Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Autor
Inácio Arruda (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2007 - Página 12434
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, MARECHAL, IMPORTANCIA, LUTA, DESENVOLVIMENTO, MELHORIA, INTERIOR, PAIS, TRANSFORMAÇÃO, POLITICA INDIGENISTA, COMPARAÇÃO, ATUAÇÃO, JOSE BONIFACIO DE ANDRADA, CONSELHEIRO, IMPERADOR, EMPENHO, DEBATE, INTEGRAÇÃO, COMUNIDADE INDIGENA, SOCIEDADE.
  • IMPORTANCIA, GOVERNO FEDERAL, REATIVAÇÃO, PROJETO RONDON, BENEFICIO, ESTUDANTE, UNIVERSIDADE, CONHECIMENTO, BRASIL.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PcdoB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, autoridades que compõem a Mesa, demais convidados que comparecem a esta sessão proposta pelo Senador Jayme Campos, que homenageia uma vez mais esta figura extraordinária da vida pública e política do País, que é o Marechal Rondon, faço esta homenagem em nome do nosso Partido, o Partido dos Comuns, dos comunistas do País. O Partido Comunista presta esta homenagem a um humanista porque é o partido do humanismo. Somos defensores do humanismo. E Cândido teve essa faceta extraordinária.

            Um dos episódios mais extraordinários, talvez entre tantos que viveu o Marechal Cândido Rondon, foi exatamente o cerco à Coluna. Cândido, conhecedor da região, talvez o militar que mais conhecia a Região Centro-Oeste do Brasil, cercou a Coluna, que, àquela época, não era conhecida como Coluna Prestes. Era conduzida por três militares e conhecida como Coluna Invicta. Miguel Costa, Carlos Prestes e Siqueira Campos eram os comandantes. Era a Coluna Invicta. Cândido reuniu ali 14 mil homens. A Coluna tinha 1.300 homens. Foi um fato extraordinário! A Coluna conseguiu sair invicta. Mas Cândido foi chamado ali pela sua capacidade, pelo reconhecimento de militar que tinha condições de enfrentar a Coluna Invicta.

            Digo isso porque quando o Deputado Aldo Rebelo foi alçado à condição de Ministro da República, na articulação política - e fiz questão de vir aqui ressaltar esse aspecto da vida pública do País -, foi ao Presidente da República e disse: “Senhor Presidente, precisamos resgatar um projeto importantíssimo. Vamos fazer duas coisas simultaneamente, ligadas a um homem da vida pública e histórica do País: um projeto que vai fazer com que a juventude conheça o Brasil e que vai resgatar a figura extraordinária do Marechal Rondon, que é o Projeto Rondon, ligado à juventude universitária brasileira”. O Presidente Lula olhou para o alto e disse: “Puxa vida! Dá para fazer isso?”. “Dá para fazer.” Então, vamos fazer, e vamos retomar o Projeto Rondon, para que os estudantes universitários voltem a percorrer os rincões do Brasil, a conhecer o Brasil profundo.

            E digo isso por quê? Porque um dos objetivos que surgiu com a Coluna era também um dos grandes objetivos de Rondon: o da integridade do território, da nacionalidade, de pensar o Brasil, de pensar o País, de reconhecer que o Brasil tinha potencial, que o Brasil não era apenas uma localidade, que o Brasil era a sua continentalidade, que o Brasil não terminava em um Estado. Era um continente, e seu projeto deveria ser integrado.

            Era esse o pensamento de Rondon. Muitos dos tenentes e dos oficiais que se enfrentaram na Coluna - um exército e outro - muitas vezes queriam a mesma coisa. O objetivo era o mesmo: a integridade do território, o desenvolvimento nacional, prosperidade para o povo, mais solidariedade e mais humanismo. Humanismo era melhorar a qualidade de vida do povo e que as etnias existentes no País fossem respeitadas. Não queriam apenas catequizar os nativos, mas integrá-los à vida do novo País. Era esse o desejo de Rondon, de Darcy Ribeiro e de tantos outros que lutavam e lutam por este País continental. Essa é a integração do Brasil. É um nacionalismo avançado, para o povo brasileiro se integrar ao mundo de forma próspera. Esse é o sentimento que buscamos em comum com o Marechal Rondon.

            Por isso, essas personalidades não desaparecem da mente do povo, elas não saem da história, permanecem na história, permanecem no meio do povo brasileiro, elas vão-se eternizando, porque estão ligadas a esse sentimento de integração, a esse sentimento nacional, a esse desejo de ver.

            Darcy Ribeiro, em seu livro O Povo Brasileiro, quando se refere ao povo novo, que é o povo brasileiro, diz que já existe o povo brasileiro. Que ele é diferente; é fruto da integração de parte de europeus, de negros e de índios, os nossos nativos, que se integraram e fizeram surgir o povo brasileiro. E esse povo quer ter o seu projeto, projeto também brasileiro, com suas particularidades.

            Acho que aqui está a essência do sentimento do Marechal Rondon: o desejo de que tenhamos, sim, o nosso projeto, de que possamos desenvolvê-lo, pois o Brasil tem capacidade e muito potencial, tem muitas pessoas, muitos homens e mulheres preparados para fazer com que o País cresça, desenvolva-se em todos os campos, em todos os territórios.

            Veja a biografia desses homens. Se abrirmos a História e começarmos com a Independência do Brasil, com a figura extraordinária de José Bonifácio de Andrada e Silva, vamos examinar que, antes da sua volta ao Brasil, para se integrar à luta pela Independência, ele já tinha ganhado notoriedade nas academias do mundo, já era um homem reconhecido e respeitado no chamado mundo europeu, que era o mundo reconhecido daquela época, para nós. A “civilização” era aquela, a que existia, reconhecida entre nós. Ele já era respeitado, estava em todas as academias da Europa; já chegava aqui como uma das pessoas mais respeitadas do mundo acadêmico. Era um construtor, um inventor, que veio para cá, para construir conosco a independência, mostrando a capacidade, as condições favoráveis que tínhamos para tocar o Brasil.

            Se pegarmos o texto constitucional que foi produzido para a primeira Constituinte brasileira, veremos um texto avançadíssimo para a época, que já tocava em todos os problemas que hoje enfrentamos. A questão ambiental, embora não houvesse, talvez, na época, nenhuma ONG, já constava do texto constitucional proposto por Bonifácio.

            Fazendo um paralelo rápido, embora o tempo seja um pouco diferente entre Bonifácio e Rondon, os dois já trataram a questão indígena com o fôlego que hoje muitas organizações não-governamentais tratam. Eles a trataram em sua época, enfrentaram-na com altivez e ganharam o apoio de ambos os setores da sociedade, para enfrentar os problemas indígenas no Brasil não com o aspecto de transformar as nações indígenas em nações que pregavam a separação do Brasil, mas em nações que se integravam ao Brasil - diferente de alguns que acham que devemos desintegrar o território. Não, o pensamento de Bonifácio e de Rondon era o da integração do Brasil, com todas essas etnias que somavam a nossa formação.

            Por isso, meu caro Presidente, queremos reforçar esse aspecto de luta pela formação do nosso País, do povo brasileiro, da elevação do potencial, da capacidade da formação do povo brasileiro, que esteve presente no Marechal Rondon.

            Um abraço.

            Obrigado.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2007 - Página 12434