Discurso durante a 58ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Agradecimento a seus pares pela sua indicação como Presidente da Subcomissão Temporária sobre Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Leitura de discurso pronunciado por S.Exa., por ocasião do fechamento do Lixão do Roger, na cidade de João Pessoa.

Autor
Cícero Lucena (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PB)
Nome completo: Cícero de Lucena Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Agradecimento a seus pares pela sua indicação como Presidente da Subcomissão Temporária sobre Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Leitura de discurso pronunciado por S.Exa., por ocasião do fechamento do Lixão do Roger, na cidade de João Pessoa.
Aparteantes
Augusto Botelho, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2007 - Página 11823
Assunto
Outros > SENADO. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, COMISSÃO, MEIO AMBIENTE, SENADO, NOMEAÇÃO, ORADOR, PRESIDENCIA, SUBCOMISSÃO, FISCALIZAÇÃO, RESIDUO.
  • LEITURA, DISCURSO, AUTORIA, ORADOR, CERIMONIA, FECHAMENTO, DEPOSITO, LIXO, MUNICIPIO, JOÃO PESSOA (PB), ESTADO DA PARAIBA (PB), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, AGENTE, LIMPEZA, RECEBIMENTO, RENDA MINIMA, MELHORIA, SITUAÇÃO, TRABALHO, BENEFICIO, SOCIEDADE.

O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, agradeço a oportunidade e me somo a todos aqueles que, não só nesta Casa, mas no Mato Grosso e no Brasil como um todo, demonstraram solidariedade e reconhecimento à sua história e à sua vida pública, no sentido de servir. Todos acompanhamos e damos nosso verdadeiro testemunho.

Sr. Presidente, o meu pronunciamento, hoje, é no sentido de agradecer, mais uma vez, a confiança dos Senadores, em especial os membros da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle, que, quando da criação da Subcomissão Temporária sobre o Gerenciamento de Resíduos Sólidos, concederam-me a condição de Presidente daquela subcomissão e ao Senador João, a de Vice-Presidente.

É com satisfação, mas também com muita responsabilidade, que assumo a Presidência da Subcomissão Temporária sobre o Gerenciamento de Resíduos Sólidos, Senador Mão Santa, até porque isso resgatou um pouco da história da minha experiência na vida pública.

Passarei a ler um discurso que fiz na oportunidade do fechamento do Lixão do Roger, com mais de meio século de existência na cidade de João Pessoa, o que Deus me deu oportunidade de fazer quando Prefeito daquela cidade.

O discurso, então proferido, assim dizia:

Excelentíssimo Governador, amigo, irmão, Cássio Cunha Lima, reverendíssimo Dom Marcelo Carvalheira, senhores secretários estaduais, federais, secretários de estado e demais autoridades presentes. Os nossos agentes ambientais, minhas senhoras e meus senhores. Me permitam fazer dois relatos: o primeiro, Cássio, é viajando no tempo e lembrando do meu pai, que foi chamado há 35 anos atrás, quando eu tinha apenas 11 anos de idade. Mas nesse curto período, que foi muito importante na minha vida, quando ele via algo grande, algo sublime, algo onde ele sentia a presença de Deus, ele dizia, não só para mim, mas para todos os meus irmãos: “Oh, Deus! Como Tu és grande que nem o infinito pode te conter”. É isto que eu vivo nesse instante. O quanto Deus é grande em nos proporcionar essa oportunidade, essa chance de ser instrumento de Sua vontade. E agora, me passa um filme na minha cabeça e eu recordo do primeiro dia, quando tomei posse como prefeito dessa cidade. Foi festivo é verdade, solenidade de câmara, discurso de posse no teatro Santa Rosa, transmissão de cargo na frente da Prefeitura. No dia seguinte começava nossa luta, e eu, que morava no Bessa, e ainda moro, me dirigia ao primeiro dia de trabalho passando aqui pelo Lixão do Roger. Quero dizer a vocês que eu ouvi uma voz, era a voz do lixão que dizia: “Cícero...” e eu me espantava com aquele chamado; ele dizia: “Cícero, me permita lhe chamar de irmão, me permita lhe dizer que eu tenho praticamente a sua idade, mas eu estou lhe vendo com tanta energia, com tanta vontade de trabalhar por esta cidade que eu lhe peço ajuda. Cuide de mim. Me dê a chance, a oportunidade de um renascer. Eu sei que é difícil, mas eu acredito na sua fé”. A partir daí, eu travei muitos diálogos com o Lixão do Roger. Eu recordo nos primeiros dias, quando a imprensa noticiava um grito de Dom Marcelo, de que esta cidade precisava acabar com a chaga social que era o Lixão do Roger. Foi então que estabeleci como caminho para a prefeitura passar sempre por esse Lixão, para renovar a minha vontade e o meu compromisso de dar uma solução. Como ele dizia, renascer. Em mais um diálogo ele me pedia para que eu sarasse o coração dele que estava sangrando pelas famílias, pelas crianças que aqui moravam e aqui trabalhavam na busca do seu sustento. E aí mais uma vez ele acionou a gente. Convocou Lauremília (que é a minha esposa) para que numa visita ao Lixão visse uma criança de menos de seis anos disputando comida para se alimentar. Ela daqui mesmo me ligou, chorando, pedindo que nós abríssemos uma creche para que as crianças não precisassem disputar alimentos no Lixão do Roger. E aí o Lixão me dizia: “eu sei que é uma tarefa difícil. Você vai precisar da ajuda de muitos. Vão aparecer alguns empecilhos, vão aparecer alguns que querem atrapalhar, mas a sua fé é maior. Convoque pessoas para lhe ajudar, convoque, por exemplo, o então Ministro Fernando Catão para viabilizar a verba de fazer as casas para as famílias que aqui moravam. Convoque Potengi e estabeleça a ele, e a sua equipe, como secretário de infra-estrutura para que em cem dias construam todos os apartamentos (e eles passem um primeiro Natal já não mais morando no Lixão do Roger). Convoque o Neroaldo (Secretário de Educação) e Isa Arrochelas (de Ação Social), para fazer creche e escola para essas famílias, porque dessa forma você está cuidando do meu coração, que são essas famílias, que aqui sobrevivem de forma desumana.

