Discurso durante a 36ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à Campanha da Fraternidade de 2007, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, intitulada Fraternidade e Amazônia, com o lema - Vida e Missão neste Chão.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. POLITICA SOCIAL.:
  • Homenagem à Campanha da Fraternidade de 2007, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, intitulada Fraternidade e Amazônia, com o lema - Vida e Missão neste Chão.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2007 - Página 6752
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • IMPORTANCIA, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), DEFESA, PRESERVAÇÃO, FLORESTA AMAZONICA.
  • CONGRATULAÇÕES, NOMEAÇÃO, ARCEBISPO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • LEITURA, TEXTO, ESCRITOR, REFERENCIA, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, NOCIVIDADE, EFEITO, MODELO ECONOMICO, VIGENCIA, MUNDO, RISCOS, DESTRUIÇÃO, NATUREZA, PLANETA TERRA, NECESSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, IMPORTANCIA, COLABORAÇÃO, SOLIDARIEDADE, VIDA HUMANA, ALTERAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, OBJETIVO, FAVORECIMENTO, IGUALDADE, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, RELEVANCIA, PROGRAMA, RENDA MINIMA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Senador Antonio Carlos Valadares; Cônego José Carlos Dias Toffoli, que coordena a Campanha da Fraternidade, quero aqui transmitir que quando Dom Odilo Pedro Scherer nos encaminhou o seu texto sobre a Campanha da Fraternidade, fiz questão de lê-lo aqui, na íntegra, apoiando o sentido tão importante de colaborarmos, para termos maior consciência sobre a Amazônia, o que acontece com seus povos, as suas riquezas, tanto do ponto de vista da natureza - os seus animais, as suas florestas, os seus rios, as suas águas - como, sobretudo, do ser humano e daquilo que é importante para todos nós, brasileiros, e para a humanidade: que estejamos atentos ao desenvolvimento o mais harmonioso possível da Amazônia, seguindo as lições das pessoas que nos ensinaram tanto, como Chico Mendes e como a irmã Dorothy Stang, que deram a sua vida à causa da harmonia, da solidariedade, da fraternidade, da utilização da riqueza da Amazônia de uma maneira a mais adequada possível.

Gostaria de também aproveitar esta oportunidade para cumprimentar Dom Odilo Pedro Scherer por ter sido designado pelo Papa Bento XVI para exercer uma função tão importante, que é a de cardeal arcebispo de São Paulo, seguindo os passos de Dom Cláudio Hummes, de Dom Evaristo Arns, querido tio do nosso Senador Flávio Arns, e de tantos que exerceram essa função, sempre desempenhando um papel extraordinário, e eu, que tantas vezes tenho estado presente na Catedral da Sé e em outros momentos em que o cardeal arcebispo usa da sua palavra para conversar com o povo, sou testemunha de quanto a palavra de todos aqueles que exerceram esta função - ultimamente D. Cláudio Hummes - sempre tiveram uma repercussão tão positiva para os objetivos maiores de democracia, de liberdade, de respeito a todos os brasileiros e, sobretudo, aos mais excluídos.

            E gostaria, nesta tarde em que lembramos da Campanha da Fraternidade, de aqui ler algumas palavras de Leonardo Boff que, ainda há poucos dias, em “Ou Mudamos ou Morremos”, um texto tão significativo relacionado à Campanha da Fraternidade, expressou alguns pensamentos com os quais tenho muita afinidade e por isso gostaria de aqui registrá-las.

Hoje vivemos uma crise dos fundamentos de nossa convivência pessoal, nacional e mundial. Se olharmos a Terra como um todo, percebemos que quase nada funciona a contento. A Terra está doente e muito doente. E como somos, enquanto humanos também Terra (homem vem de húmus=terra fértil), nos sentimos todos, de certa forma, doentes. A percepção que temos é de que não podemos continuar nesse caminho, pois nos levará a um abismo. Fomos tão insensatos nas últimas gerações que construímos o principio de autodestruição. Não é fantasia hollywoodiana.

Temos condições de destruir várias vezes a biosfera e impossibilitar o projeto planetário humano. Desta vez não haverá uma arca de Noé que salve a alguns e deixa perecer os demais. O destino da Terra e da humanidade coincidem: ou nos salvamos juntos, ou sucumbimos juntos.

Agora viramos todos filósofos, pois nos perguntamos entre estarrecidos e perplexos: como chegamos a isso?

Como vamos sair desse impasse global? Que colaboração posso dar como pessoa individual?

Em primeiro lugar, há de se entender o eixo estruturador de nossas sociedades hoje mundializadas, principal responsável por esse curso perigoso. É o tipo de economia que inventamos. A economia é fundamental, pois ela é responsável pela produção e reprodução de nossa vida. O tipo de economia vigente se monta sobre a troca competitiva. Tudo na sociedade e na economia se concentra na troca. A troca aqui é qualificada, é competitiva. Só o mais forte triunfa. Os outros ou se agregam como sócios subalternos, ou desaparecem. O resultado desta lógica da competição de todos com todos é duplo: de um lado, uma acumulação fantástica de benefícios em poucos grupos e de outro uma exclusão fantástica da maioria das pessoas, dos grupos e das nações.

