Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centésimo quadragésimo segundo aniversário de nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2007 - Página 12436
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, MARECHAL, ELOGIO, LUTA, EFICACIA, INTEGRAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, RESPEITO, TERRAS INDIGENAS, COMUNIDADE INDIGENA, PROMOÇÃO, MELHORIA, TELECOMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO.
  • SAUDAÇÃO, TELEVISÃO, ANUNCIO, EXIBIÇÃO, PROGRAMA, HOMENAGEM, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, MARECHAL.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, fico muito feliz de saber que estamos aqui homenageando um herói brasileiro. Num País cheio de heróis, heróis anônimos que lutam pela vida no dia-a-dia duro, Senador Inácio Arruda, heróis de feitos registrados em determinado momento da história, que depois caem no esquecimento, registro com júbilo o fato de que vai agora para o conhecimento das grandes massas, por meio de uma minissérie dirigida pelo talentoso cineasta Fábio Barreto e produzida por Rodrigo Piovesan a história do Marechal Rondon.

            Eu, de início, sequer tinha a intenção de me manifestar nesta sessão. Chegando aqui, percebi duas coisas de plano: primeiro, que seria corroborar a omissão da historiografia oficial manter eu também o meu insignificante silêncio, e, de logo, comunico ao Senador Expedito Júnior que gostaria de firmar, ao seu lado, o projeto que insere o nome de Rondon no Panteão da Pátria.

            Os heróis dos outros povos são reverenciados o tempo inteiro. De Gaulle é herói, e a França sabe disso. Quem com ele marchou ou quem com ele comungou de ideais admira tanto a figura De Gaulle na França, Presidente, quanto quem porventura lhe criticava o que eu também nele criticaria, se francês fosse e se tivesse vivido aquele momento: a sua tendência para o autoritarismo. Mas era um herói.

            Churchill, um herói injustiçado na eleição - mas não injustiçado na história - vence a guerra para a Inglaterra e perde a eleição distrital no seu país, deixando, portanto, de ser Primeiro-Ministro, numa dessas supostas “ingratidões” da vida pública, que nem por isso a fazem menos fascinante. Talvez até esses vaivéns façam a vida pública mais fascinante ainda.

            Tomava conhecimento, pelo neto do Marechal Rondon, de que há uma relação de parentesco entre a minha mãe e a esposa de Rondon, Dona Eglantina. E me deu dados. Meu avô era um farmacêutico manipulador de fórmulas, muito respeitado em Manaus, e mantinha uma farmácia - primeiro, Farmácia Verne; depois, Farmácia Nunes. Esse nome me veio à baila, com uma carga sentimental muito forte, pela figura ilustre do neto ilustre de um homem tão ilustre, como Cândido Rondon.

            Se tivéssemos de falar dele - e tenho quatro minutos para dizer isso -, eu poderia repetir o que aqui já desfilaram de argumentos outros oradores.

            Quem plantou as bases da integração da Amazônia foi Rondon; quem tratou com respeito antropológico, histórico, os índios brasileiros foi Rondon, num País onde se praticou verdadeiro genocídio contra seus índios, algo que a nossa história insiste em não admitir como um fato. Não me orgulho desse episódio da vida histórica, como também não me orgulho da campanha do Paraguai. Não me orgulho. Não basta me dizer que Solano López era um ditador, e era, que era sanguinário, e era, mas nada justifica aquela Entente Cordiale, aquela Tríplice Aliança de Brasil, Uruguai e Argentina, para massacrarem, reduzindo substancialmente a população de uma nação que hoje é amiga nossa e que, felizmente, deixa a rivalidade conosco apenas para os campos de futebol. Quanto àquele episódio da história, dele não me orgulheço; escrevendo ou falando sobre ele, eu o condeno. Mas Rondon está com seu nome ligado indelevelmente ao ensino público gratuito, à defesa dos índios, repito, às telecomunicações e mais ainda ao reconhecimento internacional - museus lá fora, e, aqui dentro, o esquecimento.

            Dizia-me, ainda há pouco, o Senador Jayme Campos, como me dizia ainda há pouco, falando sobre Rondon, dizendo que eu deveria, quando nada, assistir à sessão, meu prezado e querido amigo Senador Antero Paes de Barros; diziam-me esses dois prezados colegas que não poderíamos nunca ter uma sessão vazia, com poucas pessoas interessando-se pelo tema, uma sessão onde as cadeiras estão aqui à disposição de quem delas queira fazer uso, numa prova inequívoca de que o Brasil precisa, efetivamente, mergulhar nas suas águas mais internas; e das águas internas, Sr. Presidente, emergir com respeito ao seu passado, porque país que não aprende a respeitar o seu passado não é capaz de construir um futuro, efetivamente, capaz de abrigar com justiça social, com democracia os seus vindouros, as novas gerações.

            Então, se Rondon é esse herói todo que reconhecemos; se Rondon é o homem culto que teve a proposta para o Prêmio Nobel da Paz, formulada por nada mais nada menos que Albert Einstein; se é assim, é inexplicável que tenhamos uma Casa vazia de presenças da universidade, vazia de presenças de estudiosos de História.

            Mas eu concluo mesmo é pela idéia de que precisamos reverenciar mais os nossos - diz muito bem o tema básico da minissérie - Bolívares, os nossos Churchills, os nossos De Gaulles, os nossos Jeffersons, os nossos heróis. Cada povo tem os seus; cada povo tem os seus na medida da sua própria compreensão histórica. E entre os nossos está, em posição de honra, sem dúvida alguma, o Marechal Cândido Rondon que, espero eu, com o otimismo que não me abandona nunca, a partir desta sessão se possa começar a fazer sobre ele e dele uma revisão, uma revisita.

            Que no ano que vem façamos a comemoração do seu 51º aniversário de falecimento, mas com Casa cheia, Senadora Marisa Serrano, com as galerias cheias, porque é absolutamente contristante percebermos essa distância entre quem nos fez, entre quem erigiu a nossa civilização e a nossa incapacidade de reconhecermos que não estamos aqui e nem chegarmos ao ponto em que chegamos, inclusive de amadurecimento democrático, sem que muita gente tivesse tombado, se sacrificado, tivesse penado pelas matas deste País, tivesse se embrenhado nos sertões do Brasil para que tivéssemos hoje, Senador Tião Viana, este Brasil, que não é o ideal, mas que é um Brasil sem dúvida melhor do que o Brasil que a nós foi legado pelos nossos pais. E um Brasil, sem dúvida alguma, bem menos aperfeiçoado do que aqueles que queremos legar para os nossos filhos, para os nossos netos.

            Portanto, que aprendamos com esta sessão esta lição e que reverenciemos - sei que se aqui não conseguimos fazer milagres, a minissérie da TV Globo vai fazer milagres, sim, vai operar o milagre do reconhecimento imediato e instantâneo do valor de alguém que sempre deveria ter sido cultuado entre os nossos heróis, mas aqui me refiro de maneira muito sintética, muito simples a um herói brasileiro, entre tantos heróis brasileiros, um notável herói brasileiro, o Marechal Cândido Rondon.

            Muito obrigado. Era o que eu tinha a dizer.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Neste caso, será uma minissérie da Rede TV, Senador Arthur Virgílio.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Estou convencido de que até a nossa TV Senado é capaz de fazer algum milagre; a Globo faz muito; a Rede TV faz também, é um santo milagreiro também.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2007 - Página 12436