            Continuei a passar pela frente do Lixão. Ele me pedia então, nesse nosso eterno diálogo, que eu tratasse do líquido que corria nas suas veias: o chorume, que eu cuidasse de seus pulmões para que ele pudesse respirar melhor: eram os gases tóxicos, que eu desse oportunidade de ele renovar a esperança do renascimento. Bati à porta do Ministério do Meio Ambiente, em Brasília, e aqui tenho o amigo Gustavo Krause, que também ajudou com o início desse trabalho. Um trabalho que desde o começo foi conduzido pela EMLUR (Empresa Municipal de Limpeza Urbana) e pela sua equipe. Iniciamos o projeto de remediação do Lixão do Roger. Juntamos forças, conhecimentos e pesquisas e fomos atrás de alternativas para não mais depositar o lixo aqui. E nas minhas orações e reflexões, já não precisava mais passar aqui na frente. O Lixão ia até onde eu estivesse e renovava a esperança do renascimento. Começamos a estabelecer esse trabalho, que não é simplesmente o de fechar este depósito de lixo e abrir um outro local para botar um novo lixo. É sim, um projeto de amor, é um projeto de solidariedade, é um projeto de respeito, de carinho, de desejo e de vontade de que essa cidade seja mais justa e mais humana. Mobilizamos toda a Prefeitura. Todos contribuíram com este projeto, com trabalho, com dedicação, com idéias, com doação e com espírito público. Seria difícil nomear todos, mas sem dúvida, na EMLUR, como coordenadora fundamental nesse projeto, todos os superintendentes que por lá passaram, inclusive o atual, sua diretoria técnica, Zé Dantas e os demais diretores. Já no fim mais próximo entrou mais uma vez um pedido do Lixão do Roger: “E agora Cícero? O que você vai fazer com esses parceiros, esses seres humanos que em determinado instante da sua vida ficaram sem oportunidades? Como nós vamos dar dignidade a eles e a suas famílias? Convoque mais uma vez a sua equipe e os seus aliados, vamos ensiná-los a ler e a escrever, vamos treiná-los, qualificá-los, orientá-los, criar alternativas que garantam a sua renda e o seu sustento. Eles são trabalhadores dignos, são trabalhadores honestos, e trabalham de forma desumana. Vamos Cícero, que Deus ilumine a forma de você fazer isso e que você encontre o melhor caminho para que isso possa acontecer”. E hoje, nós podemos dizer que os ex-catadores de lixo são os nossos agentes ambientais do amanhã e do futuro desta cidade.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Pois não, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Peço permissão ao Presidente para dar o testemunho do que significa Cícero Lucena para o Nordeste. Ele, Vice-Governador, assumiu o Governo do Estado num momento difícil, de lutas políticas as mais conturbadas do Nordeste e, na sua tranqüilidade... Só tenho uma mágoa: ele era do PMDB. Naquele tempo, a Paraíba era a capital do PMDB. Fui, de repente, eleito Governador do Estado e fui aprender com o Governo dele e de Iris Rezende, que também governava e representava o PMDB.

(Interrupção do som.)

