Discurso durante a 35ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao projeto de construção da sede do TSE, que custará aos cofres públicos cerca de 335 milhões de reais.(como Líder)

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
JUDICIARIO.:
  • Críticas ao projeto de construção da sede do TSE, que custará aos cofres públicos cerca de 335 milhões de reais.(como Líder)
Aparteantes
Mão Santa, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 27/03/2007 - Página 6654
Assunto
Outros > JUDICIARIO.
Indexação
  • CRITICA, PREÇO, CONSTRUÇÃO, SEDE, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), PROJETO, AUTORIA, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, PEDIDO, MARCO AURELIO, MINISTRO, IMPEDIMENTO, REALIZAÇÃO, OBRAS, PREVENÇÃO, AUMENTO, GASTOS PUBLICOS.

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, ninguém mais do que eu tem prestigiado os tribunais superiores do Brasil. Não digo a Justiça, porque, infelizmente, em vários Estados do País, essa continua a agir, muitas vezes propositadamente, com improbidade.

            Já fiz depoimento, inclusive, sobre o Conselho Nacional de Justiça, que trabalha, mas é lento. Temos de dar-lhe mais força, para que produza mais. Ele não produz. Era esperança do povo brasileiro que o Conselho de Justiça viesse consertar muitos dos erros dos tribunais do País. Sempre fiz ressalva em relação aos tribunais superiores.

            Hoje, Sr. Presidente, venho a esta tribuna, baseado no que li ontem e que considero um escândalo sem limite. Muitas vezes, somos aqui atingidos por membros de tribunal superior. Alguns respondem, outras vezes não convém responder.

            Mas o Tribunal Superior Eleitoral não tem o direito de afrontar o País com uma sede em que gastará R$335 milhões. Vejam o escândalo que é essa sede! Um belo monumento de Niemeyer, muito bem! Mas muito caro para uma Justiça precária como a brasileira.

            O Ministro Marco Aurélio Mello, homem de bem e sério, disse que já encontrou em curso esse projeto, mas S. Exª deveria paralisá-lo, até para ser coerente com as críticas que algumas vezes tem feito ao Legislativo, muitas delas até com razão. Mas declarar que essa sede é para as diplomações de Presidente, ocasião em que comparecem muitas autoridades, que não têm lugar para ficar?! É inacreditável! A diplomação do Presidente é um ato de rotina na vida eleitoral do País; a sua posse, isso sim, é no Congresso Nacional.

            E cheira também - perdoem-me - a marmelada a firma vencedora chegar bem pertinho dos R$330 milhões pedidos no edital. A outra chega um pouquinho mais. Mas se faz um consórcio. Estou à vontade porque, nesse consórcio vencedor, está a OAS, tão citada aqui, há algum tempo, contra mim. Hoje, ela realmente é a menina dos olhos de todo o PT brasileiro. Vejam a gravidade.

            Sr. Presidente, se isso fosse feito no Legislativo, seria tido como escândalo nacional para paralisar as nossas atividades. O Globo mostra que é mais caro que a sede do STJ e do Tribunal Superior do Trabalho.

            O STJ tem 33 Ministros. Devo dizer que, nem nos Estados Unidos, encontrei prédio semelhante à grandeza da sede do STJ. Para se andar ali, devia haver até um automóvel interno, tão grande e tão belo é seu salão.

            Aqui diz que o TST tem 19, mas são 27 Ministros. Isso é inacreditável! E custou mais caro e custa mais caro o metro quadrado do Tribunal Superior Eleitoral.

            Sr. Presidente, apelo ao Senador Pedro Simon. O Senador Pedro Simon é sempre o homem que vê essas coisas e tem coragem de fazer afirmações.

            Veja, Sr. Presidente, isso não pode continuar. O Ministro Marco Aurélio e seus seis companheiros do Tribunal Superior Eleitoral merecem o meu respeito. Todos eles. Mas esse absurdo dessa sede de R$335 milhões não pode contar com o apoio de ninguém. É muito justo que o Governo, nesse assunto, faça também o contingenciamento dessa verba. É injusto o contingenciamento para a saúde; é injusto o contingenciamento para a educação. No entanto, para uma obra faraônica deve haver contingenciamento.

