Discurso durante a 52ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro de audiência pública, hoje, no auditório Petrônio Portella, no Senado Federal, com representantes dos povos indígenas brasileiros. Considerações sobre o filme "A vida é um sopro", do diretor e roteirista gaúcho Fabrain Maciel, sobre a obra de Oscar Niemeyer e seus 100 anos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INDIGENISTA. POLITICA CULTURAL.:
  • Registro de audiência pública, hoje, no auditório Petrônio Portella, no Senado Federal, com representantes dos povos indígenas brasileiros. Considerações sobre o filme "A vida é um sopro", do diretor e roteirista gaúcho Fabrain Maciel, sobre a obra de Oscar Niemeyer e seus 100 anos.
Aparteantes
Wellington Salgado.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2007 - Página 11001
Assunto
Outros > POLITICA INDIGENISTA. POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, SENADO, HOMENAGEM, DIA, INDIO, DEBATE, REIVINDICAÇÃO, GRUPO INDIGENA.
  • IMPORTANCIA, FILME NACIONAL, BIOGRAFIA, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, SAUDAÇÃO, DIRETOR, PRODUTOR.
  • ELOGIO, EMPENHO, DIRETOR, EMPRESA, EXIBIÇÃO, OBTENÇÃO, ACORDO, DETERMINAÇÃO, GRATUIDADE, ACESSO, POPULAÇÃO, FILME, GARANTIA, DIREITOS, CIDADANIA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Prezado Presidente Senador Augusto Botelho, Srªs e Srs. Senadores, Oscar Niemeyer está certamente feliz por saber que esta Casa, o Congresso Nacional, abrigou hoje não apenas os representantes do povo, os Senadores e os Deputados Federais.

Justamente no maior auditório desta Casa, no auditório Petrônio Portella, tivemos, por iniciativa do Senador Paulo Paim, das 9 horas às 14 horas, uma extraordinária audiência pública a que quase mil representantes dos povos indígenas brasileiros de praticamente todos os Estados compareceram e expressaram os seus sentimentos, as suas reivindicações. Eles estiveram há pouco com o Presidente Lula. Esteve também presente o Presidente da Funai, Márcio Augusto Meira, que expressou sua opinião e sua vontade de ouvir muito os povos indígenas, as suas lideranças.

Ainda ontem, Sr. Presidente, pude ter a oportunidade, como muitos aqui no Senado, de ver a obra-prima de Oscar Niemeyer em filme que quero muito recomendar não só a arquitetos e arquitetas, aqueles que abraçaram a profissão de Oscar Niemeyer, mas também a todos os seres humanos. É muito bonito o filme documentário “A vida é um sopro”, um registro da obra de Oscar Niemeyer e seus 100 anos.

Quero cumprimentar o diretor e roteirista gaúcho Fabiano Maciel. É o primeiro longa-metragem que fazem Maciel e Sacha, o produtor. Trata-se de um filme de noventa minutos, da Santa Clara Comunicação, que tem depoimentos dos mais belos feitos por José Saramago, Eduardo Galeano, Carlos Heitor Cony, o poeta Ferreira Gullar, o historiador inglês Eric Hobsbawn, um dos maiores historiadores do mundo, o cineasta Nelson Pereira do Santos, o ex-Presidente de Portugal Mário Soares e o compositor, poeta e cantor querido Chico Buarque, todos falando a respeito de Oscar Niemeyer.

O filme vai mostrando, quase por ordem, ao longo de sua vida, as principais obras de Niemeyer. Mostra tudo aquilo que ele realizou tanto no Brasil quanto no exterior. Suas obras à época em que Juscelino Kubitschek era Prefeito de Belo Horizonte, ali, em torno de Pampulha: o Iate Clube, o Cassino, a Igreja de São Francisco de Assis, a Casa do Baile. Depois, a casa de Oscar Niemeyer, em Canoas, tão simples e tão bela.

