Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Autor
Expedito Júnior (PR - Partido Liberal/RO)
Nome completo: Expedito Gonçalves Ferreira Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. :
  • Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2007 - Página 12422
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, MARECHAL, VULTO HISTORICO, REGISTRO, HISTORIA, CONSTRUÇÃO, LINHA DE TRANSMISSÃO, TELEGRAFIA, INTERIOR, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, MOTIVO, ALTERAÇÃO, NOME, TERRITORIO FEDERAL DE GUAPORE, ESTADO DE RONDONIA (RO), ELOGIO, CAPACIDADE, PACIFICAÇÃO, CONFLITO, INDIO, CRIAÇÃO, MUSEU, COMUNIDADE INDIGENA, PARQUE INDÍGENA DO XINGU.

            O SR. EXPEDITO JÚNIOR (Bloco/PR - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, em nome da Senadora Marisa Serrano, que muito orgulha a representação de Mato Grosso nesta Casa, gostaria de cumprimentar todas as Senadoras e dizer que é um orgulho participar, como co-autor, como Senador e como brasileiro, juntamente com o Senador Jayme Campos, desta solenidade, desta homenagem justa que fazemos ao Marechal Rondon.

            Outro orgulho muito grande para nós é o fato de que está presidindo a sessão nada mais nada menos que o quarto Senador de Rondônia, o Senador Gerson Camata, que tem familiares que moram no Estado de Rondônia. É orgulho para nós termos o quarto Senador do Estado de Rondônia.

            Em nome do representante do nosso Estado, Deputado Estadual, companheiro Dantas, gostaria de cumprimentar toda a Mesa.

            O Estado de Rondônia não poderia deixar de estar presente a esta justa homenagem que o Senado Federal presta ao Marechal Rondon. Afinal, a maior homenagem que o Brasil deu a esse grande humanista foi dar ao então Território do Guaporé o nome de “Rondônia” - Estado que hoje represento com muito orgulho nesta Casa.

            O exemplo de integração e harmonia entre culturas e civilizações que Rondon construiu pelo interior do Brasil é modelo imperecível de construção da brasilidade. E é esse modelo de brasilidade que quero enaltecer, sobretudo para que as gerações mais jovens o tenham como exemplo a ser seguido.

            Cândido Mariano da Silva Rondon não negava suas origens, nem na pele, nem nos traços firmes do rosto severo, mas de olhar suave e penetrante. Descendente de índios, nele tudo se somou, nada se perdeu: pelo lado paterno, recebeu o sangue de portugueses, espanhóis e também de índios guaná; pelo lado materno, sangue de índios Terena e Bororo. Talvez essa singular miscigenação tenha influenciado para que ele trilhasse caminhos que o fizeram tornar-se um dos mais importantes pacificadores de tribos indígenas do interior do Brasil e que o levaram a construir as primeiras “pontes” com os índios brasileiros.

            Ainda jovem, Rondon concluiu com distinção o curso secundário e se revelou um fora-de-série em matemática. Mas, sem perspectiva de avançar em estudos universitários no Estado de Cuiabá, Rondon ambicionou continuar os estudos no Rio de Janeiro.

            É verdade que, para um menino pobre de sua época, só duas saídas eram possíveis: escola militar ou seminário. A opção de Rondon foi firme: antes morubixaba do que pajé, ou seja, antes chefe guerreiro do que padre. Assim, aos 24 anos, tornando-se alferes, Rondon auxiliou Benjamin Constant a implantar o regime republicano.

            No ano seguinte, em 1890, graduou-se bacharel em Ciências Físicas e Naturais, foi promovido a tenente e passou a lecionar astronomia, mecânica nacional e matemática superior na escola militar.

            Logo recebeu o convite para participar de um dos mais árduos serviços do Exército, da virada do século: a construção de linhas telegráficas no interior do Brasil. Empreendedor e desbravador, Rondon não hesitou em abandonar a promissora carreira de magistério. Passou, então, com sua tropa, a abrir picadas, abater árvores, levantar postes e instalar fios, atravessando as matas de Goiás até Mato Grosso, sua terra natal. No meio da selva, apavorados, os soldados reagiam com violência às sucessivas ameaças dos bugres, os índios ditos selvagens no linguajar dos brancos. Havia, naquela época, o bugreiro, caçador de índios, normalmente um mestiço que, por meio da violência contra os seus parentes indígenas, tentavam cativar o favor dos brancos.

            Os índios que se opunham ao avanço dos usurpadores eram dizimados, e suas tabas e malocas, incendiadas. Para isso é que serviam os bugreiros, muitos deles pagos pelos próprios governos estaduais.

            Na verdade, o objetivo de Rondon não foi matar, antes pacificar, integrar os nativos aos europeus e a seus descendentes que chegavam.

            Srªs e Srs. Senadores, a grandeza de Rondon foi ser sempre rigoroso na aplicação da sua máxima: “Morrer, se for preciso; matar nunca!”

            Dezenas de oficiais e mais de centena e meia de soldados e trabalhadores civis foram mortos, porque desistiram de matar. Neles a força de uma idéia suplantou o instinto de conservação. O humanismo levado a sério tem custos altos. Rondon compreendeu que os índios brasileiros eram homens vivendo no neolítico, mas que, como todos seres humanos, ambicionavam viver melhor. E ele acreditava que súbitas e maravilhosas ferramentas de metal postas à disposição - facas, facões, cunhas, alavancas, anzóis, tesouras, machados e machetes - poderiam ser o chamariz, para que os índios se decidissem à caminhada da pré-história à civilização.

