Discurso durante a 37ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 85 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil - PC do B.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 85 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil - PC do B.
Aparteantes
Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2007 - Página 7342
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, DEPUTADOS, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), HOMENAGEM, HISTORIA, POLITICA PARTIDARIA, DEFESA, DEMOCRACIA, BRASIL.
  • DETALHAMENTO, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), EMPENHO, PARTICIPAÇÃO, GRUPO, PROTESTO, DITADURA, REGIME MILITAR, RELEVANCIA, OPINIÃO, POLITICA PARTIDARIA, FAVORECIMENTO, IMPLANTAÇÃO, DEMOCRACIA, BRASIL.
  • HISTORIA, CRIAÇÃO, MINISTERIO DA DEFESA, DEBATE, DECISÃO, GOVERNO, CONCESSÃO, ANISTIA, COMUNISTA.
  • REGISTRO, RESPEITO, ORADOR, DOUTRINA, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), EXPECTATIVA, POLITICA PARTIDARIA, MANUTENÇÃO, EFICACIA, ATUAÇÃO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srªs e Srs. Deputados, saúdo de maneira especial os Deputados do PCdoB, a começar pela Deputada Vanessa Grazziotin, do meu Estado, a Deputada Manuela d’Ávila, do Rio Grande do Sul, o meu prezado amigo Renildo Calheiros e o Deputado Eron Bezerra, do meu Estado. Evidentemente, devo também me reportar a essa liderança maior do Partido que é Renato Rabelo, sem deixar de lembrar outra figura por mim muito prezada, homem público do melhor calibre, o ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Aldo Rebelo.

Senador Inácio Arruda, é com muito orgulho que cumpro, prazerosamente, o que para mim é um dever: homenagear o seu Partido, por ligá-lo a diversos momentos essenciais na luta por democracia no Brasil.

Podemos remontar à pressão popular para que o Brasil entrasse na guerra contra o eixo nazifascista.

Poderíamos nos recordar da resistência à ditadura varguista, antes, e à ditadura de 64, durante toda a sua duração, desembocando na belíssima luta pelas eleições diretas.

Era muito fácil um partido de oposição, àquela altura, entrar na campanha pelas diretas, mas há um fato histórico que deve aqui ser relembrado. Alguns setores que se supunham de esquerda, à época, sectarizaram suas posições e criaram um grupo denominado Só Diretas. Maioria eles, Maluf teria sido Presidente da República e não Tancredo e, depois, Sarney. Portanto, atraso no processo de transição democrática. A História, claramente, condena aquela posição, sem deixar de absolver aqueles companheiros tão idealistas.

Mas o PCdoB, visto por tantos como entidade de posições radicais, provou, naquele momento, que havia uma diferença muito essencial entre ser radical e procurar, na sua visão de mundo, que não é a minha, a solução para os problemas sem ser sectário. O sectário não precisa ser radical; o radical poderá ou não ser sectário. Ele não será um radical efetivo se for sectário e ele, se for sectário, jamais conseguirá ser radical.

Portanto, naquele momento, a posição do PCdoB, junto com a posição do PCB e com a posição, inclusive, do MR-8, Movimento Revolucionário 8 de Outubro, a favor da ida ao Colégio Eleitoral para destronarmos o regime autoritário, principiando, a partir daí, a transição democrática, foi essencial. E o Presidente José Sarney protagonizou um momento muito bonito em pleno processo de abertura política, Presidente Renan Calheiros: a audiência que abriu aos dirigentes dos partidos clandestinos. Lá estavam o inesquecível João Amazonas, o valoroso Giocondo Dias e a direção do MR-8. Isso era algo até então impensável, Deputado Jamil, absolutamente inimaginável por quem que estava saindo dos traumas de um regime ditatorial. Todo regime ditatorial causa traumas.

Vivemos momentos que foram absolutamente brilhantes e instigantes na vida pública brasileira. Eu próprio, no Governo anterior, fui Líder e Ministro, tendo tido a oposição sempre honrosa do PCdoB. Creio muito na figura do pluralismo. Não acredito na idéia monocórdia de que todos devem pensar a mesma coisa. Mas também vivemos momentos muito interessantes.

