O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Para encaminhar. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, há um brocardo latino que diz: conscientia mille testis, isto é, a consciência vale por mil testemunhas.

Não me sentiria bem, se não fizesse no Senado Federal uma homenagem ao cidadão, a quem considerava amigo, Octavio Frias de Oliveira, o “seu” Frias, como era chamado o publisher da Folha de S. Paulo, empresário que criou também o Instituto Data Folha, a editora Publifolha, a Gráfica Plural, o jornal Agora, o portal UOL - o maior da Internet do País, o Diário Econômico o Valor -, este em parceria com as Organizações Globo.

Filho de família rica, descendente dos Barões de Itaboraí e de Itambi [conforme afirma o jornalista Jorge Félix, em matéria publicada em 2003], Octavio Frias de Oliveira teve uma adolescência pobre depois que o pai e um tio quebraram e foi obrigado a empregar-se como office-boy aos 14 anos. Aos 21 anos, no entanto, já era um próspero funcionário público da Receita Federal. Depois, seguiu a tradição da família e fundou um banco, o BNI, mais tarde comprado pelo Bradesco. Foi com o dinheiro de uma aventura, a construção de uma rodoviária em São Paulo, que ele e o sócio, Carlos Caldeira, compraram a Folha de S.Paulo, em 1962. Com mais de 50 anos, descobriu [o “Seu” Frias], a carreira de jornalista. De lá para cá, o jornal cresceu, tornou-se um dos mais influentes do país.

Ele converteu a Folha de S.Paulo numa “praça intelectual”, para usar expressão Ortega Y Gasset, isto é, um verdadeiro jornal de debate de todos os assuntos, de A a Z.

Octavio Frias, falecido domingo passado, foi o que os romanos designariam como um vir bonus, isto é, um cidadão prestante que bem encarnava as virtudes republicanas. Personalidade estuante, empreendedor, antes que jornalista, como se considerava, cativava logo seu interlocutor, pela forma inteligente e lúcida com que conversava sobre qualquer tema. Possuía uma visão dos problemas mundiais e arguta percepção de nosso País: seus problemas e perspectivas, que ele analisava com as retinas do otimismo, mesmo porque outra não pode ser a nossa postura, uma vez que é propósito comum ver com relação ao Brasil realizado o “sonho intenso”, como reza o Hino Nacional, com vistas a construir uma nação democrática, desenvolvida e, sobretudo, justa.

Sr. Presidente, em uma das últimas homenagens que recebeu em vida, a qual tive a ventura de comparecer - o prêmio Personalidade da Comunicação 2006 - ele se auto-definiu de forma sintética:

Tive algum êxito como empresário. Consegui dar minha modesta contribuição no grande trabalho coletivo de criar riquezas, gerar empregos, fortalecer empresas e lançar novos produtos. Atribuo esse êxito ao trabalho perseverante e a alguma sorte.

Procuro ter em mente aquele verso de Kipling, no qual o escritor inglês fala do sucesso e do fracasso como dois impostores. De minha parte, experimentei ambos. Acima dessas vicissitudes, penso que o mais importante é trabalhar com afinco naquilo de que se gosta.

Ao encerrar seu discurso, “Seu” Frias revela três características que marcaram sua rica personalidade: a simplicidade, o otimismo e o humor:

Há quatro décadas, o acaso me levou ao ramo das comunicações. De jornalista, só tenho, talvez, a curiosidade de aprender coisas novas

Sou um otimista sem ilusões. Vejo com interesse as mudanças que continuam a ocorrer nas comunicações e no mundo como um todo. Acho que nosso país ainda enfrenta problemas tremendos, mas é hoje melhor do que era quando comecei minha vida profissional. O jornalismo e as comunicações também evoluíram muito.

Não tenho outro testemunho a oferecer, exceto a crença no trabalho, o gosto pela inovação e a confiança no futuro. Que sempre haverá de ser melhor do que o presente.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador Marco Maciel?

