Discurso durante a 21ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lamenta mortes de Tatiana Memória, responsável pela implantação dos CIEP's no Governo Brizola no Rio de Janeiro, e, de Jean Baudrillard, filósofo francês.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Lamenta mortes de Tatiana Memória, responsável pela implantação dos CIEP's no Governo Brizola no Rio de Janeiro, e, de Jean Baudrillard, filósofo francês.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/2007 - Página 4366
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MULHER, AUXILIO, DARCY RIBEIRO, SENADOR, RESPONSAVEL, IMPLANTAÇÃO, ESCOLA PUBLICA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DIREÇÃO, FUNDAÇÃO, HOMENAGEM, CONGRESSISTA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, INTELECTUAL, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, ELOGIO, TRABALHO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Romeu Tuma, Srªs e Srs. Senadores, na verdade, são duas comunicações inadiáveis e, ao mesmo tempo, duas homenagens.

Com uma diferença de poucas horas, faleceram duas personalidades que, a meu ver, merecem um reconhecimento de nossa parte. A primeira pessoa chama-se Tatiana Memória. Tatiana Memória é um nome que talvez não faça parte do imaginário de muitos aqui, mas é a pessoa, Sr. Presidente Romeu Tuma, que conduziu o processo de implantação dos Cieps, durante o Governo Brizola, no Estado do Rio de Janeiro, esse exemplo de escola que já deveríamos ter seguido no Brasil inteiro. Tatiana Memória foi a mulher que acompanhou Darcy Ribeiro ao longo de praticamente toda a sua vida profissional e que, nos últimos anos, esteve dirigindo a Fundação Darcy Ribeiro. Juntou, em uma só casa, os livros, os quadros e os móveis do Darcy - que, como sabem, não teve herdeiros familiares - e montou, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, uma fundação que se dedica a manter viva a lembrança e a obra de Darcy Ribeiro.

Na última vez que estive com ela nessa Fundação, ela estava trabalhando com um balão de oxigênio, trabalhava com esses tubinhos nas narinas, que lhe permitiam respirar, porque os seus pulmões já não a permitiam respirar.

Tatiana, cujo sobrenome é Memória, vai continuar viva, assim como também o nome de Darcy.

A segunda pessoa, Senador Romeu Tuma, é estrangeira. É um homem chamado Jean Baudrillard, um filósofo francês cuja obra, por incrível que pareça, tem tudo a ver conosco. Convivi com ele nos últimos cinco anos, em um evento patrocinado pelo Professor Candido Mendes, que, uma vez a cada ano, reúne um grupo de pessoas da Europa, da América Latina e dos Países Árabes - nesse ponto, a V. Exª interessa, como descendente - para discutir uma ponte entre a latinidade e o Islã.

Tenho o privilégio de fazer parte desse grupo e de ter convivido com Jean Baudrillard nessas reuniões. Lembro-me da última vez que nos vimos, no Aeroporto Internacional de Baku, no Azerbaijão. Quando nos despedíamos, ele, já com câncer avançado, riu quando eu disse que o meu trabalho no Senado era uma prova das suas teorias. A grande teoria de Baudrillard é de que o mundo moderno é um simulacro e não uma realidade; que tudo o que contamos como existindo é aquilo que vemos nas televisões; que a realidade é a imitação das notícias e não o contrário. Ele trabalhou com essa teoria, Senador Tião Viana, ao longo dos últimos anos e conseguiu espalhá-la pelo mundo. Eu lhe disse, naquele momento, que a sensação que eu tinha, como Senador, era que de fato era parte de um simulacro, porque não víamos com muita concretude o resultado dos nossos trabalhos. A maior parte do que fazemos é aquilo que aparece na televisão e não aquilo que aparece no mundo real. Ele tem belos livros mostrando que a realidade é um simulacro.

Para nós, falemos com franqueza, o que é a violência? É aquela que aparece na televisão. A violência que sofre um analfabeto é como se não existisse, porque aparece na televisão apenas outras formas de violência.

O que é a fome hoje no mundo, sobretudo nos outros países, a não ser um simulacro da realidade que já não nos sensibiliza, porque a banalidade tomou conta da maneira como sentimos o que acontece, porque achamos que não acontece, é apenas uma ilusão.

Vejam as guerras. As guerras viraram um grande show pela televisão. Já não sofremos com as mortes porque temos a sensação de que é um filme de ficção e não uma realidade.

Deixo aqui, portanto, a homenagem a estas duas grandes figuras: uma, porque tem tudo a ver conosco, já que cuidou de Darcy Ribeiro; o outro, também tem tudo a ver conosco, já que trabalhamos hoje em um grande simulacro da realidade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/2007 - Página 4366