Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. :
  • Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2007 - Página 12424
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, MARECHAL, VULTO HISTORICO, CONSTRUÇÃO, LINHA DE TRANSMISSÃO, TELEGRAFIA, REGIÃO AMAZONICA.

            O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Cumprimento o Sr. Presidente; as Srªs Senadoras e os Srs. Senadores; o caro Desembargador-Presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Dr. Paulo Lessa; o Deputado Sérgio Ricardo, Presidente da Assembléia de Mato Grosso; o Deputado Estadual de Rondônia, Professor Dantas; o neto do Marechal Rondon, Almazor Rondon, cuja presença aqui engrandece esta homenagem, projetada pelo ilustre Senador Jayme Campos, que tenho a honra de cumprimentar, pois é histórica e brilhante a iniciativa de prestarmos homenagem a um grande homem.

            Presidente Gerson Camata, poderíamos aproveitar a oportunidade para prestar uma homenagem aos taquígrafos desta Casa, pois hoje é o Dia do Taquígrafo. Ao reverenciarmos Rondon, eles serão homenageados ao registrarem a homenagem histórica que, hoje, o Senado presta ao grande brasileiro Marechal Rondon.

            O SR. PRESIDENTE (Gerson Camata. PMDB - ES) - A Presidência se associa à homenagem e presta também homenagem aos taquígrafos da Casa e a todos os taquígrafos de todas as instituições brasileiras.

            O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Senador Jayme Campos, ilustre mato-grossense, homem de luta e desbravador de sertão também, digo sempre que é difícil mudar a história. Não temos a capacidade inventiva de criar fatos. A história só pode ser distorcida, não pode ser modificada. Os Senadores que me antecederam - um representa o Mato Grosso; o outro, Rondônia - fizeram a interligação e traduziram, com o aparte do Senador Marco Maciel, praticamente toda a história de Marechal Rondon.

            A Senadora Serys Slhessarenko pediu que eu falasse apenas por 10% do meu tempo, porque, como mato-grossense, também quer falar. É difícil, Senadora. Os fatos que foram relatados aqui estavam registrados no meu discurso. Peço ao Sr. Presidente que dê como lido todo o discurso.

            O Diretor do Arquivo lembrou-me de um fato importante que usou o nome de Rondon: o Projeto Rondon. Durante minha vida profissional na Polícia, aprendi a respeitar, por acompanhar de perto, o trabalho desenvolvido pelo Marechal Rondon no decorrer das suas atividades, em busca de um Brasil maior, quebrando o Tratado de Tordesilhas, aumentando esse coração maravilhoso que geograficamente representa o Brasil e estendendo milhares de quilômetros de fios, para facilitar a comunicação.

            Falou-me o Dr. Osmar que ele trouxe a comunicação pelas distâncias que o Brasil apresentava à época, para que se comunicassem entre si aqueles que aqui viviam sem contato com a civilização. Diariamente, ele escrevia uma carta para sua esposa, o que mostra o amor que tinha pela sua família. Dizia o Dr. Osmar que ele juntava essas cartas; na primeira oportunidade, ele as enviava. Imagino que a esposa, quando as recebia, tinha de ler um livro de amor. Ela lhe devotava grande respeito. Quanto tempo ele devia ficar longe da família para servir ao povo brasileiro e às comunidades indígenas! Uma vez, flechado de raspão no rosto e no seu bacamarte, atirou para cima, para não ferir o índio que tentou matá-lo. Ele disse que era preferível morrer a matar. Foi essa a expressão que ficou registrada na boca do índio, que fez referências a ele.

            Peço licença para ler a memorável entrevista que o índio Diaí Nambikuára, citado pelo Senador Expedito Júnior, concedeu à jornalista portuguesa Aurora Matos - que não conhecia bem Rondon -, para mostrar quem era o velho Marechal Rondon e todo o serviço que prestou.

            O povo nhambiquara espalha-se por aldeias às margens de afluentes do Guaporé e do Juruena. Os senhores devem conhecê-las, mas eu não. Quem sabe o Senador Jayme ou o Senador Expedito levam-me para lá um dia! Aquele povo vive em reservas federais com aproximadamente 50 mil quilômetros quadrados e com conformação que atinge os Estados de Mato Grosso e Rondônia. Apesar de haver documentos que atestam algumas incursões em território nhambiquara no século XVIII, os contatos realmente se estabeleceram em 1907, por intermédio da Comissão Rondon.

