Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a visita do Papa Bento XVI à Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, SP, e elogios ao trabalho ali realizado para a recuperação de dependentes.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA.:
  • Considerações sobre a visita do Papa Bento XVI à Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, SP, e elogios ao trabalho ali realizado para a recuperação de dependentes.
Aparteantes
Magno Malta, Rosalba Ciarlini.
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2007 - Página 15153
Assunto
Outros > DROGA.
Indexação
  • COMENTARIO, FALTA, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA, INICIATIVA, BEM ESTAR SOCIAL.
  • COMENTARIO, VIAGEM, PAPA, BRASIL, VISITA, PROPRIEDADE RURAL, MUNICIPIO, GUARATINGUETA (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), RECUPERAÇÃO, VICIADO EM DROGAS, OPORTUNIDADE, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA, QUALIDADE, TRABALHO, DETALHAMENTO, HISTORIA, METODOLOGIA, DADOS, REINTEGRAÇÃO, USUARIO, ELOGIO, VOLUNTARIO, PROMOÇÃO, UNIÃO, GRUPO DE TRABALHO, AUSENCIA, UTILIZAÇÃO, MEDICAMENTOS.
  • ENCAMINHAMENTO, REQUERIMENTO, COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS (CAS), CONVITE, SACERDOTE, CIDADÃO, INICIATIVA, PROPRIEDADE RURAL, RECUPERAÇÃO, VICIADO EM DROGAS, DEBATE, ALTERNATIVA, PAIS.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, lembro que há somente quatro Senadores em plenário.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nunca fui defensor da idéia de que devemos esconder nossas maiores mazelas. Não sou da tese de que o que é bom a gente mostra e de que o que é ruim a gente esconde, que marcou a passagem de um ex-Ministro da Fazenda. Aliás, é um excepcional ex-Ministro da Fazenda, da maior dignidade, mas essa sua frase não foi feliz. Penso o contrário: a exposição de nossos problemas tem o dom de suscitar forças antes anestesiadas na busca das respectivas soluções; a divulgação serve também como mecanismo de pressão, exatamente para aqueles que têm a função de buscar alternativa no sentido de resolvê-los na sua melhor forma. Mas eu também jamais inverteria a frase do tal ex-Ministro, algo assim como “o que é bom a gente esconde, o que é ruim a gente mostra”, pois isso também, parece, é o que está acontecendo hoje com a imprensa brasileira. O que é bom a gente esconde, o que é ruim a gente mostra. É claro que não há, na grande mídia, a intenção de se tecer um grande tapete sob o qual se esconde o que há de melhor na realidade. Entretanto, parece que as portas andam se fechando para as manchetes e para as melhores chamadas quando o assunto não é violência, não é corrupção, não é coisa do gênero.

Eu já disse, desta mesma tribuna, que deve haver efeitos multiplicadores na divulgação tanto das nossas feridas sociais quanto dos respectivos exemplos curativos e preventivos. Por isso é que fiz um apelo para os editores dos nossos melhores jornais, principalmente os de televisão, no sentido de que abram o devido espaço para as nossas melhores experiências, para que elas se potencializem e, ato contínuo, como que ao devorar células cancerígenas, atuem no sentido de extirpar nossas principais mazelas.

Durante a vinda de Sua Santidade o Papa ao Brasil, tivemos, ao vivo, um exemplo que ilustra muito bem a tese que defendo. O Papa cumpriu entre nós uma agenda das mais intensas, tendo em vista suas funções como Chefe de Estado e como dirigente da grande Igreja Católica. Reuniu-se com o Presidente da República, com o Prefeito da capital paulista e com o Governador de São Paulo, rezou missa, abençoou fiéis, canonizou o primeiro santo genuinamente brasileiro, encontrou-se com a juventude latino-americana e abriu a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe.

Apesar de tantas tarefas, todas elas podem ser consideradas naturais na visita de um Papa ao maior país católico do mundo, a não ser, quem sabe, a canonização de Frei Galvão, fato sem precedentes em um país de mais de 500 anos de história. O único compromisso do Papa que poderia ser considerado normalmente extra-agenda, nesses dias em que esteve conosco, trazendo mensagem conciliadora, foi a visita à Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, no Estado de São Paulo. A imprensa foi junto, com todo o aparato midiático. Obviamente, embora o local do evento tenha sido um detalhe na notícia, porque a notícia era evidentemente o Papa, era necessário descrever o ambiente em que ocorria o evento com figura tão ilustre da Igreja. E eis que surgiu para o grande público brasileiro, mesmo que indiretamente, uma das mais belas e mais importantes experiências no tratamento de viciados em drogas no Brasil e no mundo inteiro.

