Discurso durante a 67ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da matéria de autoria do jornalista Roldão Arruda, publicada no jornal O Estado de S.Paulo, trazendo um balanço dos religiosos que foram ou estão sendo ameaçados de morte na Amazônia.

Autor
Fátima Cleide (PT - Partido dos Trabalhadores/RO)
Nome completo: Fátima Cleide Rodrigues da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. DIREITOS HUMANOS.:
  • Registro da matéria de autoria do jornalista Roldão Arruda, publicada no jornal O Estado de S.Paulo, trazendo um balanço dos religiosos que foram ou estão sendo ameaçados de morte na Amazônia.
Publicação
Publicação no DSF de 11/05/2007 - Página 14225
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), LEVANTAMENTO, VIOLENCIA, VITIMA, ECLESIASTICO, REGIÃO AMAZONICA, AMEAÇA, MORTE, MOTIVO, ATUAÇÃO, DEFESA, MEIO AMBIENTE, COMBATE, MISERIA, SOLICITAÇÃO, INTERVENÇÃO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), PROTEÇÃO, IMPUNIDADE, PARCERIA, POLICIAL, GRILAGEM, ABUSO, PODER ECONOMICO, CONFLITO, TERRAS.
  • SOLIDARIEDADE, BISPO, REGIÃO AMAZONICA, AUXILIO, VITIMA, TORTURA, DENUNCIA, POLICIAL, INJUSTIÇA, PROCESSO JUDICIAL, AUTORIA, SOLDADO, ACUSAÇÃO, SACERDOTE, CRIME, DANOS MORAIS, DANOS MATERIAIS, QUESTIONAMENTO, ORADOR, ATUAÇÃO, JUSTIÇA, IMPUNIDADE, CRIMINOSO, ALEGAÇÕES, FALTA, PROVA.

A SR. FÁTIMA CLEIDE (Bloco/PT - RO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uso a tribuna neste momento para registrar matéria do jornalista Roldão Arruda, do jornal O Estado de S. Paulo, trazendo um balanço dos religiosos que foram ou estão sendo ameaçados de morte na Amazônia. O texto foi publicado no mês passado.

É notícia, Srªs e Srs. Senadores, que certamente irá agregar preocupação a sua Santidade, Papa Bento XVI, que ora chega ao Brasil. É notícia que leva o senador João Pedro, do Amazonas, a buscar informações mais detalhadas com representantes da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, e também com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que intermediou proteção policial a estas pessoas.

A lista apresentada pelo jornalista envolve dez nomes, todos da Amazônia, dentre os quais três bispos. Dois deles de meu Estado, Rondônia - Dom Antonio Possamai, que se aposenta do bispado em Ji-Paraná, e Dom Geraldo Verdier, de Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia.

Todos os religiosos têm atuação na defesa do meio ambiente e dos interesses sociais das populações mais humildes da Amazônia. O Pará, onde foi assassinada a irmã Dorothy Stang, lidera o número de ameaçados, no total de cinco, seguindo-se Rondônia, com três. Além dos bispos por mim citados, a lista inclui o padre José Ibarra Blans, também de Guajará-Mirim.

É preciso, Srªs e srs. Senadores, colocar na prisão as pessoas que estão ameaçando os religiosos de nossa Amazônia, pessoas generosas e solidárias para com o povo ribeirinho, índios, trabalhadores sem terra etc. Faço aqui um apelo ao ministro da Justiça para que intervenha firmemente nesta questão. Sabemos que, em muitos casos, parte das forças policiais destes Estados estão comprometidas com os grileiros e pessoas poderosas, por isso os criminosos andam livremente, impunes, disparando suas ameaças.

Falo ainda pela necessidade de emprestar minha solidariedade a estas pessoas, e muito especialmente a Dom Geraldo Verdier, francês naturalizado brasileiro, há 42 anos na Amazônia, nos honrando com sua corajosa presença.

É que Dom Geraldo Verdier denunciou em 2004 a pratica de tortura por parte de um soldado e mais seis policiais da cidade, após ser chamado a socorrer um homem que estava no meio de uma poça de sangue.

Pois bem. Como resultado disso, ele foi intimado a comparecer no dia 15 próximo a uma audiência no fórum de Guajará, acusado pelo crime de danos morais e materiais por parte do soldado que denunciou.

Qual foi o crime de Dom Geraldo? Prestar socorro a um cidadão, José Ferreira da Silva, flagrado pela polícia numa boca de fumo no município de Nova Mamoré.

Durante o trajeto de 100 quilômetros, até o presídio de Guajará, José teria tido o baço estourado, o pâncreas gravemente atingido (inclusive tendo que retirar 5 cm deste órgão) e sofrido hematomas na região dorsal e no ombro esquerdo, o que provocou dispnéia, náuseas e vômitos no rapaz.

As lesões foram atestadas por um médico de uma clínica onde José Ferreira foi atendido.

O juiz auditor militar do caso absolveu todos os denunciados por Dom Geraldo alegando não haver provas materiais que caracterizassem a acusação de lesões corporais. Sua sentença resvala para o “talvez pode ter acontecido”.

De acordo com o processo, as lesões encontradas no corpo de José teriam sido provocadas pelos soldados quando os mesmos tentaram dominar o acusado, que teria resistido à prisão, inclusive puxando uma arma. Na ocasião, o preso teria caído sobre engradados de bebidas que estavam próximos do local do flagrante.

Para o presidente do Regional CNBB-Noroeste, Dom Francisco Merkel, que apóia Dom Geraldo e divulgou manifesto em sua defesa, “por certo houve tibieza das autoridades, que talvez não juntaram as provas suficientes, que certamente levariam os policiais à condenação”.

Na Justiça, o soldado Marco Antônio Firmino está pedindo uma indenização de R$11 mil.

Conhecendo o sentido de justiça e a atuação de Dom Geraldo Verdier, me solidarizo com ele, reprovo os que tentam desqualificar sua defesa dos direitos humanos, tarefa de toda uma vida.

Solidariedade estendida também a todos os religiosos que de sua benção sobre a Amazônia colhem não apenas o respeito e o amor dos mais necessitados, mas também o ódio e a ambição que alimentam conflitos intermináveis na região mais cobiçada do planeta.

Muito obrigada,

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/05/2007 - Página 14225