Discurso durante a 50ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à Senadora Heloísa Helena.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à Senadora Heloísa Helena.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Flexa Ribeiro, José Nery, Mão Santa, Patrícia Saboya.
Publicação
Publicação no DSF de 19/04/2007 - Página 10178
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, VIDA PUBLICA, HELOISA HELENA, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, EX VICE GOVERNADOR, DETALHAMENTO, INFANCIA, SITUAÇÃO, FAMILIA, POBREZA, REGIÃO NORDESTE, INCENTIVO, ATUAÇÃO, MOVIMENTO ESTUDANTIL, POLITICA, NATUREZA SOCIAL, ESCOLHA, PROFISSÃO, ENFERMEIRO.
  • ELOGIO, CONDUTA, HELOISA HELENA, EX SENADOR, AUSENCIA, VINCULAÇÃO, CORRUPÇÃO, EMPENHO, DEFESA, ETICA, MORAL, POLITICA, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, COMISSÃO PERMANENTE, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, REGISTRO, RECEBIMENTO, PREMIO, PERIODICO, RECONHECIMENTO, INFLUENCIA, ATIVIDADE POLITICA, PERSONAGEM ILUSTRE.
  • COMENTARIO, EMPENHO, EX SENADOR, COMBATE, LIBERALISMO, PRIVATIZAÇÃO, AUMENTO, JUROS, PREJUIZO, TRABALHADOR, DEFESA, REFORMA AGRARIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, ETICA, GASTOS PUBLICOS, PARTICIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESAPROVAÇÃO, ALTERAÇÃO, IDEOLOGIA, RESULTADO, EXPULSÃO, ASSOCIADO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OPORTUNIDADE, FUNDAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), POSSIBILIDADE, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • LEITURA, TRECHO, OBRA LITERARIA, POETA, OBJETIVO, HOMENAGEM, HELOISA HELENA, EX SENADOR, REFERENCIA, DIGNIDADE, VITORIA, DIFICULDADE, EXPECTATIVA, ORADOR, RETORNO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR.

O SR. PEDRO SIIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o seu nome é Heloísa. Tem um outro de pia: Helena. Heloísa Helena. Poderia ser Maria, Dolores, ou tantos outros nomes, naquela “serra magra e ossuda em que vivia”.

Heloísa Helena viu a morte e viveu a vida Severina. Menos a do pai, o finado Luiz, que poderia ser Raimundo, Zacarias, ou tantos outros nomes “iguais em quase tudo na vida”, porque a hora da chegada da menina Heloísa foi, dois meses depois, de despedida. O sustento lhe deu a mãe, costureira na lida, também de nome Helena, mas que poderia ser, da mesma forma, Maria, Dolores ou, como tantas outras, igualmente, Severina.

Heloísa acompanhou a dor dos retirantes. Mas ela não testemunhou apenas a lágrima de quem partia. Viveu também o choro de quem via, de quem permanecia. Dos homens em seus paus-de-arara e das “viúvas da seca em seus paus-a-pique. Vivenciou a miséria. Gente morrendo “de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte e de fome um pouco por dia”. Testemunhou a desgraça alheia, testemunhou a desgraça humana, estampada nos rostos de milhões de conterrâneos nordestinos, sem a “parte que lhes cabe, neste latifúndio”, sem trabalho, sem cidadania.

Inquieta, ela não poderia permanecer indolente ante tamanha miséria humana. Guerreira, não fugiria à luta. Cresceu e engajou-se nos movimentos sociais. Atuou nas lutas sindicais. Militou na política estudantil. Talvez pela angústia de atenuar a dor e o sofrimento daquela gente de “mesma cabeça grande, que a custo é que se equilibra”, decidiu ser enfermeira. Quem sabe o melhor remédio, quem sabe uma última oração, quem sabe uma palavra amiga, quem sabe um aperto derradeiro de mão... Mas ela tinha a convicção de que tão-somente os curativos que faria não seriam suficientes para sarar todas as feridas daquele povo, daquela gente. Teria que atuar também em outro plano, mais amplo, o plano político.

Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores, jurou cumprir os seus estatutos e o seu programa. Ocupou as ruas. Eleições diretas, liberdades democráticas. Melhoria das condições de vida de seu povo. Foi, com essas mesmas bandeiras, Vice-Governadora, Deputada Estadual, Senadora da República.

