Discurso durante a 64ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do Deputado Enéas Carneiro.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do Deputado Enéas Carneiro.
Publicação
Publicação no DSF de 08/05/2007 - Página 13543
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ENEAS CARNEIRO, DEPUTADO FEDERAL, MEDICO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, INCENTIVO, ORADOR, FILIAÇÃO PARTIDARIA, PARTICIPAÇÃO, CAMPANHA, OBTENÇÃO, APOIO, REGISTRO, PARTIDO POLITICO.

     O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, é com pesar que venho à tribuna do Senado para prestar homenagem a um grande brasileiro, um grande médico e um grande amigo.

     Faleceu ontem, no Rio de Janeiro, o Deputado Federal Enéas Carneiro. O Dr. Enéas era portador de leucemia, e faleceu exatamente em conseqüência da doença. Ultimamente, andava muito debilitado em razão do tratamento, que é deveras agressivo. Todos nós que já vimos um ente querido passar por isso e que, como médicos, acompanhamos vários casos, sabemos que é preciso ser um herói para lutar até o final.

     Enéas nasceu no Acre, na cidade de Rio Branco, em 1938. Estudou na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, onde se formou em Medicina no ano de 1965. Formou-se também em Física e Matemática pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Fez, em seguida, Especialização e Mestrado em Cardiologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

     Tive a oportunidade de ser amigo íntimo do Dr. Enéas, e durante nossas conversas tive a curiosidade de perguntar-lhe por que ele, Mestre em Cardiologia, fez Faculdade de Física, Matemática e, ainda, era Mestre em Língua Portuguesa. E ele justificava ter estudado Física para poder interpretar com perfeição o eletrocardiograma. Ora, vejam só! Nós aprendemos na escola a interpretar eletrocardiogramas, mas o Dr. Enéas foi buscar a ciência a fundo a fim de sentir e dizer que era um especialista na área.

     S. Exª foi Presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro de 1986 a 1988. Em 1989, lançou-se candidato à Presidência da República pelo Partido de Reedificação da Ordem Nacional - PRONA, e ficou famoso pelo bordão com que encerrava seus 17 segundos de tempo na televisão: “Meu nome é Enéas”.

     Naquele pleito eleitoral Enéas alcançou 360 mil votos.

     Após ter sido candidato a presidente da República a primeira vez, resolveu receber o registro definitivo do Prona e começou a procurar no Brasil amigos dele, pessoas que conhecia. Entre esses amigos, foi me encontrar lá no Amapá. Eu, que não era filiado a partido político nenhum, nunca tinha participado da vida político-partidária, fui procurado pelo Dr. Enéas. Confesso a V. Exªs que, pela convivência que tinha no meio político no meu Estado, não tinha nenhuma aptidão para participar da vida pública como político, por meio de um partido político. Mas, ele me convenceu. Sua determinação, sua perseverança, o acreditar no Brasil e na política feita pelos bons políticos fizeram com que eu aceitasse o convite do Dr. Enéas.

     A partir de 1989, portanto, filiei-me a um partido político e passei a fazer militância política, junto com o Dr. Enéas, viajando pelo País, inclusive por Mato Grosso do Sul, Estado para onde fui determinado a ir pelo Dr. Enéas. Trabalhei naqueles interiores a fim de alcançar o número de filiações necessárias para que o Partido, junto com as filiações obtidas em outros estados do Brasil, inclusive no nosso Amapá, recebesse o registro definitivo.

     Nessa convivência com o Dr. Enéas, conheci um homem estudioso, culto, inteligentíssimo e determinado. Este, o Enéas que conheci e a quem o Brasil deve homenagens.

     Como falei, em 1989, lançou-se candidato à Presidência da República pelo Prona e ficou famoso. Na eleição de 1994, concorreu novamente à Presidência e, para surpresa de muitos, teve uma expressiva votação. Recebeu 4,6 milhões de votos. Chegou em terceiro lugar, à frente de políticos mais conhecidos, como os ex-Governadores Leonel Brizola e Orestes Quércia.

     Em 1998, novamente concorrendo à presidência, ficou em quarto lugar, com 1,4 milhão de votos. Em 2002, candidatou-se a uma vaga na Câmara Federal e foi eleito deputado pelo Estado de São Paulo, com uma votação histórica: 1,5 milhão de votos, a maior até hoje recebida por um candidato a Deputado Federal no País.

     Como parlamentar, Enéas sempre foi crítico das ações do Governo Federal e participou ativamente dos trabalhos da Câmara, sendo titular da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, da Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional e da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. Teve também participação destacada nos debates sobre a reforma da Previdência e sobre a reforma tributária.

     Já sentindo os efeitos da doença, Enéas participou de mais uma campanha eleitoral em 2006 e conseguiu um novo mandato de Deputado Federal, recebendo 387 mil votos.

Enéas sempre foi um apaixonado pelo Brasil, pela força adormecida de nossa Nação, que muitos governantes não souberam transformar em energia para melhorar a vida dos brasileiros. A coragem e a determinação são as principais qualidades que Enéas pôde deixar para os brasileiros. Coragem e determinação para defender nosso País, nosso povo, nossas riquezas.

     Disse certa vez Rui Barbosa:

     A Pátria não é ninguém: são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação. A Pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo. A Pátria é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade.

     Que o exemplo de Enéas, um grande defensor de nossa Pátria, não seja esquecido por nós, parlamentares, e pelo povo brasileiro!

Rogo a Deus que seus familiares recebam consolo neste momento e que tenham força e fé para preservar a memória desse grande brasileiro, grande médico e grande amigo.

     Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/05/2007 - Página 13543