Discurso durante a 52ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cobrança de uma política nacional de desenvolvimento de regiões carentes.

Autor
César Borges (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Cobrança de uma política nacional de desenvolvimento de regiões carentes.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2007 - Página 10991
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, ANTERIORIDADE, APROVAÇÃO, SENADO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, JEFFERSON PERES, EX SENADOR, DETERMINAÇÃO, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), APLICAÇÃO DE RECURSOS, REGIÃO NORTE, REGIÃO NORDESTE, REGIÃO CENTRO OESTE, REDUÇÃO, DESIGUALDADE REGIONAL, CRITICA, DEMORA, CAMARA DOS DEPUTADOS, APRECIAÇÃO, PROJETO.
  • NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, ATENÇÃO, REGIÃO NORTE, REGIÃO CENTRO OESTE, REGIÃO NORDESTE, INCENTIVO, POLITICA AGRICOLA, PECUARIA, QUESTIONAMENTO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), IMPOSSIBILIDADE, INVESTIMENTO, MOTIVO, INEXISTENCIA, POLITICA NACIONAL, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FALTA, INTERESSE, FINANCIAMENTO, INCENTIVO, REGIÃO NORDESTE, PRODUÇÃO, ALCOOL, GARANTIA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, CRIAÇÃO, EMPREGO, RENDA, POPULAÇÃO, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, RECRIAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE).
  • COMENTARIO, APROVAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, PROJETO DE LEI, RECRIAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), CRITICA, VETO PARCIAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REDUÇÃO, ATUAÇÃO, ENTIDADE, RETIRADA, GARANTIA, APLICAÇÃO, FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (FND), REGIÃO NORDESTE.
  • COBRANÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RECRIAÇÃO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), CONSTRUÇÃO, GASODUTO, LIGAÇÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DA BAHIA (BA), COMBATE, DESIGUALDADE REGIONAL.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente, Senador Augusto Botelho.

Por diversas vezes, vim a esta tribuna defender a minha Região Nordeste brasileira. E sempre o faço porque, se não houver uma política específica para o Nordeste brasileiro, dificilmente essa região, que, sem sombra de dúvida, é a região mais carente do País, vai conseguir superar os desníveis de distribuição de renda relativamente ao restante do Brasil - em particular, o Sul e o Sudeste do nosso País.

Esta Casa aprovou, no final de 2003, um projeto muito importante para o desenvolvimento regional e para a redução das desigualdades entre os brasileiros - redução essa que deve começar pela redução da desigualdade entre as regiões brasileiras. Refiro-me ao projeto do Senador Jefferson Péres. É o PLS nº 9, de 1999, que foi aprovado com o Substitutivo do Senador Tasso Jereissati. Esse projeto determina ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social aplicar pelo menos 35% de seus recursos nas seguintes regiões: na Região de V. Exª, o Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste. Hoje, é o Projeto de Lei nº 2.812/03, que está na Câmara dos Deputados, onde, lamentavelmente, está parada a sua tramitação. Não foi votado esse projeto tão importante para as nossas regiões.

Agora, o BNDES tem um novo Presidente indicado. Eu o conheço. É o economista Luciano Coutinho, taxado como um desenvolvimentista. Espero que ele continue assim no banco, lutando para desenvolver as regiões cuja economia é mais deprimida, o que reflete na vida do cidadão dessas regiões.

O Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste continuam a merecer uma atenção especial do Governo, mas, de forma mais específica, Sr. Presidente, o Nordeste brasileiro. O Centro-Oeste começa a abrir todo um horizonte para uma agricultura moderna e uma pecuária de grande escala, mas temos dificuldades imensas nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Agora, vejam o disparate: enquanto as regiões mais pobres permanecem reféns do Bolsa-Família - se não houver o Bolsa-Família não temos como garantir uma renda para a população das nossas Regiões -, o BNDES, dos R$56 bilhões que desembolsou, destinou apenas R$9,6 bilhões ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Ou seja, apenas 17% dos recursos do BNDES do ano passado foram destinados a essas três Regiões. As três Regiões, somadas, só mereceram do BNDES 17% dos recursos desembolsados!