O seu Partido chegou, enfim, à Presidência da República. Ao poder. Oportunidade, enfim, para transformar o discurso em prática. Mas o poder... Ah! O poder! O poder e suas metamorfoses! O poder subiu ao planalto e, do mais alto de seus palácios, mostrou a Heloísa os Ministérios, as esplanadas, as autarquias. “Eu te darei toda a riqueza destes reinos, porque tudo isso foi entregue a mim, e posso dá-lo a quem eu quiser. Portanto, se te ajoelhares diante de mim, tudo isso será teu”. “Tudo o que vês será teu, se me adorares...” E, como na passagem bíblica de São Lucas e no Operário em construção, de Vinicius de Moraes, ela disse “Não!”.

Heloísa não caiu na tentação da reforma da previdência, dos juros altos, do lucro bancário, do superávit fiscal, do mensalão, do financiamento de campanha, do toma-lá-dá-cá, dos campos majoritários. Então, ao contrário dos textos bíblicos, “tendo afastado todas as formas de tentação”, não foram expulsos os vendilhões do templo, e sim ela, exatamente uma de suas mais dedicadas guardiãs.

E a Senadora-operária “ouviu a voz/de todos os seus irmãos/os seus irmãos que morreram/por outros que viverão/uma esperança sincera/cresceu no seu coração”. E ela permaneceu na luta. Não mudou. Continuou aquela mesma menina que revolucionou discursos e comportamentos neste Senado, leal aos ensinamentos de sua mãe, Helena, e às aspirações de seu povo. Encanta-me, portanto, a sua fidelidade ética!

Aliás, ela foi, no Senado, um dos principais contrapontos do comportamento político de seu tempo. Dela nada se ouviu sobre qualquer desvio de conduta, em tempos de mensalão e de sanguessugas. Ao contrario, ela foi e continua sendo uma das mais incansáveis batalhadoras contra qualquer tipo de corrupção e de desvio de conduta política. Nesses casos, valendo-me de uma expressão popular, ela é o exemplo mais perfeito da “adrenalina pura”. Ou seria de um “ferrinho de dentista”? Doce e meiga com os bons. Amarga e valente contra os maus. Para os bons, “minha flor!”. Para os maus, todos os espinhos.

Para mim, o discurso da Senadora Heloísa Helena soava neste plenário algo assim como um corretor de textos. Ao primeiro sinal de erro político, ela o sublinhava, ao mesmo tempo em que apontava as melhores e mais corretas alternativas de sua correção. Bastava, então, dependendo do julgamento de cada um, ignorar, alterar ou acrescentar. De minha parte, eu jamais ignorei o seu texto, o seu discurso, a sua voz. No máximo, propus algumas alterações muito mínimas. Na quase totalidade das vezes, acrescentei as suas sugestões corretivas ao meu próprio texto, ao meu discurso. Para meu orgulho, na linguagem política, sempre tivemos o mesmo vernáculo.

Eu já disse um dia, a importância de uma pessoa se mede principalmente pela falta que ela nos faz. São aquelas que não se contentam em viver a história. Fazem a história. Hoje, sem a presença física da Senadora Heloísa Helena neste plenário, é que a gente mede a saudade que ela nos deixou. Saudade temporária, para o nosso consolo. Duradoura, para as nossas necessidades.

A Senadora Heloísa Helena juntou-se a nós, neste plenário, em 1999, no calor da juventude dos seus 37 anos, para representar o seu Estado, Alagoas. Foi uma das Senadoras mais laboriosas nas Comissões Permanentes desta Casa. Nas Comissões Parlamentares de Inquérito, debruçava-se, horas a fio, noites adentro, sobre calhamaços de documentos, guiada e iluminada pela luz da verdade. Em novembro de 2005, em eleição livre, promovida pela revista Forbes Brasil, foi eleita a mulher mais influente na política e no Legislativo brasileiro. Em dezembro do mesmo ano, os profissionais de comunicação, agências de publicidade e leitores da Revista Istoé/Gente elegeram Heloísa Helena como “Personalidade do ano de 2005”.