A não ser, prezado Cônego José Carlos Dias Toffoli, que nós, de alguma maneira, possamos nos beneficiar deste crescimento, desta riqueza que existe em nosso País. E que ajudados por campanhas como a da Fraternidade nos conscientizemos de que, mesmo quando existe o funcionamento do sistema de mercado que, conforme disse o Prêmio Nobel de Economia, Amartya Sem, é algo que funciona e se dizer contra o mercado seria se dizer contra o encontro das pessoas que conversam sobre os mais diversos temas. As conversas, às vezes, podem ser voltadas para o mal, mas, normalmente, as conversas, o encontro das pessoas, é algo muito importante, e, mais, ainda, quando possamos tomar consciência de que é perfeitamente possível instituirmos instrumentos de política econômica que venham a contribuir para a construção de uma sociedade civilizada e justa. Então, seja com os instrumentos que possibilitem a todas as crianças e os jovens do nosso País ter a necessária boa educação, com a melhor qualidade possível; que possamos estender assistência e saúde pública a todos os povos no Brasil; que possamos estimular o microcrédito, o crédito para os agricultores e familiares; que possamos estimular a forma cooperativa de produção nos mais diversos segmentos da sociedade; que possamos avançar e aperfeiçoar programas sociais, como o Programa Bolsa Família, no sentido até mais avançado; que possamos assegurar a superação dos problemas ali gerados, como, por vezes, a dependência ou problemas relativos ao estigma da burocracia envolvida.

Ainda nos jornais de ontem e hoje, há uma série de problemas constatados que poderiam ser resolvidos se nós pudermos chegar mais brevemente naquilo que já é, inclusive, objeto de lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República, qual seja a instituição de uma renda básica de cidadania como um direito inalienável de toda e qualquer pessoa, não importa a sua origem, raça, sexo e idade, condição de civil ou mesmo sócio-econômica, de partilhar da riqueza do Brasil, da riqueza do Brasil, da riqueza da Nação, da riqueza da Amazônia. Toda e qualquer pessoa, ali, no mais longínquo ponto do Estado do nosso Líder do PSDB, Arthur Virgílio, que também é de Manaus, toda e qualquer pessoa, por mais longínqua que esteja, ali, no meio da floresta, passaria a ter esse direito, sem qualquer burocracia, de uma maneira simples.

Então, eu gostaria também de dizer que esta proposição tem muito a ver com aquilo que está na parte mais conclusiva desse texto de Leonardo Boff, cujos trechos vou continuar a ler:

         Ou mudamos ou morremos, essa é a alternativa. Onde buscar o princípio articulador de uma outra sociabilidade, de um novo sonho para frente? Em momentos de crise total precisamos consultar a fonte originária de tudo, a natureza. O que ela nos ensina? Ela nos ensina, foi o que a ciência já há um século identificou...

            Na verdade, neste domingo, visitei a exposição tão bonita de Leonardo da Vinci, na Oca, em São Paulo, no Parque Ibirapuera. Leonardo da Vinci tinha uma grande percepção, desde menino, da qualidade da natureza. E ele foi observando o que havia da natureza tão especial. Com base nisso, ele foi realizando as suas inúmeras descobertas. Além disso, tornou-se um pintor fantástico, um escritor e uma pessoa que deu uma contribuição formidável para o progresso da humanidade.

(Interrupção do som.)

Tendo tudo muito a ver com isso, que também nos fala Leonardo Boff: “Que a natureza nos ensina? Foi o que a ciência já há um século identificou, que a lei básica do universo não é a competição que divide e exclui, mas a cooperação que soma e inclui.

Todas as energias, todos os elementos, todos os seres vivos, desde as bactérias e vírus até os seres mais complexos, somos inter-retro-relacionados e, por isso, interdependentes. Uma teia de conexões nos envolve por todos os lados, fazendo-nos seres cooperativos e solidários, quer queiramos ou não, pois essa é a lei do universo. Por causa dessa teia chegamos até aqui e poderemos ter futuro.

Então, é preciso ter consciência disso.

Ele cita, por exemplo, o livro de Maurício Abdalla, O Princípio da Cooperação, que mostra que isso também é racional.

Se não fizermos essa conversão, preparemo-nos para o pior. Urge começar com as revoluções moleculares. Comecemos por nós mesmos, sendo seres cooperativos, solidários, compassivos, simplesmente humanos. Com isso, definimos a direção certa.

Não há esperança e vida para nós, para a Terra e para a Amazônia se não tivermos essa consciência de cooperação, de fraternidade.

Portanto, meus cumprimentos à CNBB por estar promovendo esta Campanha da Fraternidade, que merece o apoio de todos nós, sobretudo no Senado e no Congresso Nacional.

Muito obrigado. (Palmas.)

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2007 - Página 6752