Pronunciamento de José Maranhão em 17/05/2007
Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Manifestação de pesar pelo falecimento de Maria Inês Caetano de Oliveira, conhecida como "Marinês", a "rainha do xaxado".
- Autor
- José Maranhão (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
- Nome completo: José Targino Maranhão
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Manifestação de pesar pelo falecimento de Maria Inês Caetano de Oliveira, conhecida como "Marinês", a "rainha do xaxado".
- Aparteantes
- Rosalba Ciarlini.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/05/2007 - Página 15196
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM POSTUMA, CANTOR, ESTADO DA PARAIBA (PB), PIONEIRO, MULHER, PRESERVAÇÃO, TRADIÇÃO, CULTURA, MUSICA POPULAR, REGIÃO NORDESTE.
O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado a V. Exª.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, podemos dizer, como muitos poetas o disseram, que nossas vidas são como as estações do ano.
Há momentos em que estamos radiantes, como no verão; outros em que estamos transbordantes de alegria, como na primavera; outros ainda em que nos recolhemos, como no outono; e, finalmente, há momentos em que nos entristecemos, em que nossas emoções parecem congelar e as noites parecem não ter fim, como no inverno.
Pois no dia de hoje, infelizmente, posso dizer que todo o Nordeste brasileiro, e em especial o Estado da Paraíba, encontra-se num profundo inverno, numa profunda e irreparável tristeza. É que faleceu, no dia 14 de maio, segunda-feira, a “Rainha do Forró”, a nossa querida Marinês!
Calou-se a voz do “último mito vivo da música nordestina!” Calou-se a voz da “Rainha do Xaxado!”
Para sempre se emudeceu a nossa insubstituível Marinês!
O triângulo, o zabumba, o pandeiro e o acordeom, mais conhecido ali como sanfona, todos agora estão no mais profundo silêncio reverenciando a memória daquela que, sem nenhuma dúvida, foi uma das mais perfeitas encarnações da alma nordestina.
Nascida em São Vicente Férrer, em Pernambuco, por sinal a terra do nosso querido companheiro, Senador Jarbas Vasconcelos, em 16 de novembro de 1935, Inês Caetano de Oliveira sempre teve a música como parte de sua família: seu pai (ex-cangaceiro do bando de Lampião) era seresteiro; sua mãe, cantora de igreja; e seu marido, sanfoneiro.
Começou sua bem-sucedida carreira nos já longínquos anos da década de 50, integrando o grupo Patrulha de Choque do Rei do Baião, fazendo uma “palhinha” nas cidades aonde Luiz Gonzaga iria se apresentar.
Em 1956, gravou seu primeiro disco, já no grupo que a consagrou - Marinês e Sua Gente. No ano seguinte, acompanhou Luiz Gonzaga no Rio de Janeiro, apresentando-se em programas de rádio. Naquela ocasião, lançou dois de seus memoráveis sucessos - Pisa na Fulô e Peba na Pimenta -, que hoje já fazem parte de nossa cultura popular. Ao todo, foram cerca de 30 discos gravados e um vastíssimo repertório. Músicas inesquecíveis, como Forró do Beliscão, Coco da Mãe do Mar, Meu Cariri e Lamento Sertanejo, entre tantas outras, ficarão carinhosamente vivas e eternizadas na memória do nosso povo.
Grandes foram os nomes que se apresentaram ao lado de Marinês; nomes consagrados pela crítica e pelo público como Elba Ramalho, Morais Moreira, Alceu Valença, Genival Lacerda e o nosso inesquecível Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Hoje, todos nós estamos entristecidos.
A “nação do forró” perdeu sua rainha, perdeu a sua mãe.
A “nação do forró” encontra-se órfã e inconsolável!
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, lamentavelmente, temos esse costume que nos fazem lembrar o quanto certas pessoas nos são caras somente quando somos privados definitivamente de seu convívio.
A foice certeira da morte é implacável e não poupa ninguém: ricos, pobres, famosos, anônimos, poderosos ou despossuídos, todos a ela fatalmente se renderão quando sua hora chegar.
Mas, se por um lado a morte física é inevitável, por outro, quando se é um astro de primeira grandeza, como era a nossa querida Marinês, ainda é possível continuar a brilhar eternamente.
Marinês agora pertence ao céu, ao céu estrelado, onde se encontram grandes e inigualáveis nomes da nossa música e de nossas artes. Ela agora está ao lado da imortalidade de Noel Rosa, de Elis Regina, de Tom Jobim, de Luiz Gonzaga, e de tantos outros que, como deuses da nossa música, integram o panteão das artes e da cultura brasileira.
Sua voz continua a ecoar, possante e cristalina, pelos céus de todo o Brasil, graças à maravilhosa tecnologia de que dispomos, que nunca deixará que ela se apague de nossa memória e de nossos corações.
Aqui, desta tribuna, empresto minha solidariedade à família de Marinês, neste momento difícil, e a todo o povo da Paraíba, pela perda desse verdadeiro patrimônio cultural do Estado e do Brasil.
Gostaria, Sr. Presidente, de prestar uma última homenagem a Marinês, parafraseando uma estrofe de uma de suas músicas mais conhecidas, cujo título é O que será de nós.
E assim diria:
O que será de nós agora (sem ela)
O que será de nós (sem ela)
Mas dessa vez ela vai-se embora
E nós vamos ficar sem ela (agora)
Agradeço a todos a tolerância e, sobretudo, o comando benevolente de V. Exª, que me deu certa elasticidade de tempo.
Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.
A Srª Rosalba Ciarlini (PFL - RN) - Sr. Presidente, eu gostaria, antes de o Senador José Maranhão se despedir de nosso Plenário, se V. Exª me permitir...
O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senadora, V. Exª já deveria ter feito o aparte. Eu peço ao Senador que permaneça para ter a consideração, a gentileza com a Senadora.
O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Claro! Para mim é uma honra ouvir o que a minha querida amiga e grande representante do povo do Rio Grande do Norte quer dizer.
A Srª Rosalba Ciarlini (PFL - RN) - Senador José maranhão, V. Exª trouxe aqui a lembrança, a saudade, o registro da vida marcante dessa artista, dessa mulher que defendeu as nossas raízes, o nosso forró pé de serra, o nosso xote, o nosso baião. Eu tive a felicidade de encontrá-la nos meus caminhos. Ela era uma mossoroense de coração; muitas vezes foi à minha cidade e prestou uma homenagem a Mossoró, com um baião famoso - talvez V. Exª o conheça -, que é: “Mossoró, Mossoró, Mossoró, terra boa, meu xodó”.
O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Conheço sim, inclusive, teria a honra de subscrever Marinês nesse baião dedicado a Mossoró, que V. Exª representa tão bem, assim como todo o povo do Rio Grande do Norte.
A Srª Rosalba Ciarlini (PFL - RN) - Obrigada Senador. Eu gostaria aqui, realmente, de me somar, de unir nossos corações, nossas mentes e nossas orações em agradecimento a essa mulher que tanto fez pela cultura nordestina.
O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador José Maranhão, antes que V. Exª deixe a tribuna, a Mesa se atreve - não deveria, tendo em vista o Regimento - a dizer a V. Exª que essa espirituosidade, essa interação com a cultura é uma coisa fantástica, e V. Exª bailou com as palavras. E trouxe realmente uma grande produtora, até que mexeu com o coração da grande Senadora.
Então a Mesa quer parabenizar V. Exª pela sua fala.
O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Agradeço suas palavras generosas. Obrigado.