Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o Senado como pólo irradiador de profundos debates sobre a violência e a segurança pública. Destaque para a reportagem especial da Revista Veja, edição de 10 de janeiro último, que faz o mais completo levantamento já levado a efeito pela imprensa, sobre o tema da criminalidade no país. (como Líder)

Autor
Edison Lobão (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Edison Lobão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Considerações sobre o Senado como pólo irradiador de profundos debates sobre a violência e a segurança pública. Destaque para a reportagem especial da Revista Veja, edição de 10 de janeiro último, que faz o mais completo levantamento já levado a efeito pela imprensa, sobre o tema da criminalidade no país. (como Líder)
Aparteantes
Joaquim Roriz, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2007 - Página 4750
Assunto
Outros > SENADO. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • ELOGIO, EMPENHO, SENADO, DEBATE, REFORMULAÇÃO, ESTADO DEMOCRATICO, POLITICA SOCIAL, SEGURANÇA PUBLICA, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • REGISTRO, APROVAÇÃO, SENADO, DIVERSIDADE, PROJETO DE LEI, COMBATE, CRIME, APOIO, MAGNO MALTA, SENADOR, SUGESTÃO, POLICIA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CONTROLE, POPULAÇÃO, FAVELA, GARANTIA, PAZ, CONCLAMAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, GOVERNO MUNICIPAL, SUBSIDIOS, PROPOSTA, INCENTIVO, INICIATIVA PRIVADA, CONTRIBUIÇÃO, ESTADO, MELHORIA, SEGURANÇA PUBLICA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, CRISE, SEGURANÇA PUBLICA, DIFICULDADE, POLICIA, PRISÃO, REU, CRITICA, ESTADO, DESVALORIZAÇÃO, TRABALHO, POLICIAL, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, CRIME ORGANIZADO, CONTRABANDO, ARMA, DROGA.
  • IMPORTANCIA, PESQUISA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), ANALISE, SITUAÇÃO, ESCOLARIDADE, REU, CRIME, LEITURA, TRECHO, ESTUDO, MOTIVO, JUVENTUDE, PARTICIPAÇÃO, VIOLENCIA, AUXILIO, CLASSE POLITICA, PROVIDENCIA, CRISE, SEGURANÇA PUBLICA.
  • CONCLAMAÇÃO, SENADO, VALORIZAÇÃO, TRABALHO, POLICIAL, MELHORIA, COMBATE, CRIME, ELOGIO, JOAQUIM RORIZ, SENADOR, EX GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), EFICACIA, ADMINISTRAÇÃO, POLICIA.

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senado Federal vem se apresentando ao País nestas semanas como o pólo irradiador de profundos debates sobre a violência e segurança pública. Esta Casa, a bem dizer, concentra em seus plenários, sobre esse e outros temas, a universalidade de ensinamentos enciclopédicos raramente registrados em qualquer outro setor da cultura brasileira. Os debates em torno das reformas, dos assuntos sociais, jurídicos, políticos e abrangentes de numerosas outras matérias de interesse do nosso País, entre as quais aquelas a que acaba de se referir o Líder Arthur Virgílio, que é o meio ambiente e a ecologia, compõem em nossos arquivos um acervo de valor incalculável. Isso graças à competência e ao talento dos debatedores e à liberdade com que entre nós se processa o contraditório.

O Senado da atual e das últimas legislaturas honra as tradições da velha Casa. A cada dia, nesses 181 anos de existência, demonstra quão importante é a sua missão num sistema democrático.

Provavelmente, minutos antes de assomar a esta tribuna, Sr. Presidente, crimes tenebrosos podem ter ocorrido em vários pontos do nosso País. Outros devem estar acontecendo nestes instantes do meu discurso e mais outros se sucederão, enlutando e indignando a sociedade brasileira. É também provável que, na maioria desses terríveis delitos, seus autores, bandidos, sintam-se estimulados pela expectativa da impunidade. É a desafiante onda de cruel violência que assola terrível e impiedosamente o nosso País.