E o que diz o BNDES, Sr. Presidente? Que não pode investir e aplicar mais recursos no Norte, Nordeste e Centro-Oeste porque não há projetos, e não há projetos porque inexiste uma política nacional de desenvolvimento regional. Quer dizer, entra-se num círculo vicioso. O BNDES não vai para a nossa Região, não possui escritórios lá, usa apenas o sistema bancário do Banco do Brasil, do Banco do Nordeste e do Banco da Amazônia, que funcionam como repassadores de seus recursos. Os projetos não nascem porque não são estimulados por uma política nacional de desconcentração do desenvolvimento regional, e acontece esse disparate.

Então, imagine, Sr. Presidente: o Nordeste, que tem 30% da população brasileira, recebe apenas 8% dos recursos do BNDES. Apenas 8% dos recursos, e temos 30% da população!

Vamos viver sempre diante desse disparate? Isso é inaceitável!

Nesta semana, o Presidente - creio que ainda posso chamá-lo de Presidente -, ou melhor, o futuro ex-Presidente Demian Fiocca esteve aqui nesta Casa e destacou que houve um crescimento dos recursos destinados para o Nordeste nos dois últimos anos. É verdade. No entanto, a participação da Região Nordeste, que tradicionalmente era de 13% - e já chegou a picos de até 20% quando houve algum projeto estruturante, como o da Ford ou o Projeto do Pólo Petroquímico -, no Governo Lula, caiu para 6,9%, no ano de 2004; em 2006, 9,4%. Isso representa uma redução de 30% em relação a 2001, quando se aplicou a média de 13%.

Então, aumentou? Aumentou quase nada. Não recuperamos nem nossa base dos 13% para o Nordeste brasileiro. Enquanto isso, 83% dos recursos do BNDES são aplicados nas Regiões Sul e Sudeste. É claro que isso só vai aumentar o fosso existente entre a economia das nossas Regiões - Norte, Nordeste e Centro-Oeste - e essas duas outras Regiões.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, lamentavelmente, na verdade, temos de reconhecer que o Governo Federal, em especial o Governo do Presidente Lula - que nasceu em Pernambuco e deveria ter um apreço maior pela sua região -, não tem interesse maior em propiciar a essa Região um desenvolvimento sustentado. Não há uma política específica para o Nordeste brasileiro, assim como acredito que não haja para o Norte.

Essa é uma impressão que vai marcando ao longo desse período de Governo. Cada vez mais, sentimos dificuldades para a nossa Região romper as barreiras do subdesenvolvimento e melhorar a renda per capita. Se, por um lado, temos um potencial enorme; por outro lado, faltam projetos.

Sr. Presidente, o etanol pode ser uma fonte de geração de emprego e renda para milhões de brasileiros, sem sombra de dúvida, sem prejudicar, de forma alguma - e não vai prejudicar - a área utilizada para a produção de alimentos. Isso aí é falácia. Hugo Chávez e Fidel Castro estão espalhando isso, dentro de uma política combinada. Mas eu vejo, até com alegria, que o Presidente Lula começa a reagir a Hugo Chávez e a Evo Morales, que querem espoliar, na verdade, a nossa potencialidade de crescimento. Mas, veja bem, 91% do etanol produzido no Brasil estão exatamente no Sudeste, em São Paulo, no Triângulo Mineiro, alguma coisa em Goiás, no Centro-Oeste. Sabe quanto o Norte e o Nordeste produzem, Presidente? Apenas 9% do etanol. Então, deveria haver uma política específica para incentivar que a produção de etanol se desse mais no Nordeste, para aumentar um pouco a nossa participação, que é mínima. Lamentavelmente, porém, não existe essa política no Governo Federal.

Então, não bastasse esse descaso do BNDES com o Nordeste, eu quero lembrar e cobrar aqui - vou cobrar eternamente: onde está a recriação da Sudene?

Senador Mão Santa, Senador Jarbas Vasconcelos, V. Exªs sabem, são pessoas que governaram Estados importantes, como Piauí e Pernambuco, que a Sudene teve um papel fundamental para escrever uma nova página no desenvolvimento econômico do Nordeste, mas não concluiu sua tarefa. Foi um equívoco a sua extinção.