Católica, devota de São Francisco de Assis, ela mostrou desde o início de seu mandato que inauguraria, a partir dali, uma nova era de comportamento no Senado Federal. “Pedi a Deus para, em todos os momentos, vencer a vaidade e vencer o luxo”, dizia ela. Abandonou as maquiagens, adotou uma espécie de uniforme para o trabalho: blusa branca e calça jeans desbotada; cabelo preso, estilo rabo-de-cavalo; dispensou o carro oficial com motorista e outras facilidades que os regimentos lhe permitiam. “Fui testada pelos rituais esnobes, cínicos e mentirosos, porém sedutores, e não me dobrei. Isso me dá uma suprema satisfação moral”, dizia Heloísa.

Heloísa era uma iluminada. Aquela aparência franzina e frágil de menina corporificava a força e a coragem de mulher guerreira. Sem meias palavras, travou debates dos mais intensos com seus adversários políticos. Em plenário e nas Comissões, transformou-se na voz mais firme em defesa do seu povo, ao mesmo tempo em que destilava ataques devastadores contra o que ela chamava sempre de “elites putrefatas”, “políticos parasitas do poder” e “bajuladores de plantão”.

Foi a crítica mais severa do que se chamou “política neoliberal” no Governo Fernando Henrique Cardoso. Colocou-se, frontalmente, contra as teses do “Estado-mínimo”, do “pensamento-único” e do programa de privatizações, principalmente de empresas emblemáticas, como o que já havia ocorrido com a Companhia Vale do Rio Doce e as que o governo daquela época colocava à venda, no mesmo momento em que veio à tona o tal “limite da irresponsabilidade”. Criticou, severamente, o desmantelamento da economia genuinamente nacional e do mercado interno, a política de juros altos e seu efeito esmagador, principalmente para o pequeno empresário, e as reformas que surrupiavam direitos adquiridos dos trabalhadores. Defendeu, com igual bravura, a melhor distribuição da terra e da renda, mais ética no gasto público e uma política de poder que envolvesse efetivamente a classe trabalhadora.

A Senadora Heloísa Helena foi uma das maiores batalhadoras pela eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Acreditava, como todos os brasileiros, que a eleição de um político que surgira da base trabalhadora constituir-se-ia não apenas em uma era de mudanças, mas, muito mais, uma mudança de era. Jogou, portanto, todas as suas fichas num jogo político que, para ela, e para todos nós, parecia “de carta marcada”, tamanha a certeza de que o País, a partir da “vitória dos trabalhadores”, além do mais democrático e soberano, seria, de fato, cidadão.

Por tudo isso que ela passou, incluindo maledicências de toda a ordem, não mudou um único milímetro em sua rota política. Não se curvou às tais tentações do poder. “Dia seguinte, o operário/ao sair da construção/viu-se súbito cercado/dos homens da delação/e sofreu por destinado/sua primeira agressão/teve seu rosto cuspido/teve seu braço quebrado/mas, quando foi perguntado/o operário disse não”. É que, “em cada coisa que via/misteriosamente havia/a marca de sua mão”.

“É muito triste, muito angustiante”, dizia ela, quando da sua expulsão partidária. Acordava, chorando, no meio da noite. Parecia-lhe um pesadelo aquele calvário que lhe feria a alma. O golpe que lhe foi dado foi duro demais. Mas, mais uma vez, não o suficiente para fazê-la esmorecer. Fundou, então, um outro partido, o P-SOL, Partido Socialismo e Liberdade. Talvez não tenha sido tão grande o trabalho para elaborar o novo programa partidário. Bastou, quem sabe, uma nova redação ao mesmo conteúdo que lhe acompanhara a vida inteira até aquele momento. Bastava projetar a sua própria história. E a luta continuou.

No ano passado, a Senadora Heloísa Helena partiu, quem sabe, para o maior desafio de sua vida: com poucos recursos, contra a estrutura de partidos históricos, “liberais”, “democráticos”, “trabalhistas” e “dos trabalhadores”, recebeu mais de seis milhões e quinhentos mil votos, quase sete por cento de todos os votos válidos dos eleitores brasileiros. Não importa se ela não foi para o segundo turno: ela é, por toda a sua história, uma vencedora.