Nessa questão de drogas, o brasileiro está acostumado quase unicamente com o tiroteio nas favelas, com a briga pelo “ponto”, com a guerra de quadrilhas, com as balas perdidas e com as vítimas encontradas, com o menino do tráfico, com as pipas anunciadoras do “rapa”, com a violência, com a morte, com a corrupção policial, assim por diante. De repente, há uma notícia contrária: uma experiência de êxito de retirar esses meninos do tráfico, de cuidar daqueles que precisam não ter volta no seu caminho de vício, de amparar quem estava só a esperar a inevitável e sorrateira morte prematura. É um lugar que mais se parece com o paraíso, criado por Deus e bendito por natureza. É assim a Fazenda Esperança.

O que teria essa experiência chamado tanto a atenção de um Papa em sua rápida e trabalhosa passagem pelo Brasil, que fizesse com que ele dedicasse um tempo - quase um dia inteiro - tão precioso para conhecer o exemplo bem-sucedido de amor ao próximo e de dedicação ao semelhante? Teria sido apenas a amizade, a nacionalidade comum do Sumo Pontífice com o Frei Hans Heinrich Stapel, um dos fundadores da Fazenda? É verdade que esse fato demonstrou um grande prestígio do religioso alemão, nosso irmão franciscano, mas é também verdade que, embora seja uma amizade tão profunda, ela não seria suficiente para orientar uma agenda tão importante e apertada. Afinal, o Papa teria outros amigos no País. Sabe-se, inclusive, que familiares do Papa que aqui residem poderiam rememorar histórias que eventualmente encantariam o dirigente católico.

O que levou o Papa, evidentemente, para Guaratinguetá foi a história da Fazenda da Esperança, construída no trabalho e na religiosidade, uma experiência para ser multiplicada em todos os cantos e recantos deste planeta. E, para encanto e, ao mesmo tempo, pasmo dos brasileiros que assistem ao noticiário diário, pouca gente conhecia essa história de vida que atravessa fronteiras e que já se planta em doze Estados brasileiros e em mais oito países.

O brasileiro se farta de notícias de crime pela droga, mas é pouco informado sobre experiências de êxito que combatem o vício. Foi preciso o Papa criar um espaço em sua agenda para que o País conhecesse uma experiência que ganha o mundo.

Sr. Presidente, felizmente, eu já conhecia o trabalho de Frei Hans Stapel e de sua equipe de voluntários. Conversei com muitos dos recuperados da Fazenda da Esperança e das várias fazendas da esperança que hoje existem pelo Brasil e pelo mundo afora. E ela poderia se chamar, pelos resultados que presenciei, de “Fazenda da Esperança Alcançada”. O êxito obtido pela equipe do Frei Hans Stapel ultrapassa os 80%, mais de três vezes a média mundial obtida em tratamentos tradicionais. Repito: o êxito obtido ultrapassa praticamente 80%.

A história da Fazenda da Esperança começou com a chegada de Frei Hans Stapel em Guaratinguetá, nos anos de 1979. Na Paróquia de Nossa Senhora da Glória, abraçou, inspirado na sua convicção franciscana, o método de evangelização baseado no amor cristão. Daí brotaram, na comunidade local, iniciativas de ação social fundamentadas no texto do Evangelho: “Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos é a mim que o fareis”.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Tem que ser agora?