Em algum instante, apareceu à nossa frente a possibilidade de se fazer o Ministério da Defesa. Deputada Manuela, eu julgava que envelheceria, morreria e não veria o Ministério da Defesa no País. Sou da geração que estava acostumada mais com as trevas do que com a luz. E o Ministério da Defesa veio com plena aceitação por militares, que haviam mostrado enorme capacidade, Deputada Perpétua Almeida, de se reciclar.

Depois, outro momento com que se defrontou o então Presidente Fernando Henrique: anistiar ou não Carlos Lamarca, já que havia uma determinação muito clara de anistiar Carlos Marighela? Certa vez, eu estava conversando, no plenário da Câmara, com o Deputado Hélio Bicudo, que me perguntou: “Por que esse recuo? Por que vocês não propõem logo anistia ao Marighela, pelo menos, já que está difícil ao Lamarca?”. Respondi a ele, pedindo uma confidencialidade que ele guardou até este momento. Eu disse: “Bicudo, se anistiarmos o Marighela agora, nunca mais anistiaremos o Lamarca. É fundamental que as condições sejam construídas para os dois irem juntos. Ou vão os dois, ou teremos percalços”. Já lá se vão muitos anos, e acabamos com pouquíssimo trauma nos militares da ativa e alguma reclamação dos militares da reserva, vendo se transformar em realidade o congraçamento último que seria se dizer: “Olha, a família Lamarca merece esse ressarcimento”, sem que as pessoas tenham de dar pinotes histéricos. Se alguém perguntasse se julgo que aquela era a via mais correta para restabelecer a democracia no Brasil, eu diria que não. Não foi aquele o caminho que eu trilhei. Se eu julgasse, procuraria trilhar aquele caminho. Agora, o Brasil precisaria mesmo se reencontrar com esse perdão que a anistia traria em si.

E depois vi mais. Vejo, na caminhada do PCdoB, algo admirável, pela persistência com que luta pelos seus ideais. Mantém o nome, faz suas reciclagens, mas, sobretudo, em 85 anos de vida, acumulou muita história. Muitos artistas, muitos poetas, muitos historiadores, muitos dramaturgos, muitos homens do povo, muitos líderes operários, muitos intelectuais. O PCdoB merece de mim imenso respeito. E devo frisar: sobretudo, respeito e muita ternura pessoal pela figura de João Amazonas. No meu Estado, somos adversários. Tenho, por outro lado, relação no mínimo correta com todos os dirigentes do Partido e uma relação muito fraterna com a Deputada Vanessa Grazziotin e com o Deputado Eron Bezerra, que sempre chamo de o meu neoliberal preferido.

Eu não poderia, portanto, abrir mão de participar desta sessão, de dar este testemunho e, em vez de delegar a outro Senador, dizer que esta é uma tarefa para mim, até pelas afinidades de lutas passadas e pelo congraçamento em relação a algumas lutas que, tenho certeza, poderão ser travadas no futuro, porque não há hipótese, eu imagino, de estarmos separados, nós que temos tantas diferenças no econômico e na visão administrativa, mas não deixaríamos de estar juntos, Senador Tião Viana, e já concedo aparte a V. Exª, se porventura acontecesse aquilo que não acontecerá. Se alguma nuvem ditatorial pairasse sobre o País, tenho certeza absoluta de que nos reuniríamos outra vez. E tudo que eu quero é que não nos reunamos conjunturalmente -- numa eleição ou noutra, quem sabe -- porque nada mais drástico, nada mais lamentável do que a ditadura ter obrigado os desiguais a ficarem juntos, porque a ditadura obriga os desiguais a ficarem juntos, e o bom da democracia é podermos dizer aos desiguais que cada um pode trilhar o seu caminho, com a divergência, engrandecendo inclusive o respeito mútuo. Nós não temos de voltar àquele maniqueísmo em que era o sim e o não, e nós tínhamos de dizer não e a ditadura dizia sim. A ditadura nos obrigava, todos, a ficarmos enfurnados numa frente muito honrosa, a frente do MDB, que deu todos os seus frutos e cumpriu todos os seus deveres para com o País.