            Perdoe-me o Ministro Marco Aurélio - renovo meu apreço por ele - mas não posso aceitar que ele, na Presidência do Tribunal Superior Eleitoral, faça um monumento digno de faraós, ele que é tão simples, tão digno e tão correto.

            Concedo um aparte ao Senador Pedro Simon; depois, concederei um aparte ao Senador Mão Santa.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Eu também tinha um recorte, que deve ser igual ao de V. Exª, e pensava ocupar a tribuna. E V. Exª, como sempre, em assuntos importantes, tem a visão de tratá-lo de imediato. Eu também me surpreendi, até porque, da maneira como foi colocada a matéria, dá a entender uma certa vaidade de que esse vai ser o mais bonito de todos. O maior e o mais bonito. Se repararmos, ainda não foi feito no mundo, mas se fizerem um levantamento dos tribunais superiores, não sei se há algum país que ganhe de nós. Não sei.

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - V. Exª tem a mais absoluta razão.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Se fizerem um levantamento do que foi gasto em obras de tribunais superiores, não sei se existe algum país que ganhe de nós. Vejo coisas, por exemplo: o prédio da Procuradoria-Geral era um prédio antigo sim, mas, em uma cidade como Brasília, o que é antigo? E está lá um belo, um enorme prédio; fizeram um prédio espetacular. Aí veio o Tribunal Superior de Justiça e quis fazer um mais bonito. Daí veio o Tribunal de Contas e fez outro mais bonito. E agora vem o Tribunal Superior Eleitoral. Acho o Ministro Marco Aurélio uma pessoa sensacional, pela sua autoridade, sua competência, pela coragem dele de se manifestar.

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Verdade!

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Também, como V. Exª, tenho profunda admiração por ele. Mas ele está fechando o cerco, porque era o último tribunal superior que faltava. Agora, ele fecha. E nós podemos colocá-lo como ponto turístico de Brasília - claro que eles vão nos responder: e também o Congresso Nacional. E também o Congresso Nacional, mas pelo menos foi uma vez só, só há um Congresso Nacional, não dez, e Câmara e Senado estão no mesmo prédio. Olhem que será um ponto turístico a ser visitado por quem vem ao Brasil, assim como o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior Eleitoral, o Superior Tribunal Militar - uma belíssima sede! Eu não sei, sinceramente, eu não sei. Fico a me perguntar, porque eu sempre tive muito respeito,...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) -... até porque, no meu Estado, no Rio Grande do Sul, no Judiciário, temos uma tradição de credibilidade, porque, modéstia à parte, são pessoas de seriedade. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul impõe respeito ao Brasil. Fico a me perguntar sobre essa discussão que está havendo em torno de qual é o prédio mais bonito e em torno de quem ganha o salário mais alto, numa hora em que estamos vivendo uma crise dolorosa e cruel! É uma crise de ética, de moral, de dignidade, de seriedade! Na hora em que estamos ganhando aqui líquidos R$8 mil - alguns querem ganhar R$20 mil e outros querem ficar nos R$8 mil -, outros já estão com R$25 mil ou R$ 24 mil ou não sei o quê. Eu não sei. Sinceramente, acho que está faltando alguma coisa que nos leve - nós, Parlamentares - e, infelizmente, também os Ministros para o chão, a fim de olharmos para trás e vermos o povão que está atrás de nós. Por exemplo, sou contra: agora, falam em fazer um novo anexo do Senado Federal. Para que novo anexo do Senado Federal? Para quê? Para fazer o quê? Anos atrás, pedi autorização para fazer uma capelinha em um canto. A resposta que eu recebi: “Fique tranqüilo. V. Exª vai ter um local especial no novo anexo que vai ser construído”. Eu mandei um ofício respondendo: “Muito obrigado, não quero”. Se é para a minha capelinha, retiro. E ela foi construída aqui no cantinho, na escada, e está muito bonita, embora pequena, 4m2. Isso apenas para dizer que nós tomamos essa decisão conosco e com os outros. Quanto àquela manchete de jornal, alguns Ministros devem ter visto até com um pouquinho de vaidade, mas outros e eu vimos com mágoa e ressentimento. O jornal traz uma fotografia dos prédios: o que era mais bonito, o preço, os metros quadrados, mostrando que realmente... Se o senhor reparar em Brasília, o que temos de obra nova? O Governo do Distrito Federal fez aquele bolão redondo que parece ser museu ou coisa que o valha, ou biblioteca. Não me lembro de mais nada exceto os tribunais superiores. A OAB fez uma sede. Quanto a obras públicas, só temos os tribunais superiores: todos novos, um mais espetacular do que o outro. Não fica bem. Ficaria muito bacana que o Ministro Marco Aurélio não digo suspendesse, não digo anulasse, mas transferisse, deixasse para mais adiante, decidisse construí-lo daqui a dois anos. Meus cumprimentos a V. Exª.

