Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da solenidade de canonização de Frei Galvão, que marcará a visita do Papa Bento XVI ao Brasil nesta semana.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. HOMENAGEM.:
  • Registro da solenidade de canonização de Frei Galvão, que marcará a visita do Papa Bento XVI ao Brasil nesta semana.
Aparteantes
Augusto Botelho, Eduardo Suplicy, Flávio Arns, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2007 - Página 13712
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. HOMENAGEM.
Indexação
  • ANUNCIO, IMPORTANCIA, VISITA, BENTO XVI, PAPA, BRASIL, ENCONTRO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, JUVENTUDE, ABERTURA, CONFERENCIA, BISPO, AMERICA LATINA, ANALISE, SITUAÇÃO, CONTINENTE, DECLARAÇÃO, SANTO PADROEIRO, NACIONALIDADE BRASILEIRA.
  • REGISTRO, HISTORIA, SANTO PADROEIRO, BRASIL, SAUDAÇÃO, PRESIDENTE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB).

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por cinco dias, a partir de amanhã, quarta-feira, o povo brasileiro, com orgulho e júbilo, será anfitrião de Sua Santidade, o Papa Bento XVI, em sua primeira visita ao nosso continente após o pontificado. Nesse período, o Sumo Pontífice cumprirá uma agenda intensa, da qual se podem destacar: a visita ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o encontro com jovens brasileiros, no estádio do Pacaembu, no dia 10; a canonização do primeiro santo nascido em terras brasileiras, Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, no dia 11; a reunião com o episcopado brasileiro, também no dia 11; e a abertura da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (V Celam), no dia 13, quando encerrará a sua programação em nossas terras e retornará ao Vaticano.

            A vinda de Bento XVI ao Brasil tem um grande significado para a comunidade católica de todo o mundo, mas especialmente para a comunidade latino-americana, ensejando, na preparação do V Celam, uma profunda reflexão sobre os novos desafios que se impõem à missão evangelizadora da Igreja. Em atenção especial a um pedido feito pelo episcopado brasileiro, e aproveitando a sua presença na abertura do V Celam, o Sumo Pontífice procederá à canonização de Frei Galvão em terras brasileiras, em vez de fazê-lo no Vaticano, como habitualmente.

            O encontro de Bento XVI com o Presidente Lula, no Palácio dos Bandeirantes, é também cercado de muita expectativa, embora Sua Santidade esteja em nosso País em visita pastoral, e não como Chefe de Estado. Na ocasião, deverão ser tratados assuntos de interesse convergente entre o Brasil e o Vaticano, com ênfase na luta contra a pobreza e a fome e também na busca de solução pacífica para conflitos que ocorrem em várias partes do mundo. Embora não tenha sido confirmado, é possível que desse encontro resulte uma mensagem pela conclusão das negociações da Organização Mundial do Comércio, a Rodada Doha, como contribuição para a redução da pobreza nos países mais pobres.

            A presença de um Papa entre nós, pela quinta vez, ficará indelevelmente marcada nos corações dos fiéis brasileiros. O Brasil foi escolhido para essa primeira viagem ao Continente Americano por ser o maior país da América Latina e o país com maior número de católicos, o que, sem dúvida, aumenta a nossa responsabilidade de contribuir para a missão evangelizadora da Igreja. E quando evocarmos essa vinda de Bento XVI, futuramente, ela estará sempre associada a um fato histórico, que será a canonização do primeiro santo brasileiro.

            Frei Galvão nasceu em Guaratinguetá, em 1739, e morreu em 1822, quando se proclamou a nossa Independência. Desempenhou diversos cargos de responsabilidade eclesiástica e era “um homem de Deus”, nas palavras de Dom Odílio Scherer, Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB.

            Beatificado em 1998, seu primeiro milagre reconhecido pela Igreja ocorreu em 1990, quando uma menina de apenas quatro anos, acometida de hepatite, internada numa Unidade de Terapia Intensiva e desenganada pela medicina, curou-se por sua intervenção; alguns anos depois, em 1999, ocorreu o segundo milagre atribuído a Frei Galvão, um chamado “milagre duplo”, com a sobrevivência de uma mãe em gravidez de alto risco, e a superação de grave doença do recém-nascido.

            A Igreja Católica, como se sabe, exige a comprovação de dois milagres, em rigorosos processos investigatórios, como requisito para a condição de santidade. Cabe aqui esclarecer, Sr. Presidente, que a Igreja não atribui o milagre aos santos e não santifica ninguém: apenas reconhece a santidade e a intercessão dos santos, uma vez que somente Deus pode operar milagres. Entretanto, quando a Igreja canoniza um santo, permite que se recorra à sua intercessão e até convida os fiéis a imitar o seu exemplo, na determinação de trilhar os caminhos de Jesus Cristo.