Os principais edifícios da Capital do Brasil, Brasília: o Congresso Nacional, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados, o Museu da Cidade, a Praça dos Três Poderes, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto, a Catedral de Brasília - a forma como ele, que se diz não religioso, respeitando tanto a fé católica, avaliou que era importante que pudessem os que freqüentassem a igreja olhar para o céu, numa concepção genial do arquiteto -, o Ministério da Justiça, o Palácio do Itamaraty, o Teatro Nacional, o Palácio da Alvorada, ele explicando, com desenhos, as diversas curvas que colocava nos seus esboços.

Os projetos no exterior, como a sede do Partido Comunista francês, a Mesquita de Argel, que acabou não sendo construída, a Editora Mondadori em Milão, na Itália, a Universidade de Constantine, em Argel, a Bolsa de Trabalho, na França, em Bobigny, a Fata em Turim, na Itália; a Casa de Cultura, seus projetos no Caminho Niemeyer, em Niterói, que agora passou a ter, com o novo teatro, uma nova obra que não apareceu nesse filme porque acabou de ser inaugurada. A praça com a Catedral, o Teatro, o Memorial Roberto Silveira. Enfim, são tantas obras.

            Também presente nesse filme estão as suas palavras, os seus poemas, a exemplo deste, que é tão belo:

Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país; no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida.

De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.

Essas palavras sintetizam a beleza da obra de Oscar Niemeyer.

Prezado Senador Wellington Salgado de Oliveira, quero também cumprimentá-lo por ter produzido o livro Oscar Niemeyer - Minha Arquitetura - 1937 a 2005, que traz muito daquilo que está nesse filme, que desde a sua concepção até a sua realização exigiram dez anos de trabalho.

Sabe, Senador Wellington, quero muito recomendar a todos brasileiros, aos jovens, aos adultos, às crianças que vejam esse filme a fim de perceberem o que é a beleza e a capacidade criativa e genial de Oscar Niemeyer, que descreve no filme como ele, menino, começou a desenhar e chamar a atenção de seu pai, que o estimulou. Assim, acabou seguindo a arquitetura. Mas a facilidade com que ele desenha as curvas e produz esses edifícios maravilhosos, que, sobretudo, honram a arquitetura brasileira, é algo que nos entusiasma a todos.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Gostaria de informar, aqui, que a exibição do filme “A Vida é um Sopro” vai iniciar-se com apresentações em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e outras principais cidades brasileiras, amanhã. Algo muito interessante, que certamente está deixando Oscar Niemeyer contente, é que os produtores e as empresas de exibição do filme conseguiram um acordo para que, na primeira semana, Sr. Presidente Leomar Quintanilha, seja de graça.

Senadores Augusto Botelho e Mão Santa, o povo brasileiro - até mesmo quem, porventura, estiver sem recursos - poderá assistir a esse belo filme sem precisar pagar, por uma semana. Isso também é uma bênção de Deus, que tem muito a ver com o espírito, a vontade de realização de justiça, de ampliar para todo o povo os direitos à cidadania e inclusive à cultura, ao belo, a sua vontade de que as pessoas chegassem aqui e ficassem espantadas com a beleza deste plenário que todos os dias nós admiramos. O visitante que vem aqui diz: “Mas que bonito!”, como Oscar Niemeyer imaginava. “Gosto mesmo que as pessoas se surpreendam com a beleza daquilo que desenhei e foi construído.”

Concedo um aparte, com muita honra, ao Senador Wellington Salgado de Oliveira.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Senador Eduardo Suplicy, mais uma vez, verificamos que realmente V. Exª é um Senador diferenciado, porque tem sensibilidade. Quando a minha família, pela universidade, resolveu fazer esse livro, eu não tinha idéia de quanto seria maravilhoso ver reunidas todas as obras de Oscar Niemeyer. Quando se lê o livro, vê-se a magnitude total da obra desse grande brasileiro. Esse livro, além de conter o projeto da Universidade de Brasília, apresenta uma obra que, a pedido do ex-Governador Joaquim Roriz, foi feita por Oscar Niemeyer e é chamada “Pomba da Paz” - se V. Exª procurar, vai encontrá-la. Trata-se de um projeto feito para ser colocado de frente para o Congresso, escondendo a rodoviária. V. Exª, ao olhá-la, vai apaixonar-se pelo traço, pela beleza. Como é que se pode desenhar uma pomba da paz tão linda em concreto? Como ele consegue fazer isso? É impressionante! Ao olhar, apaixonei-me tanto que pedi ao grande arquiteto Oscar Niemeyer que autorizasse a construir uma em Uberlândia, que possui um local adequado para a instalação dessa “Pomba da Paz”. Depois vou mostrá-la.