            Não sei se V. Exª, Senador Expedito Júnior, já falou nisso. Prestei atenção, mas não ouvi esse trecho. Do contrário, não iria sacrificá-los de me ouvirem. Mas isto é tão bonito: um índio, prestando um depoimento na Europa, conseguir relatar quem era Rondon.

            Na época, existiam mais de 10 mil nhambiquaras, dizimados por moléstias importadas das décadas de 30 e 40 até ficarem reduzidos a pouco mais de mil.

            Pois bem, Srªs e Srs. Senadores, Diaí Nambikuára mostrou-se inconformado com o desconhecimento da entrevistadora com relação à figura de Rondon. Proporcionou-lhe verdadeira aula sobre o que o Marechal foi e representou. Chegou a compará-lo a Ghandi, ao dizer:

        Rondon e Ghandi viveram na mesma época. Mas, distanciados por milhares de quilômetros, ignoravam-se um ao outro. E, afinal, tinham missão idêntica, viver para outrem, altruísmo. Um na América do Sul e o outro na Ásia. Ghandi é o mais conhecido porque sacudiu a Coroa Britânica. Rondon sacudiu apenas as consciências [Rondon sacudiu nossas consciências e as daqueles que viveram naquela época].

            Para o índio Diaí, a grandeza de Rondon está justamente na rigorosa aplicação da sua máxima: “Morrer se for preciso; matar nunca!”. Diaí lembrou que oficiais e soldados do Exército, assim como trabalhadores civis, foram mortos às dezenas porque desistiram de matar. E ressaltou: “Melhor dizendo, deixaram-se matar. Neles, a força de uma idéia suplantou o instinto de conservação. O humanismo, levado a sério, tem custos altos”.

            Foi praticamente parte do discurso. E arrematou: “Aurora [a jornalista portuguesa], antes compreenda, como Rondon compreendeu, que os índios são homens ainda vivendo no neolítico. Mas somos homens e, como todos os homens, ambicionamos viver melhor”.

            Súbitas e maravilhosas ferramentas, como disse o Senador Expedito, foram distribuídas, para que eles pudessem trabalhar e progredir, na sua história da civilização, sendo possível caminhar da pré-história para nosso mundo contemporâneo. Foram distribuídos anzóis e tudo aquilo que S. Exª tão bem descreveu.

            E terminou dizendo: “Assim, nós, os nhambiquara, estávamos vendo que aquele guerreiro, da tribo dos brancos, não queria matar”.

            Isso ficou registrado na História. Era um humanista, um homem de bem. Um militar aprende a matar, um soldado aprende a defender o Exército, e sua única missão é matar o inimigo. E Rondon deu um exemplo contrário a tudo isso. O senhor, que é neto dele, deve sentir orgulho de toda essa fase da História brasileira, vivida por um dos mais brilhantes homens da nossa História.

            Sr. Presidente, para encerrar, peço a V. Exª que registre meu discurso na íntegra.

            Foi dessa maneira que se ergueu um dos maiores vultos da nossa História. O nome de Cândido Rondon permanecerá perpetuamente ligado ao processo de integração nacional. É por isso que, hoje, com justiça, o Senado da República, por iniciativa do Senador Jayme Campos, reverencia sua memória. Agradeço profundamente esta oportunidade e espero que ele esteja, neste momento, sorrindo lá no Céu, porque está sendo bem lembrado.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.

 

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         SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR ROMEU TUMA.

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            O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em boa hora o Senado da República decidiu reverenciar com esta sessão especial a memória do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, em comemoração ao 142° aniversário de nascimento desse brasileiro, que o devotamento à integração nacional e à preservação das comunidades indígenas transformou em personagem ímpar da história pátria.

            Louvar o Marechal Rondon, ao se completar o centenário da comissão que recebeu o seu nome, é também celebrar o desbravamento da Amazônia, a região brasileira sobre a qual continuam a recair os mais escandalosos olhares da cobiça internacional. É reafirmar a decisão nacional de mantê-la íntegra sob o pendão verde-amarelo, como sinalizou Rondon, há um século, ao implantar a primeira linha telegráfica naquela região.