            A visita do Papa ao Brasil atrairá a atenção de fiéis de todo o mundo não apenas por seu significado pastoral e pela canonização de Frei Galvão, mas também pela realização da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. O evento reunirá bispos de todos os países americanos e mais alguns convidados da Europa, da África e da Ásia, além de presbíteros, diáconos, leigos, teólogos e representantes de outras religiões, num total de quase 300 participantes. Esta será a quinta assembléia da Celam e a segunda no Brasil. Antes, tivemos as conferências do Rio, em 1955; de Medellín, em 1968; de Puebla, em 1979; e de Santo Domingo, em 1992.

            A Conferência de Aparecida, recorrendo novamente a Dom Odílio Scherer, será um grande esforço exercido em comunhão, para “ouvir a voz de Deus na voz do tempo”. “A Igreja latino-americana se interroga sobre si mesma e sobre sua missão no meio dos povos deste continente. Ela quer ser fiel a Jesus Cristo e à missão dele recebida, e por isso busca respostas aos desafios atuais por ela enfrentados”, explica Dom Scherer.

            No momento em que o Brasil todo se mobiliza para dar as boas-vindas ao Papa Bento XVI, e reconhecendo nele um dos maiores teólogos da atualidade, além de sua profunda via espiritual, ocorre-me uma citação da 1ª Epístola de São Paulo aos Coríntios, com a qual saudei, neste mesmo plenário, os 25 anos de pontificado do Papa João Paulo II: “Anunciar o Evangelho não é uma glória para mim, mas um dever que se impõe”.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, às vésperas da chegada de Sua Santidade ao nosso País, não podemos deixar de saudar também o novo Presidente eleito da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Vitória da Conquista e Arcebispo nomeado de Mariana, na sucessão do Cardeal Geraldo Majella Agnelo. Ao destacar o trabalho pastoral de Dom Agnelo, quero antecipar ao novo Presidente eleito da CNBB, os meus votos de uma feliz condução do rebanho de Deus no nosso País.

            Finalmente, Sr. Presidente, quero parabenizar a comunidade católica e o povo brasileiro em geral, formulando votos de que a presença do Sumo Pontífice entre nós fortaleça a nossa fé e ilumine os nossos atos, desejando a Sua Santidade...

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Papaléo Paes...

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Darei o aparte.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu também gostaria de merecer um aparte.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) -... e desejando a Sua Santidade plena realização do seu notável trabalho missionário.

            Concedo o aparte ao Senador Mão Santa e, em seguida, ao Senador Eduardo Suplicy.

            O SR. PRESIDENTE (Gerson Camata. PMDB - ES) - A Presidência quer advertir que, a partir de agora, os apartes são anti-regimentais. Eles devem ser solicitados dois minutos antes do término do discurso do orador. Haverá compreensão neste momento, mas o Regimento está acima de todos nós e a convivência de nós todos exige que obedeçamos ao que está escrito no Regimento.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Sr. Presidente...

            O SR. PRESIDENTE (Gerson Camata. PMDB - ES) - V. Exª poderá conceder os apartes excepcionalmente.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) -... se eu pedir os dois minutos de prorrogação, cumpre-se o Regimento.

            O SR. PRESIDENTE (Gerson Camata. PMDB - ES) - Exatamente, V. Exª terá os dois minutos. O aparteante poderá se pronunciar.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Senador Mão Santa.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, peço a compreensão de V. Exª, pois estávamos já com os microfones levantados, mas, dada a relevância do pronunciamento do Senador Papaléo Paes, avalio que todos resolvemos aguardar que ele concluísse, em respeito à sua palavra tão significativa, para, então, pedir o aparte. Assim, peço a V. Exª que leve em consideração esse aspecto.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Papaléo Paes, tendo em vista a visita do Papa Bento XVI, nada mais oportuno do que eu trazer aqui a lembrança de Darcy Ribeiro, que era um indigenista. Então, em seu primeiro discurso como Senador, ele disse: “Meu amigo Marçal Tupã, um dos homens da mais alta espiritualidade que conheci, foi ele que saudou o Papa quando de sua visita ao Brasil. Foi também ele que fez o Santo Padre dizer, na missa de Manaus, os nomes dos cinco líderes índios assassinados”. Poucos anos depois, Marçal também foi assassinado. Eu quero dizer que, quando João Paulo II passou no Piauí, havia uma faixa que representava, vamos dizer, a voz rouca das ruas: “Santo Padre, o povo vive dificuldades”. Então, é preciso levar ao Santo Padre também essas necessidades do povo brasileiro, que é um povo sofrido.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Ouço o aparte do Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Papaléo Paes, primeiramente, quero me solidarizar com o pronunciamento de V. Exª, que fala da relevância e dá as boas-vindas ao Papa Bento XVI, por ocasião da visita ao Brasil, que terá início amanhã. Penso que ela será muito significativa. São importantes as manifestações de fé que estão acontecendo por todo o Brasil. Acho que será uma oportunidade de diálogo com o Papa Bento XVI, inclusive por causa da sua formação, da sua trajetória. Mas há um aspecto que quero revelar e gostaria muito que acontecesse. Por mais difícil que tenha sido para a Igreja, para o próprio então Cardeal Joseph Ratzinger, que estava responsável pela questão da disciplina no episódio sobre a fé, havido nos idos de 1984, quando dirigiu questionamento ao expoente da Teologia da Libertação, Leonardo Boff, o que acabou, inclusive, impondo a este um tempo de silêncio com respeito às coisas que escrevia e falava, penso que, passados mais de 20 anos do fato, seria um acontecimento, até pelo respeito que Leonardo Boff e, obviamente, o Papa Bento XVI merecem, muito frutífero para a humanidade se ambos pudessem, nessa ocasião, se encontrar e ter um diálogo. Eu gostaria de dizer que, por exemplo, Dom Odílio Scherer foi aplaudido pela Igreja, por ocasião...