Na despedida do Senado, um retrato de sua simplicidade, conforme interesse de uma reportagem da revista Istoé daquela época. “Enfermeira por formação e professora de epidemiologia e planejamento de serviços públicos da Universidade Federal de Alagoas, a combativa Senadora começa a se despedir do Parlamento. Em casa, deu início ao processo de encaixotar as coisas. E haja caixa. ‘Loló’, como é conhecida na intimidade, adora fazer coleções. Sob a estante de sua tevê repousam várias pedras, de todos os tamanhos e cores que pegou ainda pequena no rio Moxotó, que atravessa o povoado de Posso Brandão no sertão de Alagoas onde nasceu. É lá que duas vezes por ano ela costuma andar de madrugada só para apreciar a floração dos cactos, hábito que mantém desde garota. “Eles dão flores lindas, coloridas e pequenas, visíveis apenas para quem tem os olhos de um sertanejo, como eu”, diz. “Lá me reencontro com a minha essência, me deparo com a história da menina pobre e sobrevivente que vivia com longas tranças no cabelo e pés descalços”.

De onde viria tamanha humildade? A resposta pode ser encontrada na mesma reportagem da Istoé: “Da coleção de imagens de São Francisco de Assis, seu santo de devoção, às citações de trechos bíblicos, que sempre procura encaixar em suas conversas mais íntimas, Heloísa expõe um lado que pouco combina com a feroz socialista conhecida por todos: o da católica fervorosa. “Quando me dizem que a religião é o ópio do povo, eu respondo que a fé é o ópio que suaviza as minhas dores e me dá forças para ajudar a minimizar a dor alheia”. É assim que ela não deixa que o ódio ou a vingança domine sua conduta, tanto na vida pública quanto na sua existência particular.

Hoje, a Senadora Heloísa Helena divide o seu tempo entre o ensino e a atividade política. Felizes os alunos, que aprendem com a sua sabedoria. Felizes todos nós, que continuamos a conviver com a sua obstinação. Ela continua rimando palavra com ação. Não será, portanto, um mero pó de giz que vai calar a sua voz. Quem sabe o destino tenha lhe reservado, mais uma vez, a missão de personificar a verdadeira voz rouca das ruas.

A bênção, São Francisco de Assis, mensageiro da humildade:

Onde houver ódio, que eu leve o amor.

Onde houver erro, que eu leve a verdade.

A bênção, Vinícius de Moraes, poeta brasileiro:

Uma esperança sincera

cresceu no seu coração

e dentro da tarde mansa

agigantou-se a razão

de um homem pobre e esquecido

razão porém que fizera

em operário construído

o operário em construção.

A bênção, João Cabral de Mello Neto, poeta nordestino:

E não há melhor resposta

que o espetáculo da vida:

vê-la desfiar seu fio,

que também se chama vida,

ver a fábrica que ela mesma,

teimosamente, se fabrica,

vê-la brotar como há pouco

em nova vida explodida

mesmo quando é assim pequena

a explosão, como a ocorrida

como a de há pouco, franzina

mesmo quando é a explosão

de uma vida severina.

            A bênção, Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho, nordestina e brasileira:

Nasci, como nascem milhares de meninas brasileiras... marcadas para cumprir o destino do quartinho de empregada ou da venda do corpo por um prato de comida. Fui uma criança muito doente, diziam que eu morreria antes dos 7 anos, tinha asma, problemas renais, complicações para todos os gostos. Meu pai, Luiz, era funcionário público, morreu de câncer quando completei dois meses. Cosme, meu irmão mais velho, foi assassinado ainda menino. Ficamos eu, meu irmão, Hélio, e minha mãe. Filha de trabalhadores rurais, ela aprendeu a ler junto comigo. Minhas brincadeiras eram correr com cabras no sertão. Muitas vezes, pulava dos trens na cidade, brigava na rua e... apanhava em casa. Engolia meus medos e protegia os mais fracos. Era uma magrelinha sobrevivente!... Em casa, dividíamos o pouco que tínhamos com os outros. Minha mãe tinha criado os irmãos no cabo da enxada, sabia o que era dificuldade.

