Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao escritor e presidente da Academia Brasileira de Filosofia, Gerardo Mello Mourão, falecido em 9 de março do corrente ano.

Autor
José Nery (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/PA)
Nome completo: José Nery Azevedo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao escritor e presidente da Academia Brasileira de Filosofia, Gerardo Mello Mourão, falecido em 9 de março do corrente ano.
Publicação
Publicação no DSF de 17/05/2007 - Página 14781
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, POETA, JORNALISTA, ESTADO DO CEARA (CE), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. JOSÉ NERY (P-SOL - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Inácio Arruda; Srªs Senadoras, Srs. Senadores; Deputado Mauro Benevides; o sempre Deputado Paes de Andrade; Embaixador Gonçalo Mourão; Senador Abdias do Nascimento; demais Embaixadores e membros do Corpo Diplomático nacional e estrangeiro presentes nesta sessão especial; familiares presentes e oriundos dos Estados do Ceará, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e de Goiás, o Senado Federal reverencia a memória do ex-Deputado Gerardo Mello Mourão. São várias as nuanças ou facetas desse cearense, da mesma cepa dos fundadores daquele Estado que oferecem a Brasília, ao Rio de Janeiro, ao Acre, a Minas Gerais, a São Paulo e a Goiás muitos dos seus concidadãos, para, nas mais variadas esferas, emprestar sua força e seu trabalho.

            Nascido em Ipueiras, Município da região norte do Ceará, no dia 8 de janeiro de 1919, Gerardo Mello Mourão pertencia ao clã dos fundadores daquela região e, em O País dos Mourões, transforma as lutas, as decepções, a tristeza e as conquistas de seu povo em epopéia e em poesia.

            Dizia Euclides da Cunha, no seu memorável Os Sertões, que o nordestino é, antes de tudo, um forte. O Professor Robert Graves, da Universidade de Oxford, afirmou que, “com Gerardo Mello Mourão, este poeta brasileiro, seu país e continente alcançam, pela primeira vez, a voz da grande poesia de grande poética universal”.

            Com quinze livros publicados, Mourão é reconhecido internacionalmente, tendo sido escolhido o Poeta do Século XX por uma secular irmandade internacional de poetas da Itália e indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, em 1979, pela universidade do Estado de Nova York, cujo Departamento de Estudos Americanos fez a inscrição de seu nome, juntamente com a Universidade de Estocolmo, na academia sueca, e com diversas universidades brasileiras e estrangeiras, subscrevendo a indicação ante seu romance Valete de Espadas, descrito pelo Editor José Mário Pereira como o primeiro romance expressionista da Literatura Brasileira.

            Era escritor singular e poeta ontológico que juntava, em seus escritos, filosofia, história e sociologia e para quem os prêmios são coisa pouco importante, posto que, para ele, o verdadeiro poeta tem de buscar as raízes da poesia, e elas estão no pai Homero. Cidadão do mundo, cidadania honorária de tantas dessas partes, helenista, dominando o conhecimento das línguas de tantos povos, considerava Homeros em estado bruto os poetas do sertão, mesmo tendo sido o escritor brasileiro mais premiado internacionalmente.

            Na sua incansável busca pelo saber e pela produção acadêmica, Gerardo publicou, aos 85 anos, a obra Invenção do Mar, fruto das suas muitas andanças em Portugal e em outros muitos países - ele, de fato, considerava-se um profundo admirador daquela cultura e povo. A parte final dessas viagens inclui a Ásia, para onde Gerardo Mourão seguira na condição de correspondente do jornal Folha de S.Paulo.

            Portanto, senhoras e senhores, dou meu testemunho de que o cearense é, antes de tudo, um forte, ao me deparar com a vida e com a obra desse que Carlos Drummond de Andrade dizia ser “o Dante”. A crítica, como um todo, aclamou Gerardo Mello Mourão um novo Camões, a ponto de uma secular irmandade de poetas sediada na Itália afirmar ser Mello Mourão o Poeta do Século XX. Tal fato o coloca em posição jamais alcançada por outro literato brasileiro.

            Mello Mourão foi aclamado o maior poeta de sua geração. Sua poesia, além de despertar interesse de escritores como Jorge Luís Borges, Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, Tristão de Athayde, Antônio Olinto e muitos outros, foi destacada a ponto de levar a Literatura Brasileira a espaço nunca antes alcançado, o que muito orgulha o povo cearense, do qual também sou oriundo.

            Mello Mourão alcançou a universalidade, e nós nos irmanamos a esta justa homenagem que o Senado Federal faz a este poeta que cumpre a sina dos poetas: a imortalidade.

            Eu queria, então, parabenizar o Senador Inácio Arruda pela brilhante iniciativa desta homenagem. No seu pronunciamento, S. Exª relatou a história, a saga, a vida, a obra, os compromissos inabaláveis desse cearense que orgulha todos nós.

            Queria também compartilhar com todos os Mourões aqui presentes a boa influência que tive de um dos Mourões, parte dessa família. Minha formação política teve importante contribuição do Padre Vicente Torres Mourão, pároco em Independência, Diocese de Crateús, no Ceará, onde iniciei minha militância política e social.

            Portanto, ao homenagear Gerardo Mello Mourão, homenageamos todos os Mourões, toda a sua família, toda a sua história. De alguma forma, quero dizer que me sinto parte dessa luta, dessa homenagem, porque tive a contribuição de um padre comprometido com as lutas sociais, com a transformação, no período mais difícil da vida nacional, quando enfrentávamos a ditadura, as perseguições e a violência. Foi Padre Mourão quem me apresentou - com certeza, há mais de 30 anos - ao Deputado Paes de Andrade. E teve um dos seus livros prefaciados por Dom Antônio Fragoso, Bispo da Diocese de Crateús.

            Ao relatar essa pequena parte da minha história, verifico que ela se confunde com parte da história de um dos bravos Mourões daquelas terras, dos sertões do Ceará.

            Quero dizer também que, em relação ao trabalho que desenvolvemos naquela região, no início da nossa militância, estivemos presentes em vários Municípios daquela região. Inclusive, nas comunidades de Ipueiras, do interior, convivemos com a esperança, com a angústia e com a luta da população.

            Portanto, sinto-me muito feliz de estar aqui, na condição de representante do Estado do Pará - sendo cearense de nascimento -, e de me associar à homenagem a um dos grandes literatos brasileiros, nosso sempre querido Gerardo Mello Mourão. Inclusive, passei a conhecer sua história pela convivência com Padre Vicente Torres Mourão, mui digno membro dessa família.

            Finalmente, eu gostaria de saudar, além dos familiares aqui presentes, que vieram do Ceará, de Minas Gerais, de Goiás e do Rio de Janeiro, os Embaixadores nacionais e estrangeiros, os demais membros do Corpo Diplomático e o Exmº Senador Abdias do Nascimento, amigo/irmão do homenageado, que o acompanharam por mais de 60 anos e que com ele estiveram nos momentos de maiores alegrias e tristezas.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/05/2007 - Página 14781