Concedo o aparte ao Senador Tião Viana.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Caro Senador Arthur Virgílio, é uma alegria muito grande ouvir o testemunho de V. Exª, que é um democrata em seu sentido pleno e amplo, quando expressa aqui uma trajetória de relação entre sua vida política e os acontecimentos que acompanharam a atividade do PcdoB também em nosso País, numa época muito marcante para todos nós que sonhamos com a democracia, com um Brasil justo, com a sociedade diferente. E como V. Exª diz, há diferenças, mas as responsabilidades com a democracia são muito semelhantes entre o partido de V. Exª, o meu, o PCdoB. Conseguimos criar uma relação sólida, uma coalizão verdadeira e virtuosa dentro do Estado do Acre com o PCdoB, com partidos democráticos. Estendemos o arco de aliança até em diferentes concepções programáticas, mas o eixo da governabilidade sempre preservou a responsabilidade com a política socioeconômica voltada a uma visão de justiça social, de organização partidária para servir à população. Penso que a grande lição que alcançamos e construímos ao longo dos anos com a companheira Perpétua e com Edvaldo Magalhães, dirigentes no meu Estado do PCdoB, foi esta: preservar uma identidade com as responsabilidades, com os interesses maiores da população, especialmente a população excluída. O Acre criou uma identidade e uma visão de desenvolvimento própria hoje dentro de um universo de desafios que tem o Brasil inteiro. Tenho lembranças do que foi a vitalidade dada pelo PCdoB a entidades como a UNE, os sindicatos, as organizações trabalhistas neste País, a capacidade de mobilizar as massas quando tínhamos uma inquietação na redemocratização nos anos 70 e 80. E aquela palavra de ordem que o PCdoB dividia com todos nós: arroz, feijão, saúde, educação, que era o grito pleno pela cidadania, pela participação popular nas decisões das instituições públicas deste País. Trago, também, muita lembrança do movimento estudantil, de toda uma luta. Penso que o desafio que se impõe agora, em seus 85 anos, a um partido maduro, que tem como dirigente Renato Rabelo e quadros como os que estão aqui, é exatamente olharmos para essa capacidade instalada do movimento social e político da democracia brasileira e dar uma vida nova a ela, uma roupagem de tolerância, compreensão e ampliação das responsabilidades. O melhor exemplo que podemos dar é o revigoramento das funções do Parlamento. Eu sei que, com palavras como a de V. Exª e com o que foi dito pelo Senador Inácio Arruda aqui, podemos compreender como a relação Governo-Parlamento poderia ser tão mais profunda, responsável e fazer tanto mais pelo Brasil, se o PCdoB e o PSDB, com as suas dimensões e conteúdos, e o meu Partido, o PT, trilhassem por um ponto, um caminho convergente que nos unisse mais, pelas responsabilidades e virtudes, e nos separasse menos. Este é um momento bonito. Parabéns ao PCdoB pelo que representa para a democracia brasileira e para a história da liberdade no Brasil.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Tião Viana, V. Exª sabe que é recíproca a admiração. Eu tenho de V. Exª exatamente a imagem, até porque dialogamos aqui, no dia-a-dia, da figura tolerante que V. Exª é, sem deixar de ser muito firme na defesa de suas posições.

Quando V. Exª fala do esquema de sustentação política do Governo do Acre que se montou lá e homenageia a Deputada Perpétua, quero deixar bem claro para ela que tenho admiração por S. Exª não apenas pelos saltos cívicos que é capaz de dar, mas também por saber da sua bravura e comprometimento com a causa amazônica.

Vejo, nesta sessão, muito de símbolo. A Senadora Patrícia tem uma história, para trás, com o PCdoB. O Senador Renan Calheiros chegou ao Congresso junto comigo, pensando o mesmo em relação à ditadura; mas eu vim e imediatamente passei a integrar, Deputado Jamil, a fração parlamentar do Partido Comunista Brasileiro, ao qual eu me ligava desde os tempos da Faculdade de Direito, no Rio de Janeiro, e o Senador Renan Calheiros, que preside esta sessão não à toa, pois também tem o pezinho no PCdoB, e por isso faz questão de estar aqui presente. Sei o quanto é importante essa data para todos os que têm essa mesma referência.

E aqui eu revelo aos senhores dois desejos, aliás, um desejo e uma aspiração, Senador Inácio Arruda. Um desejo é que o PCdoB tenha vida longa e possa completar daqui a 85 anos 170; outro desejo é que eu, evidentemente, não como orador, gostaria de estar vivo presenciando a sessão daqui a 85 anos.

            Muito obrigado.

Era o que eu tinha a dizer. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2007 - Página 7342