O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - O meu aparte não vai quebrar o raciocínio de V. Exª. Gostaria de cumprimentá-lo. Estava ouvindo, do meu gabinete, V. Exª pela televisão. Não me agüentei e vim cumprimentá-lo para dizer que, embora não tenha acompanhado pari passu a estadia do Papa aqui, acho que esse é o momento alto da agenda do Papa aqui no Brasil. Eu estava saindo do plenário quando o Senador Mercadante estava entrando aqui. Eu disse a S. Exª que gostaria que me ajudasse a falar com o Presidente Lula a respeito de uma resolução da Anvisa, da época do segundo mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso, porque, Senador Pedro Simon, se essa resolução tivesse entrado em vigor a Fazenda da Esperança já estaria fechada. A referida resolução da Anvisa mandava fechar todas as casas de recuperação de drogados do Brasil. Há 25 anos - eu era recém-casado - minha esposa e eu tiramos drogados das ruas, das cadeias, velhos, adultos, crianças, adolescentes. E digo isso porque, antes de vir para este plenário, constatei que eles estão lá vendo e ouvindo V. Exª na televisão, lá no Projeto Vem Viver, com lágrimas nos olhos. Quando V. Exª diz que o Brasil se acostumou a ver bala perdida, crianças assassinando e estuprando, o tráfico de drogas e a falta de esperança de adultos, não só de crianças, adultos, jovens e pessoas de todas as idades, digo a V. Exª que o exemplo da mão amiga e a ação social se faz muito mais com o coração do que com o cérebro. Isso porque, se usássemos só o cérebro, essa resolução da Anvisa já teria fechado a Fazenda da Esperança...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão. PFL - MA) - Peço aos Srs. Senadores para que sejam breves em seus apartes. O Senador Pedro Simon já ultrapassou em quatro minutos o tempo.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Sr. Presidente Senador Edison Lobão, queria apelar à sensibilidade de V. Exª para que desse mais tempo ao Senador Pedro Simon.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão. PFL - MA) - Já estou a fazê-lo.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - E quero apelar mais ainda a V. Exª: dobre sua sensibilidade porque o tema que S. Exª está abordando, não tenho dúvida, chama a atenção da audiência da TV Senado. Uma sociedade que vive perplexa com tanta violência como a nossa começa a entender que, pela via da misericórdia, temos saída. Senador Pedro Simon, passei quatro anos na Câmara e estou no meu quinto ano no Congresso aqui: batendo, falando, batendo, falando. Hoje vejo V. Exª, do alto da sua experiência e da sua sensibilidade de franciscano, entendendo realmente que quando Jesus disse “quem aos pequeninos faz, a mim mesmo me faz” e “quem aos pobres faz, empresta a Deus”. E quando você empresta o caminho da misericórdia, você não somente forja o caráter, você não só devolve à sociedade um homem sem possibilidade de vício, mas também um homem pronto a fazer pelos outros o que fizeram por ele. Por isso, entendo que o ponto alto foi esse, e o ponto alto de sua fala hoje, aqui, vai nos ajudar que o Presidente Lula acabe com esse resolução da Anvisa tão mal editada, escrita por técnicos que não conhecem o calor de uma criança de rua, que nunca tiraram um drogado de uma cadeia, nunca abraçaram um velho bêbado tirando-o debaixo de uma marquise e nunca os colocaram dentro de casa, como fez aquela irmã de caridade, que sacrificou a sua geladeira, substituindo-a por quatro beliches para serem usados por quatro meninas prostituídas, drogadas, da rua, sacrificando assim a privacidade por amor. E só quem tem amor faz isso. Elas não podem fechar. Invés de uma resolução como essa, precisamos dar incentivos a quem está na ponta no exercício da misericórdia como a Fazenda da Esperança. Senador Simon, após 25 anos recuperando drogados, V. Exª não sabe o efeito do seu pronunciamento em meu coração...

(Interrupção do som.)

O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) -... no coração da minha esposa e das minhas filhas, que nasceram nos braços dos drogados dentro da minha casa, e dos meus filhos que agora assistem ao senhor lá no Projeto Bem Viver. Estão ouvindo V. Exª lá, com lágrimas, homens de 50, de 70 anos; meninos de 12, menino de 13 anos que era dono do bairro. A boca de craque era dele. Um menino de 13 anos de idade o assiste lá exatamente dizendo que a via da misericórdia, sem dúvida alguma, é o caminho mais curto para que nós possamos buscar a erradicação dessa violência em que vive o Brasil. Parabéns! Já lhe disse, milhões de vezes, que sou seu fã; a partir de hoje, sou seu fã ao quadrado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado. E muito obrigado a V. Exª pela tolerância, Sr. Presidente.

Em 1983, um jovem da paróquia, chamado Nelson, sabendo de uma boca-de-fumo na sua comunidade, aproximou-se e recebeu o pedido de ajuda de um dos jovens viciados, de nome Antonio. Da idéia dos dois, nasceu a inspiração para o primeiro grupo que instituiu a Fazenda da Esperança. Esse primeiro grupo, formado com voluntários como Nelson e viciados como Antonio, que lhe pedira ajuda, colocaram seus bens para usufruto comum e passaram a trabalhar juntos para sustentar a casa e o programa de recuperação. O próprio Nelson, que trabalhava em uma cooperativa, abria a mão de seu salário para as despesas do projeto, enquanto os demais, que foram se juntando com o tempo, faziam pequenas tarefas como cortar gramas em jardins da vizinhança para ganhar algum dinheiro, com a mesma finalidade de levar avante a idéia de salvar outras vidas já corroídas pela drogas.

            Os trabalhos propriamente ditos se iniciaram em uma casa simples, alugada no centro da cidade. Aí, aquela idéia inspirada no Evangelho, abraçada por Frei Hans e levada avante por Nelson e Antonio, não parou mais.

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E foi se multiplicando pelo mundo afora. Hoje, são 32 unidades somente no Brasil, sendo 22 masculinas e 10 femininas. Fora do País, são duas na Alemanha, outra no Paraguai, outra na Filipinas, outra no México, outra na Guatemala, outra na Rússia e outra na Argentina, além de outra em Moçambique. Muitos dos recuperados no Brasil vêm da Rússia, principalmente os usuários de heroína. A imprensa deu ênfase, inclusive, a um casal russo, Alex e Olga, que, tudo lhes parecia, já não teriam caminho de volta. Ainda no aeroporto de Moscou, a caminho do Brasil, em 31 de julho de 2005, Olga lembra-se que injetou a última dose de heroína, não se lembra, talvez, se em um dos braços ou nas pernas, tantas eram as picadas. Hoje, recuperados, permanecem na fazenda como voluntários.