Aqui, fazendo o que nos é possível fazer, estamos lapidando as soluções legislativas que nos incumbe encontrar, para assegurar uma legalidade que ofereça os instrumentos aos demais poderes da República, para resgatar a segurança exigida pela população brasileira. Nesse sentido, já aprovamos em regime de urgência urgentíssima treze projetos de combate à criminalidade, uns já encaminhados à revisão da Câmara dos Deputados; outros, à sanção presidencial, que urge sejam adotados. E damos prosseguimento igualmente premente ao estudo de outras iniciativas que haverão de complementar as primeiras aqui enunciadas e votadas.

Além de o Senado cumprir com as atribuições constitucionais que lhe competem, afloram em seus plenários, nos debates sobre a crescente criminalidade, sugestões aos Poderes Executivos nascidas de nossas longas experiências como políticos e administradores, muitas práticas plenamente viáveis, que reduziriam sobremodo certas peculiaridades do crime organizado.

O Senador Magno Malta, por exemplo - que, lamentavelmente, não se encontra neste momento no plenário -, tem dito e repetido da tribuna, com a sua conhecida veemência, que a tranqüilidade de favelas, como a da famosa carioca Rocinha, seria alcançada com a elementar providência de se instalar, no alto do território da comunidade, guarnições da Polícia Militar. Abrindo-se uma ampla avenida do início ao cume do morro, o novo posicionamento policial ajudaria a destrinçar o labirinto das vielas dominadas pelos bandidos. Em tal hipótese, a polícia, ao invés de enfrentar meliantes de baixo para cima - o que não tem conseguido -, teria a vantagem de inverter essa logística, assumindo posições que lhe permitiriam, além de reassumir a respeitabilidade devida à autoridade, visualizar toda a favela e uma ampla região da cidade. Tal idéia, se ampliada e efetivada, seguramente iria constranger a bandidagem, e a população ordeira de favelas, que é a maciça maioria dessas comunidades, readquiriria, enfim, o ambiente de paz e trabalho que já foi sua característica em passado recente.

Não creio que o custo de tais obras, ao menos em determinados lugares, superasse as possibilidades financeiras do poder público. Ao contrário, parece-me uma proposta de óbvios resultados e de efeitos econômicos positivos para as grandes metrópoles brasileiras. Como outras, deveria merecer atenção dos Municípios, Estados e do próprio Governo Federal, que tem condições para subsidiar projetos desse tipo.

Sr. Presidente, na ânsia de se encontrar as providências que sanem problemas tão graves, há de se estimular a contribuição das entidades privadas e das sugestões que nos chegam de pessoas do povo. Destaco, nesta oportunidade, a reportagem especial da revista Veja, edição de 10 de janeiro passado, que faz o mais completo levantamento já levado a efeito pela imprensa brasileira sobre o tema da criminalidade em nosso País.

Inicia-se a reportagem com a frase, amplamente aceita por todos os brasileiros, de que a raiz de todos os nossos problemas criminais está na impunidade. Expedidos e ainda não cumpridos 570 mil mandados de prisão. Ora, Sr. Presidente, 570 mil mandados de prisão expedidos, neste País, e não cumpridos, o que significa 570 mil delinqüentes soltos por dificuldades do próprio aparelho policial do Estado de localizar e prender o condenado. Prisões lotadas, verdadeiros calabouços da Idade Média. Déficit de 145 mil vagas no sistema penitenciário. Percentual enorme, superior talvez a 80%, de vítimas de crimes que fogem do registro de ocorrências por não confiarem na polícia. Policiais mal pagos e sob o risco das ameaças, seduzidos, muitas vezes, pelos ganhos da corrupção. Contrabando de armas e drogas, com caminhos livres subsidiados por nações vizinhas. Legislação penal ultrapassada. Tudo isso contribui para a impunidade em nosso País.