Era durona, não dava moleza, não: ensinou que honestidade estava em primeiro lugar. Ela bordava os vestidos das madames, e eu ficava encantada, queria usar parte daquelas continhas para fazer uma roupa para a minha boneca Suzi, velhinha e linda, que encontrei no lixo. Minha mãe não permitia, colocava as pedrinhas no saquinho, para devolver [às madames].

            A bênção, mulher guerreira, mensageira da humildade e da ética. A bênção, Heloísa Helena.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Pedro Simon, V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Pedro Simon, ouvi de V. Exª muitos discursos, dentre os mais belos que ouvi aqui no Senado. A Senadora Heloísa Helena inspirou V. Exª a nos brindar aqui com um dos seus mais belos discursos na tarde de hoje, baseado na vida tão bonita, na trajetória tão assertiva de quem traz, lá do interior de Alagoas, do Nordeste e do Brasil inteiro, uma força extraordinária por justiça, pelos direitos da pessoa, e que conseguiu galvanizar corações e mentes e a vontade de tantas pessoas. Aqui, no Senado Federal, conforme pudemos testemunhar nos seus últimos dias, ganhou o respeito de todos, inclusive daqueles que, dentro do Partido que ela ajudou a criar, em que fui voz discordante, porque preferi, em minoria, que ela continuasse conosco, dentro do PT. No entanto, todos os Senadores, até mesmo aqueles que dela discordaram muitas vezes, pelos seus termos, pelas suas ações, pela vontade extraordinária de defender o que considerava o mais certo para o País e, mesmo, às vezes, usando de termos os mais duros para com o Governo que ela criticava, seja quanto ao Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso e, depois, quanto ao Governo do Presidente Lula, tinham um carinho, um respeito admirável por ela. Hoje, V. Exª nos traz aqui o quanto ela nos faz falta, mas V. Exª traz também uma lembrança importante, de como o seu exemplo deve continuar frutificando para muitos brasileiros, inclusive os jovens que aqui estão visitando o Senado Federal nesta tarde e que sabiam que nela havia uma luz especial. V. Exª sabe que convidei a Senadora Heloísa Helena para dar uma aula especial na instituição em que sou professor, a Fundação Getúlio Vargas. Peço a gentileza de V. Exª me dar cópia do seu pronunciamento, porque gostaria de usá-lo como apresentação daquela que, num dia desses, comparecerá para fazer uma palestra. Sua apresentação será distribuída por escrito previamente. Meus cumprimentos a V. Exª.

A Srª Patrícia Saboya Gomes (Bloco/PSB - CE) - Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu lhe agradeço o aparte e lembro que a Senadora Heloísa Helena fazia questão de destacar o carinho que tinha por V. Exª. Fazia questão de destacar, nas horas difíceis que passou, que V. Exª - que, inclusive, até hoje sofre dentro do seu Partido um certo olhar de restrição por aquilo - sempre foi solidário a ela. Aliás, estou aqui com V. Exª desde que aqui chegou e acompanhei V. Exª oito anos Líder do PT - só V. Exª, não tinha um segundo Senador. V. Exª, sozinho, brigava aqui com 80 Parlamentares. E, olha, V. Exª, contra 80 Parlamentares, defendia mais as idéias do programa do PT do que os 20 que estão aí hoje.

Com o maior prazer.