Calcula-se que já tenham passado pelas unidades mais ou menos 10 mil recuperandos. Pode-se dizer - quem sabe! - que recuperados dados os índices de sucesso do trabalho. Hoje, são mais ou menos 2 mil, um número significativo, mas pequeno frente aos novos pedidos de internação.

            Na fazenda, não há cerca nem qualquer outro mecanismo que prenda o recuperando. Ele é livre, fica lá se quiser, vai embora se desejar. Mas, para continuar o tratamento, tem de acostumar-se a uma vida de trabalhos, a uma vida de oração. O lema principal é: “que todos sejam um”. Aí reside a principal concepção do tratamento: o trabalho em grupo. Sozinho o recuperando não vai conseguir livrar-se do vício; o sucesso depende da criação coletiva. Não se utilizam medicamentos...

(Interrupção de som.)

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão. PFL - MA) - Senador Pedro Simon, vou conceder mais alguns minutos a V. Exª. O prestígio de V. Exª, a importância do discurso que pronuncia e a atenção da Casa já lhe concederam o dobro do tempo que o Regimento prevê. Ainda assim, concedo-lhe mais dois minutos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço-lhe a gentileza, Presidente.

A não-utilização de medicamentos é um fato que assombra, há médicos que não entendem e não admitem que os pais internem os filhos para ficarem sem medicamento. Eu nem discuto. O que digo é que dá certo. Além da droga propriamente dita, a Fazenda da Esperança trata de viciados em álcool, que também é droga, e de outras doenças como bulimia, depressão, além dos soropositivos.

O internamento dura um ano. Depois, muitos recuperados permanecem como voluntários, como o Alex e a Olga. Isso ajuda muito, segundo os organizadores, por incorporar, na recuperação, os relatos de experiências exitosas da vida daqueles que ali estão.

Todas as manhãs, é feita uma meditação sobre uma frase do Evangelho. É escolhida, então, uma passagem que serve de guia para os trabalhos daquele dia. À noite, as atividades são avaliadas em grupo. Embora o método de recuperação se fundamente, portanto, em princípios religiosos, não é necessário ser católico. Lá existem recuperados de todas as religiões. Não se descartam, inclusive, ateus que foram recuperados.

Todos tem algum tipo de ocupação, em função das suas habilidades - isso é importante. Eu passei uma semana numa fazenda dessas, olhando, ajudando, participando e trabalhando, e sei o significado disso. A partir das 6 horas da manhã até as 9 horas da noite, todos fazem alguma coisa. Não têm tempo para pensar em outra coisa senão fazer algo positivo. Todos exercem algum tipo de ocupação em função de suas habilidades.

Procura-se, sempre, o contato com a natureza, em pequenas plantações, principalmente hortaliças...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - (...) e na criação de pequenos animais. Esses produtos são vendidos no mercado local para ajudar na manutenção do internato. Além disso, todos praticam algum tipo de esporte, de preferência também coletivo, além do teatro, da dança, da música e de outras atividades de lazer.

As pessoas que se recuperaram sentem, ao voltar para suas origens, a necessidade de continuar exercendo alguma atividade afim com as experiências que viveram nas diferentes unidades da Fazenda da Esperança. Foi daí que nasceu, há sete anos, o Grupo Esperança Viva, inicialmente em Passo Fundo, em Ibirubá, no Rio Grande do Sul. São grupos de discussão e trabalho, já como fruto multiplicado da experiência vivida.

Quantas serão as outras experiências bem-sucedidas neste País, totalmente desconhecidas, longe do interesse da mídia, e que poderiam ser multiplicadas por contribuições voluntárias, em dinheiro e em trabalho?

Será que são necessárias visitas sucessivas de Papa para que a imprensa as divulgue?

Encaminharei à Comissão de Assuntos Sociais requerimento no sentido de que sejam convidados o Frei Hans Stapel, o Sr. Nelson Giavanelli Rosendo e o Sr. Antônio Eleutério Neto, além de outras pessoas que se incluem nesse tipo de trabalho, para que possamos conhecer, com muito mais detalhe, essa maravilhosa experiência de recuperação de jovens entregues à droga e à própria sorte. Mais do que isso, para que possamos discutir com eles as melhores alternativas para coibir a barbárie e a banalização da vida, tão presentes no noticiário do nosso dia-a-dia.

Se me pedirem para traduzir a mensagem deixada pelo Sumo Pontífice nessa sua visita ao País, eu acho que a melhor resposta está exatamente no fato...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - (...) de ter visitado a Fazenda da Esperança.

Pragmático, ele quis mostrar aos cardeais latino-americanos do Caribe e ao povo católico o que ele pensa e o que ele deseja a respeito da religiosidade e da ação pastoral.

