Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2007 - Página 12431
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, MARECHAL, DETALHAMENTO, BIOGRAFIA, ELOGIO, EFICACIA, PROMOÇÃO, POLITICA INDIGENISTA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.
  • CONCLAMAÇÃO, SENADO, HOMENAGEM, MARECHAL, DENOMINAÇÃO, ESTATUTO, GRUPO INDIGENA, INSERÇÃO, NOME, LIVRO, VALORIZAÇÃO, PERSONAGEM ILUSTRE, HISTORIA, BRASIL.
  • IMPORTANCIA, INICIATIVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REATIVAÇÃO, PROJETO RONDON, BENEFICIO, BRASIL.

            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

            Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores aqui presentes, especialmente os que vieram de Mato Grosso e de Rondônia. Quero aqui saudar o Presidente da Assembléia Legislativa do nosso Estado, Deputado Sérgio Ricardo; quero saudar o nosso Desembargador-Presidente do Tribunal de Justiça; quero saudar o Deputado de Rondônia, aqui na Mesa; e quero saudar o neto de Rondon.

            Senador Jayme Campos, nossa saudação especial pelo seu requerimento para a realização desta sessão. É um momento extremamente importante para a história do nosso País, com certeza, e muito especialmente para o nosso Estado de Mato Grosso.

            Antes de começar a minha fala, que hoje trouxe por escrito, apesar de dizer que tenho uma dificuldade enorme de ler, queria dizer que um dos primeiros atos do Presidente Lula no início do seu primeiro mandato foi reativar o Projeto Rondon. Então, não podemos esquecer isso porque é história, faz parte da nossa história. Os nossos jovens têm a oportunidade de vivenciar experiências muito importantes - é claro que diferenciadas daquelas de então - por intermédio do Projeto Rondon.

            Senhoras e senhores, o Senado Federal presta uma justa homenagem a um dos maiores filhos desta terra: o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Celebramos os 142 anos de seu nascimento e o centenário da Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, mais conhecida como Comissão Rondon.

            Como representante do Estado de Mato Grosso nesta Casa, não poderia deixar de juntar-me também àqueles que, hoje, saúdam os feitos desse heróico e inesquecível mato-grossense em prol do progresso e do desenvolvimento de Mato Grosso e do nosso País.

            As gerações de hoje, senhoras e senhores, acostumadas aos confortos da vida moderna, à velocidade das comunicações e dos transportes, não podem sequer imaginar as dificuldades enfrentadas por esse homem, no final do século XIX e início do século XX, para promover a integração de Mato Grosso ao restante do Brasil e, ao mesmo tempo, defender o nosso território dos inimigos com que, então, nos defrontávamos.

            Contudo, naquela época, a então Província de Mato Grosso contava com uma extensão de quase 1,5 milhão de quilômetros quadrados e, apesar de corresponder a aproximadamente um quinto do território nacional, possuía apenas 90 mil habitantes. Isso é história. Uma viagem do Rio de Janeiro a Cuiabá, senhoras e senhores, levava mais de 30 dias, em cima do lombo de burro e, mesmo assim, era necessário passar pelo território de três países: Uruguai, Argentina e Paraguai.

            Como, então, explorar adequadamente as imensas riquezas da região, defendê-las dos inimigos e permitir seu escoamento seguro até os maiores centros consumidores? Quem imaginaria isso? Quem de nós é capaz de fazer esse retrocesso e imaginar tamanhas dificuldades vivenciadas então?

            A saída encontrada pelos governantes à época foi construir linhas telegráficas que possibilitassem incrementar as comunicações, incorporar os territórios indígenas à economia brasileira, construir estradas e criar núcleos populacionais de fundamental importância para colonizar a região.

            Ninguém melhor do que Cândido Rondon para realizar essa tarefa. Ele já havia passado mais de dez anos no comando de comissões de linhas telegráficas em Mato Grosso. Por esse motivo, foi convidado pelo Governo Federal para chefiar a Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas, mais tarde conhecida como Comissão Rondon.

            A Comissão realizou uma tarefa hercúlea: de 1907 a 1915 foram instalados 2.268 quilômetros de linhas telegráficas, e 25 estações foram inauguradas.

            No desempenho das missões que lhe foram confiadas, Rondon manteve estreito contato com os índios, chegando mesmo a aprender a falar seus idiomas. Fazendo laços de amizade com os indígenas, conseguiu incorporar, de forma pacífica, a mão de obra dos Parecis e dos Bororos aos trabalhos de instalação das linhas telegráficas.

            Há um século, senhoras e senhores, no começo do século passado, Rondon conseguia pacificamente trabalhar com os índios. E hoje nós sentimos tanta dificuldade para conseguir demarcar as terras indígenas.

            Foi sua solidariedade, sua generosidade e fraternidade que, com certeza, conseguiram fazer esse tipo de trabalho; foi sua visão humanista que permitiu que as missões de desbravamento e construção fossem realizadas em paz, sem combates fratricidas. Naquela vasta e então desconhecida região realizou sua grande obra de militar, estudioso, sertanista e grande ser humano.

