Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da preservação da Biblioteca Arthur Reis, que funciona mediante comodato em prédios do Instituto de Resseguros do Brasil.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE. POLITICA CULTURAL.:
  • Defesa da preservação da Biblioteca Arthur Reis, que funciona mediante comodato em prédios do Instituto de Resseguros do Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2007 - Página 8807
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE. POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • ANALISE, OBRA LITERARIA, LEITURA, TRECHO, LIVRO, REFERENCIA, REGIÃO AMAZONICA, OBJETIVO, DEMONSTRAÇÃO, IMPORTANCIA, REGIÃO, NECESSIDADE, PRESERVAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, FLORESTA AMAZONICA, RECONHECIMENTO, RIQUEZAS, BRASIL.
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, BIBLIOTECA, MUNICIPIO, MANAUS (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), FUNCIONAMENTO, PREDIO, INSTITUTO DE RESSEGUROS DO BRASIL (IRB), POSSIBILIDADE, DESPEJO, MOTIVO, ENCERRAMENTO, COMODATO, PREJUIZO, USUARIO, ACERVO BIBLIOGRAFICO, REGISTRO, TENTATIVA, ORADOR, NEGOCIAÇÃO, PRORROGAÇÃO, PRAZO DE PERMANENCIA, OBJETIVO, SOLUÇÃO, TRANSFERENCIA, ACERVO, EXPECTATIVA, CONTINUAÇÃO, INSTITUIÇÃO PUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte o discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, havia um tempo em que a Amazônia era apenas uma terra muito distante, mas nem por isso jamais deixou de ser Terra Brasil. É dessa época o diálogo que dois pilotos do veterano Correio Aéreo Nacional - CAN, estabeleceram com um ribeirinho que avistaram numa das margens do rio Negro, na qual havia aterrissado o velho Catalina, então um dos poucos meios de ligação com a minha região.

Um dos pilotos era o coronel-aviador Osires Silva, que, mais tarde, viria a ser o vitorioso criador da Embraer.

Seu companheiro de vôo, também coronel-aviador, elevou o volume da voz e, do meio do rio, perguntou ao amazonense que acompanhava a descida do avião: - “Hei, amigo, é aqui que termina o Brasil?” - “Não! Aqui, amigos, começa o Brasil”, respondeu meu conterrâneo.

Hoje, ao me propor a ler ou reler cinco bons livros sobre a minha região, empresto do ribeirinho aquela frase singela e forte, firme e decidida, para a ela juntar mais algumas palavras: “O Brasil começa, sim, na Amazônia, mas a Amazônia não é só o começo do País. É começo e futuro!”

Começo, sim, de um futuro que haverá de ser radiante para o Brasil - e aí recorro a um dos cinco livros que me dispus a ler ou reler: “A Amazônia, além de última fronteira da civilização e um dos espaços naturais do planeta, conserva-se como um enigma a ser decifrado”, no dizer de Djalma Batista, pesquisador que ousou decifrar essa esfinge, que pode ser lembrado como uma espécie de Euclides da Cunha da região.

Passo a um segundo texto, de outro sólido autor sobre a Amazônia. É de Virgílio Viana, que fala de desenvolvimento sustentável, lembrando que “a Terra é a nossa casa e, para que continue sendo um lugar habitável e propício à continuidade da vida, devemos cuidar de suas florestas, de seus rios, de seus bichos e aprender com seus segredos e encantos”.

Virgílio, o autor, é considerado “escritor de amor inteligente à nossa floresta”, por Thiago de Mello, outro notável homem de letras amazonense, para muitos insuperável. Ele, Thiago, ao ler Virgílio, revela seu próprio temor e sugere que esse texto deveria chegar “à consciência da juventude de minha terra, o Amazonas, ainda tão indiferente à situação delicadíssima da vida da nossa floresta”.

Thiago, autor de outro desses cinco livros, este de poemas em Português e em Inglês, segue atento ao texto de As Florestas e o Desenvolvimento Sustentável na Amazônia, para, não sem espanto, indagar e afirmar a um só tempo:

Tu sabes o que o Virgílio revela? Que estamos desmatando (nós, não, os cobiçosos, os malfeitores, os que só pensam em acumular riquezas, mais de dois milhões de hectares de floresta por ano.

Mais aspas para Thiago de Mello:

Matam âmagos, formigas, antas, crianças, copaíbas e andirobas, matam caminhos e esperanças. Matam o próprio coração da Amazônia!