            A obra de Rondon constitui marco determinante no processo de integração nacional, em seguimento à obra dos legendários bandeirantes, que derrubaram os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas para nos legar este Brasil imenso e belo. Com absoluta propriedade, costuma-se qualificá-la de ciclópica.

            No sentido figurado, nossos dicionários definem o termo “ciclópico” como síntese de “extraordinário, colossal, gigantesco”. Foi isso o que fez Rondon ao interligar os sertões interiores aos grandes centros, numa realização reconhecida internacionalmente como conquista da humanidade no início do século XX.

            Desbravou mais de 50.000 quilômetros de sertão e estendeu mais de 2.000 quilômetros de fios de cobre pelas regiões do País, ligando as mais longínquas paragens brasileiras pela comunicação do telégrafo. Colocou-se, assim, entre os maiores vultos de nossa história, perfilado com os militares que honram e enobrecem a imagem do Exército Brasileiro.

            De estatura moral e intelectual patenteada durante toda a carreira militar, Rondon transformou-se em indigenista incomparável. Pacificou tribos e estudou seus usos e costumes até se transformar em peça-chave da criação de medidas legais para proteger os silvícolas, a ponto de, em 7 de setembro de 1910, ser nomeado diretor da Fundação do Serviço de Proteção aos Índios, precursora da atual Fundação Nacional de Assistência ao Índio.

            Resta muito a escrever biograficamente para difundir tudo o que Rondon inspira e o reconhecimento que merece. Todavia, já existem registros históricos suficientes para demonstrar quão importante foi ele como exemplo de afirmação nacional e de portento na defesa de princípios filosóficos que deveriam nortear a ação de todos os governos.

            As palavras do índio Diaí Nambikuára traduzem incomparavelmente o quanto de admiração e respeito o nome Rondon continua a invocar entre seus maiores admiradores, os silvícolas.

            Índio brasileiro licenciado em Sociologia, culto e fisicamente avantajado, Diaí percorreu a Europa, há alguns anos, durante meses, para mobilizar a opinião pública do Velho Continente contra o extermínio dos povos indígenas da América Latina. Concedeu memorável entrevista à jornalista portuguesa Aurora Matos, com sabor de ode ao velho Marechal.

            Como se sabe, o povo nhambiquara espalha-se por aldeias às margens de afluentes do Guaporé e Juruena. Vive em reservas federais com aproximadamente 50 mil quilômetros quadrados e conformação que atinge os Estados de Mato Grosso e Rondônia. Apesar de haver documentos que atestam algumas incursões em território nhambiquara no século XVIII, os contatos realmente se estabeleceram em 1907 através da Comissão Rondon. Na época, existiam mais de 10 mil nhambiquaras, dizimados por moléstias importadas nas décadas de 30 e 40 até ficarem reduzidos a pouco mais de mil.

            Pois bem, Sras. e Srs. Senadores, Diaí Nambikuára mostrou-se inconformado com o desconhecimento da entrevistadora com relação à figura de Rondon. Proporcionou-lhe verdadeira uma aula sobre o que o Marechal foi e representou. Chegou a compará-lo a Ghandi, ao dizer:

            “Rondon e Ghandi viveram na mesma época. Mas, distanciados por milhares de quilômetros, ignoravam-se um ao outro. E afinal tinham missão idêntica, viver para outrem, altruísmo. Um na América do Sul e o outro na Ásia. Ghandi é o mais conhecido porque sacudiu a Coroa Britânica. Rondou sacudiu apenas as consciências.”

            Para o índio Diaí, a grandeza de Rondon está justamente na rigorosa aplicação da sua máxima: "Morrer, se for preciso; matar nunca!". Diaí lembrou que oficiais e soldados do Exército, assim como trabalhadores civis, foram mortos às dezenas porque desistiram de matar. E ressaltou: “Melhor dizendo, deixaram-se matar. Neles, a força de uma idéia suplantou o instinto de conservação. O humanismo, levado a sério, tem custos altos.”