Aí, o Professor Oscar Niemeyer falou assim: “Wellington, só se o Governador Joaquim Roriz autorizar uma cópia”, porque eu tinha a idéia de fazer a pomba olhando para o lado contrário ao que ele fez para Brasília. Já quase acertei com o Senador Joaquim Roriz, que autorizou, para que possamos repetir esse projeto, porém com a “Pomba da Paz” olhando para o outro lado em Uberlândia. Olhando nos olhos dessa pomba, que é alta, grande, será possível ver toda cidade, no ponto onde tenho a idéia de construí-la. V. Exª está de parabéns. Realmente, o livro é maravilhoso. Eu o trouxe para cá quando soube que V. Exª participaria também desse evento; mandei para cá 15 caixas desse livro para distribuir para os Senadores e para as pessoas que têm esse carinho pela obra do Professor Oscar Niemeyer, e todas as unidades acabaram rapidamente. Tenho em estoque alguns e trarei novamente como um presente para os Senadores, porque, da mesma maneira em que V. Exª está fascinado pelo conjunto da obra, também fiquei. Muitas vezes, chego em casa aqui em Brasília, fico sozinho - tenho um livro desse aqui em Brasília - e gosto de dar uma olhada com muito carinho. V. Exª está de parabéns pelo tratamento dado ao maior arquiteto do Brasil, que é o Professor Oscar Niemeyer.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Wellington Salgado de Oliveira, permita-me concluir o meu discurso com dois poemas de Oscar Niemeyer que considero muito belos. Estão no filme e também aqui no livro.

Vou dizer as palavras como estão, respeitando o autor, e peço ao Presidente que não considere que eu esteja infringindo o decoro parlamentar, porque se trata de um poema, de Oscar Niemeyer, do tempo em que ele, no exílio disse:

Estou longe de tudo,

de tudo que gosto,

dessa terra tão linda

que me viu nascer.

Um dia eu me queimo,

meto o pé na estrada,

é aí, no Brasil,

que eu quero viver.

Cada um no seu canto,

cada um no seu teto,

a brincar com os amigos,

vendo o tempo correr.

Quero olhar as estrelas,

quero sentir a vida,

é aí, no Brasil,

que eu quero viver.

Estou puto da vida,

esta gripe não passa,

de ouvir tanta besteira

não me posso conter.

Um dia me queimo,

e largo isto tudo,

é aí, no Brasil,

que eu quero viver.

Isto aqui não me serve,

Não me serve de nada,

a decisão está tomada,

ninguém vai me deter.

Que se foda o trabalho,

e este mundo de merda,

é aí, no Brasil,

que eu quero viver.

E, concluindo, com a sua “Autodefinição”:

Na folha branca de papel faço o meu risco,

Retas e curvas entrelaçadas,

E prossigo atento e tudo arrisco

Na procura das formas desejadas.

São templos e palácios soltos pelo ar,

Pássaros alados, o que você quiser.

Mas se os olhar um pouco devagar,

Encontrará, em todos, os encantos da mulher.

Deixo de lado o sonho que sonhava.

A miséria do mundo me revolta.

Quero pouco, muito pouco, quase nada.

A arquitetura que faço não importa.

O que eu quero é a pobreza superada,

A vida mais feliz, a pátria mais amada.

Um abraço,

Oscar

Eu quero ver se consigo, em breve, fazer uma visita ao querido Oscar Niemeyer, ali, no seu apartamento, e vou dar a ele o livro Renda Básica da Cidadania: A Resposta Dada Pelo Vento, que, acredito, colaborará muito para que a pobreza que ele quer ver apagada do Brasil e do Planeta Terra possa efetivamente, de modo eficiente, ser terminada.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2007 - Página 11001