A Srª Patrícia Saboya Gomes (Bloco/PSB - CE) - Senador Pedro Simon, neste momento também, em primeiro lugar, cumprimento V. Exª por esse pronunciamento, que brinda a todos nós, não só a todos nós desta Casa, mas a todos aqueles que nos estão ouvindo. Como disse o Senador Suplicy, esse foi um dos mais belos pronunciamentos que já tive oportunidade de ouvir e ao qual assisti pessoalmente nesta Casa. A Senadora Heloísa Helena merece todas as homenagens. Com ela, posso dizer, com muita firmeza, com muita convicção, que pude aprender muito nesta Casa: aprender com a força, com a coragem, com a seriedade, com a honestidade, com a garra, com o empenho e com o amor com que ela falava tudo. Venceu a Senadora Heloísa Helena, mesmo tendo perdido as eleições. Ela poderia estar hoje conosco, Senadora, facilmente eleita pelo povo do Estado de Alagoas. Poderia ela, facilmente, quem sabe, ser Governadora do seu querido Estado, Alagoas. Mas não. Não se colocou em momento algum com a ilusão de que pudesse chegar, talvez, à Presidência da República, mas com a certeza de que aquela deveria ser a sua missão e a sua caminhada, para fortalecer a sua idéia e a idéia de um Partido que começava a nascer naquele momento, o PSOL. Tenho pela Senadora Heloísa Helena, Senador Pedro Simon, um carinho muito especial, um carinho - eu diria - de irmã. Falo com ela permanentemente, praticamente todas as semanas, e digo para ela os recados que toda hora me transmitem na rua ou aqui no Senado, de V. Exª e de tantos outros amigos e companheiros da Senadora Heloísa Helena, pelo trabalho e pelo exemplo que ela sempre foi e sempre será para todos os homens e mulheres. Uma mulher que foi açoitada na alma! Posso dizer isso, porque vivi, ao lado dela, momentos de extrema tristeza, em que ela estava completamente machucada por aquilo que o Partido a que ela se dedicou, o PT, praticamente a vida inteira, acabou por lhe fazer: a expulsão. Talvez muitos de nós desistíssemos no meio dessa caminhada, mas parece que a Senadora Heloísa Helena se tornou ainda mais forte, mais brava e mais corajosa. Esse exemplo, embora ela nos faça falta aqui, nos motiva a sonhar e a lutar por uma sociedade muito melhor, por uma sociedade muito mais justa e por um Brasil onde homens e mulheres, jovens, crianças e idosos tenham apenas o direito de ser feliz. Para isso serviu o seu trabalho, para isso serviu o seu empenho, a sua inteligência, a sua ousadia, a sua coragem e todas as outras qualidades que ela sempre teve e que, eu tenho certeza, sempre terá. Agora, humildemente, voltou à sala de aula com o carinho dos professores da universidade, com o carinho de seus alunos. Aqui, mais uma vez, no dia de hoje, de todo o coração, V. Exª fala palavras tão belas, tão bonitas, que eu certamente vou guardar como um exemplo também de que aqui nesta Casa, além de convivermos politicamente, de aprendermos politicamente, também fazemos amizades. Também fazemos amizades que, possivelmente, sejam para o resto da vida. E, assim, espero que seja a minha e a da Senadora Heloísa Helena, a quem tenho todo carinho e admiração.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Para concluir, Senadora.

A Srª Patrícia Saboya Gomes (Bloco/PSB - CE) - Parabéns, Senador Pedro Simon, por essa lembrança, essa homenagem a uma das mulheres mais influentes, mais importantes e mais destemidas deste nosso País.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, com a aquiescência do...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe darei o aparte. Tenho certeza de que o Presidente terá, não por mim, mas pela Senadora Heloísa Helena - de quem estamos falando -, a tolerância que for necessária.

V. Exª, realmente, foi a grande irmã da Senadora Heloísa Helena. Isso ela me disse várias vezes. Nas horas em que precisava de um ombro para chorar, era o de V. Exª que ela encontrava; na hora de conversar sobre as dificuldades ao final da campanha, de voltar, de viver com o salário de professora, que é insignificante, lecionando, era a V. Exª que ela procurava. Há o problema do pó de giz, que afeta ainda mais a garganta dela, que já tem problemas, como todos nós sabíamos. É como disse no meu pronunciamento: talvez esse pó de giz faça de sua voz, de sua rouquidão, a voz rouca das ruas. Às vezes ela tem vindo aqui, ao Rio de Janeiro, pára em sua casa. Falo do carinho e do afeto que V. Exª tem dado a essa mulher.

Sou daqueles que não crêem que as pessoas quando saem o fazem para não voltar. A vida tem nos mostrado, muitas vezes, que pessoas que saíram como se estivessem destruídas para o resto da vida voltarem em glória. Quando Getúlio Vargas foi deposto da Presidência da República, desmoralizado, ridicularizado, foi para São Borja para morrer no exílio. Depois, foi um herói como Presidente da República. Creio que Heloísa haverá de voltar. Temos a obrigação de não permitir que não seja apenas professora. Aliás, ser professor é uma bela missão, uma belíssima missão, mas ela, com o preparo que tem, com o caminho que já percorreu, tem obrigações maiores para com o povo brasileiro. Isso não é apenas ela que deve pensar, mas nós, V. Exª que é irmã e eu que sou amigo. Devemos saber a fórmula pela qual poderemos trazê-la de volta para o nosso Brasil.