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - Senador Marco Maciel, concedo mais dois minutos a V. Exª.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Pois não. Concedo o aparte ao Senador Eduardo Suplicy, um antigo e permanente colaborador da Folha de S.Paulo, a fim de que se expresse, presumo, sobre o falecimento do “Seu” Frias, o publisher da Folha de S.Paulo.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Cumprimento a iniciativa de V. Exª, juntando-me a ela. Também sou autor de um requerimento em homenagem ao extraordinário trabalho e à pessoa fantástica que foi Octávio Frias de Oliveira. Tive a oportunidade de conhecê-lo em 1975, e mais pessoalmente quando o jornalista Cláudio Abramo foi convidado por Octávio Frias - depois de alguns anos trabalhando em seu principal competidor, o Estado de S.Paulo - a vir para a Folha e realizar a extraordinária transformação, na qual o pai, Octávio Frias de Oliveira, foi muito importante.

Houve um almoço. Depois, outro almoço, com a participação de seu filho, Octavinho Frias, Boris Casoy e Cláudio Abramo. De 76 a 80, colaborei com o jornal três ou quatro vezes por semana. Escrevia artigos e colaborava em editoriais e em idéias para a seção de economia, junto ao editor Pedro Cafardo. Foram anos de extraordinário trabalho. Pude, então, com ele ter uma convivência durante a qual mais e mais pude admirar a...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - Senador Marco Maciel, vou lhe conceder mais dois minutos a fim de que o Senador Eduardo Suplicy encerre o aparte e V. Exª conclua o pronunciamento.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ... pude, então, observar o talento, o interesse, a vontade de congregar uma equipe de jornalistas da maior qualidade possível, abrindo, conforme V. Exª assinalou, a Folha de S.Paulo para os representantes do pensamento brasileiro e internacional no mais largo espectro. Quem tivesse uma análise importante, ali estavam as páginas da Folha abertas para que essa pessoa fosse entrevistada ou contribuísse na seção de tendências e debates - V. Exª e eu próprio, muitas vezes, ali colaboramos -, fazendo com que a Folha se tornasse um dos mais importantes, senão o mais importante, jornais da imprensa brasileira, estimulando seus concorrentes a atingir a qualidade fantástica que a Folha de S.Paulo acabou imprimindo a toda rede de comunicação, como o UOL, o jornal Agora e o Valor Econômico. Tudo isso se deve muito ao Sr. Octávio Frias de Oliveira e a maneira como deixou esse legado fantástico para seus três filhos, que continuam realizando seu trabalho - Octavinho Frias, Luiz e Maria Cristina -, pois eles puderam aprender ainda melhor aquilo que o pai soube assimilar, com base na sua capacidade prática como empreendedor que soube aproveitar cada oportunidade. É necessário ressaltar como imprimiu à Folha um posicionamento importante...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Magno Malta. Bloco/PR - ES) - Senador Eduardo Suplicy, V. Exª já utilizou quatro minutos de aparte, e há uma lista de oradores aguardando. Gostaria que V. Exª encerrasse.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ... pois não, Sr. Presidente, sobre a defesa da democracia, das Diretas Já, e de tantos temas importantes. Requeiro à Mesa que também seja incorporado o texto completo da justificativa de meu requerimento, que se soma ao de V. Exª, Senador Marco Maciel. Muito obrigado.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Nobre Senador Suplicy, eu agradeço o aparte de V. Exª.

Encerrando, Sr. Presidente, Jó, o servo sofredor de que trata o Antigo Testamento ensina, de forma concisa, que “a vida é um sopro”. Mesmo para aqueles que desfrutam a graça de uma existência longeva, como aconteceu com Octávio Frias de Oliveira, morto aos 94 anos, ainda assim a vida terrena é muito breve. Para nós cristãos, o mais importante não é quanto tempo vivemos, mas como vivemos.

“Seu” Frias, pelo exemplo de vida que nos legou, constituirá um vigoroso estímulo para iluminar o futuro do nosso País. Sr. Presidente, solicitaria a transcrição nos Anais da Casa do discurso que ele proferiu na homenagem recebida, ano passado, outorgando-lhe o prêmio Personalidade da Comunicação 2006.

Muito obrigado a V. Exª.