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) -... por ocasião da primeira missa que celebrou como Cardeal Arcebispo de São Paulo - infelizmente, não pude estar presente, mas soube do ocorrido -, ao falar de sua solidariedade para com os mais pobres. Ou seja, a perspectiva de a Igreja estar se portando com muita solidariedade em relação aos mais pobres, que tem a ver com muito daquilo que Leonardo Boff tantas vezes escreveu e falou, tem um sentido de profundidade. Penso que será importante para a Igreja de toda a América Latina, em especial a do Brasil, se os dois se encontrarem e puderem ter um diálogo. Será muito frutífero. Então, permita-me que eu faça esta sugestão. Não sei se está previsto o encontro de ambos, mas quem, dentro da Igreja Católica, pôde se encontrar para inúmeros diálogos, inclusive ali naquele local onde Galileu Galilei foi objeto de julgamento, obviamente, seria importante que, estando Bento XVI no Brasil, Sua Santidade possa se encontrar com Leonardo Boff, que está muito bem de saúde e tem sido, inclusive, entrevistado pelos mais diversos órgãos de imprensa, pelos meios de comunicação a respeito da sua expectativa. Avalio que esse pode ser um encontro importante não apenas para os brasileiros, mas para a humanidade.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Muito obrigado, Senador.

            Senador Flávio Arns, concedo um aparte a V. Exª.

            O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Senador Papaléo Paes, associo-me a todo o pronunciamento de V. Exª no sentido de festejarmos a vinda do Papa Bento XVI ao Brasil nesta primeira visita de Sua Santidade a este continente. Isso é muito importante e significativo, como todo o processo que V. Exª mencionou em relação a Frei Galvão. Muito importante também, além do voto de sucesso a Dom Geraldo, que está assumindo a CNBB, entidade que tem tanta presença e significado em nossa realidade, enaltecer, como V. Exª fez, e também reforçar, o trabalho de D. Geraldo Majella Agnelo, ex-Presidente da CNBB, Cardeal de Salvador e também, durante muito tempo, o representante da CNBB na Coordenação Nacional da Pastoral da Criança em nosso País. Ele foi Bispo em São Paulo, ajudando D. Paulo Evaristo, inclusive numa época importante; depois, Arcebispo de Londrina, no Paraná, meu Estado, assumindo essa tarefa grande e com o belo trabalho que fez diante de um organismo tão importante e tão querido para todos nós brasileiros, que é a CNBB. Parabéns a V. Exª!

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Muito obrigado, Senador Flávio Arns. Eu quero agradecer, Sr. Presidente...

            O SR. PRESIDENTE (Gerson Camata. PMDB - ES) - Queria solicitar a V. Exª, com a deferência, que concedesse o aparte ao Senador Augusto Botelho, que estava inscrito antes, embora, regimentalmente, estejamos estendendo um pouquinho o tempo, pois o assunto é muito importante e merece ser tratado.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Obrigado, Sr. Presidente. Com essa atitude, V. Exª está homenageando, por intermédio desta Casa, a vinda do nosso querido Papa.

            O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Sr. Presidente, muito obrigado. Exmº Sr. Senador Papaléo, muito obrigado. Quero apenas me solidarizar com V. Exª e pedir autorização para tornarem-se minhas as suas palavras nesse discurso. Nós somos o maior País católico do mundo. O País que tem o maior número de católicos no mundo é o Brasil. E a vinda do nosso Papa Bento XVI é um reforço para a nossa Igreja. Eu admiro muito Sua Santidade e penso que Deus interfere nas coisas dos Papas. Ele foi um Papa escolhido realmente para continuar o trabalho de João Paulo II. Muito obrigado.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Muito obrigado, Senador Augusto Botelho. Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2007 - Página 13712