            Ante o espanto e incredulidade da repórter, Diaí arrematou:

            “Aurora, antes compreenda, como Rondon compreendeu, que os índios são homens ainda vivendo no neolítico. Mas, somos homens e, como todos os homens, ambicionamos viver melhor. Súbitas e maravilhosas ferramentas de metal postas à nossa disposição, facas, facões, cunhas, alavancas, anzóis, tesouras, machados e machetes, podem ser o chamariz que nos faça caminhar da pré-história para a civilização. Quando cercado e atacado, Rondon deixava presentes numa clareira e tratava de recuar com a sua tropa. Sinal evidente de que deseja a paz e, no dia seguinte, retornava. Uma, duas, três vezes, as que fossem necessárias até que os índios se dispusessem a falar. Nem todos aceitavam o diálogo. Alguns eram muito renitentes. Rondon explicava porquê: ‘Eles nos evitam; não nos proporcionam ocasião para uma conferência, com certeza por causa da desconfiança provocada pelos primeiros invasores que profanaram seus lares. Talvez nos odeiem também porque, do seu ponto de vista, todos nós fazemos parte dessa grande tribo guerreira que, desde tempos imemoriais, lhes vem causando tantas desgraças, das quais as mais antigas revivem nas tradições conservadas pelos anciãos.’ Foi assim que um dos meus antepassados, da tribo dos Nambikuára, quase o matou à flechada. Uma das setas raspou-lhe o rosto, a outra cravou-se na bandoleira da carabina. E, no entanto, ele se limitou a disparar dois tiros para o ar. Assim nós, os nhambiquara, estávamos vendo que aquele guerreiro, da tribo dos brancos, não queria matar.”

            Cândido Mariano da Silva Rondon nasceu em Mimoso, Mato Grosso, em 5 de maio de 1865.

            Órfão desde os dois anos, viveu com os avós até os sete, quando se mudou para Cuiabá onde passou a viver com um tio e iniciou os estudos. Aos 16 anos foi diplomado professor primário pelo Liceu Cuiabano.

            Em seguida ingressou na carreira militar como soldado do 3.º Regimento de Artilharia a Cavalo. Mudou-se, pouco depois, para o Rio de Janeiro onde, em 1883, se matriculou na Escola Militar. Em 1890, recebeu o diploma de bacharel em Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Ainda estudante, teve participação nos movimentos abolicionista e republicano.

            Formado, foi nomeado professor de Astronomia e Mecânica da Escola Militar, cargo do qual se afastou em 1892.

            Ainda em 1892, a 1.º de fevereiro, casou-se com D. Francisca Xavier, com quem teve sete filhos. Nomeado chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso, foi designado para a Comissão de Construção da linha telegráfica que ligaria Mato Grosso e Goiás.

            Esta primeira missão marcaria para sempre a vida do jovem oficial e de todo o País, que ele serviu com amor, serenidade e senso de justiça.

            O novo governo republicano estava preocupado com o grande isolamento das nossas regiões mais ocidentais, particularmente nas fronteiras com o Paraguai e Bolívia. Decidira, por isso, construir linhas telegráficas que melhorassem as comunicações com o centro-oeste e o longínquo norte. Rondon foi o mais importante dos sertanista a desbravarem esses rincões. Abriu caminhos, lançou linhas telegráficas, registrou sua topografia, descobriu rios, estudou a flora e a fauna. Mas, principalmente, estabeleceu relações respeitosas e desmistificou a imagem de violentos, assassinos e até antropófagos que se construíra em torno dos primitivos habitantes destas terras, os índios.

            Entre outras nações indígenas, Rondon manteve contatos pacíficos com os Bororo, Nhambiquara, Urupá, Jaru, Karipuna, Ariqueme, Boca Negra, Pacaás Novo, Macuporé, Guaraya e Macurape. Nesta imensa e desconhecida região, realizou sua grande obra de militar, estudioso, sertanista e grande ser humano. Ou seja:

            - Entre 1892 e 1898 ajudou a construir as linhas telegráficas de Mato Grosso a Goiás, entre Cuiabá e o Araguaia, e uma estrada de Cuiabá a Goiás.

            - Entre 1900 e 1906 dirigiu a construção de mais uma linha telegráfica, entre Cuiabá e Corumbá, alcançando as fronteiras de Paraguai e Bolívia.