O trabalho da revista Veja mostra, em alguns exemplos, as incoerências da nossa legislação penal. No Brasil, uma pessoa não pode ficar mais de 30 anos presa. Assim, se alguém é condenado por um crime grave, como homicídio qualificado ou estupro seguido de morte, cumprirá a mesma pena - já vou concluir, Sr. Presidente - do que tiver cometido igual crime quatro, cinco ou dez vezes. Numa outra hipótese, um motorista bêbado que atropelar e matar um pedestre negro pode pagar fiança e responder ao processo de homicídio em liberdade. Se, em vez de atropelar o pedestre, esse mesmo motorista abrir a janela do seu carro, fizer ofensa raciais a ele e for preso em flagrante por racismo, não terá direito à fiança. E assim por diante, numa sucessão de discrepâncias da legislação brasileira.

Sr. Presidente, obedeço as recomendações de V. Exª e concluo o meu discurso.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Edison Lobão, já que V. Exª está finalizando, conclua o seu pronunciamento brilhante.

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA) - Agradeço, mais uma vez, a generosidade de V. Exª.

É bastante assustador o elenco das estatísticas oferecidas na referida reportagem. A mais preocupante é a pesquisa até então inédita da Universidade de São Paulo, junto a 2.400 internos da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor. Foi trabalhada entre 1960 e 2002 e desfaz o mito da falta de escolaridade e de inserção dos jovens no mercado de trabalho.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Edison Lobão, peço-lhe um aparte, com a aquiescência do ilustre Presidente, que deveria permanecer aí por muito e muito tempo, por muitos e muitos dias.

O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Aguarde-me até o final, pois vou ficar com V. Exª até a meia-noite.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Edison Lobão, posso participar?

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA) - Para meu prazer e minha alegria.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Minhas observações a respeito do mundo civilizado: os Estados Unidos da América são um país policial. Aqui, culpamos o Judiciário por tudo, mas a nossa debilidade é o que vem antes. Lá, o Estado é policial. A polícia tem uma moral estúpida. Todo mundo a respeita e a obedece. Eles são probos. Bem ali, no Chile, o povo - o taxista - diz: “A polícia daqui não é corrupta.”. Nós podemos dizer isso? Bem ali, em Cuba, é o salário. Eu andei por lá e observei. Eles têm o seu dinheiro - o cubano. O dólar, lá, circula para turistas, mas eles recebem. Então, vamos dizer, um médico ganha 600 cubanos, assim como um engenheiro. O policial ganha mais, de 700 a 800 cubanos. A nossa polícia foi esquecida materialmente, não foi valorizada. Muitos dos nossos policiais não têm uma casa para morar com dignidade. Vamos comparar a média dos salários dos bravos policiais com a dos homens da Justiça. Antes do Direito, existe a ação policial. Isso é culpa nossa, também, porque aprovamos esse desnível salarial absurdo entre o Poder Judiciário e o poder policial.

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA) - Senador Mão Santa, há os que se comprazem espaldeirando a Polícia por toda parte. Acho que a Polícia é um bem no mundo; não um mal. É preciso que ela seja uma Polícia correta, cumpridora dos seus deveres, como acentua V. Exª - e ela existe em muitos Estados, em muitas nações do mundo.

A nossa Polícia Federal é de bom nível. A Polícia de Brasília é excelente. A Polícia Civil de Brasília é a segunda melhor do mundo. A primeira é a canadense; a segunda é a brasiliense. Temos, portanto, aparelhos policiais de Estado da melhor qualidade. O que precisamos fazer em relação a eles é prestigiá-los, como diz V. Exª.

Em Cuba, um policial ganha 700 cubanos. Mais do que um médico, o que não quer dizer também muita coisa, porque o médico ganha apenas 50 dólares em Cuba; um engenheiro, 50 dólares. E um policial ganha 60 dólares; de qualquer maneira, ganha mais - é o que procura dizer V. Exª, no que faz muito bem, para dar o exemplo da importância e da necessidade da Polícia em toda parte.

Sr. Presidente, sigo, não por muito tempo, aproveitando a generosidade de V. Exª, para concluir o meu discurso a respeito desta reportagem da revista Veja.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Edison Lobão, com a sua permissão, somente para esclarecer o negócio de Cuba. Realmente é isso, são esses os valores em dólares de que V. Exª falou, mas há que considerar que lá o governo paga a energia, a água, a assistência médica. Isso é para que o povo tenha uma noção. O fato é que queríamos dizer que os policiais de lá são mais valorizados, assim como o é o policial norte-americano.