A Fazenda da Esperança é a prática mais fiel dos ensinamentos formulados em todos os discursos religiosos da nossa agenda. Ali se encontram a religiosidade e o voluntariado, a solidariedade e a coletividade, o trabalho, a dedicação, o amor ao próximo, a fé, a esperança, a caridade.

Enfim, uma igreja nos moldes da teologia em que ele sempre acreditou e que tem agora a possibilidade de colocar em prática. Uma igreja de oração, mas não só de oração. Uma igreja de trabalho, mas não só de trabalho. Trabalho e oração, numa só concepção, a serviço da humanidade.

Pois não, Senadora Rosalba Ciarlini.

A Srª Rosalba Ciarlini (PFL - RN) - Senador Pedro Simon, V. Exª não imagina o quanto...

(Interrupção do som.)

A Srª Rosalba Ciarlini (PFL - RN) - (...) estou emocionada e feliz ao ouvir o seu pronunciamento, falando dessa ação que conheço de perto, porque tive a experiência, como prefeita, de implantar - não eu, claro, porque esse é um trabalho da sociedade cristã -, de acompanhar, de participar da implantação da Fazenda da Esperança na minha região; de visitá-la, de estar perto e de ver os resultados para minha cidade e região. V. Exª, com a suas palavras, com a sua forma tão bonita de se comunicar, mostra-nos esse trabalho, que é importante para a civilização, que é importante para o Brasil. Quero dizer mais: como participante da Comissão de Assuntos Sociais, louvo a sua iniciativa no sentido de debater esse assunto em audiência pública, para que possamos, por esse exemplo, estimular cada vez mais ações dessa natureza, e que o Governo desperte porque o caminho está aí: é na esperança.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É com muita alegria que eu vejo a manifestação de uma ex-prefeita que teve chance de realizar um trabalho desse. Eu tive chance de participar de vários trabalhos como esse e o que me emociona sempre é que quem trabalha o faz com paixão. Participei de um congresso de psiquiatras de toda a América Latina para discutir o problema da droga. Emocionou-me, Sr. Presidente, a conclusão a que eles praticamente chegaram: toda a medicina, toda a psiquiatria, todo o trabalho, o esforço, o medicamento dedicado ao combate do uso da droga praticamente não está surtindo efeito, mas existem organizações espetaculares, como aquela em que esteve o Maradona, na Argentina, que são fantásticas para pegar o cidadão, retirá-lo da loucura em que ele está e fazer uma reparação...

O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Uma desintoxicação.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Então, ele é refeito. Fica ali e se livra, purifica-se, volta para a sociedade, mas dois meses depois está tudo igual, não muda nada. E aí eles dizem: parece mentira. Nós, médicos, principalmente nós, psiquiatras, temos que reconhecer: no mundo, os casos que se conhecem que realmente estão dando certo são os dessas fazendas, onde a pessoa fica de nove meses a um ano. A pessoa chega ali; levanta de manhã cedo; dorme em um dormitório enorme, onde estão todos; levanta e faz a sua higiene; prepara o seu café; arruma a sua cama; vai rezar; depois, faz ginástica; toma o café e vai trabalhar. Uns vão para a agricultura, outros para a pecuária. Uns vão trabalhar na construção de marcenaria, para fazer as coisas que são necessárias; outros vão trabalhar na venda de produtos que eles podem produzir e ser vendidos. Todos têm uma ocupação.

Lá pelas tantas vão estudar. Então, estudam as coisas mais variadas. Tem gente ali que vi estudando grego. O grau era tão adiantado que um professor de Porto Alegre ia ali três vezes por semana, para ensinar grego. Mas todos estudam.

Depois, vão cantar. E a cantoria é uma maravilha. Ouvi coral que pode ir para qualquer televisão, porque eles fazem com paixão. E, quando chega o domingo, vai a família conversar com eles; e vão os irmãos menores, os filhos; eles ficam ali com a mulher, os filhos, abraçando-se e convivendo. É uma cena que não dá para descrever.

Esse rapaz, há um mês e meio, tirei-o debaixo da ponte. Mais dois dias, ele poderia ter sido intoxicado. Hoje, porém, está revivendo para a vida.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - O remédio verdadeiro é este: Deus de manhã, Jesus ao meio-dia e Espírito Santo à noite. Esse remédio dá jeito. Recuperam-se 85% dos drogados, sem amarra, sem cerca, sem muro. Só ficam assim se quiserem, porque Deus só age no querer no indivíduo. Só para exemplificar, há catorze anos, tirei da cadeia um rapaz que assaltara um banco. Era um traficante de drogas que foi recuperado na minha casa. O Ministério Público pediu quinze anos de cadeia para ele. Ele foi recuperado. O juiz determinou que ele cumprisse quatro meses na instituição. Sabe quem é esse moço hoje? É o Secretário de Defesa Social do Município da Serra, que tirou o Município do primeiro lugar de violência e, hoje, é um dos palestrantes da ONU para a América Latina...

