Discurso durante a 67ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem às mães pelo transcurso do Dia das Mães, no próximo domingo.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem às mães pelo transcurso do Dia das Mães, no próximo domingo.
Publicação
Publicação no DSF de 11/05/2007 - Página 14224
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, MÃE, ELOGIO, ATUAÇÃO, VALORIZAÇÃO, VIDA HUMANA, FAMILIA, ETICA, VOTO, UNIÃO, COMEMORAÇÃO, SOLIDARIEDADE, VITIMA, VIOLENCIA.

O SR. PEDRO SIMOM (PMDB - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o segundo domingo de maio de todos os anos é dia santo. Mais que um dia santo de guarda, porque são de guarda todos os domingos: é um dia santo de homenagem. Dia em que comemoramos o dia da santa canonizada por cada um de nós: a nossa mãe. Ora, se os melhores dicionários definem um santo como a pessoa que é “sagrada, que vive segundo os preceitos religiosos, a lei divina; respeitável, venerável, veneranda; que tem bom coração, bondosa em extremo; que não pode ser violada ou profanada; respeitante às coisas divinas, à religião, ao culto; útil, proveitosa, profícua e eficaz”, quem mais preencheria tantos requisitos, em uma única pessoa, se não as nossas mães?

            Mas, domingo, não é, somente o dia das mães biológicas. Quantas são as irmãs, as tias, as mães voluntárias, que abrem, igualmente, o coração, para agasalhar filhos que adotam como seus, e lhes dão igual dedicação e lhes mostram o melhor caminho, nesta travessia terrena de tantos obstáculos? 

É bem verdade que dias tão importantes nas nossas vidas, como o das Mães, têm sido desvirtuados pelos interesses comerciais que, não necessariamente, se pautam pela santidade. Muitas vezes, o estresse do dia-a-dia e a luta pela sobrevivência fazem com que os filhos depositem no presente de domingo as compensações pelo abraço não dado, pela atenção esquecida, ou pelo carinho negado. Algo assim como uma oração unicamente domingueira, para dissimular a falta de ação de todos os outros dias.

Muitas vezes, tardiamente, nos damos conta quando só nos resta a oração para venerá-las, ou, quem sabe, para expiar o pecado da omissão, que praticamos durante tanto tempo em nome do ter, no lugar do primeiro e sagrado mandamento que elas próprias nos ensinaram: o ser. Aí, nós ficamos, durante o resto da nossa existência, com aquele gostinho amargo do “poderíamos ter feito mais”. Por mais que tenhamos feito. É, sempre, pouco, perto do que elas merecem.

Quantas são as noites mal dormidas, quanto choro contido, quanta alegria explodida, quanta dor comprimida, quanta fome, para distribuir o insuficiente, quantas orações, para suplicar pelo amor carente.

Quantas são as mães especiais, de filhos com deficiência, no seu sacerdócio diuturno de paciência, de perseverança e de amor sem limites. Elas são seres superiores, verdadeiramente à imagem do Criador, exemplos de vida para todos nós que, muitas vezes, teimamos no nosso constante inconformismo, mesmo que tenhamos mais que o suficiente.

Nesta minha longa travessia de vida, tive, com certeza, mais ganhos que perdas. Deus me deu uma bela família, uma vida digna e uma função das mais sublimes que, quando cumprida com ética e honestidade, transforma-se num verdadeiro sacerdócio, a serviço dos filhos desta terra. No entanto, se ainda assim, agradecido a Deus, pela Sua infinita bondade, Ele me permitisse recuperar uma perda, mesmo que por um único dia, eu gostaria de poder abraçar, carinhosamente, a minha mãe, no próximo domingo. Quem sabe, ela não precisasse, mais, contar as historinhas, nem cantar os acalantos que me faziam ninar. Nem fazer aquelas comidinhas de domingo que só as mães sabem preparar. Nem me ensinar os caminhos que levam os filhos ao melhor lugar. Eu queria, apenas, que ela existisse, para que pudesse aconchegar-me, em seus braços, no Dias das Mães. Para que eu sentisse, de novo, como no pouco tempo de convivência que Deus me propiciou, o seu colo e o seu perfume inconfundível de mãe.