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA) - Vejo aqui o Senador Joaquim Roriz, que é nosso companheiro de Senado. Acabei de falar sobre a excelência da Polícia do Distrito Federal. E tudo isso se deve, em boa parte, ao Governo Joaquim Roriz. Foi um Governador extraordinário e ajudou muito esta cidade, que a nós todos pertence. Governou o Distrito Federal com competência e seriedade. Oxalá tivéssemos no Brasil sempre exemplos dessa natureza.

Ouço o eminente Senador Joaquim Roriz.

O Sr. Joaquim Roriz (PMDB - DF) - Prezado Senador Edison Lobão, quero agradecer a V. Exª por essas palavras tão gentis que acaba de dirigir-me. Eu não esperava outro gesto de V. Exª a não ser esse. Sempre tive por V. Exª uma grande admiração. V. Exª é um homem sério, responsável, um Senador brilhante que representa muito bem o Estado do Maranhão. Por todas essas virtudes, quero agradecer-lhe por essas palavras tão gentis. V. Exª reconhece o que foi o meu Governo com relação à segurança e em relação a outras obras, no passado. Muito obrigado, Senador Edison Lobão. Serei sempre um companheiro de V. Exª por entender que V. Exª é um dos mais brilhantes políticos do meu País. Parabéns.

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA) - Agradeço, Senador Joaquim Roriz, V. Exª que chegou há pouco tempo a esta Casa e é por todos nós estimado, respeitado e admirado. E, eu não tenho dúvida, haverá de se transformar num dos melhores Senadores desta geração de Parlamentares. 

Continuando, Sr Presidente, em 1960, os jovens infratores analfabetos perfaziam 17% contra 1,5% de escolarizados em 2002. Aos que cursaram entre a 5ª e 8ª série do Ensino Fundamental, 12% em 1960, e 67,5% em 2002. Jovens empregados quando foram presos, 9% em 1960 e 30% em 2002. Participação de adolescentes em crimes (a cada 100 mil jovens com idades entre 12 e 18 anos), 11,6% em 1960 e 112,5% em 2002!

Registra trechos da reportagem na parte intitulada ”A tribo dos meninos perdidos”:

...nas últimas quatro décadas, ao mesmo tempo em que cresceu a participação dos adolescentes no crime, aumentaram também o grau de escolaridade e a inserção desses jovens infratores no mercado de trabalho. O resultado chama a atenção por contrariar uma das crenças mais difundidas no que se refere ao problema da criminalidade entre os jovens: a de que mais empregos e maior escolaridade, por si sós, seriam capazes de diminuir as taxas de violência...O dado indica que a escola pública tem sido incapaz de reter os jovens...

Quando eles abandonam as aulas, as chances de conseguirem se qualificar para bons empregos fica ainda mais remota. Diante de trabalhos e remuneração ruins, percebem que o mundo do crime oferece uma possibilidade de ganho maior e mais rápido...” (depoimento da psicóloga Marina Bazon).

            Mais adiante, diz num trecho o sociólogo Michel Misse:

Especialmente nos crimes contra o patrimônio, o roubo não se dá pela fome ou pela privação absoluta. O menino não assalta porque não tem um sapato, mas sim porque deseja ter um tênis de grife.

Srªs e Srs. Senadores, citei pequenos trechos da excelente reportagem que, elaborada por jornalistas e especialistas da maior qualificação, a Veja ofereceu ao País. O trabalho representa uma contribuição muito importante para os debates que aqui manteremos sobre a criminalidade no Brasil. Deve merecer toda a nossa atenção. Dela podemos extrair dados e conclusões que o Legislativo busca para, ao menos na competência que nos toca, fixarmos diretrizes e condições legais geradoras dos instrumentos que alavanquem as ações preventivas e repressivas que a opinião pública aguarda sejam urgentemente acionadas pelo Poder Executivo.

Era o que eu tinha a dizer.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2007 - Página 4750