Concedo um aparte ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, ontem eu falei, ela me telefonou, a Senadora Heloísa Helena. V. Exª falou em São Francisco, que é franciscano. Mas acho que ela pode dizer que vive aquilo que o apóstolo Paulo disse: percorrer o caminho, pegar e fé e combater o bom combate. Heloísa Helena não passou aqui em vão. E Deus, na sua sabedoria divina, parece que trouxe três novas Senadoras: Marisa Serrano, Kátia Abreu e Rosalba Ciarlini. Então Heloísa Helena iguala-se às maiores mulheres da história do mundo: à mulher de Pilatos, à Verônica, às três Marias, aquelas que anunciaram a ressurreição. Como professora, ela pode ser chamada de mestre, igual a Cristo; como enfermeira, a Anna Nery, e, como política, está aí. Mas o Piauí a reconhece. Ela me comunicava que tinha sido convidada pelo Clube de Lojistas para, no domingo, debater com empresários do Piauí sobre problemas do Brasil. Então, neste instante, em que Pedro Simon faz essa saudação, peço a todos os piauienses que recebam e homenageiem essa extraordinária mulher que vai nos visitar e nos ensinar, no domingo, como lutar por um Brasil melhor.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado, meu querido Mão Santa, pela gentileza do seu aparte.

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Senador Pedro Simon, gostaria de aparteá-lo. Senador Pedro Simon, V. Exª, com o brilhantismo que lhe é peculiar, nos brinda nesta tarde com uma homenagem com certeza das mais justas ...

(Interrupção do som.)

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - ... a uma das mulheres que, com sua luta, marca a luta do povo brasileiro por igualdade, por justiça social. V. Exª relembra toda a trajetória da sempre Senadora Heloísa Helena: os desafios que teve que enfrentar desde criança, passando pela juventude; o seu compromisso inarredável com a construção de um Brasil democrático, justo, que respeite fundamentalmente os direitos das maiorias excluídas; o seu empenho em favor dos servidores públicos, da democratização do acesso a terra; a luta por ética na política; o combate à corrupção...

(Interrupção do som.)

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - ...o sonho da construção de um Brasil socialista, que tão exemplarmente soube defender, seja da tribuna do Senado, seja nas ruas, nas manifestações do povo, seja nas universidades, no campo. Onde quer que exista uma luta importante por liberdade, por justiça social, sempre contamos com a participação exemplar de Heloísa Helena.

            E todos sabemos que, se Heloísa tivesse sido candidata à reeleição em Alagoas ou tivesse disputado o Governo do Estado, teria grandes chances de ter retornado ao Senado ou de dirigir o Estado de Alagoas.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Mas, devido às condições políticas em que se viu colocada, acabou por assumir o desafio de disputar a Presidência do Brasil, conseguindo um desempenho formidável para as condições objetivas que estavam postas para uma candidatura de esquerda, com um programa democrático e popular, enfrentando todo tipo de dificuldades. Mas Heloísa Helena, sob a bandeira do PSOL, conseguiu disputar as eleições, chegando a ter a representação de quase 7% do eleitorado brasileiro, com quase 7 milhões de votos. Hoje, Heloísa se dedica a uma tarefa fundamental para a luta democrática e da conquista dos trabalhadores do nosso País. Dedica-se, além...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Peço que conclua o aparte de V. Exª, Senador.

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Dedica-se, além de ao Magistério na Universidade Federal de Alagoas, à construção do Partido Socialismo e Liberdade, que realizará seu primeiro congresso no próximo mês de junho no Rio de Janeiro. Por essa luta, por essa pertinácia, por esse compromisso, saudamos V. Exª e nos associamos a V. Exª, Senador Pedro Simon, que, nesta tarde, faz a Heloísa Helena, nossa sempre querida e eterna Senadora, a homenagem de quem não pode ser esquecida porque muito tem a contribuir com a luta do povo brasileiro. Muito obrigado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª. Entendo a responsabilidade de V. Exª de ocupar aqui o seu lugar, defendendo as suas idéias. Tenho convicção de que V. Exª haverá de honrar realmente esse trabalho.