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Mas Fernando Henrique Cardoso, reconhecendo o apoio que precisaria do Nordeste, foi buscar o nome de Cícero Lucena, que representava todas as nossas forças do PMDB no Nordeste. E ele foi Ministro da Integração Nacional - o melhor Ministro. Digo isso movido pela gratidão, que é a mais bela das virtudes. Logo que passei a governar o Estado, houve uma calamidade, uma grande enchente; Teresina tinha perdido o seu líder, Wall Ferraz, e ele, de pronto, entregou-nos US$5 milhões, que amenizaram o sofrimento do povo, de chofre, rapidamente. Depois, tive oportunidade de ir lá, traduzindo a gratidão e o respeito do povo do Piauí, para outorgar a comenda maior do nosso Estado, a Grã-Cruz da Ordem da Renascença, e estimulá-lo a ser Prefeito. E ele foi um Prefeito extraordinário. Aí está: o povo o manda para cá, e ele é Presidente de outra Comissão e, com sua experiência de administrador, de técnico, sem dúvida nenhuma, engrandece o Nordeste e, hoje, o Congresso Nacional.

O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. V. Exª, como sempre, muito generoso, relatando a história; só se esqueceu de dizer que a minha indicação para o Ministério partiu de uma proposta de V. Exª ao Partido.

Prosseguindo na leitura do discurso:

Vamos Cícero, que Deus ilumine a forma de você fazer isso e que você encontre o melhor caminho para que isso possa acontecer”. E hoje, nós podemos dizer que os ex-catadores do lixo são os nossos agentes ambientais do amanhã e do futuro desta cidade, treinados, qualificados, com a renda mínima garantida e com melhores condições de trabalho.

Mais ainda tinha muito a fazer por esta cidade. O Lixão não parava de me cobrar e ele me dizia: “Cícero, eu estou renascendo com as árvores transplantadas, já chegando a mil e quinhentas, os meus pulmões já podem respirar, agora não mais gás tóxico, mas o oxigênio e a demonstração maior disso é a presença da vida retornando, o passarinho que começa a fazer o ninho por aqui, numa demonstração clara de que a natureza me quer de volta para incorporar sua contribuição em favor da população. Se tudo isso não bastasse Cícero, eu queria que você fizesse mais. Eu queria que você pegasse o exemplo que eu fui de degradação, de contribuição maléfica às questões sociais e às questões ambientais e tirasse lições e proveitos para que a cidade de João Pessoa aprendesse com esse exemplo. Vamos meu irmão, vamos trazer as crianças das escolas municipais, vamos trazer as crianças das escolas estaduais e das escolas particulares para que elas possam dimensionar o que está acontecendo com esse meu renascimento e que este exemplo sirva de lição para gerações futuras, para que todos possam se sentir compromissados e comprometidos, cada um fazendo a sua parte na história bela que será escrita a partir de agora”.

Voltei ao Lixão, nas visitas com as autoridades vereadores, deputados, presidentes de tribunais, com a imprensa e encontrei várias vezes escolas visitando o Lixão. Todos dando testemunhos da transformação, da alegria de ver isso acontecendo.

Ontem eu passei aqui as onze e meia e ouvi do Lixão: “Cícero, conseguimos! Vamos ser exemplo para as futuras gerações, nossa cidade vai abraçar esse projeto, nossa cidade vai conduzir esse projeto. Na sua história, todos nós seremos meros coadjuvantes na busca da qualidade de vida no nosso povo”.

E, para encerrar, que me alonguei demais. Devo dizer que foi um longa-metragem com final feliz. Quero dizer que, ao chegar aqui, mesmo com toda essa multidão [presente à inauguração], eu ouvi mais uma vez o Lixão dizendo: “Meu amigo, obrigado! Por mim e por João Pessoa. Mas não esqueça de agradecer nunca a oportunidade de ter feito esse trabalho de resgate da natureza e da dignidade humana”.

Agradeço humildemente a Deus. Muito obrigado. [sic]

O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Senador Cícero Lucena, V. Exª me concede um aparte?

O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Pois não, Senador.

O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Senador Cícero Lucena, solidarizo-me com a idéia de V. Exª e dos demais Senadores de formar a Subcomissão de Gerenciamento Resíduos Sólidos. Tive oportunidade de ler a sua crônica. V. Exª está contribuindo muito. Além de melhorar a vida daquelas pessoas que vivem em tristes condições no lixão, está melhorando o futuro da região onde é colocado o lixão. Parabenizo V. Exª pelo serviço desenvolvido para a solução do Lixão do Roger. Tenho certeza de que vamos desenvolver aqui grandes trabalhos para que os Municípios dêem a destinação correta e adequada ao seu lixo, protegendo as famílias. Quando se recolhe o lixo e a ele se dá boa direção, evita-se que morram crianças de infecção intestinal ou pessoas com as águas contaminadas pelo chorume. Meus parabéns pela Comissão! Tenho certeza de que trabalharemos bastante.

O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB) - Agradeço a V. Exª, Senador Augusto Botelho. Com certeza, com sua participação, juntamente com os demais Senadores, com fé em Deus, atingiremos nossas metas.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/04/2007 - Página 11823