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão. PFL - MA) - Peço a V. Exª que abrevie seu aparte e ao Senador Pedro Simon que conclua o discurso.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - (...) sobre segurança pública, Senador Pedro Simon. Chama-se Ledir Porto. Tirei-o da cadeia, quando ele só tinha o 2º ano primário. Fez Supletivo dentro da Casa de Recuperação. Formou-se em Administração e, hoje, está fazendo Doutorado em Gestão Ambiental, é Secretário do Município e palestrante sobre Segurança Pública. Tem jeito, mas o remédio é esse. O problema é de caráter e de intoxicação? Sim, mas também é espiritual. É por isso que esse debate de V. Exª empolga tanto, principalmente a mim, à Senadora Rosalba Ciarlini, a todo mundo que está aqui parado e ao Senador Edison Lobão, com essa dificuldade com o tempo, que até entendemos. Contudo, esse tema deveria ser debatido hoje, a tarde inteira.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Peço a transcrição nos Anais. Foi feita uma seleção fora de série. Além de pedir a referida reprodução nos Anais da Casa, vou fazer uma publicação disso para distribuir a todos os Senadores, porque é muito importante que haja essa divulgação. Tenho certeza de que cada Senador e muitos dos que nos estão assistindo na televisão podem ser iniciantes.

Entendam que, para ser iniciante, é preciso ter vontade e disposição; é preciso caminhar dois passos, encontrar um amigo e dizer: “vamos curar o nosso colega Fulano de Tal, que é um drogado. Vamos dar uma mão para ele”.

Começa assim: dois amigos se reúnem para salvar um terceiro. Daqui a pouco, está ali uma Fazenda da Esperança.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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SEGUEM, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTOS DO SR. SENADOR PEDRO SIMON.

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O SR. PEDRO SIMON (PMDB - PB. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu nunca fui defensor da idéia de que devamos esconder as nossas maiores mazelas. Não sou da tese de que “o que é bom, a gente mostra; o que é ruim, a gente esconde”, que marcou a passagem de um ex-Ministro da Fazenda, numa frase que ele mesmo demonstrou, depois, quisera nunca ter pronunciado. Acho, ao contrário, que a exposição dos nossos problemas tem o dom de suscitar forças, antes anestesiadas, na busca das respectivas soluções. A divulgação serve, também, como mecanismo de pressão, exatamente sobre aqueles que têm a função de buscar alternativas no sentido de resolvê-los, na sua melhor forma.

Eu também jamais inverteria a frase do tal ex-Ministro. Algo assim como “o que é bom, a gente esconde; o que é ruim, a gente mostra”. Pois, é isso que parece estar acontecendo na imprensa brasileira, hoje. É claro que não há, na grande mídia, a intenção de se tecer um grande tapete, sob o qual se esconde o que há de melhor na realidade brasileira. Entretanto, parece que as portas andam se fechando para as manchetes e para as melhores chamadas, quando o assunto não é violência, corrupção, ou coisas do gênero.

Eu já disse, desta mesma tribuna, que deve haver efeitos multiplicadores na divulgação, tanto das nossas feridas sociais, quanto dos respectivos exemplos curativos e preventivos. Por isso é que eu fiz um apelo para os editores dos nossos melhores jornais, principalmente os televisivos, no sentido de que abram o devido espaço para as nossas melhores experiências de vida, para que elas se potencializem, e que, ato contínuo, como que a devorar células cancerígenas, atuem no sentido de extirpar as nossas principais mazelas.

Durante a visita de Sua Santidade o Papa ao Brasil, tivemos, ao vivo e a cores, um exemplo que ilustra, muito bem, a minha tese. O Papa cumpriu, entre nós, uma agenda das mais intensas, tendo em vista as suas funções como chefe de Estado e dirigente maior da Igreja Católica. Reuniu-se com o Presidente da República, com o Governador de São Paulo e com o prefeito da capital paulista, rezou missas, abençoou fiéis, canonizou o primeiro santo genuinamente brasileiro, encontrou-se com a juventude latino-americana e abriu a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. Mas, embora tantas tarefas, todas elas podem ser consideradas naturais na visita de um papa ao maior país católico do mundo, a não ser, quem sabe, a canonização do Frei Galvão, fato sem precedentes em mais de quinhentos anos de história de catolicismo no nosso país. O único compromisso do Santo Padre, que poderia ser considerado, normalmente, extra-agenda, nestes dias em que esteve conosco, trazendo a sua mensagem evangelizadora, foi a visita à Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, no Estado de São Paulo.

A imprensa foi junto, com todo o aparato midiático. Obviamente, embora o local do evento tenha sido um detalhe na notícia, porque a notícia era, evidentemente, o papa, era necessário descrever o ambiente em que ocorreria o evento com figura tão ilustre da Igreja. E, eis que surgiu, para o grande público brasileiro, mesmo que indiretamente, uma das mais belas e importantes experiências no tratamento de viciados em drogas.