Se V. Exª me permitir, Sr. Presidente, concedo um aparte ao Senador Flexa Ribeiro.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Apenas trinta segundos, Senador Pedro Simon. V. Exª, que é um tribuno reconhecido nacionalmente, toda vez que nos brinda com um pronunciamento, deve ser enaltecido. Hoje, nos traz a lembrança da Senadora Heloisa Helena, essa figura singular, guerreira, batalhadora e tenaz na defesa de suas convicções e seus ideais e também um ser humano de um coração enorme e de um carinho a toda prova. Tenho absoluta certeza de que tudo o que foi dito por V. Exª, pela Senadora Patrícia, pelo Senador José Nery e por todos aqueles que o apartearam, ainda é pouco para que possamos qualificar a Senadora Heloisa Helena. Temos certeza de que ela faz muita falta aqui, até pela sua forma combativa de querer que as suas idéias sejam discutidas. Temos divergências, sejam ideológicas, sejam partidárias; mas respeitamos a Senadora Heloisa Helena e queremos bem a ela. Parabéns pela lembrança que V. Exª traz neste momento da nossa querida amiga Heloisa Helena.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço muito a V. Exª.

Sr. Presidente, é a segunda vez que faço um discurso desse estilo a um político de Alagoas. O primeiro foi a Teotônio Vilela. Lembrava aqui Teotônio Vilela, do seu sofrimento quando saiu da Arena e veio para o MDB porque na Arena ele não tinha mais vez. Hoje, é para Heloísa Helena.

Agradeço sensibilizado os apartes que recebi. Mas quero dizer muito mais. Entendo profundamente o silêncio de alguns Parlamentares; entendo que eles devem estar sentindo dentro do peito a mágoa com o que aconteceu. Entendo Parlamentares que viram, participaram, acompanharam, mas que ficaram. Sei que hoje seria um dia em que muitos Parlamentares gostariam de dar um aparte sobre Heloísa Helena. Mas sei também que, nesse momento, muitos desses Parlamentares estão de cabeça baixa pedindo a Deus por Heloísa Helena, que ela possa vencer. E que eles possam ter um dia em que não precisem baixar a cabeça diante dos acontecimentos.

Sr. Presidente, encerro pedindo apenas que V. Exª me informe o que está acontecendo, para eu não sair sem dizer alguma coisa. Estou vendo uma movimentação inédita, diferente, significativa e gostaria de saber o que é para dizer alguma coisa daqui. 

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Senador Pedro Simon, o Líder José Agripino e o Líder Arthur Virgílio, do Democratas e do PSDB, acompanhados dos Presidentes e vice-Presidentes desses Partidos, estão apenas aguardando o Presidente Renan assumir a Presidência para que S. Exª receba, das mãos dos democratas e dos tucanos, além de outros Parlamentares independentes...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu também assinei, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Inclusive V. Exª. Estamos esperando que o Presidente Renan receba e dê o trâmite normal para a CPI do Apagão.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu agradeço.

Cheguei a imaginar que era a primeira grande manifestação pública dos Democratas. Como vi todos aqui, o Presidente, o Líder na Câmara, o Líder no Senado, achei que era uma bonita demonstração dos Democratas e bonita a presença do PSDB juntamente com eles. De qualquer maneira, é muito importante a criação dessa comissão.

Que pena que o Presidente da República tenha deixado chegar até isso. Não precisávamos ter ganhado no Supremo Tribunal Federal novamente. Sua Excelência deveria ter aprendido a lição e permitido que se criasse a comissão. Dessa vez, haveremos de buscar a verdade, e espero que não precisemos de longos meses. E que o Governo defina a verdade.

Cumprimento os meus jovens companheiros do Partido Democratas. Ali está o meu Líder do Rio Grande do Sul que hoje, de repente, vira o chefe dos Democratas. E nós, que somos pessoas que defendemos a democracia, ficamos muito felizes sob a liderança dos bravos companheiros.

Um abraço.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/04/2007 - Página 10178