste ano.

Datada de 26 de fevereiro de 2007, a carta, muito bem escrita, traz reflexões que todos estamos convidados a fazer sobre a Amazônia.

Diz Dom Odílo Pedro Scherer:

Tenho a satisfação de enviar-lhes o texto base da Campanha da Fraternidade de 2007. Nele se encontram as propostas que a CNBB faz para a Campanha, as motivações, a reflexão sobre o tema “fraternidade e Amazônia”, sobre o lema “vida e missão neste chão”, e as orientações específicas para sua realização.

A Amazônia, atualmente, está no centro das atenções e dos interesses do mundo, por causa de sua grande floresta tropical, sua rica biodiversidade, seus recursos naturais, das riquezas do seu subsolo e das imensas extensões de suas serras ainda inexploradas. Muitos interesses econômicos, pequenos e grandes, estão voltados para a Amazônia. Isso tudo levanta grande preocupação em relação ao futuro dessa região, e em relação aos danos graves a esse grande patrimônio, que é dos povos que o ocupam, do povo brasileiro, mas também da humanidade inteira.

É preciso, por isso mesmo, elaborar uma ética adequada para a convivência com a natureza, pautada no zelo e na comum responsabilidade. Continuar a depredar e a destruir a Amazônia e qualquer outro bioma é uma insensatez, é grave falta de responsabilidade e de fraternidade. O egoísmo e a ganância destroem e matam; a fraternidade promove a partilha e a sustentabilidade.

Outra questão posta pela Campanha da Fraternidade de 2007 diz respeito aos povos da Amazônia: indígenas, caboclos, quilombolas, nativos ou migrantes, populações ribeirinhas e gente das pequenas e grandes cidades da Amazônia. São eles a referência primeira da fraternidade a ser despertada e aprofundada nesse chão. O povo da Amazônia é vítima, com freqüência, de esquecimento e discriminação, de graves conflitos, de violência e de sangue. Na ocupação da terra e na exploração dos recursos naturais, muitas vezes impera a lei da selva, a lei do mais forte, por causa da ausência ou ineficiência do Estado e de suas instituições. E nessas situações, pessoas idealistas e generosas, que fizeram da solidariedade social o seu programa de vida e de atuação, são vítimas de ameaças e da perda de suas vidas, como acontece com sindicalistas, agentes sociais e missionários, a exemplo da irmã Dorothy Stang e tantos outros [e, aqui, poderíamos citar Chico Mendes] em toda a Amazônia.

Os interesses e a sede lucro da economia globalizada se projetam sobre a Amazônia e seus povos de maneira inexorável, como um rolo compressor, não respeitando a vida, a cultura e o direito desses povos. O brilho da cidade, com suas promessas de conforto, oportunidades e riqueza, com seus encantamentos midiáticos e suas lojas cheias de produtos da sociedade de consumo, exercem um fascínio irresistível sobre gente simples e indefesa, que vive muitas vezes no isolamento e no abandono de suas aldeias e roçados no interior. Chegando à cidade, a maioria dessas pessoas defronta-se com as frustrações e amarguras dos sem-terra, sem-teto, sem-trabalho, sem-segurança, sem-referência, sem-futuro, sem-esperança.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Eduardo Suplicy, V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com toda a honra, Senador Paulo Paim, mas agradeceria se V. Exª me permitisse que eu conclua a leitura da carta de Dom Odilo Pedro Scherer.

E assim vemos as cidades da Amazônia alargando-se de maneira caótica, com gravíssimas deficiências de oportunidades de trabalho, saneamento, habitações, escolas, estruturas públicas. Como conseqüências, aparecem o tráfico de drogas, a prostituição, até mesmo infantil, o degrado da família e da convivência social e tanta violência.

O que a Campanha da Fraternidade de 2007 propõe, antes de tudo, é que se conheça um pouco melhor o significado da Amazônia para o Brasil e para o mundo; que se tome consciência das situações vividas pelos seus povos e se faça um grande debate sobre as questões amazônicas. Será impossível prevenir e resolver os conflitos originados com a posse e a exploração da terra e de suas riquezas? Não será possível frear definitivamente a queima da floresta amazônica? Como promover o respeito pelas populações amazônicas, o aproveitamento sustentável da floresta e dos recursos naturais, das águas e das riquezas do subsolo? Como evitar que a Amazônia, pródiga de vida, seja palco de injustiças, de violências e de sangue?