Pois bem, o Governo Federal assumiu esse compromisso da recriação. Olhem as palavras que o Presidente Lula proclamou em julho de 2003, há quatro anos:

            A Sudene está de volta. Não uma volta ao passado, mas sim a reafirmação renovada de um instrumento indispensável ao desenvolvimento regional e nacional.

            Recuperar a Sudene e redefinir projetos estratégicos para o Nordeste brasileiro é quase que condição fundamental para que a gente possa fazer o povo do nosso querido Nordeste voltar a sorrir.

Belas palavras! Lamentavelmente, vazias, porque a Sudene não foi recriada. Votamos o Projeto de Lei nº 59. O Congresso Nacional, depois de exaustiva discussão, recriou a Sudene. Esse projeto tramitou no Congresso por mais de três anos, sem urgência constitucional - ele veio para cá com urgência constitucional e, depois, o Presidente a retirou. Pois bem, votamos e aprovamos o projeto. Aí, vieram os vetos presidenciais. Infelizmente, não estamos cumprindo com a nossa obrigação constitucional de apreciar esses vetos nesta Casa. Eles mutilaram o projeto, no sentido do enfraquecimento, da diminuição da atuação, inclusive no plano financeiro, que é fundamental para a nova Sudene.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento do Nordeste, por exemplo, uma das principais fontes de recursos disponíveis para a nova Sudene atuar na promoção do desenvolvimento, foi formatado aqui no Congresso para assegurar que os repasses do Fundo seriam feitos a cada mês e que ficariam disponíveis mesmo que não fossem aplicados naquele exercício, para fugir deste famigerado contingenciamento a que nós sempre assistimos nos orçamentos votados por esta Casa. Mas o Governo, alegando tecnicalidades orçamentárias e legais extremamente questionáveis, preferiu não se comprometer e optou por deixar que esses recursos do FDNE fiquem ao bel-prazer da sua vontade administrativa, sempre reféns de contingenciamentos, de cortes, de desvios de finalidade. Além disso, barrou a ampliação do prazo de vigência da regra de vinculação da dotação orçamentária com o crescimento da receita líquida corrente da União.

Então, Sr. Presidente, para não usar e abusar da sua boa vontade, eu fico a perguntar: quando efetivamente teremos um Governo Federal, da União, que trabalhe para desenvolver as regiões mais carentes do nosso País? Onde estão os grandes projetos para o desenvolvimento do Nordeste do Brasil? Os grandes investimentos em infra-estrutura? Muitos deles estão prometidos no PAC, mas estão prometidos com investimentos do Governo? Não, por meio de PPPs. Ora, nós já vamos para três anos de aprovação da legislação e nenhuma PPP vingou neste Governo. Nenhuma! Nenhuma sequer! Querem concluir projeto de irrigação do Baixo Irecê, do Salitre, duplicação da BR-116, tudo por meio de PPPs, mas até hoje nenhum projeto de PPP foi avante.

Então, é assim que os projetos estruturantes chegarão para o Nordeste? Está prometido o gasoduto que vai levar auto-suficiência de gás para o Nordeste, o Gasene, ligando o Rio de Janeiro ao Estado da Bahia. A obra está prometida, mas não avança. Não avança, Sr. Presidente! O Presidente Lula está no seu segundo mandato. E o tempo vai passando.

(Interrupção do som.)

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Só para concluir, Sr. Presidente.

Promete-se a Pernambuco a nova refinaria. Vamos ficar no aguardo dessa nova refinaria.

Enfim, Sr. Presidente, o que queremos cobrar do Presidente Lula, como nordestino, é que ele possa concluir ou iniciar projetos que promovam o efetivo combate a essas desigualdades regionais, que são inaceitáveis. Que ele retire esses vetos, que oriente a sua base aqui a derrubar os seus vetos contra o projeto de recriação da Sudene, porque a Sudene é essencial para a nossa Região.

Sr. Presidente, agradeço a V. Exª. Vamos continuar sempre cobrando e reclamando desse Governo por políticas específicas para promover a aceleração do desenvolvimento das regiões mais carentes do nosso País.

Muito obrigado, Sr.Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2007 - Página 10991