Nesta questão da droga, o brasileiro está acostumado, quase que unicamente, com o tiroteio nas favelas, a briga pelo “ponto”, a guerra de quadrilhas, as balas perdidas e as vítimas encontradas, o menino do tráfico, as pipas anunciadoras do “rapa”, a violência, a morte, a corrupção policial, e assim por diante. De repente, uma notícia contrária: uma experiência exitosa de retirar os meninos do tráfico, de cuidar daqueles que pareciam não ter volta no seu caminho do vício, de amparar quem estava só, à espera da inevitável e sorrateira morte prematura. Um lugar que mais se parece com um paraíso, criado por Deus e bendito por natureza.

É assim a Fazenda da Esperança. O que teria essa experiência chamado tanta atenção de um papa, em sua rápida e trabalhosa passagem pelo País, que fizesse com que ele dedicasse um tempo tão precioso, para conhecer um exemplo bem sucedido de amor ao próximo e de dedicação ao semelhante? Teria sido, apenas, a amizade e a nacionalidade comum do Sumo Pontífice com o Frei Hans Stapel, um dos fundadores da Fazenda da Esperança? É verdade que esse fato demonstrou um grande prestígio do religioso alemão, nosso irmão franciscano. Mas, é também, evidente que, embora uma amizade tão profunda, ela não seria suficiente para orientar uma agenda tão importante e apertada. Afinal, o Papa teria outros amigos no País. Sabe-se, inclusive, de familiares seus, que aqui residem e que poderiam rememorar histórias que, eventualmente, encantariam e emocionariam o dirigente católico.

O que levou o Papa, efetivamente, para Guaratinguetá, foi a história da Fazenda da Esperança, construída no trabalho e na religiosidade. Uma experiência para ser multiplicada em todos os cantos e recantos deste planeta. E, para encanto e, ao mesmo tempo, pasmo dos brasileiros que assistem ao noticiário diário, pouca gente conhecia essa história de vida que atravessa fronteiras e que se planta, já, em mais oito países. O brasileiro se farta de notícias do crime pela droga, mas é pouco informado sobre experiências exitosas que combatem o vício. Foi preciso um papa criar um espaço em sua agenda, para que o país conhecesse uma experiência que ganha o mundo.

Eu, felizmente, já conhecia o trabalho do Frei Hans Stepel, e de sua equipe de voluntários. Conversei com muitos dos recuperandos da Fazenda da Esperança. E ela poderia se chamar, pelos resultados que presenciei, de Fazenda da Esperança Alcançada. O êxito obtido pela equipe do Frei Hans Stapel ultrapassa os 80% , mais de três vezes a média mundial, obtida em tratamentos tradicionais.

A história da Fazenda da Esperança começou com a chegada do Frei Hans Stapel, em Guaratinguetá, nos idos de 1979. Na Paróquia de Nossa Senhora da Glória, abraçou, inspirado na sua convicção franciscana, o método de evangelização baseado no amor cristão. Daí, brotaram, na comunidade local, iniciativas de ação social fundamentadas no texto do evangelho: “Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a mim que o fareis”.

Em 1983, um jovem da paróquia, chamado Nelson, sabendo de uma “boca de fumo” na sua comunidade, aproximou-se e recebeu pedido de ajuda de um dos jovens viciados, de nome Antonio. Da idéia dos dois, nasceu a inspiração para o primeiro grupo que instituiu a Fazenda da Esperança. Esse primeiro grupo, formado por voluntários como o Nelson e viciados como o Antonio, que lhe pedira ajuda, colocaram seus bens para o usufruto comum e passaram a trabalhar, juntos, para sustentar a casa e o programa de recuperação. O próprio Nelson, que trabalhava em uma cooperativa, abria mão de seu salário para as despesas do projeto, enquanto os demais, que foram se juntando com o tempo, faziam pequenas tarefas, como cortar grama nos jardins da vizinhança, para ganhar algum dinheiro, com a mesma finalidade de levar avante a idéia de salvar outras vidas, já corroídas pela droga.

Os trabalhos propriamente ditos se iniciaram em uma casa simples, alugada, no centro da cidade. Aí, aquela idéia, inspirada no evangelho, abraçada pelo Frei Hans, e levada avante pelo Nelson e pelo Antonio, não parou mais. E foi se multiplicando pelo país e mundo afora. Hoje, são 32 unidades, somente no Brasil, sendo 22 masculinos e 10 femininos. Fora do país, são 02 na Alemanha, e 01 em cada um dos seguintes países: Paraguai, Filipinas, México, Guatemala, Rússia e Argentina, além de uma, em instalação, em Moçambique. Muitos dos recuperandos, no Brasil, vêm da Rússia, principalmente usuários de heroína. A imprensa deu ênfase, inclusive, a um casal russo, o Alex e a Olga, que, tudo lhes parecia, já não teriam caminho de volta. Ainda no Aeroporto de Moscou, a caminho do Brasil, em 31 de julho de 2005, Olga se lembra que injetou a última dose de heroína, não se lembra, talvez, se num dos braços ou nas pernas, tantas eram as picadas. Hoje, recuperados, permanecem na Fazenda, agora como voluntários.