Contraditoriamente, em sã consciência, talvez não fosse necessário um dia especial, para comemorarmos o Dia das Mães. Um dia para lembrarmos de alguém que jamais é esquecida. Porque, para mim, esquecê-las é o sinal mais que evidente de amnésia crônica, de alguém que se descura de si próprio. Que perde todas as suas referências. A mãe é algo assim como uma bússola, um norte imantado nessa nossa caminhada cheia de entroncamentos e de bifurcações. É por isso que, no próximo domingo, longe de uma característica puramente comercial, é dia de refletirmos sobre nós mesmos, homens e mulheres, sobre os rumos da nossa existência, sobre os nossos valores, todos eles projetados ainda na nossa fase intra-uterina, quando somos iguais no sopro da vida.

            Domingo será mais um dia de lágrimas. De alegria e de saudade. De presentes e de ausentes. De mães e filhos que se encontrarão no abraço e no pensamento. Na ação e na oração. É o dia em que todos os filhos, sem exceção, têm o direito de ter, longe de qualquer arrogância, a “melhor mãe do mundo”. É que, no caso, todos os filhos têm razão: todas elas são as melhores de todo o universo. A do presidente e a do gari, a do palácio e a da manjedoura.

Como seria, então, este planeta, se cada filho se orientasse, de fato, pelos conselhos da “melhor mãe do mundo”? Com certeza, algo muito diferente da atual barbárie. Então, quem sabe, para mudarmos valores e referências, tenhamos que consultar, em primeiro lugar, a mães deste País! Ou, então, recuperar os ensinamentos que delas recebemos, desde o berço. Quantos foram os conselhos que desdenhamos. Quantos foram os caminhos que desviamos. 

Eu sinto que o Dia das Mães, embora tenha sido contaminado pelos interesses comerciais, como tantas outras comemorações, é um dos poucos que ainda guardam uma elevada dose de sentimentos sublimes. Não há o subterfúgio da “mãe-oculta”, para se dar o nosso melhor presente. Embora os apelos tipicamente comerciais, o presente da mãe, por mais singelo que seja, ou ainda que ele se represente através de uma pequena, e saudosa, oração, continua impregnado de amor, de carinho e de reconhecimento pelo que ela nos significa. É por isso que elas são, neste mundo de iniqüidades, uma chama de esperança.

Pena que nem todas as mães possam ter o carinho de seus filhos, no próximo domingo. E não é, necessariamente, porque eles partiram para outras dimensões, no estrito cumprimento dos desígnios de Deus. São as mães que se separaram de seus filhos, e não lhes foram confirmadas, nem a vida, nem a morte. Muitos partiram em busca da sobrevivência e nunca mais retornaram, nem mesmo em notícia. São “metades afastadas”. Outros, partiram em busca de novos ideais, e nunca mais lhes deram notícias. São “metades amputadas”. Então, para as mães que perderam contato com seus filhos, se vivos, que eles mandem notícias neste domingo. Se mortos, que se dêem notícias sobre eles. Nada mais triste que a mãe de um filho desaparecido. São “metades arrancadas”. E, aí, como disse o poeta, “a saudade é o pior tormento. É pior que o esquecimento”.

Pena que nem todas as mães poderão fazer algo diferente que a fome, na comemoração do próximo domingo. Dividirão com seus filhos, como sempre, a miséria. Mas, também elas, repartirão, igualmente, o amor que não lhes falta, jamais. Guardarão, pelo menos por um dia, para si, a dor da falta de cidadania, e farão regar, em seus corações férteis de mãe, a esperança que lhes é, por definição, inesgotável.

            Pena que tenham tantos projetos de mãe interrompidos pela violência praticada por quem não seguiu os ensinamentos de suas próprias mães. Quantas serão as Rosas Cristinas, mães de tantos Joãos Hélios, as Ednas, mães de tantas Alanas, as Sirlenes, mães de tantas Julianas, as mães anônimas, de tantos filhos que tiveram suas vidas ceifadas pela barbárie humana?

Eu creio que o próximo domingo poderia ser, de fato, um dia diferente. Que todas as mães recebam o carinho e as orações que elas, sem exceção, merecem. Mas, que seja, também, um dia de profunda reflexão, de todas as famílias. Que bom se recuperássemos, no nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, na relação com os semelhantes, na formulação de políticas públicas, os valores e as referências que nos ensinam todas as mães. Seria, com certeza, a melhor das homenagens que poderíamos prestar, a todas as mães, não só nos segundos domingos de maio.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/05/2007 - Página 14224