E aí faz uma advertência:

Acham que a floresta é mato... (...) E mato é mato, como lixo é lixo, para os inimigos da vida.

E conclui, ainda referindo-se ao texto de Virgílio Viana:

(...) Nunca vão saber que floresta queimada degrada a água dos nossos rios, eleva cada dia mais a temperatura do planeta, e a chuva fere com a acidez da sua chegada.

O livro de Virgílio Viana, ele próprio o define, “nasceu de uma inquietude”. E justifica-se, explicando a dimensão de sua particular angústia:

(...) Não podemos assistir passivamente à história florestal da Mata Atlântica se repetir na Amazônia.

(...) E o pior é que isso está acontecendo.

(...) Numa velocidade crescente e alarmante.

(...) Um crime ambiental e uma tragédia social.

(...) Uma burrice nacional e um tiro mortal na nossa utopia de construção de um País mais justo, solidário e vigoroso economicamente.

(...) É também um crime contra a vida do Planeta. São preocupantes as conseqüências dos desmatamentos da Amazônia na destruição do maior patrimônio mundial de recursos hídricos, na biodiversidade étnica e no aquecimento do clima global.

Minhas leituras ou releituras deste momento incluem duas outras obras, voltadas, uma, a aspectos históricos, O Amazonas na época imperial, de Antônio Loureiro; outra, com estudos do processo de desenvolvimento regional, obra que esclarece a crise da borracha: A Crise Amazônica e a Borracha, de J. A. Mendes.

Por último, o quinto, A Floresta vê o Homem, com poemas em que Thiago de Mello estabelece compromissos seus com os dramas e os desafios de seu tempo, cantando, em versos também vertidos para a língua inglesa, a íntima relação do amazônida com a terra, a floresta e as águas, para, ao final, indagar:

(...) Madeira dói?, pergunta quem me vê

os braços verdes, os olhos cheios de asas.

Por mim responde a luz do amanhecer

que recobre de escamas esmaltadas

as águas grandes que me deram raça

e cantam as raízes do meu ser.

(...) Não faz mal que doa

meu bravo coração, de água e madeira.

Os livros são todos da Editora Valer, amazonense, sim, conduzida por Isaac Maciel, com a coordenação editorial de um grande intelectual amazonense, aberto ao Brasil, meu amigo Tenório Telles.

Esse conjunto de obras, para mim, compõe e é uma necessária revisita ao Amazonas, agora pelo texto sábio de amazonólogos que não se cansam de proclamar e exaltar a Amazônia, na tentativa comum, que é da própria Pátria, de preservar aquele pedaço de chão que, um dia, um ribeirinho do rio Negro disse aos dois pilotos do Catalina: “Aqui começa o Brasil”.

Mesmo!

Srª Presidente, por último, comunico à Casa que, em Manaus, funciona, desde 2001, a Biblioteca Arthur Reis, com rico acervo de 25 mil livros, entre eles 3.700 doados por universidades de Portugal, constituindo a Biblioteca Luso-Brasileira.

Pois bem, essa biblioteca, que vem funcionando mediante comodato em prédios do Instituto de Resseguros do Brasil, estaria com os dias contados: o IRB quer de volta o imóvel.

No entanto, há da parte do Presidente do IRB, Dr. Eduardo Hitiro Nakao, o compromisso de levar o problema ao Conselho do órgão, para renovar por mais algum tempo o comodato e, assim, evitar o que seria um duro golpe para os 10 mil usuários que procuram com freqüência aquela Biblioteca.

A cultura de Manaus e do Amazonas não pode prescindir desse espaço cultural. Por isso, procurei o Presidente do IRB para renovar apelo que lhe fizera em correspondência, no mês de outubro do ano passado, encarecendo-lhe a prorrogação do comodato por mais um ano, para que a Secretaria de Cultura do Amazonas possa encontrar outro imóvel e transferir para ali tão rico e indispensável acervo.

Também conversei, em Manaus, com o Secretário de Cultura do Estado, Dr. Robério Braga, que igualmente busca uma solução, a fim de que o Amazonas não venha a assistir ao fim da Biblioteca Arthur Reis.

Espero que o colegiado do IRB seja sensível a mais esse apelo. Não consigo ver entre os dirigentes desse órgão, a começar pelo Dr. Nakao, outra postura que não signifique apoio ao inestimável patrimônio cultural do meu Estado.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2007 - Página 8807