Calcula-se que já tenha passado pelas unidades, mais ou menos, dez mil recuperandos. Pode-se dizer, quem sabe, recuperados, dados os índices de sucesso do trabalho. Hoje, são, mais ou menos, dois mil, número significativo, mas pequeno frente aos novos pedidos de internação.

Na fazenda, não há cerca, nem qualquer outro mecanismo que “prenda” o recuperando. Ele é livre. Fica, ali, se quiser. Vai embora, se desejar. Mas, para continuar no tratamento, tem que se acostumar a uma vida de trabalho e de oração. O lema principal é que todos sejam um”. É aí que reside a principal concepção do tratamento: o trabalho em grupo. Que, sozinho, o recuperando não vai conseguir se livrar do vício; o sucesso depende da criação coletiva. Não se utilizam medicamentos em todo o tratamento. Além da droga propriamente dita, a Fazenda da Esperança trata de viciados em álcool e de outras doenças como bulimia, depressão, além de soropositivos. O “internamento” dura um ano. Depois, muitos recuperados permanecem, como voluntários, como o Alex e a Olga. Isso ajuda muito, segundo os organizadores, por incorporar, na recuperação, os relatos de experiências exitosas de vida.

Todas as manhãs, é feita uma meditação sobre uma frase do evangelho. É escolhida, então, uma passagem, que serve de “guia” para os trabalhos daquele dia. À noite, as atividades são avaliadas em grupo. Embora o método de recuperação se fundamente, portanto, em princípios religiosos, não é necessário ser católico. Lá, existem recuperandos de todas as religiões. Não se descartam, inclusive, os ateus.

            Todos exercem algum tipo de ocupação, em função de suas habilidades. Procura-se, sempre, o contato com a natureza, em pequenas plantações, principalmente hortaliças, e na criação de pequenos animais. Esses produtos são vendidos no mercado local, para ajudar na manutenção do internato. Além disso, todos praticam algum tipo de esporte, de preferência, também, coletivo, além do teatro, da dança e de outras atividades de lazer.

As pessoas que se recuperaram sentem, ao voltar para suas origens, a necessidade de continuar exercendo alguma atividade afim com a experiência que viveram nas diferentes unidades da Fazenda da Esperança. Foi daí que nasceu, há sete anos, o Grupo Esperança Viva, inicialmente em Passo Fundo e em Ibiruba, no Rio Grande do Sul. São grupos de discussão e trabalho, já como fruto multiplicado da experiência vivida.

Quantas serão as outras experiências bem-sucedidas neste País, totalmente desconhecidas, longe do interesse da mídia, e que poderiam ser multiplicadas por contribuições voluntárias, em dinheiro e em trabalho? Será que serão necessárias visitas sucessivas do Papa, para que a imprensa as divulgue?

Eu estou encaminhando à Comissão de Assuntos Sociais, requerimento no sentido de que sejam convidados o Frei Hans Stapel, o Sr. Nelson Giavanelli Rosendo dos Santos e o Sr. Antonio Eleutério Neto, para que possamos conhecer, com muito mais detalhe, essa maravilhosa experiência de recuperação de jovens entregues à droga e à própria sorte. Mais do que isso, para que possamos discutir, com eles, as melhores alternativas para coibir a barbárie e a banalização da vida, tão presentes no nosso noticiário do dia-a-dia.

Se me pedirem para traduzir a mensagem deixada pelo Sumo Pontífice, nessa sua visita ao País, eu acho que a melhor resposta está, exatamente, no fato da sua visita à Fazenda Esperança. Pragmático, ele quis mostrar aos cardeais latino-americanos e do Caribe, e ao povo católico, o que ele pensa e o que ele deseja a respeito da religiosidade e da ação pastoral. A Fazenda Esperança é a prática mais que fiel dos ensinamentos formulados pelo Papa, em todos os seus discursos, nos demais eventos da sua agenda. Ali, se encontram a religiosidade, o voluntariado, a solidariedade, a coletividade, o trabalho, a dedicação, o amor ao próximo, a fé, a esperança, a caridade. Enfim, uma igreja nos moldes da teologia que ele sempre acreditou e que tem, agora, a possibilidade de colocar em prática. Uma igreja de oração, mas não só de oração. Uma igreja de trabalho, mas não só de trabalho. Trabalho e oração, numa só concepção, a serviço da humanidade.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Conheça fazenda que será visitada pelo Papa;”

“Conexão Moscou-Guará;”

“Uma história de esperança;”

“Terapia;”

“Esperança e vida;”

“Produtor;”

“Fazenda Esperança-Informações Básicas.”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2007 - Página 15153