            Toda vez em que era cercado e atacado, Rondon deixava os presentes numa clareira e tratava de recuar com sua tropa. Era um sinal evidente de que desejava ali, nobre Senador Teotônio Vilela, repetindo o gesto, até que os índios se dispusessem à conversa.

            Mesmo com toda a paciência humanista que o animava, Rondon não lograva aproximação certa com todos, já que alguns grupos eram muitos remitentes.

            Certa vez, só para ilustrar, um dos indígenas da tribo nambikuára quase o matou à flechada; uma das setas raspou-lhe o rosto, a outra se cravou na bandoleira da carabina. E Rondon se limitou a disparar dois tiros para o alto, para atestar para os Nambikuáras que aquele “guerreiro” da tribo dos brancos não queria matar.

            A palavra de Rondon para coibir os ímpetos agressivos das tropas explica bem o ideal rondoniano, durante a expedição por volta de 1907:

            “Quem representa aqui o Exército sou eu, e o Exército não veio aqui para fazer guerras. Os Nambikuára não sabem que a nossa missão é de paz. Se esta terra fosse vossa e alguém viesse roubá-la e, ainda por cima, vos desse tiro, o que é que os senhores fariam, apesar de civilizados?”

            Vejam, Srªs e Srs. Senadores, que não foi fácil para Cândido Rondon empreender a sua tarefa de integração entre índios e brancos.

            Ele exigia que cada tribo pacificada ficasse sob a proteção do Exército, e, depois, sob a proteção do Estado. Demarcou cada território tribal e tentou registrá-lo como propriedade coletiva da tribo. E tratou de garantir-lhes o direito de viver suas próprias vidas, de professar suas próprias crenças e de evoluir segundo o ritmo que fossem capazes de alcançar, sem nunca estarem sujeitos a qualquer açoite ideológico.

            Foram mais de 57 anos dedicados à defesa dos direitos dos povos indígenas do Brasil.

            A construção de linhas telegráficas foi o motivo primeiro para as entradas de Rondon pelos sertões brasileiros. Inúmeras expedições permitiram a ele instalar, já em 1891, 1.574 quilômetros de linhas telegráficas, que alcançaram cerca de 7 mil quilômetros ao final de sua longa vida de desbravador.

            Até 1898, Rondon foi o responsável pela manutenção de linhas telegráficas de Mato Grosso. Em 1899, chefiou a comissão que estendeu as linhas de Cuiabá a Corumbá, também para a Bolívia e o Paraguai, como já disse aqui o Senador Jayme Campos. Em 1906, atravessou 250 léguas dos sertões do noroeste de Mato Grosso e 300 léguas da floresta Amazônica, para levar os fios de Cuiabá ao território do Acre, fechando assim o circuito telegráfico nacional.

            Em cada expedição, Rondon levava, além da tropa, duas equipes: uma, a dos construtores das linhas telegráficas; outra, a de cientistas: geólogos... Enfim, geógrafo era o próprio Rondon, que fez o levantamento de milhares de quilômetros lineares de terras e águas, determinou as coordenadas (longitude e latitude) de mais de 200 localidades, inscreveu no mapa do Brasil 12 rios, até então desconhecidos, e corrigiu erros grosseiros sobre o curso de outros tantos.

            Os cientistas das suas equipes recolheram mais de 3 mil artefatos indígenas, mais de 8 mil espécimes da flora, mais de 5 mil espécimes da fauna e um número incontável de amostras minerais. Foi a maior contribuição de sempre para o Museu Nacional.

            Já em 1952, Rondon conseguiu da Presidência da República a criação do Parque Indígena do Xingu, cujo usufruto pertence aos índios que ali vivem.

            O Museu do Índio, no Rio de Janeiro, foi por ele inaugurado em 1953.

            Com 90 anos, em 1956, este Congresso Nacional o promoveu a Marechal e, em sua homenagem, deu o nome de Rondônia ao Território do Guaporé por iniciativa do então Deputado Áureo Mello.

            Nessa época, o seu auxiliar, General Jaguaribe de Matos, já havia estimado que ele tinha percorrido o equivalente ao perímetro da Terra. Ou seja, mais ou menos 40 mil quilômetros. Dentro do Brasil , ele deu a volta ao mundo.

            Sem nenhuma dúvida, Rondon foi o último dos grandes exploradores do nosso Planeta.

            Sr. Presidente, Sr. Convidados, Srªs e Srs. Senadores, olhemos para a longa vida do Marechal Cândido Rondon e tiremos dela o exemplo máximo do amor pelo Brasil, por sua gente, que os indígenas representam com precedência sobre todos os outros que depois por aqui vieram habitar.

            O exemplo de Cândido Rondon é muito oportuno para lançar luzes sobre o comportamento que nossas lideranças devem ter com relação à cidadania de todos os que vivem neste País, sejam eles indígenas, sejam eles descendentes dos imigrantes.

            Sr. Presidente, gostaria de informar também que dei entrada em um Projeto de Lei do Senado, que trata:

Art. 1º Será inscrito o nome de Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon, no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.

Parágrafo único. O disposto neste artigo dar-se-á em 19 de janeiro de 2008, data do cinqüentenário da morte do Marechal Rondon.

            O objetivo dessa proposição é manter viva, através de um justo reconhecimento, a memória do herói brasileiro e grande humanista Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon, sobretudo para que seu exemplo máximo, de amor ao Brasil e por sua gente, fique para sempre registrado no Livro dos Heróis da Pátria, como um exemplo de integração e harmonia entre culturas e civilizações na construção da brasilidade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2007 - Página 12422