A Campanha da Fraternidade sobre a Amazônia coloca em debate o modo de vida consumista e inconseqüente que não faz caso da sustentabilidade e gera a destruição dos recursos naturais e das condições de vida na Terra. Precisamos todos pensar num estilo de vida mais sóbrio, voltado para as necessidades essenciais das pessoas, deixando de apostar num crescimento econômico que implicasse a destruição da natureza e nas condições de vida no nosso Planeta Azul.

Ao colocar em suas mãos este texto, em nome da CNBB, confio-lhe também as preocupações levantadas pela Campanha da Fraternidade deste ano sobre a Amazônia. As questões necessitam de políticas públicas capazes de assegurar que a Amazônia, berço generoso de tanta vida, também seja o chão da convivência harmoniosa e fraterna de muitos povos, raças e culturas.

Com respeitosa saudação e votos de todo o bem.

Dom Odilo Pedro Scherer,

Bispo auxiliar de São Paulo

Secretário-Geral da CNBB.

Eis a carta que nos enviou o Monsenhor Odilo Pedro Scherer, prezado Senador Paulo Paim, a quem quero cumprimentar pela iniciativa que teve hoje de manhã, quando a Comissão de Direitos Humanos, presidida por V. Exª, concedeu uma bonita homenagem à nossa querida Ministra Marina Silva, bem como à Ministra Matilde Ribeiro - a primeira, do meio ambiente e idealizadora da Comissão de Direitos Humanos, que aqui a propôs, e que esteve presente com o Presidente da CNBB na Amazônia no lançamento da Campanha da Fraternidade deste ano.

Nas palavras ditas hoje pela Ministra Marina Silva, podemos perceber a comunhão de propósitos da Ministra com a Campanha da Fraternidade.

Quero ressaltar o depoimento de S. Exª e aproveitar o Dia Internacional da Mulher para homenagear Ministras como Marina Silva, Nilcéa Freire, Matilde Ribeiro e Dilma Rousseff, que tanto têm honrado o nosso País. Pessoas como Rose Marie Muraro, Frei Leonardo Boff têm dito que nós, homens, precisamos perceber que mais e mais será importante que, em cada organização, sempre alternemos mulheres e homens, porque as qualidades da mulher, o seu olhar, muitas vezes, são diferentes do nosso, de nós homens. Para que a civilização, a sociedade e o Brasil sejam de melhor qualidade para todos nós é importante alternarmos as qualidades de ambos.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com muita honra, ouço o Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Eduardo Suplicy, quero, neste um minuto, cumprimentar V. Exª pelo pronunciamento com foco no meio ambiente e na Campanha da Fraternidade da CNBB. Quero dizer também que entendo que a reunião de hoje pela manhã foi em homenagem a todas as mulheres. A homenageada recebeu inclusive uma placa do Senado da República. Fiquei muito feliz pela posição da Ministra Matilde, que veio também para cumprimentar a Ministra Marina e, naturalmente, acabou sendo homenageada. Um gesto muito bonito da Ministra Matilde! Para mim, o seu pronunciamento tem tudo a ver com o dia de hoje, oito de março, Dia Internacional da Mulher. Vou falar sobre isso também da tribuna, porque entendo que, neste País, só teremos de fato justiça no dia em que as mulheres tiverem, efetivamente, os mesmos direitos e oportunidades que os homens - coisa que ainda não existe em nosso País. A mãe de todos nós é a natureza, a mãe natureza. Por isso seu pronunciamento tem tudo a ver. Cumprimento V. Exª, assim como o Senador Cristovam, aqui a meu lado, pelo discurso que fez na reunião de hoje pela manhã, quando solicitou que o teor da palestra da Ministra Marina fosse produzido e encaminhado, pelo seu brilhantismo, aos gabinetes de todos os Senadores e Deputados. Parabéns a V. Exª!

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Paulo Paim. Que bom que a Ministra Marina Silva, no conjunto de proposições, envolvendo treze Ministérios, está conseguindo diminuir, tão significativamente, o desmatamento da Amazônia, justamente atendendo aos propósitos da Campanha da Fraternidade.

Esperemos que ela possa ser muito bem-sucedida ainda na continuação do seu trabalho.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2007 - Página 4719