Discurso durante a 37ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 85 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil - PC do B.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Comemoração dos 85 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil - PC do B.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2007 - Página 7353
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), REGISTRO, HISTORIA, IMPORTANCIA, CONSTRUÇÃO, POLITICA NACIONAL, EXPECTATIVA, AUXILIO, JUVENTUDE, REALIZAÇÃO, REVOLUÇÃO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, permita-me cumprimentar toda a Mesa na pessoa da única mulher que a compõe, a Prefeita de Olinda, quase a minha cidade de Recife.

Eu vim aqui agradecer. Vim agradecer o que o PCdoB representou na minha formação e, eu diria, na formação daqueles de minha geração que se consideram ainda homens e mulheres de esquerda.

Não tenho a menor dúvida de que, sem os debates regulares e sistemáticos lá em Recife, com militantes do PCdoB, com militantes da AP - que ainda não era PCdoB do ponto de vista de sigla, mas sim do ponto de vista de sonhos comuns -, eu não teria evoluído no sentido de entender a lógica de como o processo avança na sociedade, não teria talvez aumentado a indignação que já tinha de formações outras, inclusive católicas e familiares, não teria talvez levado a rigor a militância política que mantenho até hoje. Vim aqui agradecer a vocês.

Mas não vim só agradecer. Vim olhar o futuro. A Senadora Ideli Salvatti falou dos 85 anos. De fato, ser um partido de esquerda por 85 anos no caos - primeiro, partidário brasileiro, em que as legislações mudam a cada instante; no caos político brasileiro, em que golpes de Estado impedem formações políticas; e também no caos ideológico do mundo de hoje - é um mérito muito grande. Mas vocês não têm direito de comemorar os 85 anos sem olhar os próximos 85.

Estão querendo dizer que morreram utopia e revolução. E é capaz de terem morrido na cabeça e no coração da maioria dos militantes de esquerda. A perplexidade e o acomodamento enterram a utopia e a revolução. Não podemos ter o direito de deixar que a perplexidade e o acomodamento nos escondam, nos encabulem, nos silenciem. Poucos grupos políticos vão ter condições de dar o salto além da perplexidade teórica e além do acomodamento político. Vocês fazem parte de um desses grupos.

É claro que, quando falo em sair da perplexidade, não defendo voltar às utopias do passado. Mudou o mundo! Os que escreveram as utopias lá atrás, falando do futuro, certamente as escreveriam diferente. Mudou também aquilo que é a revolução. Aqueles que defendiam que a revolução era a tomada do poder e a estatização dos meios de produção certamente não escreveriam isso hoje, num tempo de globalização, em que fechar as fronteiras é impossível, assim como é impossível, da parte do Estado, decidir o que se quer para a sociedade.

Mas, se morreram aquelas utopias e aquelas formas de fazer revolução, os conceitos revolução e utopia têm que estar vivos. E eu gostaria de ver, daqui a 85 anos, no 170º aniversário do PCdoB, alguém como eu vindo aqui dizer que deve a vocês novos sonhos, novas formas de fazer a revolução de que o povo brasileiro precisa. Gostaria que não viessem no 170º aniversário apenas lembrar o passado. E gostaria que não se dissesse: nos últimos 85 anos, eles não fizeram a atualização do conceito e a radicalização do processo.

Eu vim aqui agradecer e cobrar: vocês têm obrigação de ajudar os jovens brasileiros não apenas a militar, ou ter aparência de militância, mas a romper com a perplexidade e o acomodamento que tomou conta das esquerdas do mundo de hoje.

É possível, sim, sonhar com utopia e com revolução. É possível, sim, ir além daquela juventude do meu tempo, em que a revolução era dada, e a utopia era desenhada antes da gente. É hora não só de fazer, mas de desenhá-las. Vocês têm a obrigação de ajudar o povo brasileiro a sair da perplexidade e do acomodamento em que estamos. E, do mesmo jeito que agradeci ao passado, deixo aqui minha palavra de esperança no futuro que vocês ajudarão a construir. (Palmas.)

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2007 - Página 7353