Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2007 - Página 12429
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, MARECHAL.
  • NECESSIDADE, ESTADO, REALIZAÇÃO, REVOLUÇÃO, EDUCAÇÃO, DEFESA, MEIO AMBIENTE, EXTINÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Gerson Camata, senhores que compõem a Mesa, creio que foi muito feliz a troca de horário de apresentação que fiz com o Senador Expedito Júnior, o que me permite iniciar esta fala dando todo o meu apoio à idéia de colocar o nome de Rondon entre os heróis da Pátria.

            Conte com o meu apoio. Estou seguro de que todos nós, liderados por vocês, Senador Jayme Campos, sem dúvida alguma, podemos chegar a fazer isso. Contem com o meu apoio, porque será bom para o Brasil e, sobretudo, para a nossa juventude.

            Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores presentes, os que desbravaram o Brasil territorialmente podem ser divididos em dois tipos: os desbravadores comerciantes e os desbravadores humanistas. Entre estes está, praticamente como único nome firme, Cândido Rondon, o Marechal do Brasil.

            Todos aqui já falaram e vão falar sobre a vida deles, mas quero falar como podemos seguir o exemplo deles no Brasil de hoje. Já não se trata mais de desbravar território. Ao contrário: hoje, no Brasil, precisamos dar uma desacelarada na maneira como a gente vem desbravando e destruindo o território. Hoje, o Rondon tem de ser o desbravador do futuro. É isto o que Cândido Rondon faria hoje: tentar nos ajudar a desbravar o futuro do Brasil, como fez Juscelino e como está faltando ser feito desde então.

            De lá para cá, conseguimos recuperar a democracia, fizemos o milagre econômico, fizemos a estabilidade monetária que muitos não acreditavam possível, mas o futuro não chegou. E é isto que precisamos trabalhar hoje: como desbravar o futuro do Brasil. Insisto, com a nota só de que sempre falo: o futuro se escreve com “e” de educação.

            Até há algum tempo, o futuro era com homens como Marechal Rondon se embrenhando nas matas; depois, com os imensos tratores fazendo estradas. Era assim que se desbravava. Hoje, o único jeito de se desbravar para construir o futuro é garantir que a mais remota cidade do Brasil tenha escolas tão boas quanto aquelas das centrais cidades do Brasil.

            Eu não tenho a menor dúvida de que, se vivo hoje, o Marechal Rondon seria um construtor de escolas pelo Brasil afora. Não apenas o construtor de escolas do ponto de vista da construção civil, mas o construtor da escola com alma e não apenas com o corpo; e a alma da escola - dentro do corpo, que é um prédio bonito - são os equipamentos e os professores bem remunerados, muito bem remunerados, desde que dedicados e bem preparados. Porque pagar bem a um professor que não dá aula não melhora a educação; pode até aumentar a demanda na cidade onde ele mora, mas não muda a educação.

            Hoje, desbravar este País significa proteger o meio ambiente e educar a nossa juventude e infância. Estas, as duas pernas que permitem construir um futuro garantindo a mesma chance para todos. É o meio ambiente equilibrado que assegura a mesma chance entre as gerações; e são escolas de qualidade igual entre si é que fazem com que haja a possibilidade das mesmas chances entre classes sociais.

            Este é o nosso desafio: como fazer um Brasil em que as próximas gerações terão a mesma chance da atual? E como fazer um País em que a criança terá a mesma chance independentemente da família onde nasça e da cidade onde vive?

            O exemplo de Rondon pode parecer extemporâneo, falando aqui da educação. Mas não! É que cada coisa tem o seu momento. Aquele momento era o tempo de embrenhar-se nas matas para fazer o desbravamento territorial que os desbravadores anteriores não tinham conseguido fazer. Hoje, o território está ocupado. Hoje, precisamos ocupar o futuro. E o futuro não vai ser feito mais com máquinas, mas com cérebros. Não vai ser feito mais com o capital-máquina, mas com o capital-conhecimento.

            A meu ver, esse é um exemplo que eu gostaria de trazer, aqui, do Marechal Rondon para os políticos de hoje, para os militares de hoje, para os professores e para a juventude. Depois de todo o desbravamento que fizeram no território, o Brasil continua um País vulnerável e desigual, com uma violência generalizada nas cidades. É hora de reescrevermos o futuro do País, diferente do futuro que estava escrito antes em que se dizia: “O futuro são máquinas, são indústrias. O futuro são estradas”. Tudo isso é preciso, mas tudo isso é o corpo. Esquecemos da alma, e a alma é a cabeça bem formada da nossa juventude; é a cabeça bem formada da nossa população. E não apenas bem formada para poucos, mas igualmente bem formada para todos. A escola do condomínio, tão boa quanto a escola da favela. Quando isso acontecer, a favela deixa de ser favela e os condomínios vão poder derrubar os muros que os protegem, aprisionando-os ali dentro.

            Gostaria de aproveitar esta data em que queremos homenagear o Marechal Cândido Rondon dizendo que ele deixou uma obra para ser continuada. Ele não pôde fazer toda a obra no seu tempo, mas fez tudo o que era possível fazer por uma pessoa naquele momento, por um desbravador humanista, diferentemente dos desbravadores comerciantes, ou também os desbravadores para conversão religiosa dos nossos índios.

            Ele fez um desbravar humanista à altura do seu tempo. Cabe a nós não parar e continuar a desbravar este País que tanto precisa de desbravamento, mas desbravamento de um futuro que derrube o muro da desigualdade do nosso País em relação aos desenvolvidos e derrube o muro da desigualdade que nos separa entre nós, dentro do nosso território.

            O desbravamento, hoje, é derrubar o muro da desigualdade; é derrubar o muro do atraso, o que só se faz por meio de uma revolução, uma revolução na educação, como ele fez uma revolução na ocupação territorial.

            Feliz o País que tem um exemplo como ele a nos orientar. Mas feliz também o país em que as pessoas que seguem depois os grandes exemplos não se deixam intimidar, não se deixam paralisar e levam adiante o que foi feito antes.

            Senador Expedito Júnior, conte com o meu nome para colocarmos o nome de Rondon no altar da Pátria.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2007 - Página 12429