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Agradeço a V. Exª. Quando o chamei ao debate, eu o fiz porque conhecia seu pensamento, que quase sempre coincide com o meu, em defesa do interesse público. V. Exª se coloca muito bem, e afirmo desta tribuna que não há Tribunal Superior Eleitoral no mundo que possa se parecer com este, que é do Oscar Niemeyer, mas que é um absurdo num país como o Brasil, vivendo os problemas educacionais e os de saúde que estamos atravessando.

            Senador Mão Santa.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Antonio Carlos Magalhães, quanto ao Marco Aurélio, penso que todo o Brasil é encantado com a sua postura. Não sei a origem, de quem foi a inspiração desse projeto, mas quero passar um testemunho, pois estamos aqui para ser pais da Pátria - só tem esse sentido. V. Exª é orgulhoso de Rui Barbosa, e eu sou de Evandro Lins e Silva. Evandro Lins e Silva nasceu na Ilha de Santa Isabel. Quando Governador do Estado do Piauí, criei uma faculdade de Direito na minha cidade e fui convidado pelos estudantes para ser o paraninfo. Não aceitei, dizendo que paraninfo é uma pessoa muito mais importante. Convidei Evandro Lins e Silva, que já estava velhinho, como Rui Barbosa, que, quando estava velhinho, foi convidado para ser paraninfo e fez a Oração aos Moços. Foi difícil, mas eu o motivei, porque era na cidade dele e era a primeira turma. Ele aceitou. Senador Antonio Carlos, eu disse que faria publicar um livro com a cooperação do jornalista Zózimo Tavares, semelhante à Oração aos Moços. Depois, vou-lhe oferecer. Mas ele esteve na minha casa simples, de praia, comigo e a Adalgisa. Hospedando-o, nunca esqueço quando ele recordava que foi Ministro do Supremo Tribunal Federal. Disse-me: “Governador Mão Santa, era uma mesinha de madeira, e eu resolvia os problemas”. Eu vi Miguel Arraes agradecer a passagem e a força daquele homem que o tirou da ilha de Fernando de Noronha. Ele me contou isso e dizia que o poder do juiz é uma autoridade; é um poder moral. Embora Aristóteles tenha dito que a coroa da Justiça esteja mais alta do que a dos santos e brilhe mais do que o rei, eu acho que o brilho da Justiça não está no prédio. Está, como disse Evandro Lins e Silva, no valor moral de cada juiz.

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - V. Exª tem absoluta razão. Nós, que acompanhamos a Justiça há tanto tempo - o Supremo principalmente -, não podemos deixar de sempre louvar figuras como Prado Kelly, Evandro Lins e Silva, Hahnemann Guimarães, Victor Nunes Leal, o grande homem das súmulas do Supremo.

            Ora, Srs. Senadores, mais do que nunca, para defender a ética e a correção do gasto público, temos de fazer justiça, condenando aquilo que merece ser condenado, como é o caso desse Tribunal Superior Eleitoral, e aplaudindo os atos dos tribunais quando atendem ao interesse público e aos interesses da Nação.

            É isto que faço neste instante, um apelo ao Ministro Marco Aurélio: Ministro, reveja essa situação; cresça ainda mais aos olhos do País, pela sua figura de jurista e, sobretudo, de um grande homem público.

            Muito obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/03/2007 - Página 6654