            - Em 1906 encontrou as ruínas do Real Forte do Príncipe da Beira, a maior relíquia histórica de Rondônia.

            - Em 1907, no posto de major do Corpo de Engenheiros Militares, foi nomeado chefe da comissão que deveria construir a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antonio do Madeira, a primeira a alcançar a região amazônica, e que foi denominada "Comissão Rondon". Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915.

            Assim, simultaneamente, já que a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré ocorreu entre 1907 e 1912, aconteciam dois dos fatos mais importantes para o conhecimento e ocupação econômica do espaço físico que à época era parte do Mato Grosso e hoje constitui o Estado de Rondônia: a estrada de ferro, no sentido leste-oeste, e a linha do telégrafo, no sentido sul-norte. É difícil dizer qual o feito mais grandioso.

            Os trabalhos exploratórios da Comissão Rondon, aos estudar e registrar fatos novos nos ramos da geografia, biologia e antropologia, dividiram-se em três expedições:

            - A 1ª expedição, entre setembro e novembro de 1907, reconheceu 1.781 km entre Cuiabá e o rio Juruena.

            - A 2ª expedição ocorreu em 1908 e foi a mais numerosa, envolvendo 127 membros. Encerrou-se às margens de um rio denominado 12 de Outubro (data de encerramento da expedição), tendo reconhecido 1.653 km entre o rio Juruena e a Serra do Norte.

            - A 3ª expedição, com 42 homens, foi realizada de maio a dezembro 1909, vindo da serra do Norte ao rio Madeira, que alcançou em 25 de dezembro, atravessando toda a atual Rondônia.

            Cabe registrar ainda que:

            - Em 1908, Rondon foi promovido a tenente-coronel, por mérito.

            - Em 1910, organizou e passou a dirigir o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), criado em 7 de setembro de 1910.

            - Em 12 de outubro de 1911, inaugurou a estação telegráfica de Vilhena, na fronteira dos atuais estados de Mato Grosso e Rondônia.

            - Em 13 de junho de 1912, inaugurou nova estação telegráfica, a 80 km de Vilhena, que recebeu seu nome.

            - De maio de 1913 a maio de 1914, participou da denominada expedição Roosevelt-Rondon, junto com o ex-presidente dos Estados Unidos da América, Theodore Roosevelt, realizando novos estudos e descobertas na região.

            - Durante o ano de 1914, a Comissão Rondon construiu em oito meses, no espaço físico de Rondônia, 372 km de linhas e cinco estações telegráficas: Pimenta Bueno, Presidente Hermes, Presidente Pena (mais tarde Vila de Rondônia, atualmente Ji-Paraná), Jaru e Ariquemes (a 200km de porto Velho).

            - Em 1º de janeiro de 1915, inaugurou a estação telegráfica de Santo Antonio do Madeira, concluindo a gigantesca missão que lhe fora conferida.

            Já General de Brigada, em 20 de setembro de 1919, Rondon foi nomeado Diretor de Engenharia do Exército, cargo que ocupou até 1924.

            Em 1930, preso no Rio Grande do Sul pelos revolucionários que destituíram Washington Luís e levaram Getúlio Vargas ao poder, pediu reforma do exército.

            Entre julho de 1934 e julho de 1938, presidiu missão diplomática que lhe fora confiada pelo Governo do Brasil, mediando e arbitrando o conflito que se estabelecera entre o Peru e a Colômbia pela posse porto de Letícia. Ao encerrar sua missão, tendo estabelecido um acordo de paz, estava quase cego.

            Em 5 de maio de 1955, data de seu aniversário de 90 anos, recebeu o título de Marechal do Exército Brasileiro concedido pelo Congresso Nacional.

            Como homenagem ao velho Marechal, em 17 de fevereiro de 1956, o Território Federal do Guaporé teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia.

            Em 1957, o Explorer's Club, de New York, indicou Rondon para o prêmio Nobel da Paz.

            O Marechal morreu no Rio de Janeiro, aos 92 anos, em 19 de janeiro de 1958.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi dessa maneira que se ergueu um dos maiores vultos da nossa história. O nome de Cândido Rondon permanecerá perpetuamente ligado ao processo de integração nacional e é por isso que hoje, com justiça, o Senado da República reverencia a sua memória.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2007 - Página 12424