Discurso durante a 43ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa da recuperação e tombamento da primeira fábrica de laticínios construída no nordeste. Destaque para o lançamento dos livros "Vôo de Ícaro - Tensões e Drama de um Industrial no Sertão", do historiador Marcos Vilhena e "500 Anos do Leite no Brasil", de João Castanho Dias.

Autor
João Vicente Claudino (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/PI)
Nome completo: João Vicente de Macêdo Claudino
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Defesa da recuperação e tombamento da primeira fábrica de laticínios construída no nordeste. Destaque para o lançamento dos livros "Vôo de Ícaro - Tensões e Drama de um Industrial no Sertão", do historiador Marcos Vilhena e "500 Anos do Leite no Brasil", de João Castanho Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 10/04/2007 - Página 9182
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, INDUSTRIA, LATICINIO, MUNICIPIO, CAMPINAS DO PIAUI (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), REGISTRO, HISTORIA, INDUSTRIAL, PIONEIRO, COMENTARIO, LANÇAMENTO, LIVRO, BIOGRAFIA, DEFESA, TOMBAMENTO, PATRIMONIO HISTORICO, EXPECTATIVA, RESTAURAÇÃO, FABRICA, IMPORTANCIA, DIVULGAÇÃO, MEMORIA NACIONAL, SOLICITAÇÃO, APOIO, PRESIDENTE, INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL (IPHAN).

O SR. JOÃO VICENTE CLAUDINO (Bloco/PTB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje trago à tribuna o registro das mais belas páginas do desenvolvimento piauiense e nacional.

Trato hoje, neste espaço, de uma ou, na realidade, duas efemérides que, em qualquer outro Estado brasileiro que não o Piauí, estariam sendo fartamente registradas na imprensa regional, comemoradas ou, ao menos, lembradas nas escolas e enfatizadas por entidades culturais as mais diversas no Piauí e por todo o País.

Há exatos 110 anos, era inaugurada, na localidade de Campos, pertencente às Fazendas Nacionais do Piauí e encravada, naquela época, no Município de Oeiras, uma fábrica de laticínios. Também seu visionário fundador, Dr. Antônio José de Sampaio, comemorava seus 40 anos de vida.

Faço aqui um pequeno parêntese: mesmo sem conhecer detalhes, tenho certeza de que meus Pares, assim como eu, já ouviram muitas vezes falar dos industriais precursores, sendo os mais famosos o Visconde de Mauá, no Rio de Janeiro, Delmiro Gouveia, em Alagoas, entre outros. O Piauí vem lutando para fazer parte dessa instigante história.

A fábrica de laticínios dos Campos, inaugurada naquela data, era simplesmente a mais moderna da América Latina. Foi a primeira fábrica de laticínios construída no Nordeste e a segunda no País, guarnecida com o que havia de mais moderno na indústria européia do ramo.

Assessorado pelo engenheiro alemão Alfredo Modrach, cujo currículo de obras no Brasil é grande (no Piauí, no Rio Grande do Norte e no Rio de Janeiro), Sampaio fez transportar, em carros de boi e num percurso de 180Km, aproximadamente, as pesadíssimas máquinas trazidas em barcaças desde Hamburgo, Alemanha, até o porto fluvial do rio Parnaíba, em Colônia, hoje cidade de Floriano, Piauí. Uma verdadeira epopéia. Foi necessária a construção de uma ponte sobre o rio Itaueira, tarefa levada a efeito pelo Engenheiro Modrach.

Da fábrica, hoje, restam as imponentes ruínas que alguns abnegados lutam incansavelmente pelo tombamento, em âmbito federal, e posterior e completa restauração para que se possa dar a ela utilização condizente com sua transcendental importância.

É muito importante salientar que o tombamento conta com o entusiástico apoio dos moradores de Campinas do Piauí. O Município, aliás, formou-se ao redor e em função da fábrica, e, não por acaso, o arruinamento dela trouxe atraso e pobreza para os campinenses.

Eu mesmo, em recente campanha eleitoral, tive a oportunidade de atestar isso, quando fui efusivamente aplaudido por dizer da importância da restauração da fábrica.

Em 15 de julho de 2006, um incêndio irrompeu em uma das laterais do prédio, e o povo de Campinas, depois de debeladas as chamas, num ato simbólico de grande significado, deus-se as mãos num “Abraço à Fábrica de Sonhos”.

No último mês de novembro de 2006, foi lançado, na Oficina da Palavra, em Teresina, o livro Vôo de Ícaro - Tensões e Drama de um Industrial no Sertão, do jovem historiador Marcos Vilhena, que adaptou em um livro sua dissertação de mestrado da Universidade Federal do Piauí.

O livro trata, através da figura legendária do Dr. Antônio José de Sampaio, das relações sociais estabelecidas no Piauí no final do século XIX e início do século XX e estuda a trajetória da personalidade do Engenheiro.

Se há alguma coisa que não causa mais a menor dúvida no Professor Marcos Vilhena é esta idéia: Antonio José de Sampaio transgrediu e ousou se confrontar, de forma imperdoável para a sociedade da época, com os valores por ela estabelecidos, valores esses dos quais o Piauí mantém fortes resquícios ainda hoje. Como um Ícaro moderno, ousou voar sobre as verdades estabelecidas em sua terra, desde a escolha vocacional. A maioria dos jovens endinheirados partia para estudar Direito no Recife; alguns, Medicina em Salvador ou mesmo no Rio de Janeiro. A opção de Sampaio de estudar em Zurique, na Suíça, de onde saiu falando e escrevendo em quatro idiomas, além do português, e se expressando num linguajar técnico apurado, que poucos dominavam, acentuava o manto de alteridade conferido a Sampaio. Essa é, em poucas palavras, a tese defendida pelo Prof. Vilhena.

Outro livro também lançado em novembro de 2006, 500 Anos do Leite no Brasil, de João Castanho Dias, conta a história da exploração e do consumo do leite de gado no Brasil. Essa obra dedica duas de suas páginas ao empreendimento do Dr. Sampaio, reconhecendo o caráter pioneiro de sua empreitada, a segunda fábrica de laticínios implantada no Brasil e a primeira do Nordeste.

Assim, ao ensejo do transcurso do sesquicentenário de nascimento daquele industrial sertanejo - que é, inclusive, patrono da cadeira nº 19 da Academia Piauiense de Letras - e dos 110 anos de inauguração daquela unidade industrial, deixo meu testemunho da necessidade de aprofundar os conhecimentos e garantir sua ampla divulgação do contexto histórico em que foi fundada a aludida fábrica, no que julgo estar cumprindo a minha representação parlamentar, em sintonia com as mais legítimas aspirações do povo campinense, que deseja ver recuperado aquele monumento de vivo interesse nacional, o qual se encontra em processo de tombamento pelo Iphan.

Com isso, faço um apelo ao eminente Presidente do Iphan, Sr. Luiz Fernando de Almeida, para que se empenhe pessoalmente nessa justa reivindicação de restauração e tombamento, a fim de que a fábrica seja um patrimônio nacional e passe a fazer parte da história não só do Piauí, mas do Brasil. Tenho certeza de que esse é também o sentimento do Senador Heráclito Fortes, Parlamentar pelo Piauí, do Deputado Frank Aguiar, piauiense e Deputado por São Paulo.

Por isso, estou plenamente convencido dessa importante luta pelo tombamento nacional daquele monumento encravado no sertão do Piauí e, da tribuna do Senado Federal, manifesto meu irrestrito apoio a essa campanha.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/04/2007 - Página 9182