            Essas relações amistosas com os índios e os resultados obtidos serviram de inspiração para que, em 1910, o Presidente Nilo Peçanha criasse o Serviço de Proteção ao Índio e Localização de Trabalhadores Nacionais, que, mais tarde, seria transformado na Fundação Nacional do Índio, a nossa Funai.

            Convém deixar claro, Sr. Presidente, que, naquele momento, o que se pretendia era racionalizar o processo de incorporação dos territórios e das populações indígenas à sociedade brasileira. Sem dúvida, Rondon foi um dos principais articuladores da política indigenista republicana. Seu lema: “Morrer, se preciso for; matar, nunca”.

            No entanto, até hoje, os problemas com os nossos indígenas se dão por conta dos maus tratos que recebem, especialmente com relação às terras, que são deles na origem.

            Graças às expedições do grande Marechal foi possível determinar geograficamente o exato local onde se situa o centro geodésico da América do Sul, onde floresceu a minha querida Cuiabá. Situada na parte mais central da América do Sul, exatamente no seu centro geodésico, sendo, portanto, a cidade do coração da América do Sul. Cuiabá, cidade do coração da América do Sul.

            Mato Grosso deve a Rondon suas mais precisas cartas geográficas, obtidas por meio de admirável trabalho de determinação e correção de traçados e localização de rios, serras, vilas e cidades.

            No serviço à Pátria, Rondon dedicou a sua vida. Jamais aceitou convite para se candidatar a qualquer cargo eletivo, mas, nem por isso, deixou de exercer uma profunda ação política que até hoje nos influencia. Sempre agiu em consonância com os elevados princípios que o inspiravam, e suas ações foram sempre eficientes, humanitárias e pacíficas.

            Essas ações renderam a Rondon diversas homenagens, que lhe foram prestadas, ainda em vida, por diversas instituições culturais e científicas, destacando especialmente sua prática indigenista. Foi eleito sócio honorário de quase todos os institutos históricos e geográficos do Brasil.

            Após sua morte, ocorrida em 1958, aos 92 anos, o Exército Brasileiro fez dele o Patrono da Arma das Comunicações e, em 1968, o Ministério da Educação criou o Projeto Rondon, que, durante 15 anos, prestou assistência às populações carentes por intermédio da interiorização de estágios de estudantes universitários - projeto agora retomado pelo Governo do Presidente Lula.

            Também no exterior, foram muitos os tributos a Rondon. As sociedades de geografia de Paris, Lima, Bélgica, Haia e Roma o nomearam membro correspondente no Brasil. Em 1911, o Congresso Universal das Raças, realizado em Londres, recomendou que os países que possuíssem territórios povoados por índios adotassem as práticas implementadas por Rondon “no trato com as populações silvícolas”. Em 1954, a Universidade de Sorbonne realizou uma sessão especial para comemorar os 89 anos de Rondon; e, em 1957, o Explorer’s Club de Nova Iorque, juntamente com outras entidades científicas, indicou-o à Academia de Ciências da Suécia para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que mais dizer sobre esse homem, esse exemplo que tanto nos dignifica, que foi Cândido Mariano da Silva Rondon?

            Neste momento em que este País carece de modelos que sirvam de espelho para esta e para as futuras gerações, voltemos nossos olhos para a singeleza e para a integridade de Rondon, que muito tem a nos ensinar.

            Neste momento em que o mundo discute tanto as maneiras de lidar com a “questão ambiental”, Rondon nos oferece um modelo de ação que, podemos dizer, foi o precursor do que hoje chamamos de desenvolvimento sustentável - atentem bem -, pois praticou uma ação indigenista que não impediu o andamento dos projetos maiores dos quais estava incumbido: garantir a segurança das fronteiras e realizar a incorporação de Mato Grosso à economia nacional. E ele conseguiu.

            Por tudo o que o Marechal Rondon significa para Mato Grosso e para o Brasil, aproveito esta oportunidade para sugerir que o Congresso Nacional lhe conceda ainda mais duas homenagens. A primeira, que o Estatuto dos Povos Indígenas, em discussão na Câmara dos Deputados, seja votado o mais brevemente possível e que, quando aprovado, passe a denominar-se Lei Cândido Rondon. Essa é uma conclamação que eu faço da tribuna do Senado da República.

            A segunda homenagem que gostaria de sugerir, cuja proposição já foi anunciada aqui pelo Senador Expedido - e eu pretendo subscrevê-la juntamente com S. Exª - é que o Congresso Nacional, por ocasião dos 50 anos da morte de Rondon, em 2008, mande inserir o seu nome no Livro de Aço dos Heróis Nacionais, no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, ao lado dos que hoje lá se encontram para serem eternamente reverenciados por todos os brasileiros. Será o primeiro mato-grossense a receber esta merecida honraria!

            Por isso, faço minhas, Srªs e Srs Senadores, as palavras de Guimarães Rosa proferidas quando da sua posse na Academia Brasileira de Letras: “As pessoas não morrem; ficam encantadas”. Rondon está encantado!

            Muito obrigada


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2007 - Página 12431